— Que foi?
— Por que você está contra a Ruptura? Eles ainda estão empenhados em derrotar o Grande Irmão. Isso não muda, mesmo que estejam trabalhando com os Monarcas agora. Você não tem motivos para detê-los.
Surha se encolheu. Essas palavras eram algo que ela não tinha ouvido do Anônimo nos últimos três meses. Ele estava fazendo um novo tipo de ‘pergunta’ para ela. Ela sentiu expectativa e preocupação ao mesmo tempo e respondeu:
— O mestre não pode derrotar o Grande Irmão.
Anônimo então percebeu algo rapidamente.
— Essa é a sua [Premonição]?
— Sim. Aquela que você criou para mim.
— Você sabe que nunca é tão certo.
— Mas geralmente é.
Anônimo então pensou um pouco.
— Mesmo se você estiver certa, isso não é suficiente.
— Não?
— Mesmo que o Mestre não consiga derrotar o Grande Irmão, isso não lhe dá uma razão para deixar a Ruptura.
— …
— O Mestre é um dos poucos seres que podem ver o Grande Irmão. Mesmo que você tenha visto a Premonição… Ele é a única chance contra o Grande Irmão…
Foi quando o Anônimo olhou para ela. Pela primeira vez, ele riu.
— Você viu uma esperança diferente.
— Não mude de assunto.
— Quem é? A nova esperança?
— Não é importante. O importante é parar a Ruptura. Não podemos ter sacrifícios desnecessários.
— Sacrifícios desnecessários…
Anônimo disse:
— Você soa muito ‘humana’.
— Sim, fiquei surpresa por ainda ser humana.
— Interessante.
Anônimo riu e disse:
— Eu sabia que o Mestre não derrotaria o Grande Irmão. Também tenho a Premonição. Em vez disso, ele escolherá se tornar um governante do <Abismo> em vez de derrotar o Grande Irmão.
— Você sabia! Então por que…
— Mas não temos motivos para impedi-lo de fazer isso.
— O quê?
— Se não destruirmos o Grande Irmão e o Sistema, nada vai mudar. Como você sabe, o Grande Irmão é um monstro que nem mesmo o Mestre pode derrotar. Não tenho certeza de que ‘esperança’ você viu, mas ninguém pode derrotar o Grande Irmão. Ninguém.
Surha se encolheu com a certeza das palavras do Anônimo e com o desespero que continha. Ele continuou.
— E seja o Mestre, os oito Deuses do <Abismo> ou qualquer outro… O Mestre do <Abismo> sempre muda. É apenas uma parte de um grande ciclo. Não é a primeira vez que um massacre em massa acontece no <Abismo>. É apenas mais um incidente da história.
— E você vai apenas assistir acontecer?
— Nada vai mudar mesmo.
— Vai sim! Enquanto não desistirmos, o mundo pode mudar! Não é tão tarde! Paramos a Ruptura e ficamos mais fortes. E quando o fizermos, lutaremos contra o Grande Irmão e…!
Surha ficou chocada com sua própria voz — ela ficou surpresa por ainda ter tanta paixão dentro dela. Como havia encontrado tanta esperança, quando estava sempre presa em seu desespero? Surha sabia a resposta, mas tentou não pensar nisso. O Anônimo riu.
— Parece que seus setecentos anos não foram suficientes.
— …
— Mas você saberá se viver dezenas de milhares de anos. Há desespero por muito tempo para esperar uma mudança.
— Droga. Você parece meu amigo.
Surha se lembrou de seu amigo Adel, que encontrou pela última vez quando deixou a Ruptura — um amigo que se recusou a partir com ela. Ele também tinha os mesmos olhos do Anônimo agora. Mas a expressão dele ficou estranha.
— Amigo? Amigo…
— Hã?
Surha ficou confusa e o Anônimo sorriu.
— Na verdade, eu tinha um amigo que falava exatamente como você.
— Eu? Como eu?
— Sim. Tinha um amigo.
Ele tinha um amigo? Surha não perguntou, mas ouviu sua história.
— Teve um Pesadelo que veio até mim uma vez. Queríamos um mundo parecido e nos tornamos bons amigos. Ele era único. Era um Pesadelo, mas falava contra o [Cultivo]. Também se considerava um criminoso que fez uma torre.
— Um Pesadelo que era contra o Cultivo?
— Ele falava como você. Que o mundo pode mudar se não desistirmos…
Surha percebeu quem provavelmente era aquele ‘Pesadelo’. Antes que ela pudesse falar, o Anônimo continuou:
— Ele era um pesadelo, mas era mais poderoso do que qualquer um dos deuses que eu conhecia. Ele foi o único que coletou duas [Peças] dos Três Deuses Antigos.
Duas delas? Ele era um pesadelo tão poderoso? Surha não podia acreditar.
— Esta parte não é amplamente conhecida. Centenas de anos atrás, ele tinha o mesmo objetivo que Myad tem agora. E partiu para o [Ninho] para enfrentar o Grande Irmão sozinho.
— Como? O que aconteceu então?
— Você não sabe o que aconteceu? Aconteceu há centenas de anos. Ninguém ouviu falar dele voltando. O mundo não mudou.
O mundo não mudou. Era evidente o que isso significava. Mesmo o ser que tinha em mãos duas [Peças] dos Três Deuses Antigos falhou em derrotar o Grande Irmão. Surha então de repente percebeu a profundidade do desespero que o Anônimo enfrentava. Este pobre velho Deus havia desistido de todas as esperanças quando o Pesadelo falhou. Ele havia aceitado o fato de que ninguém poderia mudar este mundo para sempre.
— Mas, mas…
— Se ninguém pode derrotar o Grande Irmão, então não importa quem se torne o mestre do <Abismo>. Não importa.
Surha ficou desesperada com a voz. Ela não podia lutar contra suas esperanças contra tal desespero gigante. Sentiu que suas esperanças não eram nada contra tais falhas e previsões.
Ele estava certo. Não importa quem se torne o mestre do <Abismo>, não mudaria nada se o Sistema ainda estivesse lá. A história se repetiria e ela era apenas uma pequena partícula dentro dela.
— Mas…
Mas ela era humana. Ela existia ali como humana e permanecia ali como humana.
Por isso tinha que se defender. No entanto, não conseguia pensar no que tinha a dizer.
Foi quando uma explosão veio de fora. O poderoso poder mundial estava pressionando todo o palácio. Surha ficou pálida.
— Eu te disse! Eles já estão aqui! Eles…
Mas foi mais rápido do que o esperado. Ela ouviu que o segundo local iria cair em breve, mas imaginou que levaria mais tempo para a Ruptura chegar ao sétimo local. Ela sacou sua arma, Trovão Demoníco. Não havia escolha a não ser lutar.
No momento seguinte, a porta da Sala do Trono se abriu e um homem e um menino apareceram.
— Uau, Jaehwan você é tão bom!
Havia a voz de um menino barulhento e do homem. Surha ficou chocada.
— Você… Você… Como você…?!
Era impossível ele estar ali. Não, ele não poderia estar ali. Por que estava ali?
— Há quanto tempo.
E lá estava sua esperança.