A servente abaixou seus olhos e não disse nada.
— Não te vi por aqui antes. — Desmond disse.
Ainda, ela continuou em silêncio.
— Qual seu nome?
— Deixe a pobrezinha em paz. — William falou. — Vá. — Ele a incitou. — Você está dispensada.
Desmond franziu o cenho, mas a deixou ir. — Uma coisinha bonitinha como essa devia tomar cuidado por aqui.
A servente fechou a porta atrás de si e a apoiou suas costas contra ela por um momento. Ela respirou fundo em silêncio, tentando acalmar seus nervos novamente. Essa foi uma interação maior do que ela queria.
Gina sabia que Roman ficaria chateado se descobrisse que ela tinha vindo aqui. Ela mesma estava começando a se arrepender disso. Mas o dispositivo de escuta que ela acabou de plantar no escritório do Rei faria tudo valer a pena. Roman e os outros precisariam de alguém para reunir informação do inimigo e, apesar disso, assustar pra caralho ela, mesmo ela sabendo que qualquer um deles podiam matar ela num instante, ela estava bem certa de que não havia ninguém melhor para o trabalho do que ela.
Ao se acalmar, ela se endireitou e voltou pelo corredor com sua bandeja de chá vazia. Ela evitou fazer contato visual o máximo que podia. Ela especialmente evitou espionar os servos diretamente. Havia seres ao redor deles que ela não conseguia ver e se eles encontrassem ela tentando bisbilhotar na conversa de alguém, seria o fim para ela, sem sombra de dúvidas. O que foi o motivo dela ter colocado dispositivos de escuta ao redor do castelo pela manhã.
Agora estava na hora de vazar daqui.
Nos próximos dias, Hector e Colt não ficaram em lugar algum por muito tempo. Várias das cidades pequenas que eles acabaram encontrando tinham carros de polícia na estrada principal esperando por eles. Depois de um breve confronto com um policial, Hector descobriu que a polícia estava a espreita de sua moto e acabou tendo que abandonar ela.
— Esse carro foi roubado a propósito. — Colt disse, olhando para a estrada. — Nós vamos ter que conseguir um substituto logo. Talvez te achar uma nova moto também.
Hector franziu. — Eu, uh… eu preferia não roubar nada…
— A maioria dos ladrões iria provavelmente dizer o mesmo, sabe. E além disso, você está me dizendo que não roubou essa moto?
— Foi um presente.
— Claro.
Eles passaram por Reese, Norca e pararam em Rizo por um dia, brevemente debatendo como cruzar a fronteira de Atreya-Rendon. Hector e Garovel demonstraram sua determinação em ficar em Atreya, Colt e Bohwanox logo aquiesceram. Eles foram para Klein depois, levando seu tempo em Battonburg e Tulma. Colt era inflexível sobre manter um estoque de suprimentos completo.
Durante a viagem, Hector e Colt faziam três sessões de treinamento por dia, duas para treino de combate e uma para meditação, a última algo que Colt absolutamente odiava. E com toda a sinceridade, Hector não gostava tanto delas mais quanto antes. Qualquer período longo de silêncio o inquietava. Sempre que ele tentava relaxar sua mente, era fácil demais se lembrar de tudo que aconteceu. Nathan. Micah. Seu pai. Variava de dia para dia, qual dos três doía mais. Às vezes, era difícil lembrar se ele conseguiu ao menos proteger alguém.
Era difícil dormir também. Hector com frequência ficava acordado com os ceifadores para assistir as crianças dormirem, ler um jornal ou só praticar com seu metal.
Eles encontraram um armazém vazio nos arredores de Klein e, depois de explorar completamente o lugar, decidiram ficar lá por um tempo. Além do dreno constante nos seus fundos, motéis eram sempre lugares arriscados com todas as pessoas lá.
— Talvez nós devíamos deixar os policiais nos matarem. — Colt sugeriu.
Todos olharam para ele.
— Não, escutem. Nós entramos num tiroteio, deixamos eles nos matarem e nos enterrarem e, então, vocês dois nos ressuscitam. Se nós fizermos isso direito, então todo esse calor morre na hora, o que acham?
— O que fazemos com as crianças enquanto você estiver morto? — Bohwanox perguntou.
— Nós podemos revezar. — Colt olhou para Hector. — Posso confiar em você para cuidar delas por uns dias, certo?
— Claro, mas…
— Mas o que?
