O milagre da ampulheta nunca mais aconteceria, então a morte eterna os encontraria. Aria, imaginando desesperadamente o fim do par de irmão e irmã da família Roscent, acalmou sua mente e corpo agitados.
Momentos depois, a carruagem chegou a uma butique que os plebeus visitavam com frequência. Era um lugar antigo e solitário, onde aqueles que podiam pagar as mercadorias o visitavam com frequência.
Quando Aria anunciou seu destino, o cocheiro da carruagem e Jessie a encararam, piscando como se a tivessem ouvido mal. Mas não havia dúvida de que esse era o destino que ela queria ir. Era uma butique que lidava com roupas medianas.
Para se desfazer da imagem da cadela cruel, ela não podia ser extravagante. Pelo contrário, era melhor mostrar humildade e frugalidade por enquanto. Estava claro que os rumores iriam espiralar incontrolavelmente se ela andasse com luxo. Afinal, suas roupas foram queimadas.
O objetivo era apagar os boatos. De vez em quando, um nobre precisava usar roupas surradas e ficar diante do público para calar a boca das pessoas e fazê-las reconsiderar suas avaliações de sua personalidade e comportamento.
“Minha nossa! Ao contrário dos rumores, não é Mielle, mas Aria que é pobre. Olhe essa roupa surrada.”
“Ela finalmente percebeu sua posição. Parece ótimo nela.”
“O conde Roscent devia estar cansado. As coisas se resolveram bem.”
Mesmo que Aria tivesse aumentado de status, se as pessoas vissem Aria usar essas roupas, ajudaria aqueles que a criticaram a perceber que os rumores estavam errados. Claro, novos rumores podem surgir sobre como ela foi negligenciada pelo conde, mas tudo isso seria feito para remover sua imagem de mulher perversa. Estava claro que agir até esse extremo seria eficaz para acabar com os boatos. Ela estava pensando em fazer isso por um curto período de tempo, então ela poderia usar roupas chiques mais tarde.
‘Por exemplo, devo aparecer com um vestido muito elegante e gracioso em um baile de debutantes. Então, todos não ficariam surpresos?’
Para que pudesse desfrutar de seu futuro distante, ela precisava suportar o presente com alguma paciência.
Também seria bom mostrar essas ações para o conde. Graças a ela, o conde teria um belo lucro, de modo que ficaria furioso ao ver o traje pobre de seu benfeitor. Se ela fizesse uma confissão de pesar, dizendo que lamentava ter feito um jogo tão perigoso, com lágrimas nos olhos, ele poderia chorar solidariamente ao lado de seu benfeitor.
Como ela estava muito animada com a expectativa, seus lábios secaram. Depois que Aria umedeceu os lábios rosados com a língua vermelha, ela passou pela entrada um tanto surrada da butique.
“Bem-vinda.”
O proprietário, que estava prestes a cumprimentar seu valioso cliente, deixou cair o pão que estava comendo. Ver as três pessoas aparecerem com uma jovem no meio o fez perceber que ela era definitivamente uma nobre.
Depois de limpar rapidamente o óleo do pão de suas próprias roupas, ele cumprimentou Aria apressadamente com um rosto afetuoso. Se cometesse um erro contra uma nobre, ele viveria uma vida cheia de dor pelo resto de sua vida.
“Esses… podem ser itens insignificantes e triviais, mas olhe em volta devagar.”
“…”
Aria não se importou com a saudação do proprietário, mas olhou ao redor da loja. A loja estava repleta de uma grande variedade de itens, desde roupas surradas e feias até vestidos decentes.
Depois de escolher algumas roupas que eram pelo menos aceitáveis, ela pediu que todas fossem embrulhadas. Antes de entrar para a família do conde, mesmo que tivesse morrido de fome por três meses e economizado todo o dinheiro nesse ínterim, ela não teria sido capaz de comprar o item mais barato naquele lugar…
‘Todos os dias, eu caminhava pela frente da loja, admirando as roupas na vitrine.’
Mas agora, mesmo se ela comprasse aquela butique inteira, ela ainda teria algum dinheiro sobrando. Embora parecesse um passado distante, tudo tinha acontecido há apenas um ano se ela considerasse sua idade real. A vida de sua mãe virou de cabeça para baixo depois de seu casamento. Claro, embora isso tivesse custado um ótimo preço, Aria ainda se sentia um pouco amarga por algum motivo.
