Volume 02 – Sangue para a Coroa
4°Juramento: Forma e Poder
Hector deixou Garovel explicar tudo. Ele continuou dando um olhar vazio na direção de Colt e Bohwanox, não realmente prestando atenção na conversa. Eles se encontraram ao norte de Brighton, só que fora da estrada principal. Colt se apoiou contra seu carro enquanto ouvia, suas crianças deitadas no banco de trás.
— Então, você realmente matou Geoffrey? — Colt perguntou.
Hector só olhou para ele. Frio como gelo.
Colt levantou uma sobrancelha, mas parecia entender que não era hora para conversar com ele. Colt se virou para Garovel. — O que vocês planejam fazer agora então?
— Acho que nós deviamos viajar juntos. — Garovel sugeriu.
— Concordo. — Bohwanox disse. — Estaríamos mais seguros como um grupo.
Hector decidiu falar. — Bohwanox.
— Sim?
— Eu pensei que você disse… que não gostava de se envolver.
— Disse.
— Então, por que você reviveu o Colt então?
Bohwanox assentiu levemente. — Eu imagino que mudei de ideia sobre conseguir servos. Depois que você me protegeu… depois que eu percebi que havia coisas como Geoffrey lá fora, eu comecei a repensar meus conceitos.
Hector cruzou os braços. — Então, você não está interessado em ajudar as pessoas. Você só quer alguém para te proteger.
Bohwanox piscou para ele. — Bom, sim. Acho que você podia dizer isso.
Garovel olhou para Hector. — Não há nada errado com isso.
— Tudo certo. — Hector disse. — Mas por que tinha que ser ele?
Colt franziu o cenho. — Com licença?
Ele devolveu na mesma medida o olhar do homem.— Você acha que eu esqueci sobre a Melissa Mallory? E aqueles três policiais? — Ele conseguia sentir sua irritação crescendo constantemente, se transformando em raiva genuína. Ele olhou para Bohwanox. — Você sabia que esse cara matou pessoas inocentes? Porra, você estava no hospital aquela noite. Você não percebeu que foi o Colt que matou eles?
A expressão de Colt escureceu.— Você sabe que eu não tive outra escolha.
Bohwanox olhou para os dois servos. — Eu não sabia que Colt matava inocentes. Mas mesmo assim, isso mal importa agora.
— O que? — Hector disse.
— Colt não vai matar ninguém sem minha permissão. Para mim, o passado dele não importa.
Hector cerrou seus dentes. — Esse não é o ponto! — Ele disse. — Você devia ter revivido alguém que merece mais do que ele! Alguém que não era um assassino!
— Não faz diferença pra mim. — Bohwanox disse.
— Qual a porra do seu problema? — Colt perguntou.
— Acho que Hector disse algo certo. — Garovel disse. — Não há falta de servos em potencial. Ao passo que não acho que você devia julgar muito como pessoas vivem suas vidas, você realmente não devia ressuscitar assassinos.
Era a vez de Bohwanox parecer irritado. — Colt é um lutador habilidosos. Ele é uma escolha bem prática como um servo. E as crianças dele? Tirar o pai delas não significa nada pra vocês?
— Talvez. Mas e de novo, elas podem estar melhores sob os cuidados de outra pessoa.
— Você não sabe de porra nenhuma. — Colt disse
— Ah não? — Hector disse. — Quanto perigo elas passaram por sua causa, huh? E, então, você foi e… se-seu maldito… me arrastou para sua merda… e agora…
Todos ficaram quietos.
— Então é assim. — Colt disse. — Você me culpa pela morte dos seus amigos e seu pai. É isso não é?
Hector só encarou ele.
— Tudo certo.— Colt removeu seu casaco e o jogou no teto do carro. — Me culpe. Fique bravo o quanto quiser. Eu aguento. — Ele foi até uma colina cheia de grama, gesticulando para Hector segui-lo. — Então venha. Venha me bater. Se você conseguir.
— Espera um pouco.— Garovel disse. — Colt, você nem tem uma habilidade ainda, tem? Hector te destruiria.
