“Isso será suficiente?”
Um Roland surrado estava parado perto da borda da oficina. Ela ainda estava lá, mas logo deslizaria para baixo do chão da arena mais uma vez. Toda a área estava cheia de restos de monstros que vieram de três dos quatro grandes portões.
Ele olhou para o mais novo tipo de monstro que era um cão do inferno. Essas criaturas eram bem ágeis e difíceis de combater. A resistência ao fogo era alta o que tornou a armadilha de fogo do óleo, que ele fez na maioria das vezes, ser ineficaz.
Seu corpo estava todo arranhado devido à luta com os cães. Ele não tinha armadura de pano para colocar sob seu equipamento blindado. Apenas um pano comum que não o protegeria das garras e presas duras desses monstros.
Roland ainda conseguiu sobreviver à terceira onda de monstros, mas agora estava sentindo o cansaço. Ele não podia usar o plano anterior de incendiar tudo ou fazer um campo minado. Os cães infernais eram corredores rápidos e podiam sentir o cheiro dos pergaminhos de couro, carne e sangue enterrados.
Este último portão parecia ter uma criatura ainda mais forte atrás dele. O número deles diminuia a cada porta, mas sua força também aumentava de acordo. Roland preferia lutar contra aqueles Diabretes que eram fáceis de matar com seu atual grau de armadilhas. Com uma nova variante desconhecida da criatura, ele precisaria criar um novo plano de batalha.
Sorte dele que este mundo em que ele estava não era inteiramente real. A oficina com na qual estava trabalhando tinha uma característica estranha. Se materiais suficientes fossem removidos, eles se reabasteceriam. Ele testou removendo algumas folhas de metal que foram colocadas em uma das caixas fornecidas. Depois de remover todas elas, outro conjunto se materializou na caixa do nada. Esse mesmo fenômeno acontecia com todos os outros recursos, sejam as hastes de metal ou os lingotes.
Com esse pequeno bug, Roland decidiu seu novo plano. As folhas de metal não processadas destinadas a fazer peças de armadura mais finas foram distribuídas pela arena. Quando o suficiente deles estava lá, ele utilizou as hastes de estoque que também estavam lá. Os que foram usados foram os mais finos que poderiam ser usados como fios. Logo um padrão semelhante a uma teia de aranha composto de hastes metálicas apareceu em toda a arena.
Por alguma razão, a ampulheta estava lhe dando mais tempo para esta última grande porta. Roland poderia tentar realizar essa tarefa de uma maneira menos problemática. Criar um bom conjunto de armaduras e algumas armas não estava fora de questão com essa quantidade de tempo que recebeu. Ele havia escolhido uma abordagem diferente desta vez principalmente devido ao fato de não ser um lutador puro.
Com a ajuda de uma varinha rúnica especial que podia descarregar calor e chamas, ele começou a conectar as partes metálicas. Ele não precisava que elas ficassem juntas perfeitamente, apenas o suficiente para que os traços rúnicos pudessem passarem por elas. Um processo bem cansativo de soldagem e martelamento ocorreu enquanto o trabalho continuava. As principais runas desta ‘armadilha’ foram colocadas nas peças maiores das chapas de metal enquanto as hastes usadas como um meio para transferir o mana.
Roland nunca tentou conectar tantas runas em uma estrutura. Ele sabia que havia riscos envolvidos e que seria instantaneamente drenado da maior parte de sua mana após uma ativação. A decisão já estava tomada, ele cuidaria da última parte do teste com um grande boom. O maior problema surgiria se os monstros que saíssem fossem resistentes à magia que ele estava produzindo.
O tempo continuou a passar enquanto ele trabalhava. Quanto mais martelava, mais começava a duvidar que isso tudo funcionaria. Roland temia que a coisa que estava fazendo explodisse em vez de funcionar. Isso ou ele perderia toda a sua mana instantaneamente e desmaiaria ou simplesmente não ativaria.
Depois de muito trabalho meticuloso, de alguma forma estava pronto. Não houve pausas neste teste e ele estava aqui há vários dias sem dormir. Por alguma razão, não estava se sentindo tão cansado, mas o pensamento constante estava lentamente esgotando-o.
