— Tenho alguém? — Roman disse. — Por favor. Claro que eu que forjo tudo.
Ah, claro.
— É por isso que eu disse dois dias. Eu preciso de tempo para trabalhar.
Faça um pra mim também!
— Essa merda de novo não. Voreese, eu juro…
Fala sério. Só a identidade. Você pode pular o resto.
— Não!
Tch. — Ela se virou para Helen e Mehlsanz. Ele se recusa a fazer uma identidade falsa pra mim, mesmo como uma piada. Nem daria muito trabalho pra ele. Ele é tão preguiçoso. Não liga para minha felicidade mesmo.
— Sabe do que? Tá bom. Um dia, quando o país inteiro não estiver em perigo, eu faço uma para você. Tá bom? Feliz agora?
Sim!
— E para usar foto, eu vou usar uma foto de uma vadia de verdade.
Talvez você devia trocar a sua para um pau de verdade!
Primeiro, o queixo recresceu. Ossos estalaram em existência, seguido por artérias e músculos, então tendões, cartilagens, gorduras e a pele marrom escura. Seu pescoço cresceu, indo até seus ombros, então seu peito e braços. E, logo, o corpo inteiro de Hector estava completamente restaurado.
Porém, ele não acordou imediatamente. Ele ficou deitado sem vida por vários dias a mais até finalmente seus olhos se abrirem novamente.
Ele se sentou. Ele estava numa cama, ele viu e uma bem grande ainda por cima. O quarto tinha um ar de conforto e riqueza, mas ele não prestou muita atenção enquanto via Garovel ao seu lado.
A imagem do ceifador estava fraca, quase transparente, como um pano esticado tanto que a luz passava pelas costuras.
Há roupas na cadeira atrás de você.
Não eram roupas exatamente do seu estilo. Os jeans pretos eram macios e caros, mas eram largos demais, então ele usou o cinto junto dela com sua fivela de prata chamativa.
Obrigado por me proteger. Eu com certeza teria morrido se você não tivesse me protegido do jeito que você fez.
— De-de, ah… de nada… — A camisa de seda branca coube melhor nele, mesmo que as mangas fossem um pouco longas demais, então ele as enrolou até seus pulsos. — Porém, poderia não ter sido o bastante. Eles nos salvaram, eu acho?
Pelo que parece. Não estou certo de onde eles estão. Eu fiquei acordando e desmaiando.
Ele não estava certo se queria usar o casaco cinza também, mas depois de um momento, ele optou por usá-lo e, então, colocou meias e sapatos. — Você não parece muito bem a propósito.
Só estou cansado.
Abruptamente, uma mulher loira entrou no quarto. Ela levou um susto quando o viu.
— Ah! Uou! Tá bom então! Olá!
— O-oi.
— Você é o Hector, não?
— Si-sim…
— Eu sou a Gina. Prazer em te conhecer. Eu acredito que você conheceu meu patrão, Mestre Roman.
— Eu, ah… sim.
— Você está com fome?
Ele assentiu hesitante.
— Então, por favor me siga.
Ele pegou seu elmo arrasado e ela o guiou por uma série de corredores.
Pergunte a ela a quanto tempo estamos aqui.
Ele tentou falar, mas vacilou, não conseguindo se expressar.
Ah, fala sério Hector. Ela não consegue me ver. É você que tem que perguntar.
— Um… quan-quantos, ah…
Ela parou e se virou.
— Sim?
Ele se encolheu sob seu olhar.
— A quan-quanto tempo eu, uh… quero dizer…
Ela levantou uma sobrancelha para ele.
— Um. Você está aqui a duas semanas. Bom, sua cabeça estava pelo menos.
Pergunte onde estão os outros.
— On-onde, uh…
— Você está em Walton. Você veio de Sescoria, certo? É a leste daqui, se você já não sabia.
— Ah. Mas. Onde estão os outros? Roman e….
— Oh, eles saíram do país.
O quê?
— Por-por que?
— Ah. — Gina pôs a mãos em seu vestido e tirou um pequeno bloco de anotações. O que ela entregou para ele. — Mestre Roman deixou isso para você. Eu acredito que irá responder suas perguntas.
Ele o folheou e notou algumas páginas cheias de texto. Gina o levou até a cozinha e começou a preparar uma refeição enquanto ele lia.
As primeiras páginas diziam que eles acreditavam que Atreya entraria numa guerra em questão de meses e elaboraram que eles buscariam ajuda da Vanguarda. Roman aconselhou Hector a não seguir eles, visto que eles aparentemente não sabiam onde a viagem deles os levaria.
As posteriores páginas possuíam uma letra diferente, mais femininas e a pessoa logo se identificou como Voreese com as palavras escritas pela Rainha. Ela ofereceu detalhes sobre aberrações.