— E daí? — O homem disse. — Não é como se ele conseguisse me matar, certo? Se isso faz ele se sentir melhor, então vamos lá.
— Mesmo assim… o que você acha Hector?
O pensamento era certamente tentador. Mas ele suspirou e balançou sua cabeça. — Isso não mudaria nada… e violência não vai me fazer sentir melhor…
Colt cruzou seus braços. — Vamos lá. Não seja um maricas.
Hector revirou seus olhos e transformou o homem em uma estátua. — Feliz agora, idiota?
Bohwanox flutuou e passou sua mão pelo metal. Depois de um momento, Colt saiu, rasgando o ferro de seu corpo.
— Só para. — Hector falou. — Lutar não vai fazer diferença.
Bohwanox voou mais alto. — Na verdade, talvez faça. Por que você não deixa o Colt te ensinar os básicos do combate?
Hector abaixou seus olhos, piscando.
— Isso não é uma má ideia.— Garovel concordou. — Hector pode mostrar umas coisas para Colt também. Uma luta com força amplificada é bem diferente, sabe.
Colt esticou seus braços. — Parece bom para mim. Topa?
Ele olhou para todos por um momento. — Tudo certo…
— Você não pode usar seus poderes metálicos. — Bohwanox avisou. — Pelo menos, não até Colt desenvolver sua própria habilidade
— Tudo certo.
Eles fizeram um treino de combate. Até as técnicas corpo a corpo de Colt eram brutais. Ele quebrou os ossos de Hector várias vezes, até matando ele ao enfiar um dedo na sua cavidade ocular e indo até seu cérebro. Hector, por outro lado, conseguiu demonstrar que novas aberturas podiam ser descobertas quando se podia ignorar tiros e membros quebrados. Não levou muito tempo para Colt se adaptar e ter vantagem. Porém, depois de meia hora, o efeito amplificador passou e Colt sofreu bem mais com a onda de dor e exaustão do que Hector.
— Mas que porra? — Colt reclamou, arfando. — Eu chutei a sua bunda, então por que sou eu a pessoa caída aqui?
Hector limpou o sangue de seu rosto. — Eu já sofri bem mais que isso.
— Vocês dois deviam descansar. — Garovel disse. — E pegar algo para comer. Hector, você deve estar morrendo de fome agora.
— Ah… sim… — Ele olhou para Colt mais uma vez. Hector se acalmou, mas ele não quis se desculpar pelo que ele disse, não quando Colt nunca se desculpou por matar a Melissa. Mas por agora pelo menos, ele decidiu que tentaria só não pensar no assunto. — As crianças… provavelmente precisam comer também, certo?
Colt o levantou. — Sim.
Ambos pegaram a estrada juntos, o carro de Colt na frente com a moto de Hector seguindo bem atrás. Não demorou muito tempo até Garovel puxar papo novamente.
Como você está indo? Havia um fraco eco em sua voz e Hector se lembrou que isso era um indicativo de que o ceifador estava em particular com ele.
Não sei. — Hector respondeu. Eu só… me sinto como se eu estivesse… como se eu estivesse com raiva… só… de tudo. — Ele apertou seus olhos. Eu estou ficando louco… ?
Pelo contrário, eu acho que isso te faz bem são.
Ele franziu. Como tudo isso aconteceu, Garovel… ? Eu podia… ter feito algo diferente? Fui descuidado?
Hector. Você não pode se culpar.
Talvez… aquelas mensagens de texto… se eu não tivesse sido tão inocente… se eu tivesse pensado mais das possibilidades…
Não tinha como sabermos. Tínhamos todas as razões do mundo para achar que eram mensagens de Colt.
Se nós tivéssemos pensado… bolado algum tipo de… código por mensagem com o Colt antes… ou algo do tipo.
Garovel abriu sua boca, mas se parou. Depois de um momento, ele suspirou. Talvez você esteja certo. Talvez nós poderíamos ter sido mais cautelosos.
Nós respondemos… ficando melhores.
Heh. Você se lembra.
Claro…
Fico feliz que você consegue manter a cabeça fria. — Garovel disse.