Ele se colocou no centro dessa armadilha parecida com uma teia de aranha. Fez isso porque a ampulheta estava a segundos de ser esvaziada. A coisa toda que ele fez estava coberta de areia. Isso foi feito por ele para não deixar muito óbvio para os monstros. Ele também esperava que os cães ignorassem as partes de metal, pois não havia carne nem sangue envolvidos.
‘Eu acho que é isso…’
Roland deu uma olhada em suas criações que poderiam muito bem explodir em seu rosto. A área ainda estava cheia de suas minas e a tática de fogo do óleo também seria usada. Ele ouviu um som de clique e a parte da oficina desceu lentamente para baixo da arena. As garras dos monstros contra as paredes do portão se intensificaram com seu movimento.
Esses monstros demoníacos foram recebidos pelo usual tratamento de fogo. Os demônios não aprenderam com seus erros anteriores, pois apenas atacaram em sua direção geral no momento em que saíram de seu quarto trancado.
Alguns deles caíram nas chamas enquanto ele se mantinha longe do perigo. Tinha seu escudo de torre com ele para bloquear qualquer ataque de projétil, como os espinhos dos demônios do segundo portão.
As portas estavam se abrindo mais ou menos ao mesmo tempo, o que era bom para ele, pois precisava que os monstros entrasse na área da armadilha juntos. Cães que pareciam ter saído do inferno começaram a uivar quando finalmente foram libertados de seus limites. Roland, por outro lado, olhou para o quarto portão mais resistente que tinha o último tipo de monstro surpresa.
Lá estava ele, com cerca de dois metros de altura e bem musculoso. Sua pele estava carmesim e desfigurada, parecia que o ser havia sido gravemente queimado. O rosto tinha pequenos olhos pretos e redondos com os quais ele sentia como se a criatura estivesse olhando para ele.
A coisa mais característica desse monstro eram suas correntes. Tinha muitas delas enroladas em todo o seu corpo. Em seus braços, um conjunto de correntes com ganchos e outros objetos pontiagudos presos. Elas eram grossas e a criatura as arrastava no chão enquanto lentamente fazia uma trilha na areia da arena.
Roland bloqueou alguns espinhos enquanto tentava não se distrair com o novo inimigo. Havia apenas um desses demônios das correntes, mas era uma criatura de nível 2 acima do 50º nível. Este era um teste de mudança de classe de nível 2, normalmente monstros acima do nível 50 não apareceriam como inimigos. Quando o fizessem, estariam exatamente no mesmo nível.
Este era um pouco diferente e Roland já sabia disso. O grande número desses monstros já era fora do comum. Pelo que sabia, mesmo os teste da classe guerreira não eram tão intensos com tantos inimigos. Aparentemente, na maioria das vezes, eles lutavam apenas contra um inimigo no nível 2 para provar a si mesmos.
Dependendo da raridade da classe, a dificuldade aumentava. Ele não achava que um guerreiro de nível 50 sobreviveria aos diabos espinhosos, mas teve que ir além disso e enfrentar algo bem além dos níveis iniciais do nível 2.
“GUOO….”
Ele voltou à realidade e tentou se concentrar na batalha. Os monstros explodiram aqui e ali enquanto caminhavam por algumas das minas rúnicas. Ele passou a maior parte do tempo preparando essa construção metálica, então desta vez alguns dos Diabretes e Diabos Espinhosos realmente passariam.
‘Ainda não…’
Era um jogo de espera, quanto mais monstros entrassem nessa armadilha, melhor seria para ele. O maior problema com isso eram os vários graus de velocidade que todas essas criaturas possuíam. Os dois primeiros tipos de monstros eram quase os mesmos quando se tratava disso, mas os cães infernais eram muito mais rápidos. O novo demônio que estava arrastando as correntes era o mais lento até agora. Estava apenas se movendo lentamente em direção a ele sem se importar com o mundo.
Isso não era um bom presságio para Roland, pois queria ativar sua armadilha Frankenstein antes que qualquer um dos monstros pudesse alcançá-lo. Em alguns momentos, ele podia ouvir os uivos altos e ranger de dentes. Um dos cães do inferno estava sobre ele e precisava se defender.
Assim começou uma guerra de atrito. Enquanto o monstro das correntes de nível 2 levava seu tempo, Roland era continuamente atacado pelos cães infernais. Ele era alguém que realmente gostava de cães, mas aqui foi forçado a afundar suas cabeças com sua maça. Quando deu um golpe esmagador em um dos rostos da criatura, seus dentes voaram em todas as direções. Isso não impediu que outro mordesse sua perna, seus dentes infundidos com fogo mágico.