Ah. Disse Garovel ao ler por cima do ombro de Hector.
Voreese lembrou da minha pergunta. Ela é mais atenciosa do que eu imaginava. Eu vou ter que agradecer ela da próxima vez que nos virmos.
Aberrações ficam mais fortes conforme o número de pessoas que elas matam cresce. — Hector resumiu.
Eu imagino que isso explica o motivo de Geoffrey parecer mais forte que antes.
A boca de Hector se contorceu enquanto ele fazia uma carranca.
Ele está matando mais gente do que nunca… e ele não vai parar.
Com tudo que aconteceu, você pode ser a única pessoa em Atreya que pode matar Geoffrey agora.
Eu não estou certo se consigo. Já faz duas semanas. Provavelmente, ele está ainda mais forte.
Não importa muito contanto que a Abolir esteja protegendo ele.
Eu preciso treinar…
Vamos voltar para Brighton primeiro. Você já ficou longe por tempo demais agora.
Gina colocou um prato cheio de panquecas na frente dele. Então, veio os ovos, salsichas, brownies, torradas, morangos, melão, cereal e uma única banana.
Ele assistiu a cena como se ela estivesse trazendo barras de ouro para ele.
— Mestre Roman disse que você estaria com fome.
— Você… é incrível…
— Eu sei.
Ele mergulhou na comida.
Gina se sentou para comer com ele.
— Então qual é o seu lance de qualquer jeito? — Ela disse, mordendo um waffle.
— O-o que você quer dizer?
— Mestre Roman não parecia saber muito sobre você, mas ele ainda queria que eu te tratasse como um convidado de honra.
— Ah, uh… bom… eu não conheço ele muito bem também.
— Hmm. De onde você é?
Ele olhou para Garovel atrás dela.
Você devia contar a ela. Roman e a Rainha talvez precisem de um meio para nos contatar quando eles voltaram para Atreya. Gina talvez consiga nos ajudar com isso.
— Eu vivo em Brighton. — Ele disse.
— Bem longe. Por que você foi para Sescoria?
— Eu só… queria ajudar…
Ela pausou para inclinar sua cabeça.
— Quantos anos você tem?
— Dezesseis…
— E há quanto tempo você é um morto-vivo?
Ele piscou os olhos com a pergunta.
Diga a ela cinco meses. — Garovel disse.
— Uh, cinco meses mais ou menos…
— Entendo.
Por que você me fez mentir? Só faz algumas semanas…
Você é mais forte do que deveria. E é melhor se ninguém souber.
Eu… uh-
— Bom, Mestre Roman disse que você pode ficar por quanto tempo você quiser.
— Ah, eu deveria mesmo ir embora logo…
— Você tem negócios em Brighton?
— Ma-mais ou menos, sim…
— O que você faz lá?
— Na-nada demais…
Ela franziu os lábios para ele.
Ele cutucou uma panqueca com seu cargo e a deixou lá.
— Mas, ah… você tem uma caneta?
Ela lhe deu uma.
Ele escreveu seu número de telefone em uma página do bloco de notas e a arrancou para ela.
— No caso, uh, de Sr. Roman precisar da minha ajuda…
Ela a pegou e, então, escreveu um número de telefone.
— O mesmo vale para você então.
Ele tentou não ficar vermelho e falhou.
Eles terminaram de comer e Gina mostrou para ele a garagem debaixo da casa. Ela entregou uma chave para ele.
— Mestre Roman disse que você é um motociclista. — Ela gesticulou para uma cruiser vermelha com chamas brancas e pretas pintadas nela.
Hector olhou para Gina. — Sr. Roman está dando isso para mim?
— Sim.
— Ah – uou…
— Deve haver dinheiro para a gasolina nas suas roupas a propósito.
Ele procurou em seu casaco e achou uma pequena bolada de notas no bolso.
— O-obrigado.
— De nada.
Eu não notei que aquele cara era tão generoso. — Garovel disse. Espero que ele não se importe muito com essa bicicleta.
Um. A terceira vez da sorte?
Sim, claro.
Essa aqui não é uma Revenant.
Eu não acho que o fabricante foi o problema Hector.
Eu vou só culpar você então.
Se iluda o quanto quiser.
Gina abriu a porta da garagem para ele.
Ele usou o capacete da moto em vez de seu elmo e montou na máquina. Ele deu partida e o som do motor encheu o lugar. Gina se despediu dele. Ele acenou de volta e foi embora.
Ele parou logo antes do primeiro cruzamento, antes de chegar no tráfego e piscou.
Eu acabei de notar uma coisa. — Ele disse. Não estou com dor.