Na mesa no canto da butique, havia uma bandeja com um bule de chá fumegante e lanches baratos preparados. O proprietário a guiou até aquele local e perguntou cautelosamente: “Há mais roupas de alta qualidade lá em cima. Vai ficar tudo bem se você não olhar lá?”
“Está tudo bem. Deixe-me pagar apenas pelo que escolhi.”
“Sim, sim. Estará pronto imediatamente. Então, por favor, aproveite os refrescos e espere um momento.”
Vendo as costas do dono desaparecerem rapidamente, Aria pegou um lanche e mordeu. Provando aquele sabor amanteigado barato, ao invés de odiá-lo, ela sentiu falta. Ela achava que poderia ter sido melhor quando estava com fome, mas não sabia de nada agora, quando estava sendo extravagante e fazendo o que queria. Ainda assim, a fez relembrar sobre seu eu passado.
O dono da butique fez tudo ao seu alcance para não fazer Aria esperar muito, e ele logo apareceu com todos os dez itens embrulhados. Um cavaleiro recebeu os pacotes e Jessie pagou por eles.
A próxima parada foi o armazém onde estava a ampulheta. O trabalho do dia estaria terminado assim que ela recuperasse a ampulheta completa de lá e voltasse para a mansão.
‘Por alguma razão, estou um pouco triste.’
Olhando para trás, ela não tinha nenhuma memória de uma época em que ela tinha saído assim no passado. Tudo que ela conseguia lembrar era que ela estava perdida no pensamento de comprar coisas. Antes de subir na carruagem com a ajuda de um cavaleiro, ela começou a olhar as pessoas que passavam em frente à butique.
Como a loja ficava em um local frequentemente visitado por pessoas comuns, ela podia ver crianças gritando, correndo com roupas surradas e cafonas e barracas de mercadores carregadas de mercadorias de onde os comerciantes gritavam para serem notados, e vários curiosos, que mostraram interesse, estavam olhando para a mercadoria.
No passado, ela também corria e brincava lá. Falavam para ela não ir muito longe sozinha, então ela brincou nas proximidades. Ela tinha muitas lembranças de brigar com as outras crianças, que insultavam sua mãe prostituta, mas mesmo assim, também havia boas lembranças de brincar lá.
‘Mas como estou agora?’
Ela estava no meio de uma batalha constante com aqueles que fingiam ser graciosos e elegantes por fora, e que tiravam suas vidas como garantia para esconder sua personalidade feia no campo de batalha. O campo de batalha era tão horrível e doloroso que ela se perguntou se algum dia ela se sentiria feliz.
Quando Aria não se moveu, observando as pessoas por um longo tempo, um dos cavaleiros que a acompanhava cuidadosamente perguntou: “Você tem outro lugar que deseja visitar?”
“Não, não é isso.”
Era inútil olhar para o seu passado antigo quando ela nunca poderia voltar a ele.
Ao virar a cabeça e tentar entrar na carruagem, ouviu uma voz muito familiar: “Aluguel de jornal! Cinco xelins por dez minutos! Ele contém informações muito importantes, portanto, certifique-se de dar uma olhada! Apenas cinco xelins!”
Aria parou em seu lugar e olhou na direção da voz. Lá, ela viu um menino segurando um jornal na mão, gritando por clientes nas ruas. Era uma criança que Aria conhecia muito bem; uma criança com quem ela saía às vezes.
Hans foi quem alugou o jornal. O menino conseguiu alimentar sua família com aquele único jornal. Ele comprava um jornal no primeiro dia do mês e alugava-o desde o amanhecer até a meia-noite, todos os dias, para ganhar uma pequena quantia em dinheiro.
Andando muito ocupado, ele sempre teve bolhas nos pés, e ela ouviu rumores de que ele acabou sendo atropelado por uma carruagem enquanto trabalhava, apesar de sua doença.
‘Um jornal.’ Pensando bem, ela precisava de algumas informações.
Embora os jornais fossem entregues à casa do conde diariamente, a informação era dirigida à nobreza, o que era diferente das informações dos jornais dirigidos aos plebeus.