As lanças dos cavaleiros se ergueram como se fossem perfurar o céu. As espadas nos quadris eram afiadas, e os escudos nos braços eram resistentes feito ferro. Os cavalos, musculosos e fortes, se moviam em linha firme seguindo outro à frente. Pareciam apóstolos enviados do paraíso.
Atrás deles, pessoas de branco seguravam longos cajados numa carroça puxada por um equino. Havia também sacerdotes orando pela bênção e segurança de seus companheiros que estavam indo para a batalha julgar e punir seus inimigos.
Todos tinham os mesmos símbolos nas roupas: a marca karuwiman. Eram a força militar reunida para lutar contra os bellids. Emitiam uma atmosfera tão tensa que era difícil se aproximar deles sem sentir nada, motivados pela ideia de sacrificar as vidas pelo bem maior. Mesmo que morressem, estariam apenas se afastando da carne e indo para o lado de Karuna e a eterna paz. A fé afastou do medo e os tornou ainda mais temíveis.
Weig, avançando na vanguarda, levantou a mão, parando todos em um instante. Segurando as rédeas, observou o horizonte e o vasto deserto que vira antes. Avistou o sulco onde ele e Zich haviam escondido seus cavalos da última vez e, de longe, a grande pedra que levava à caverna.
— Está ali. — Apontou para a rocha, chamando a atenção dos presentes — Abaixo dela, existe uma entrada para o subterrâneo.
— Enfim vai começar. — Lubella agarrou com firmeza as rédeas ao lado de Weig, o coração batendo forte.
— Sim. Finalmente julgaremos aqueles malditos.
Os olhos dele já estavam repletos de fúria, assim como o resto dos soldados. Grande ou pequeno, um não importava o tamanho do fogo ardente formado nos corações de todas as mulheres e homens karuwimans.
Havia um que não compartilhava daqueles sentimentos e estava calmo ao extremo: Zich. A frieza da lâmina que era a sua mente o fez exalar uma aura congelante, o que contrastava com aqueles ao redor.
Ele soltou as rédeas e desceu. Já concordaram que ele se infiltraria primeiro.
— Por favor, tenha cuidado.
— Senhor Zich, se cuide.
Weig e Lubella expressaram suas preocupações. Era uma tarefa dificílima se infiltrar em um lugar, ainda mais no infame ramo norte bellid.
— Relaxem. Mesmo que eu seja capturado, não sei de muita coisa.
De fato, não informaram a ele sobre os detalhes, e ele também evitou qualquer coisa a respeito da força-tarefa de propósito. Tudo isso também foi acordado.
— Sabe que não queríamos soar desse jeito — disse Lubella, olhando-o.
— Sim, sei. Vou ter cuidado, mas não precisam se preocupar. Vou primeiro porque tenho um plano em mente. Uma vergonha como ser capturado por eles nunca aconteceria comigo.
— Por favor, cuide desses dois.
Ele decidiu deixar Hans e Snoc para trás. Era demais até para ele se infiltrar no templo enquanto carregava dois pesos daqueles.
— Fique tranquilo. Vou cuidar de…
Mesmo que não tenha sido ele quem decidiu o plano, Weig se sentiu amargo por estar o empurrando a uma situação tão perigosa. Para aliviar a carga dele, garantiria a segurança de seus dois servos. Todavia, não era isso que Zich queria.
— Nada. Se certifique esgotá-los tanto quanto der e empurre eles para as linhas de frente o máximo possível.
Os dois soltaram suspiros cansados ao mesmo tempo. Zich era Zich.
— Os treinei pelo menos isso. Devem poder cuidar de si mesmos.
— Eles podem morrer no campo de batalha.
— Não posso carregá-los para sempre; precisam aprender a voar sozinhos. Se não conseguirem e caírem à morte, não vou poder fazer muito.
Eles tremeram ao pensar em ir à frente sem o apoio dele, porém não com o medo de paralisá-los. Foi um resultado do treino terrível que passaram, e não tinham certeza se deveriam estar felizes ou horrorizados.
Weig concordou. Ele também era um cavaleiro que enfrentava a todo momento situações de vida e morte.
— Eu entendo.
— Então, vou nessa. — Zich logo desapareceu sob a rocha. Não desviaram os olhos dele até que sumissem por completo.
— Ele vai mesmo ficar bem? — perguntou Lubella.
— Sendo honesto, não creio tanto que ele consiga — respondeu Weig, fazendo ela arregalar os olhos em choque.
— Então…?
— Mas é o Zich, afinal. Se eu pensar em todos os feitos inimagináveis que ele pôde fazer, deve ser o suficiente para crermos nele. Além disso, olhe para aqueles dois. — Se virou para Hans e Snoc, que estavam verificando as armas e montando estratégias — Os mais próximos dele não estão mostrando sinal nenhum de preocupação.