Eu restaurei o seu corpo muito tempo antes de você acordar. — Garovel disse. Eu precisava de mais descanso, então usei a oportunidade para te aliviar da dor também.
Ele flexionou suas mãos na frente de seu rosto.
Meu corpo está tão… leve. — Ele sorriu dentro de seu capacete. Isso é foda pra caralho! Ah vei! Eu esqueci como era essa sensação!
Ah. De nada.
Ele foi fazer uma curva estrada, mas se parou de novo.
A propósito, uh… pra onde caralhos eu vou?
Garovel deu instruções para ele e, logo, ele se encontrou na rodovia indo para o sul.
Montanhas jazima no horizonte, as mesmas que ele viu em seu caminho para Sescoria. Porém, nessa distância ele conseguia ver o pico ocasional coberto de neve.
Vamos dar a volta nessa montanhas. — Garovel disse. Prefiro não ver você cair de um penhasco. Um momento depois. Tá, sim, eu gostaria de ver isso, mas ainda seria muito inconveniente.
A moto de Hector rugiu na rodovia. O tráfego estava um pouco mais denso do que antes, mas ainda nem perto da quantidade que havia na cidade. Depois de um tempo, ele se lembrou de outra pergunta.
As habilidades do Desmond. — Hector disse. Você não disse que explicaria elas?
Ah, sim. As habilidades dele entram na categoria de transfiguração. Eu acho que as do cara grandão também.
O que significa… ?
Habilidades de transfiguração permitem que o usuário substitua partes do seu corpo por um elemento em particular. No caso do Desmond, acho que o elemento era sódio.
Sódio? Isso não explode… explode?
Quando misturado com água, explode.
Oh. Então, ele estava usando… hmm.
Tecnicamente, não é o sódio em si o responsável por isso. Aquecimento da reação química inflama o hidrogênio que é expelido como um resultado.
Eu… tá bom.
Sódio e água podem causar uma explosão bem violenta, mas mesmo assim, as explosões de Desmond pareciam mais poderosas. Eu assumo que ele também estava usando uma técnica de fortalecimento de alma para dar uma força extra a elas.
Fortalecimento da alma… isso parece… útil.
É basicamente amplificar suas qualidades físicas através da aplicação de força mental. É algo que você só consegue fazer quando seu poder imaginário fica mais forte.
Eu imagino que não é tão fácil quanto o primeiro passo foi.
Não é fácil ou difícil na verdade. E diferente da sua habilidade com ferro, ela não consegue crescer em explosões repentinas devido a estresse mental. Poder imaginário é baseado em manipulação da sua alma.
E depois? Mais meditação então?
Não. Depois que o primeiro passo é dado, o único jeito de aumentar seu poder imaginário é o tempo.
O que?
Entenda, eu tenho controle sobre sua alma. A fim de você conseguir manipular ela também, eu e você temos que passar mais tempo juntos. Gradualmente, sua alma e a minha se tornarão mais sincronizadas.
Você quer dizer, tipo… através do poder da amizade ou alguma merda dessas?
Garovel riu. Não. Amizade infelizmente não é um fator. É tipo uma osmose natural que acontece com o tempo.
Huh. Então… sem treino então?
Não. Isso vai rolar com o tempo.
Acho que é menos uma coisa para eu me preocupar então.
Sim.
Mas, um. E quanto as habilidades do Roman? Você sabe o que era aquilo?
Eu acredito que seja uma habilidade do tipo alteração. Transfiguração e materialização são similares no sentido de serem baseadas em elementos, mas as habilidades de alteração são diferentes. Diferente de criar ou substituir algo, alteração meramente aplica algum tipo de força a fim de mudar o estado físico da matéria existente. Uma força real tá bom. Não uma imaginária. E a força varia entre usuários. A força de Roman, eu acho, é a de vibrações de partículas.
Isso, uh… parece… complicado.
Bom, julgando sobre como ele conseguia criar ambas ondas de choque e gerar calor, é a única explicação possível. E se eu estou certo, então é uma habilidade incrivelmente poderosa.
Sério?
Ah sim. Se ele se tornar mais forte com isso, ele vais ser assustador pra caralho.
Acho que é bom que ele não é nosso inimigo…
De fato. Hmm. Ei, encosta aqui um pouco.
Hector desacelerou e foi até a beira da estrada.
Qual o problema? — Ele perguntou enquanto a moto parava.
Garovel flutuou para direita e Hector assistiu ele, apertando seus olhos. Aqui está você. O ceifador disse gentilmente.
Está tudo bem. Te peguei agora.
Com quem você está falando?
Uma alma errante. — Garovel disse. Alguém morreu aqui.
Hector piscou seus olhos.
O que? Aqui? Como?
Garovel apontou para trás dele.