— Pode fazer uma diferença para você e Bohwanox, — Garovel explicou. — mas para mim e Hector, isso não faria diferença. Não é como se nós fossemos nos esconder em algum lugar depois.
Colt assentiu ainda relutante. — Hmm.
— Mesmo se nós seguirmos o seu plano, Hector só vai acabar atraindo atenção para si de novo. A polícia ainda viria atrás da gente. Eles só ficariam muito confusos com isso. Na verdade, isso iria provavelmente atrair mais atenção ainda pra gente. De pessoas realmente perigosas.
— Entendo seu ponto.
— E, além disso, uh… eu, ah…
— Mm?
Hector coçou sua testa. — Eu não quero que minha mãe acredite que eu estou morto… a menos que, sabe… eu esteja morto mesmo.
— Justo, eu acho.
— Mas se vocês dois querem fazer isso, é escolha de vocês, claro. Mas eu peço que vocês esperem até nós estarmos prontos para nos separarmos. Caso contrário, nós poderíamos arruinar o disfarce de você atraindo a polícia atrás de vocês.
Bohwanox olhou para ambos. — Vocês vão começar a lutar contra o crime em Klein, agora?
— Claro. É um bom jeito para o Hector treinar.
— Vocês só vão alertar a polícia quanto a nossa localização e novo.
— Provavelmente. Fiquem prontos para fugir quando a gente voltar.
E apesar do desagrado de Bohwanox, Hector e Garovel logo saíram para a cidade. Sem uma moto, seria lento o processo. Hector se lembrava desse sentimento de ter que correr para todo lugar. Ele não ligava muito, mas ele preferia fazer isso sem ficar todo suado.
Foi uma noite longa, mas Garovel encontrou muita coisa para ele fazer. Os criminosos de Klein pareciam tão ativos quanto os de Brighton, mas o ponto alto da noite foi quando Garovel encontrou por acaso um assassinato iminente, o que se tornou claro para o ceifador quando a aura de morte apareceu na possível vítima.
Em vez de simplesmente revestir o atacante com metal, Hector decidiu tentar algo mais elaborado. Primeiro, ele arrebentou a porta do apartamento com um chute e, então, se forçou entre os dois. Ele levou uma machete no peito por isso. Porém, sua falta de preocupação parou a briga abruptamente e ele usou a oportunidade.
Metal revestiu o torso do atacante, se acumulando e rastejando pela pele do homem como milhões de moscas antes de dois cilindros tomarem forma, um para cada braço, um degraus de ferros ligando eles. Poeira cinza se estendeu até suas costas e estômago, completando um tipo de camisa de força.
Não era a coisa mais impressionante no mundo, ele imaginava, mas era certamente uma das coisas mais complexas que ele já fez. E apesar de não inteiramente intencional, ele adicionou pequenas protusões do pescoço para baixo. Elas não tinham um propósito e, por um momento, ele se perguntou o motivo de tê-las colocado lá. Então, ele percebeu que ele inconscientemente imitou os botões de uma camisa de força.
Depois da mulher atacada chamar a polícia, Hector se virou para ir embora, mas Garovel o fez esperar um pouco mais.
Só sendo diligente. — O ceifador disse. Nós não sabemos o motivo desse cara ter atacado ela.
Isso importa?
Garovel deu de ombros. Nós somos intrusos ignorantes na situação. Até onde sabemos, ela podia de repente decidir se matar depois que nós formos.
Você acha?
Não. Mas esse não é o ponto. Nós estamos fazendo suposições sobre a situação que PROVAVELMENTE estão certas, mas pelo menos vamos esperar até ouvirmos as sirenes antes de irmos embora, eh? Melhor prevenir do que remediar, sabe.
Hmm. Tudo bem.
Mas o som de sirenes chegou mais cedo do que o esperado e Hector foi embora.
Sua mente voltou para aqueles botões não intencionais de antes. Eles pareciam uma coisa pequena, só um erro coletivo de sua parte. Mas conforme ele pensava no assunto, começava a entender, os botões não eram um erro. Se qualquer coisa eram o oposto disso. Eles eram algo extra. Ele criou algo que tinha mais do que esperava.
E isso nunca aconteceu antes.