As grevas que ele formou de antemão conseguiram de alguma forma proteger sua perna. Com um rápido golpe de uma maça na latera do corpo do cão monstro, ele foi arremessado para longe. Enquanto estava ocupado se defendendo dos monstros mais ágeis, um espinho vindo de outro passou por uma lacuna em sua armadura.
Ele estremeceu de dor enquanto levantava seu escudo e se defendia de qualquer outro projétil que chegasse. A única coisa que podia fazer agora era recuar, circulando ao redor da área da armadilha que fez.
Mas havia um pequeno problema, quanto mais ele circulava, mais se via cercado. Logo os diabos espinhos e até os Diabretes estavam se movendo para tentar mata-lo. Ele agora estava apenas empurrando-os para trás com seu escudo e não era capaz de usar sua maça. Se ele desferisse um grande golpe, temia que um dos muitos monstros desse um golpe mortal.
‘Agora ou nunca!’
Finalmente, o maior dos monstros chegou ao alcance, o que levou Roland a voltar para o local onde estava a runa de controle. Ele se viu jogando seu escudo para longe enquanto inseria o cabo de sua maça na boca de um cão infernal antes de finalmente colocar a mão nela.
A runa de controle foi gravada em um pedaço grosso de metal. Dele, várias hastes de aço estavam saindo escondidas sob uma fina camada de areia. Depois de colocar a palma da mão nesta runa, ele injetou sua mana nela, no momento em que o fez, sentiu que sua cabeça iria explodir. Era como se alguém estivesse enfiando um prego gigante em sua orelha, bem em direção ao cérebro.
‘Argh…’
Um flash de eletricidade percorreu toda a armadilha rúnica que criou quando tudo se iluminou como uma árvore de Natal. Depois de trabalhar por um ano com geradores e eletricidade, ele aprendeu uma coisa ou duas sobre essas runas.
Esta armadilha produziu um choque elétrico maciço que foi descarregado nos monstros. Todos eles foram atingidos enquanto Roland se enrolava em uma pequena área onde as runas de relâmpago menores que ele fez não o levariam para a vida após a morte. Ele não saiu ileso, pois o dreno de sua mana era imenso. Isso foi claramente mostrado por um nariz sangrando junto com mais sangue saindo de seus ouvidos.
Todo o lugar ficou em silêncio, todos os monstros mortos no chão depois de receber o choque maciço. Roland não estava em um estado muito melhor, porém, ele começou a estremecer enquanto tentava se levantar do chão. Se sentiu terrível, mas ainda estava vivo.
‘Minha cabeça… consegui todos eles?’
Após um momento de silêncio, ele obteve sua resposta na forma de correntes chocalhando. Ele moveu a cabeça para cima e seus olhos começaram a se concentrar no som ameaçador. Lá estava ele, o monstro de nível 2. Ainda estava vivo, avançando em direção a ele enquanto as correntes tremiam. Sua pele parecia ainda mais carregada do que antes e estava até fumegando.
“Porra…”
Roland se sentiu mal, devido ao uso dessa armadilha improvisada, sua mana caiu abaixo de 5%. Era um milagre que ele estivesse consciente. Este demônio ou diabo não lhe daria muito tempo para se levantar. Ele lentamente andou em sua direção com passos lentos.
Levou um momento para encontrar a maça que ele inseriu na boca de um monstro junto com seu escudo. Com passos fracos e trêmulos, ele se moveu em direção a eles e conseguiu chegar até antes que esse monstro o alcançasse. Roland se animou, o monstro também não podia estar com a saúde completa. Ele recebeu o golpe da armadilha, mas estava na parte externa dela. Por causa disso, provavelmente recebeu menos choque do que agora estavam mortos.
Isso veio à tona na próxima troca que esses dois guerreiros restantes tiveram. O monstro soltou um rugido profundo antes de balançar a mão em direção a Roland. Ele se defendeu com seu escudo que cedeu sob a pressão. Aquelas correntes chacoalharam quando o Demônio das correntes tentou outro golpe.
