Ele não esqueceu o que ouviu na noite passada. Aqueles cinco com os ceifadores queriam que a Rainha vivesse, claro, mas, então, eles não proibiram ele expressamente de matá-la. Então em seu entendimento, ele não estava tecnicamente desobedecendo Sr. Boulder.
O sorriso de Geoffrey ficava maior conforme pensava no assunto.
— Isso vai chatear uma galera que eu conheço. — Ele disse para o conselheiro conforme saiam juntos. — Mas isso só me faz querer matar ela ainda mais. Eu me pergunto o que eles vão fazer.
O último dia de encontros com a Guarda da Rainha começou. Helen estava sentada na frente de outro jovem desconfortável em um silêncio abjeto.
Fazer com que Mehlsanz observasse o castelo por alguns dias foi bem conveniente para fins de coletar informações. Apenas dois dos irmãos de Helen, Nathaniel e David, viviam com ela em seu Castelo de Belgrant, mas todos os sete irmãos estavam atualmente aqui. Eles tinham, obviamente que correr para o lado dela assim que ouvissem as notícias de tentativa de assassinato. De fato, uma das razões dela decidir empregar essa estratégia era que isso livrava ela de ter que ouvir seus “conselhos” incessantes.
Em sua mente, o culpado mais provável era seu irmão mais velho, Príncipe Gabriel, já que ele era o presumido herdeiro ao trono antes da ascensão dela. E ainda assim, de acordo com Mehlsanz, Gabriel não estava se comportando de maneira estranha. Se ele fosse culpado, então ele estava escondendo bem o bastante para esconder de alguém que nem conseguia ver. Entretanto, Mehlsanz não podia ficar de olho nele 24 horas por dia enquanto ainda observava os outros.
A jovem Lynnette Edith até agora se mostrou leal. Mehlsanz não viu ela contar para ninguém as ordens de Helen, mesmo quando seus camaradas perguntavam, mas de novo, Mehlsanz só podia dar um relato incompleto de eventos.
A porta lateral do quarto de desenho foi aberta e um homem loiro, barbudo enfiou sua cabeça pela brexa. Ele olhou diretamente para Helen.
— Eu sei que você não quer ser perturbada, mas eu gostaria de falar com você.
Helen se retirou do quarto e foi para a sala adjacente com ele.
Esse homem era William Belgrant. Ele era seu marido. E caso ela morresse, todo o poder da Coroa passaria para ele.
De acordo com Mehlsanz, ele estava trabalhando mais do que qualquer um para encontrar o assassino, mas de algum jeito isso só o fazia parecer ainda mais suspeito na mente de Helen. Se ela fosse honesta, ele era a última pessoa que ela queria que fosse responsável pela tentativa de assassinato, mas isso era as emoções falando, não a razão, e ela se recusava a ser cega por emoções.
Ainda não fazia sentido para ele querer matá-la. Sim, ele era o Rei consorte e não o Rei regente, mas não havia uma discrepância terrível entre os dois, a menos que suas visões políticas fossem vastamente diferentes do que ele dizia que eram. E, certamente, quatorze anos de casamento ensinou algo sobre o coração desse homem. Ele pode ter a maior motivação para matá-la, mas ela não conseguia imaginar ele fazendo algo assim. Não o momento pelo menos.
Piscando lentamente com seus olhos cansados com várias olheiras, William levou ela para o outro lado do quarto em formato de L e gesticulou para a mulher idosa, cheia parada lá – sua tia, Duquesa Jezebel Belgrant.
— Ela me disse algo que eu acho que você devia ouvir. — William disse.
— Acho que sei a motivação do assassino. — A Duquesa disse.
Helen meramente esperou ela explicar.
— Isso tem a ver com sua tendência a… ignorar certos membros do seu conselho. A maioria deles na verdade.
— Não estou certa do que você está se referindo. — Helen disse.
Jezebel franziu o cenho e as muitas rugas em seu rosto gordo se viraram para baixo também.
— Você sabe que há considerável apoio para o movimento expansionista, certo?
— Nós acreditamos que sua oposição ao movimento incitou o ataque. — William disse.
— Ah. — Helen disse. Eles não estavam contando algo que ela já sabia. Não havia muito mais que podia fazer com que um de seus irmãos tentasse matar ela. Mas esses dois provavelmente não sabem qual dos seus irmãos é o responsável. Mesmo assim, ela permaneceu quieta. Até ela saber onde está a lealdade deles, ela não viu razão para dar informação a eles sem necessidade.