As criações de Hector sempre foram aproximações medíocres. A menos que ele parasse e se concentrasse muito por vários minutos, ele nunca conseguia fazer nada além de um esboço grosseiro do que estava em sua mente. Mas isso foi uma evidência de uma mudança, evidência de que seu poder ficou mais forte do que ele tinha pensado. Um pensamento assustador, de um jeito… mas sinceramente, ele ficou mais animado do que tudo, como se seu ferro fosse agora mais forte do que ele era. E se isso fosse verdade, então ele só precisava alcançá-lo.
Ele queria tentar de novo. Mais elaborado ainda. Quando eles chegaram no armazém, ele começou a trabalhar. O terreno baldio dos fundos possuía espaço amplo para ele fazer qualquer coisa que quisesse e as cercas altas, por mais desgastadas que estivessem, garantiriam sua privacidade.
Sua imaginação correu solta com as possibilidades. — O que eu devia tentar?
Nem eu estou certo do quão forte você se tornou. — Garovel disse. Por que não tentar algo realmente escandaloso? Algo que nem você acha que consegue fazer, é isso. Estabeleça um limite superior e, em seguida, retroceda a fim de encontrar qual o limite verdadeiro da sua habilidade.
— Hmm… uhh… oh, que tal uma catapulta? O que você acha?
Eu ia sugerir um satélite orbital, mas tanto faz.
Ele respirou fundo. Ele imaginou a catapulta em sua mente, ou pelo algo que parecia uma catapulta, e, então, colocou suas luvas na areia.
Uma série de pilares de metal dispararam juntos para cima. Eles se bateram, tentando se conectar um ao outro e falhando e, então, caíram, formando uma pilha barulhenta.
Huh. Bom, isso foi decepcionante.
— Eu não… acho que foi culpa do meu poder…
Hmm?
— Eu só… umm… eu pensei que era simples, mas… eu realmente não sei como catapultas funcionam, para ser sincero…
Garovel encarou ele por um momento. E, então, começou a rir. Ótimo! Muito inteligente Hector.
Ele ficou vermelho de vergonha, mas não conseguiu não sorrir um pouco. — Eu pensei que se eu imaginasse… uma coisa… em formato de catapulta, então ela meio que apareceria, mas… agh, para de rir!
Eu entendo o que você estava pensando. — Garovel disse. Mas não, não é assim que funciona a coisa. Se você quiser construir uma máquina, ou qualquer estrutura complexa falando nisso, então você tem que saber todas as partes, assim como onde elas vão. Essencialmente, você tem que ter um projeto na sua cabeça.
— Merda…
E você provavelmente tem que saber como cada peça funciona como parte do todo.
— Sim, tudo bem…
Também, um conhecimento básico de como a porra funciona para começo de conversa seria útil.
— Entendi, poxa…
Na verdade, eu posso te falar tudo sobre catapultas. Você tem a balista e o espringal, mas tudo isso precisa de corda ou um fio para operar. Talvez você pudesse pensar numa solução criativa para resolver isso, mas provavelmente é melhor você trabalhar com um trabuco. E de novo, um trabuco bom mesmo usaria uma funda E um contra peso, o que poderia ser problemático, mas ei, se isso for só para prática, então o que isso importa, não é mesmo?
— Uh. Is-isso é legal, mas eu não, um…
Sim. Não é muito útil sem diagramas para olhar. Nós podemos ir para a biblioteca amanhã, se você quiser. Estou certo de que eles teriam livros de referência úteis, catapultas ou não.
— Acho que eu devia…
Porém, enquanto isso, por que não tenta fazer algo que você tenha uma boa ideia de como funciona?
— Certo. — Ele decidiu tentar algo que ele já praticou antes. Ele levantou suas mãos com luvas para frente e se concentrou. O metal se reuniu rapidamente e tomou forma, a forma exata, dessa vez, e para sua surpresa, as manoplas se completaram em uma fração do tempo anterior.
Uou. — Garovel se surpreendeu. Você costumava precisar de uns quinze minutos, mas agora, isso não pode ter levado mais do que trinta segundos.
Hector balançou seus braços para ver se as placas de metal permaneciam juntas. Elas ficaram. Ele adicionou pontas dos dedos pontiagudas, garras de metal atarracadas. Ele sorriu.
Estou suficientemente impressionado. Mas também curioso. Vamos lá. O que mais você consegue fazer?
Hector gastou o resto da noite e manhã praticando, ou talvez, brincando, com o metal. Ele fez uma esfera sem problemas, fazendo ela crescer até ficar do tamanho de uma bola de demolição. Ele a esvaziou, deixando apenas uma estrutura de arame, e entrou lá dentro, se perguntando se ele podia empurrar ela por aí como uma bola de hamster gigante. Porém, a estrutura não estava totalmente equilibrada e caiu em cima dele.