Olhe para lá.
Onde? Eu não — E, então, ele viu as marcas de derrapamento na estrada. Dois conjuntos. Cruzando.
Aconteceu a alguns dias atrás, ao julgar pelo estado da alma.
Hector só franziu o cenho.
Vamos dar uma pausa no próximo posto. Eu preciso de algumas horas para levar este aqui para o outro lado. Você pode usar esse tempo para meditar.
Tá bom…
Eles prosseguiram e não demorou até eles avistarem um posto. Hector parou e Garovel desapareceu no ar depois de garantir a Hector que ele voltaria.
Ele abasteceu e, então, estacionou a moto no lado do prédio onde ninguém mais estava. Ele se sentou na calçada e fechou seus olhos, deixando o som dos carros na rodovia se tornarem um ruído de fundo.
Ele se focou nos formatos do ferro. Ele não estava certo do que mais pensar. Além de meramente revestir as coisas, nada mais vinha a sua mente e ele se viu se perguntando para quais outros graus seu poder pode se desenvolver. Ele balançou sua cabeça para afastar esses pensamentos e se focou.
Depois de um tempo, ele abriu seus olhos de novo e Garovel ainda não tinha voltado, então ele tentou fazer ferro. Um pedaço prateado se materializou em sua mão. Era quase esférico, surpreendentemente, mas ainda menor do que ele havia imaginado. Ele voltou a meditar e quando ele abriu seus olhos de novo, ele viu Garovel lá.
Eles partiram de novo e não demorou até um novo tópico chegar.
Há algo que eu gostaria de saber. — Hector disse.
Sim?
Lá atrás, quando, um… quando nos conhecemos pela primeira vez… eu sei que você disse que não sabe, mas… você acredita que exista um pós vida? Quero dizer, tipo, qualquer coisa?
Garovel demorou a responder.
Não. — Ele disse. Não acredito.
Por que não?
Eu nunca encontrei nada que me convencesse. Você acredita que exista um?
Bo-bom, uh, não muito, uh… quero dizer, eu não sei. Você não meio que… experimentou um pós-vida? Você morreu, certo? Mas você ainda tá vivo mais ou menos…
Ha. Acho que depende da sua definição de pós-vida então. Eu certamente não acredito em céu ou inferno. Reencarnação parece mais atraente admito, mas eu certamente não vejo razão para acreditar que seja verdade.
Então… depois que nós morremos, você acha que só há… nada?
Sim.
Então, por que, um… por que você se incomoda em levá-las para lá? Se você acha que está levando as almas para o esquecimento, então… por que não só deixar elas quietas?
Porque seria crueldade demais com ela.
O que você quer dizer?
Por conta própria, uma alma logo apodrece. — Garovel disse. Dentro de um dia, ela se tornará uma massa semi-consciente confusa. Dentro de dois, isso vai se tornar uma prisão de agonia pura.
Oh.
Levar as almas para o pós-vida é uma tarefa que nós mesmos escolhemos, não porque um poder superior nos ordenou ,mas só porque é a coisa certa se fazer.
Entendo.
E, além disso, o que outra porra a gente faria com nosso tempo? É um bom jeito de aliviar o tédio.
Uou, Garovel…
Ei, é verdade.
O sol subiu mais e mais alto no céu conforme Hector acelerava na estrada. A jornada foi quieta por mais um tempo até Garovel iniciar o próximo assunto.
Sinto muito que essa viagem terminou de um jeito tão caótico. O ceifador disse. Eu não queria mesmo que você tivesse ficado longe por tanto tempo. Não estou certo de como nós devíamos explicar sua ausência para os seus pais e a sua escola.
Hector hesitou.
Eu não… estou tão certo que meus pais notariam…
Ah, fala sério. Fazem duas semanas. Como eles não notariam?
Por um tempo, ele meramente ouviu o som da moto e o vento.
Quando eu era mais novo, uh… meus pais ambos estavam lutando para encontrar trabalho. Eles com frequência teriam que trabalhar em cidades diferentess, eu acho que é porque as contas estavam se acumulando ou coisa do tipo. Eles estavam sempre tentando reajustar as coisas para que eles pudessem conseguir um trabalho no mesmo lugar. Então, ah… nós acabamos nos mudando muito. E teve uma vez… quando eu tinha uns dez anos… e, um… ah… basicamente, eles, uh… eles me deixaram para trás.
O silêncio se estendeu e Garovel só esperou Hector continuar.
Eu gastei, tipo, quase um mês na assistência socia, eu acho… e, então, a polícia me achou. Meus pais acharam que tinham me perdido em algum lugar na cidade nova. Eles não, uh… eles não perceberam que eu tinha sumido até tipo uma semana depois da mudança…