— Estou surpresa que você precisou de nós para te contar. — Jezebel disse. — Uma rainha devia conhecer melhor usa corte. — A mulher sempre tinha algo para criticar.
Helen deu um sorriso forçado.
— Eu vou levar isso em consideração. Você pode me dizer quem lidera o movimento expansionista?
— Temo que não. — A Duquesa disse. — Há pelo menos uma dúzia de membros do conselho apoiando, todos de posição igual.
Do canto de seu olho, Helen viu Mehlsanz passar pela parede. Ela decidiu agradecer a Duquesa e o Rei pela informação deles e voltou para o quarto de desenho, ceifadora atrás.
Você realmente acha que seu marido é o responsável? — Mehlsanz disse. Ele parece um homem decente.
Eu tenho que ter certeza. Eu nunca pensei muito nisso antes, e talvez eu devesse, mas me lembro que William foi inicialmente relutante em casar comigo.
Oh? E você não?
Eu… gostava muito dele.
Aha.
Ele nunca foi terrivelmente afetivo. Mas também nunca fui.
Cê sabe, eu tive um casamento arranjado também. Mas, como eu era uma escrava, meus pais não podiam falar nada também.
Helen se sentou novamente.
Você foi uma escrava?
Só até eu ser velha o bastante para dar a luz. — A ceifadora disse. Meu mestre me vendeu na hora. Mas pouco ele sabia que eu era infértil.
Com o jovem guarda ainda presente no quarto, a Rainha só olhou para Mehlsanz.
De qualquer jeito, você devia mesmo meditar.
Eu ainda não entendo como você precisaria de mim para te proteger de algo.
Bem. O mundo é muito maior e mais assustador do que você pensa, Vossa Majestade.
Por favor não me chame assim.
Helen da Casa de Belgrant?
Só Helen tá bom.
Tá bom, Só Helen.
Sua…
Parece um título de filme. “Só Helen. Venha acompanhar enquanto uma mulher descobre o que significa ser ela mesma.” Aposto que você iria ver também, sua velha genérica, licitante.
Você é insuportável…
Com certeza você iria
Por favor, volte a observar o castelo.
Tudo bem. Mas medite enquanto eu estiver fora.
Certo.
A ceifadora foi embora e Helen tentou fazer como ela pediu, mas achou incrivelmente difícil meditar enquanto um estranho olhava para ela. Certamente, o guarda devia estar pensando que ela estava dormindo e só de pensar que ele voltaria para seus camaradas e falaria para eles como ele viu a Rainha dormindo no trabalho era mais do que o bastante para perturbar seus pensamentos.
Mas, com o tempo, Mehlsanz interrompeu seus esforços vãos.
Ah não…
O que é?
Eu encontrei uma alma vagando no porão. Alguém morreu lá. E recentemente também.
Quão recente?
Algumas horas no máximo.
Hector não ligou muito para a rodovia. As curvas eram longas e graduais e não havia muito tráfego a essa hora da manhã. A única parte ruim era ter que evitar detritos na estrada. Ele não podia só passar por cima de um pneu estourado ou uma garrafa de plástico e esperar manter o controle da moto.
Exceto as torres de Brighton diminuindo, colinas verdejantes preenchiam todos os horizontes conforme ele acelerava na estrada. Nuvens brancas e pretas pontilhavam um céu do contrário azul e Hector podia ver um chuvisco leve no visor de seu capacete. Garovel apontou que não era seguro continuar usando um capacete que já foi envolvido numa colisão e Hector prometeu encontrar um novo assim que pudesse, já que eles estavam tão preocupados com segurança.
Ele não conseguia se lembrar quando foi a última vez ele viu as planícies Atreyanas tão claramente. A coisas mais mundanas atraiam seu olhar. Uma árvore solitária, massiva, galhos se alastrando mais altos e largos do que qualquer coisa que ele viu em Brighton. Um rebanho pitoresco de ovelhas pastando na colina, pastor e cachorro não muito longe. A sombra leve das montanhas ocidentais a sua direita, felizmente não entre ele e Sescoria.
Então, ele sentiu a moto tremer sob seu corpo e ele percebeu que estava passando por cima dos refletores alaranjados no meio da estrada. Ele corrigiu seu curso e decidiu deixar para ficar embasbacado depois.
Há algumas coisas que eu preciso te contar antes de chegarmos lá. — Garovel disse.
Coisas?