Ele também fez um domo sobre o terreno baldio todo, o que pareceu impressionar Garovel, especialmente quando Hector demonstrou que podia reforçar a coisa toda com sua alma para que o ceifador não conseguisse passar por dentro.
Porém, depois de um tempo, ele passou para armas. Ele reforjou a mesma espada e escudo que ele usou contra Geoffrey, mesmo fio irregular e espinhos. Elas eram bem mais pesadas do que ele se lembrava. Garovel o ajudou ao reforçar sua força física.
Mas a espada e escudo eram ambos bem grosseiros. Ele se perguntava como ele iria retrabalhar elas. O fio irregular da espada parecia mais ou menos útil, mas elas davam um poder maior de dilaceração do que corte. Ele suavizou a lâmina e a desconectou de sua manopla. Ela caiu no chão com a ponta primeiro na areia. Ele fez um cabo de metal e a pegou de novo.
Hmm. Você não tem treino algum com uma lâmina, certo?
— Uh, nã-não…
Quer umas dicas?
Stoker tentou manter seu olhar indiferente enquanto olhava ao redor do quarto mais uma vez. Karkash e Hoyohté estavam bem ao lado dele. Ele olhou para Nize novamente. Você tem que parar de falar assim. — Ele contou a ela em Vaelico. Se o Karkash te ouvir…
Eu sei. — Ela disse em particular, também na língua nativa de Stoker. Mas eu não aguento mais. Tudo que eu fiz… fiz meus servos fazerem… em nome do Vazio. Brutalidade sem propósito. Trezentos anos, fazendo cegamente o que…
Eu entendo. — Stoker disse. Você está tendo uma crise de fé. Mas irá passar se você só relaxar e seguir suas ordens.
Ela o encarou. Tais promessas são vazias.
Stoker tentava ignorar os comentários dela, mas estava ficando cada vez mais difícil. Ela tinha sua vida nas mãos dela, no final das contas. Se ela realmente acabasse desertando da Abolir, ele não teria outra escolha além de segui-la, para que ela não o libertasse e encontrasse outra pessoa, não que isso faria muita diferença, se ele tivesse que lutar contra Karkash. Isso era algo que ele queria evitar não importava o que.
Karkash estava ocupado com os convidados dele, um repórter local que estava falando mal do aumento de gastos repentinos com o exército. Stoker e Karkash convidaram o homem aqui para mostrar a ele exatamente para onde o dinheiro estava indo.
A instalação antiga de armazenamento do bunker era um labirinto de prateleiras altas e engradados, tudo contendo equipamentos desativados que foram importados em silêncio de vários poderes estrangeiros. Ainda era um trabalho em serviço pelos camaradas deles de Morgunov, mas Stoker estava impressionado mesmo assim. Ele deu uma olhada por aí mais cedo e viu alguns RPGs e por aí vai, mas a visão mais atraente foi de algumas baterias anti-aeronave enfiadas em um canto. Claro, tais equipamentos não eram estritamente necessários, dadas as habilidades dele e as de Karkash, mas ele apreciava o poder de fogo extra. E pelo que ele ouviu, mais estavam a caminho, o que não agradava Nize, claro.
Para Stoker, Nize e os outros ceifadores pareciam dragões grandes, parrudos, porém, na verdade eles pareciam mais cobras, mas dada a propensão deles a voar, ele passou a pensar neles mais como dragões.
— Fiquei surpreso quando recebi seu convite. — O repórter comentou. Ele riu brevemente, porém ela continha um indicio de nervosismo. — Ainda estou bem curioso com o motivo de você ter me mostrado tudo isso. Está tentando denunciar seus chefes ou… ?
— Não exatamente. — Stoker disse. — Você está livre para escrever o que quiser sobre o que você viu aqui, mas nós estávamos esperando que você mudaria sua opinião depois dessa visita.
— Sinto muito, mas por que eu faria isso? — O repórter perguntou. — Não querendo ser brusco demais, mas se qualquer coisa, essa visita confirmou minhas piores suspeitas.
— Um momento. — Karkash disse. Ele saiu do quarto, então logo voltou. Com o filho do repórter.
Lentamente, a expressão do homem ficou cautelosa.