Hector respirou fundo e escutou o tinido do motor da moto. Depois de alguns minutos, uma nova pergunta veio a sua mente. Garovel…
Sim?
Minha habilidade de ferro, hum… ela vai sempre ficar mais forte quando estou sob uma situação estressante? Porque quando eu estava confrontando Geoffrey, eu estava… eu estava numa situação bem ruim e por um minuto, parecia que… que meu poder não ia crescer… como se eu só estivesse na merda… e todos iam morrer.
Esse é precisamente a raiz do problema.— Garovel explicou. Seu poder cresce aos montes durante situações extremamente estressantes. Mas tais momentos ficam mais e mais difíceis de se alcançar, e não porque a quantidade de estresse necessário aumenta. Em vez disso é por causa da sua própria mente. Com o tempo, você fica complacente, você começa a esperar que seu poder vai crescer de repente e te salvar no último momento. E adivinha o que acontece aí? Aquelas mesmas expectativas reduzem seu nível de estresse, o que em troca significa que seu poder não vai crescer quando do contrário deveria.
Oh, o que… minhas expectativas? O que eu consigo pra fazer sobre isso?
Essa é a questão, não é? É um ciclo psicológico desagradável e eu conheci muitos ceifadores e servos que lutaram com isso. Houve todo tipo de pesquisa e experimentos com isso, tentando descobrir meios concretos de superar isso. Alguns acreditam até que tal crescimento pode ser instigado artificialmente se uma solução científica for encontrada.
Artificialmente… ?
Ah sim. Imagine. Se você conseguisse forçar o crescimento da habilidade de um servo sempre que você quisesse, então as possibilidades são… bom. Pessoalmente, eu acho elas aterrorizantes. Se isso pudesse ser feito em larga escala, então a guerra entre Abolir e a Vanguarda iria ou finalmente terminar ou escalaria para algo pior ainda.
Puta merda…
Eu gastei um bom tempo pesquisando o processo de crescimento. — Garovel disse. O estudo da “emergência” como eles chamam. Houve um tempo quando a teoria prevalecente era que emergência podia ser alcançada via uma manifestação de sentimentos forte o bastante, mas isso é apenas parte disso. A chave real vem do sentimento de necessidade, uma rejeição poderosa das circunstâncias imediatas, assim como um desejo forte para mudar elas. A confusão sobre isso ser completamente dependente das emoções vem de como a manifestação da habilidade poder ser acelerada por uma explosão repentina, mas isso não se estende para o ciclo de crescimento. O que, claro, causou todo tipo de problemas essenciais com experimentação, adiando nosso conhecimento da emergência por…
To boiando, Garovel…
Oh. Ah. Sinto muito. Mas é algo bem fascinante, sabe.
Sim, tá bom, uh… mas o que eu posso fazer mesmo sobre isso? Há algo?
Bom, em teoria, o truque é encontrar um meio de controlar suas expectativas para que a emergência possa ocorrer quando você precisar. Idealmente, você não teria expectativa nenhuma, mas é mais fácil falar do que fazer. Meramente reconhecer a possibilidade da emergência irá criar algum grau de expectativa, mesmo que bem pequena. O pode te fazer pensar que até eu falar disso para começo de conversa é algo ruim, mas do outro lado, NÃO reconhecer a emergência irá definitivamente criar uma expectativa subconsciente natural, que é bem mais…
Boiando de novo…
O ceifador suspirou. Bom. Ok. Nos termos mais simples, você não pode só depender da possibilidade da sua habilidade ficar de repente mais poderosa e te salvar toda hora, porque no momento que você começa a depender disso é o momento que vai parar de funcionar.
Sim, entendi essa parte. Eu queria saber como eu vou conseguir controlar minhas expectativas ou o que for.
Porra, não sei! É uma arte sutil de psicologia individual! Você tem que descobrir por conta própria!’
Mas o que… ? — Hector piscou. Por que você não falou isso do começo?
E deixar passar uma oportunidade de te impressionar com meu conhecimento vasto? Jamais.
… isso devia me impressionar?
Ah, vai se foder.
Por um momento, Hector conseguiu dar um pequeno sorriso.