Em particular, nomes. Eu não sei o que nós vamos encontrar na capital, mas acho que isso vai se tornar relevante eventualmente de qualquer jeito, então melhor eu te contar de uma vez.
Tudo certo. — Hector estava tentando manter seus olhos na estrada.
Com ceifadores, há duas entidades grandes: Abolir e Vanguarda. O equilíbrio de poder muda entre elas. Porém, até onde eu sei, pode haver um terceiro grande poder atualmente. Estou um pouco por fora das coisas, se isso já não ficou óbvio.
Hmm. Esses dois lados estão em guerra?
Constantemente. Por todo mundo. Está desse jeito a eras.
Geez… qual o motivo dessa luta toda?
Bom, — Garovel disse. você se lembra de quando eu disse que há alguns ceifadores que estão tentando piorar as coisas?
Sim?
Eu estava falando sobre a Abolir. É o que eles fazem.
Por que?
A razão principal é que eles querem “prosseguir” para o pós vida. Sabe, eles acreditam que a razão para os ceifadores existirem é para levar as almas humanas para o pós-vida e mais ainda, eles acreditam que quando não houver mais almas para levar, nosso “propósito” estará cumprido e nós também poderemos prosseguir para o pós-vida nós mesmos.
Mas… isso, quero dizer… isso é verdade?
Não. É balela. Não há razão alguma para acreditar que nós vamos ser magicamente transportados para outro plano de existência só porque todo mundo em Eleg morreu.
Vo-você tem certeza?
Mesmo se nós supormos que seja, eu ainda acho que uma maluquice do caralho usar isso como justificativa para destruir a humanidade.
Eesh… eles realmente querem destruir a raça humana? Quero dizer… isso é tão…
Estúpido?
É só… vocês conseguem morrer, certo? Quero dizer, se esses caras da Abolir querem tanto ir passar para o pós-vida, então por que eles não só… cê sabe… peçam para um dos servos deles matá-los ou algo do tipo?
Garovel suspirou. Porque eles acreditam nessa porra chamada “destino”. Eles acham que uma existência superior nos ordenou a ser ceifadores e se nós nos matarmos para evitar a responsabilidade divina, então nós seremos punidos no pós-vida. Ou alguma merda dessa – eu sei lá. É tudo muito perturbador. E também, porque eles são malditos covardes, iludidos.
Mas… um poder maior ou o que for… não teria um problema com eles matando todo mundo?
É o que alguém normal pensaria. Ei, eu te disse que eles são malucos pra caralho.
Gah…
Mas eu imagino que alguns ceifadores fizeram isso mesmo antes, só treinaram um servo para tirar suas próprias vidas. Mas, obviamente, esses caras estariam mortos agora e não nos causando problemas.
Mm, bom ponto…
E, sinceramente, — Garovel prosseguiu, não acho que todos os membros da Abolir realmente acreditam nisso também. Eu acho que alguns deles só adoram a oportunidade de destruir. O que, cê sabe, eu quase consigo entender. Destruir coisas é legal. Mas não quando isso causa miséria e morte arbitrária.
Isso meio que parece… alguém que nós já conhecemos…
Você notou isso também, hein? Eu estava me perguntando se Geoffrey está de alguma forma ligado à Abolir também. Mas se ele estivesse, você pensaria que ele já saberia o que são ceifadores antes de nos encontrar.
Talvez ele estava mentindo.
Eh, que mentira estranha de se contar. E não estou certo se o Geoffrey ao menos sabe como mentir. Ele ficou mais do que feliz sobre falar sobre seus assassinatos.
Ah… então, que tal esse, uh… grupo da Vanguarda? Eles estão tentando proteger o mundo?
Sim. Mas você tem que entender, que ambos os grupos podem ser divididos ainda mais em uma porrada de facções menores, cada uma com objetivos levemente diferentes ou variações da crença como um todo. Ao passo que é possível nós encontrarmos aliados na Vanguarda, não podemos garantir que eles sempre serão amigáveis. Eu lembro de alguns ceifadores lá que nós realmente não queremos chegar perto.
Espera. Você é um membro da Vanguarda?
Eu costumava ser. Meu último servo e eu trabalhamos com eles por muito tempo, então eu conheço muitos ceifadores de lá.
Hector levantou suas sobrancelhas. Seu último servo… o que aconteceu com ele? Ou… ela?
