Havia uma superstição desconhecida de que se um homem sempre carregasse o lenço presenteado de uma filha ou esposa pela primeira vez, ele seria capaz de viver muito tempo sem uma doença. O conde ainda não tinha recebido um lenço de presente de Mielle, então, se Aria fosse lhe dar um, ele teria que carregá-lo pelo resto da vida. Embora Aria não fosse a filha biológica do conde, a verdade é que ela ainda era uma filha.
Pelo que ela se lembrava, foi aos quinze anos que Mielle presenteou o conde com um lenço que bordou. Demorou muito para aprender a bordar porque suas mãos eram inesperadamente lentas e, como Mielle era perfeccionista, demorou mais para atingir um nível de bordado que satisfizesse.
‘Portanto, mesmo que ela começasse agora, ainda demoraria muito.’
Não só isso, Aria tinha uma professora confiável chamada Sarah ao seu lado. Se as coisas não dessem certo, ela pediria a Sarah que fizesse um em seu lugar.
Como suas habilidades com o bordado ainda não eram conhecidas pelo mundo, seria excelente aplicá-lo primeiro. Se ela desse um lenço tão significativo, poderia ser que Mielle não seria capaz de presentear um ao conde pelo resto de sua vida, já que sempre seria comparado.
Sempre que ele usava o lenço que Aria bordava, Mielle ficava impotente, mas ria e sorria por fora, mas fumegava de raiva por dentro. Esse era o novo futuro que Aria faria.
* * * * *
Aria não contou a ninguém que estava aprendendo bordado com Sarah.
Ela também havia pedido que sua professora, Sarah, mantivesse isso em segredo. Se alguém descobrisse, isso iria naturalmente aos ouvidos de Mielle, e ela, por sua vez, começaria a aprender a bordar.
Não importa o quão desastroso seja o bordado de Mielle, não seria o ideal se as duas começassem a aprender ao mesmo tempo. Além disso, se o conde soubesse que Mielle havia começado a aprender a bordar, havia também a possibilidade de ele não aceitar o lenço de Aria. Era natural que um pai preferisse receber o lenço de sua filha biológica ao invés do de uma filha que apareceu repentinamente uma noite.
Felizmente, a única pessoa que frequentava o quarto de Aria era Jessie, e como não havia muito que Aria precisasse chamar suas criadas, havia poucas chances de que ela fosse descoberta. Mielle só designaria sua empregada para Aria quando ela fizesse quinze anos, então Aria tinha um pouco de tempo para ficar sozinha.
A partir daí, Aria passou a praticar o bordado nas horas vagas. Se isso também foi um presente dado a ela por Deus, junto com sua reencarnação, ela logo foi capaz de criar belos bordados, embora não no nível de Sara. Ela até se admirou por ser capaz de fazer tanto com aquelas mãozinhas fofas.
Em poucos dias, Aria conseguiu fazer um lenço bordado com um coelho fofo e o deu de presente para Sarah. Sarah, segurando o lenço, ficou tão comovida que até corou.
“Agora, você não deve ter problemas para bordar o brasão da família.”
“Realmente? Então, seria possível você me ajudar, professora? Eu quero assistir e acompanhar.”
“Claro. Então, devemos adiar a aula e fazer alguns bordados?”
Aria tirou a seda de alta qualidade que recebera da condessa. Ela manteve isso em segredo de todos, mas ela tinha informado secretamente para sua mãe. Ao ouvir esse plano surpreendente de uma garota de quatorze anos, os olhos da condessa brilharam enquanto ela sorria em apoio.
“Claro! Faça o quanto quiser. Essa é uma ótima ideia!”
Ela estava satisfeita com sua posição atual, mas mesmo assim, ela continuou a trabalhar duro para guiar Aria. Sua mãe não a apoiava ativamente, já que ela não pedia muito, mas a condessa a ajudava quando ela precisava. Havia pelo menos um ponto reconfortante sobre ela.
“Essa seda é muito boa.”
“Isto é para um lenço que farei para meu pai.”