Damian Rofal estava mexendo no nariz enquanto assistia o legista tirar o lenço, revelando o rosto pálido de Geoffrey.
Você tem que fazer isso agora? — Feromas perguntou.
Fazer o que? Para os olhos de Damian, o ceifador parecia um palhaço de cara azeda. A roupa colorida, malhada nunca combinou bem com a personalidade de Feromas.
Esquece.
— Sim, é ele. — Damian falou para o legista. — Exceto, não é ele, é?
— Eh… senhor?
Feromas flutuou sobre o corpo. Hmm. Nós descobrimos qual o poder de Geoffrey era?
— Era Dominação. — Damian respondeu, ignorando o fato de que outra pessoa estava por perto. — Você não se lembra de todos os fantoches que ele deixou para trás?
Certo, claro. Então, ele realmente pode ter pulado de corpo então.
Damian inclinou sua cabeça. — Quantos corpos chegaram ontem?
— Oh, um… — O legista enrijeceu e ajustou seus óculos. — Um bom número. Você gostaria de vê-los, Sr. Rofal?
— Por favor.
Eles entraram em um quarto muito maior. Umas três dúzias de mesas estavam espalhadas de uma parede a outra e sobre cada uma havia um corpo. Damian e Feromas pegaram alas separadas e começaram a procurar.
— A maioria deles parece ter morrido por asfixia. — O legista disse. — Mas houve alguns casos de desmembramento e estripação. Talvez, você esteja procurando por alguém em particular, senhor?
Damian ignorou o homem. — Ah! Encontrei ele!
Feromas flutuou até lá. Então, ele realmente morreu no final das contas.
— Que pena. — Damian disse. — Eu tinha altas expectativas nele.
Isso muda as coisas. — Feromas respondeu.
— De fato.
— Ah, este aqui é… hum… — O homem virou o cartão preso no pé para lê-lo. — – Samuel Goffe.
— Não ligo. — Damian falou. — Por favor fique quieto.
O legista se afastou sem falar mais nada.
Bom, agora. — Feromas perguntou, você pretende vingar nosso neto?
Damian coçou sua bochecha enrugada e deu de ombros. — Eh. Eu preferia não. A menos que você queira muito.
Não importa para mim. Mas sem Geoffrey, não há muito motivo para ficarmos em Brighton… ou em Atreya, por falar nisso.
— Talvez seja uma boa hora de sair do país. — Ele disse.
A Abolir começou a se mover aqui também. Seria irritante se eles nos achassem. E nesse ponto, nós teríamos que ir embora de qualquer jeito, assim como esconder nossos rastros.
— Ho-hum…
Está pensando no que?
— Esse lance todo de negócio de família não funcionou muito para nós, né?
É porque você tem problemas em seguir planos. Você deixa sua família solta e fazendo o que eles querem. Você podia ter fomentado grandeza neles, mas agora eles só são pessoas normais que você mal vê.
— Você está certo. Claro que está certo. E eu fiquei um pouco confortável demais naquele asilo, não fiquei?
Ugh, não me lembre. Eu quase libertei sua alma por causa daquele maldito lugar.
— Eu vou sentir falta daquele pudim. E dos jogos de tabuleiro. Oh e daquela enfermeira, a Beatrix. — Ele pensou por um momento. — Ei, quer voltar para lá?
Não, caralho! Eu vou te matar!
— Tudo certo… — Ele coçou seu pescoço. — Acho que eu vou reunir as crianças então.
Sério? Eles não vão só abandonar suas vidas e ir embora com você
— E quem disse que eu ia dar uma escolha para eles?
E, abruptamente, um sorriso largo surgiu no rosto do ceifador. Agora sim. — Ele olhou para o corpo de Samuel Goffe. Não se esqueça de vasculhar o corpo de Geoffrey por umas partes também.
— Certo. — Damian se virou para o legista. — Eu preciso de uma sacola para cadáveres para este aqui.
O homem piscou. — Co-com licença?
— Eu vou levar… como era mesmo o nome, Sr. Goffe? Eu vou levar ele comigo.