Não era como se não se preocupassem, contudo possuíam confiança na sua capacidade de sobreviver. Chegaram a um estágio em que perceberam que se preocupar com ele era a ação mais inútil do mundo.
— Certo…
— Se ele tiver sucesso, será mais fácil para nós. Ao menos vamos tentar confiar um pouco nele.
Weig levantou a mão de novo. Com este sinal, o resto voltou a se mover em direção ao templo dentro da caverna a fim de exterminar todos ali.
Zich atravessou a caverna rapidamente.
“Tenho certeza de que se tocaram que estão aqui.”
Os karuwimans tinham uma capacidade impressionante de proteger informações. Como dispersaram suas tropas em segredo, os inimigos não puderam detectar o exército até que estivessem logo depois da entrada. Mas Não havia como não saberem agora.
“Tem algum jeito de eles não verem uma galera na entrada? Já devem estar montando as defesas. Mas, bem, não tem muitas tropas aqui.”
Os bellids deveriam usar a vantagem geográfica do lago para criar uma barreira. Ao contrário dos karuwimans, que tinham a vantagem por reunirem tropas de elite de todas as filiais, tinham um exército de apenas uma base. Essa foi uma das principais razões pelas quais ele forçou Hans e Snoc a participarem.
“Em uma guerra, é muito raro que um lado consiga tantas vantagens, incluindo o elemento surpresa.”
Kruk!
Ele chegou em frente ao lago e viu pessoas com pressa dentro do templo. Ao colocar as roupas e acessórios que trouxe da caixa mágica, saltou, desaparecendo na água com uma leve ondulação. Devagar e com cuidado, foi nadando.
Os karuwimans começaram a entrar em grande escala. Visto que a entrada era pequena para eles, parecia que levaria muito tempo para todos entrarem. Contudo, solução de Weig para esse problema era simples.
Boooooom!
A entrada explodiu com um som alto. Com um golpe de sua espada, a rocha que ficou estática por séculos voou, levantando uma nuvem de poeira junto e dando origem a um buraco bem maior.
Pisa! Pisa! Pisa!
Quem visse de fora falaria que eram anjos militantes marchando ao inferno. Confiantes, não temiam a escuridão sem um rastro de luz solar e avançaram até em frente ao lago. Admiraram o tamanho do local antes de verem o tempo ao longe e se encherem de raiva.
Por outro lado, os bellids aparentaram ter notado o tamanho do exército e aceleraram mais ainda. Massas de pessoas saíram do edifício, e as duas facções se encararam. Apesar da distância, a tensão no ar era quase palpável. Focados em intimidar mais um ao outro, não notaram uma figura se esgueirando para o lado do templo.
“Vamos ver… Não é por aqui?”
Se aproveitando do momento, Zich saiu do lago e rastejou para um lugar deserto. No entanto, não conseguiu evitar todo o confronto, e alguns o viram.
Swish!
— Ugh!
Claro, os infelizes deram de cara com a morte, e seus corpos foram jogados na sua caixa mágica dele.
“Esta espada que os karuwimans me deram é boa pra caramba; bem melhor do que a anterior” pensou, andando colado às paredes. “Aqui!”
Ele avistou uma pequena porta incomparável à majestosa entrada do templo, mas grande o suficiente para passar. Se certificando de que não tinha ninguém dentro, a abriu. O interior era escuro e continha todos os tipos de caixas e itens empilhados, se assemelhando a um depósito.
“É idêntico.”
Zich sorriu. Conhecia bem a estrutura do lugar, e não porque tinha uma habilidade inacreditável que permitia a visão através das paredes. Na verdade, foi o oposto.
“Lembro de quebrar isso tudo em pedaços.”
Antes de regredir, olhava para os bellids como uma pedra no seu sapato e desmantelou todo o templo sozinho. Revirou tanto o local que recordava do interior até hoje, mesmo que se esquecesse facilmente de assuntos triviais.
“Tinha vários caminhos e quartos secretos também. Se eles soubessem…”
Ele saiu do depósito. As pessoas corriam loucas, e ele passou sem dificuldades. Como a maior parte do foco delas estava nos karuwimans no outro lado do lago, era difícil perceberem Zich.
“Tríslei deve estar lá fora liderando, já que é o responsável daqui. Tenho que fazê-lo entrar.”
Afinal, toda a razão pela qual havia escalado a situação a esse nível era para acabar com ele. Era melhor arrastá-lo volta para criar a melhor chance de atormentá-lo.
“Nem ferrando que vou deixar os karuwimans pegarem ele.”
Seus olhos brilharam de felicidade.