— Você está livre para escrever o que quiser. — Stoker repetiu. — Mas sua opinião possui um certo peso no público. Nós apreciaríamos se o seu próximo artigo falasse mais afetuosamente com o que você viu aqui hoje.
— Isso… isso é… ! Vocês não podem fazer isso!
Karkash levantou a mão do menino. — Fazer o que?
A criança parecia aterrorizada.
— U-uou. — O pai disse. — Só… tá bom. Por favor, não machuque meu filho. Eu vou fazer o que vocês mandarem.
— Nós não pedimos nada. — Karkash falou. — Faça como você quiser. Nós faremos como nós quisermos.
O homem assentiu trêmulo. — Eu entendo. Por favor.
— Ele disse que entende, — Hoyohté comentou, — mas eu duvido. Quebre o dedo do menino.
Karkash o fez.
O menino gritou de dor.
— Eu disse que iria cooperar! — O homem gritou.
— Não havia necessidade disso! — Nize reclamou.
Karkash a ignorou. — Eu sou desajeitado. — Ele soltou o menino, que correu para os braços do pai. — No futuro, eu vou ser mais cuidadoso. Como você deveria ser. Sair da cidade por exemplo. Ou tentar se esconder. Isso seria algo bem desajeitado da sua parte.
O homem ficou de pé na frente de seu filho chorando. — Eu entendo. — Ele disse de novo. — Entendo mesmo. Acredite em mim.
Um silêncio breve se instaurou até Stoker quebrá-lo. — Nós não vamos manter você aqui. Você pode ir quando quiser.
Eles saíram correndo. Porém, depois que eles foram, o silêncio voltou, mais forte do que antes enquanto Hoyohté olhou para Nize.
— Você se desagradou novamente. — Hoyohté falou em Vaélico.Ela flutuou ao redor de Karkash. — Parece que nós estamos em um desacordo fundamental. Acho que está na hora de resolvermos isso.
Stoker olhou para Nize. Não.
— Seus métodos são desnecessariamente cruéis. — Nize disse para todos ouvirem.
A postura de Stoker enrijeceu.
— Eu mal machuquei a criança. — Karkash disse, muito mais fluente agora em Vaélico. — E que diferença faz? Por que acha que viemos para esse país?
Por favor. — Stoker disse. Se você quer sair da Abolir, então tudo bem. Mas não assim. Nós temos que ser mais espertos.
Nize pensou um pouco em suas palavras. Ela olhou para os outros. — Eu imagino que você esteja certo. — Ela disse a eles.
Mas o olhar de Hoyohté pairou nela. — Você não tem outras reclamações então?
Nize olhou para Stoker. — A violência extra não me agrada, mas no final das contas, todos vão morrer de qualquer jeito.
— Sua relutância não passou despercebida. — Karkash comentou. — Vocês estão realmente preparados para agir como o Vazio manda?
— Claro que estamos. — Stoker respondeu.
— Ela nunca mostrou tal hesitação antes. Então, por que ela mostra agora?
— Ela não mostra. Ela entende perfeitamente.
— Sim. — Nize disse. — Eu estava errada em falar sem pensar.
Levou um pouco mais de silêncio, seguido por mais garantias, mas Hoyohté e Karkash finalmente deixaram o assunto para lá e, com o tempo, os quatro saíram do bunker juntos. Soldados Atreyanos olhavam para eles frequentemente, sem dúvida por causa dos casacos sherwani de Stoker e Karkash que se destacavam em meio de todos os uniformes azuis e brancos.
Fugiremos na primeira oportunidade. — Nize disse a ele.
Ele quase suspirou. O que causou essa mudança de coração de qualquer jeito? Estamos juntos há quase dois anos agora e você só começou a mudar de uns meses para cá.
Foi por causa do Germal. — Ela disse.
Germal? Aquele com o chifre na cabeça? Sério mesmo?
Ele me fez duvidar do Vazio, duvidar que eu podia mesmo sentir sua presença. E agora, eu… eu estou certa que não consigo. Foi tudo uma mentira. Eu costumava acreditar tanto nele, mas foi só porque eu queria ouvi-lo. Eu estava fingindo, tanto que eu até enganei a mim mesma. Mas o Vazio não é real. Foi um sonho louco.
Uou. Que bom que eu nunca acreditei naquela merda para começo de conversa.
O que? Você nunca acreditou? Mas você disse que sim. Você até fez todos os juramentos e jurou ser leal a mim e a Abolir.