O monstro era bem lento e seus golpes eram fáceis de ler. Os golpes foram reais, porém, cada vez que aqueles enormes punhos acorrentados desciam sobre o escudo de Roland, ele sentia seus ossos tremendo. Sua mão que estava segurando o escudo ficou dormente há muito tempo.
Mas este era o último inimigo, e se falhasse agora, precisaria fazer tudo de novo. Ele reuniu toda a força que lhe restava e deu outro golpe no escudo. Ele recebeu outro amassado, mas de alguma forma permaneceu intacto. Desta vez não deixou o monstro ter tempo para atacar novamente, não, em vez disso, ele balançou sua maça em direção ao seu joelho.
Ele injetou a mana restante que tinha nesta maça e deu um golpe esmagador com toda a sua força. Esta parte da perna não tinha nenhuma corrente em volta dela, ele ouviu um bom som de estalo do osso da criatura. Logo ela perdeu o equilíbrio e caiu para a frente, permitindo a Roland a chance que ele almejava.
O escudo foi jogado para o lado quando ele agarrou a maça com ambas as mãos. Com um longo golpe aéreo, ele derrubou a bola cravada na parte de trás da cabeça da criatura. Ele começou a bater, uma e outra vez. Seus gritos enlouquecidos encheram a arena silenciosa e ecoaram por toda parte.
“Morra, morra…. MORRAA!”
A cabeça da criatura que tinha uma forma um tanto humanóide logo se transformou em uma bagunça de carne e osso. A bola cravada que estava na maça se despedaçou em muitos pedaços de metal enquanto Roland continuava. Mesmo depois disso, ele continuou a acertá-lo com o que restava da haste da maça só depois de algum tempo ele conseguiu sair de seu estupor cheio de raiva.
“Uh…”
Ele gemeu enquanto caía para o lado em alguns restos de monstros. A única coisa que era capaz de fazer agora era ofegar e chiar. A única coisa que o manteve acordado foram os sons dos grandes portões da arena se fechando novamente. Ele temia o pensamento de que isso poderia não ter sido o fim deste julgamento, se outro monstro aparecesse agora, ele precisaria desistir.
Mas em vez disso, algo mais aconteceu. As paredes começaram a se mover novamente e os portões fechados pelos quais os monstros estavam saindo começaram a se mover abaixo do solo. Embora não fossem os portões que estavam se movendo, era o teto.
Roland rolou de costas e pôde ver o topo da arena se abrindo. Dela descia um lance de escadas junto com o teto. Logo o estrondo cessou, e ele ficou com um caminho para cima, parecia que isso poderia não ter sido o fim deste julgamento ainda.
“E agora…”
Antes que pudesse se perguntar se precisaria lutar contra outro monstro quando subisse aquelas escadas, sentiu uma sensação estranha percorrer todo o seu corpo. Os ferimentos que ele havia sofrido estavam sendo curados e a nebulosidade sobre sua mente estava sendo lavada.
Em questão de segundos, ele estava bem, uma recuperação completa foi alcançada. Ele pulou de pé e também notou que os corpos dos monstros haviam desaparecido há muito tempo junto com quaisquer sinais de combate. O que restava eram as escadas acima, ele estava mesmo de volta a usar as roupas genéricas que tinha antes de fabricar uma armadura melhor.
Roland estreitou os olhos para o lance de escadas. Não havia mais nada aqui, mesmo depois de percorrer aquelas escadas e o que restava desta arena. A única coisa que ele podia fazer era subir, ele temia que tivesse algum tipo de chefe bônus.
Então subiu e, para sua surpresa, a área em que se encontrava não estava apta para a batalha. Não, era uma biblioteca. Lá ele viu uma grande mesa com alguns livros e uma vela mágica iluminando o caminho. Depois de se certificar de que não havia inimigos escondidos ao redor, ele avançou, sua mão foi para o primeiro livro que encontrou.
“Hm… Segredos da Metalurgia de Runas?”
Depois de folhear as páginas deste livro e escolher outro, ele descobriu o que era.
“Acho que esta é a parte em que recebo minhas habilidades de Lord Runesmith…”
Roland olhou para a pilha de livros aqui, havia muitos deles e parecia que eles iriam oferecer a ele mais do que apenas habilidades. Havia desenhos para certas runas, teorias que não podiam ser compradas em casas de leilões. Com isso ele poderia esclarecer as deficiências de seu conhecimento, era hora de ler.
“Isso vai ser um exame escrito?”