Que fofo! Sarah foi assediada pelo desejo de acariciar a cabeça de Aria quando viu Aria corar ao responder. Quando Aria percebeu que a mão de Sarah parecia ter parado no ar, ela sorriu, dizendo: “Professor, por favor, acaricie minha cabeça e me elogie”, e aquela beleza levou Sarah a acariciar cuidadosamente sua cabeça.
O rosto de Sarah indicava que ela estava sendo muito desrespeitosa, mas Aria passou a gostar dela, já que Sarah era mais afetuosa e cuidadosa com ela. Agradecendo por ainda ser uma criança, ela continuou a esfregar a cabeça nas mãos de Sarah. Ela esperava que Sarah continuasse a amá-la como uma criança por muito tempo.
* * * * *
Não demorou muito para que ela conseguisse costurar um pequeno brasão de família na ponta do lenço, e isso se devia ao fato de ela ter uma boa professora. Sarah ajudou a ajustar e corrigir as partes difíceis do processo.
O lenço preto bordado com um lírio prateado, que simbolizava o brasão da família, era tão bem feito que teria sido vendido por um preço alto no mercado. Aria dobrou o lenço pronto, guardou-o em uma gaveta e pediu ajuda a Sarah, dizendo que iria bordar outro.
“Que forma?”
“Uma rosa.”
“Uma… rosa?”
Uma rosa era o selo do duque de Frederico. Com pétalas de ouro, era também o símbolo da linhagem direta da família real.
Aria tirou um pano vermelho e fio dourado. Um pouco preocupada depois de ver Aria sorrir abertamente ao entregá-los a ela, Sarah perguntou: “Você sabe o significado das rosas douradas?”
“Sim. Elas são o brasão do Duque de Frederico.”
E esse herdeiro também seria o amor não correspondido de Mielle no futuro.
No passado, esses dois se conectaram. Aria refez suas memórias, mas ela não conseguiu encontrar a resposta. Ela se lembrava de que eles haviam ficado noivos, mas não conseguia se lembrar se haviam se casado. O objetivo de Aria era dar o lenço ao sucessor do duque atual antes de Mielle, um lenço com o brasão de sua família.
Se ele não aceitasse, não haveria razão para perguntar por quê. Isso porque o objetivo não era se ele aceitava ou não, mas sim o ato de dar a ele. Foi o que Mielle fez no passado.
Ela sabia muito bem que ele não iria gostar dela de repente por causa de um lenço. O lenço funcionou apenas como um medidor. Pode parecer um ato insignificante, mas com certeza abriria a porta para o diálogo. No geral, Aria tinha mais habilidades do que o bordado, então esse era um método indireto de criar uma oportunidade para si mesma.
Sarah hesitou em responder a resposta alegre e leve de Aria. Embora a rosa de Frederico fosse frequentemente usada por causa de sua beleza e como um ato de respeito por sua autoridade, a situação mudaria para uma jovem aristocrática solteira.
Não foi só por causa do lenço. Além disso, a irmã mais nova de Aria, Mielle, pode ter ligações com o sucessor. Ela tinha que ser mais cautelosa com o comportamento de Aria do que qualquer outra pessoa; ela tinha que dar um nó rapidamente se as coisas não se desenrolassem bem.
Claro, seria dado que Aria seria pega em fofocas, mesmo que não fosse intencional. Aria já era alguém atualmente sujeito a rumores ruins infundados. Se Aria desse ao sucessor o lenço bordado com uma rosa, ela certamente ficaria sobrecarregada com a fofoca, a ponto de não poder mais sair.
‘Ela é muito bonita e meio uma criança para isso…’
Sarah pensou que ficaria com o coração partido e teria noites sem dormir se visse uma criança tão brilhante e bonita sujeita a tanto sofrimento.
Quando ela a conheceu, Sarah pensou que Aria se tornaria uma grande jovem que varreria a sociedade com grande influência, mas agora, as coisas eram diferentes. Ela não podia imaginar que uma garota tão inocente e gentil sobreviveria em um covil tão assustador e terrível.
Sarah agarrou as mãos de Aria, e aqueles olhos puros e brilhantes olharam para Sarah. Era muito surreal pensar que olhos tão puros pudessem passar por grandes dificuldades nas mãos da sociedade suja, feia e suja de lama.