Nós ficamos juntos por um tempo e ele ficou cansado daquilo tudo. Ele decidiu que estava pronto para morrer, então ele me pediu para libertá-lo. E eu o fiz.
Como ele era?
Outra hora. Agora, você precisa saber dos nomes importantes – dos servos mais poderosos no mundo na verdade. Os nomes que todos sabem que não devem mexer, incluindo a gente.
Ah, uh – okay…
Há quatro nomes que você precisa ser particularmente ciente. Eles são Dozer, Morgunov, Sai-hee e Sermung.’
Hector apertou seus olhos.
Dozer… ?
Você sabe que existe um país que também se chama Dozer, certo?
Sim… ?
Isso não é uma coincidência.
Oh…
Morgunov e Dozer ambos lideram a Abolir, apesar deles se odiarem. Sermung lidera a Vanguarda sozinho e Sai-hee é neutra.
Esse Sermung luta contra duas pessoas de uma vez?
Não é só eles se lembre. Eles possuem exércitos de ceifadores e servos ajudando eles e apesar deles serem os mais famosos, seus subordinados de patente mais alta também são extremamente fortes. Mas sim, Sermung é um monstro total.
Entendo…
Idade é geralmente um fator determinante. Essas quatro pessoas são os imperadores de uma comunidade por, não sei, uns duzentos ou trezentos anos agora e isso é porque eles que sobreviveram mais tempo. Eu acho que Sermung tem uns 600 anos de idade e eu acho que os outros também possuem idades similares.
Eesh…
Eu sei um pouco mais sobre Sermung, porque eu já conheci ele antes, ele e seu ceifador, Tenebrach.
Uou. Como eles são?
Eles são um par ferozmente impressionante. Honráveis, inteligentes e… eles tem essa presença estranha que era apenas… esmagadora só de ficar perto.
Você disse… que ele tem 600 anos de idade, mas… ele não é meio jovem? Quero dizer, se os servos mais velhos são os mais poderosos, então eu achei que ele ter tipo… a sua idade basicamente. Cê sabe, milhares de anos.
Ah. Bom.Sim. Há uma história longa e complicada, mas basta dizer, as pessoas mais poderosas no mundo tendem a ser mortas eventualmente. Quanto mais tempo um império existe, mais a propensão dele a corrupção e por aí vai. Mais cedo ou mais tarde, uma nova geração se levanta, uma mudança massiva de poder ocorre e, então, caos total até um novo equilíbrio ser alcançado.
Mas não nos últimos séculos, você disse?
As coisas chegaram em um tipo de impasse, eu acho. Mudanças grandes de poder geralmente precisam dessas estrelas em ascensão – ou seja, servos cujo poder esteja crescendo exponencialmente porque eles estão constantemente envolvidos em conflitos imensos. O que acontece bastante, na verdade, mas eu acho que o problema hoje em dia é que os imperadores estão todos prestando atenção nisso. Quando eles veem um servo jovem causar ondas no mundo, eles não só ignoram aquela pessoa.
O que, então eles matam ela?
Ou recrutam ela, sim. É o tempo mais perigoso no crescimento de um servo. Você de repente tem quatro gigantes respirando no seu cangote e você se vê com duas escolhas: escolher um lado ou tentar sobreviver por tempo o bastante para se tornar um emperador você mesmo O que não é exatamente um dilema divertido de se estar. Eu conheço muitos ceifadores que intencionalmente liberam seus servos antes deles alcançarem esse limiar só para não serem perseguidos.
Os olhos de Hector se arregalaram e ele mexeu suas mãos.
Vo-você vai fazer isso comigo?
Não seja idiota. Claro que não.
Mas então… você está dizendo que quer que eu me junte a Vanguarda? Ou… me tornar um imperador? Porque eu realmente não estava planejando, uh… quero dizer, eu…
Garovel riu.
Só quero que você fique vivo Hector.
Eu… quero dizer, você tá falando sobre essa coisa doida, mas… só quero proteger as pessoas… cê sabe, se eu conseguir.
Isso é bom o bastante para mim. Nós vamos nos preocupar com isso depois.
Abruptamente, Hector notou um caminhão da polícia rodoviária vindo da direção oposta. Sua postura ficou rígida e ele segurou seu fôlego enquanto o esperava passar. Ele passou e ele assistiu do espelho retrovisor, se certificando de que ele não daria a volta de repente.
Depois de alguns minutos, ele relaxou de novo. Então, ele fez a próxima curva largo demais, saiu da estrada e jogou a moto numa vala.