— Saia! Não precisamos de nada de você.
Foi a terceira vez que Lucien foi enxotado. Estes alfaiates chiques odiavam tipos pobres como ele. Mesmo depois de Lucien mostrar o véu, eles ainda não estavam dispostos a desperdiçar um segundo sequer com ele.
A área comercial era grande. Mais de dez ruas se cruzavam, e havia muitas lojas administradas por seres humanos, anões e até elfos.
Não demorou para Lucien encontrar outra pequena loja de alfaiate, no final de uma rua.
De pé atrás do balcão estava um rapaz loiro de quinze ou dezesseis anos de idade.
— Oi, eu sou Buster. Posso ajudá-lo com alguma coisa?
— Hmm… Sim, você poderia dar uma olhada neste véu, por favor? — Lucien colocou o véu sobre o balcão.
Buster gentilmente esfregou o material com os dedos sob a luz e ficou surpreso.
— Senhor, isso é o Rouxinol Preto do Reino de Holm! Onde você conseguiu isso?
Como outros alfaiates, Buster sabia que Lucien não tinha condições de comprar esse material. Às vezes, nem mesmo as pessoas ricas conseguiam comprar nem um pequeno pedaço do Rouxinol Preto. Todas as damas nobres queriam aquilo.
Lucien baixou a voz.
— Não se preocupe. Tem procedência.
Um homem de trinta e poucos anos apareceu de um dos cômodos dos fundos. O homem magro era McDowell, o dono dessa loja.
Lucien ficou surpreso que eles não o enxotaram logo de cara, o que era um sinal promissor.
— Sim, sim! Eu juro por Deus! Veja só… tem um buraco nele. Foi abandonado por uma senhora nobre e eu só achei ele. Você pode usar ele como adorno em um vestido ou em uma faixa. Eu acho que com suas mãos você vai definitivamente conseguir fazer bom uso dele, senhor. — Lucien acrescentou ansiosamente.
Tomando o laço das mãos de Buster, McDowell olhou de perto. Depois de um momento de reflexão, ele perguntou calmamente.
— Quanto você quer, então?
Lucien cerrou os punhos com ansiedade, mas não se atreveu a demonstrar a empolgação em seu rosto.
Vamos lá, Lucien… você lutou com os ratos enormes e loucos antes. Mantenha a calma. — Ele secretamente se consolou.
— Faça uma oferta, senhor. Acredito que seu preço não me decepcionaria. — Lucien sorriu e respondeu.
Olhando para os olhos de Lucien, McDowell parou por um momento.
— Quarenta Fells. Não me serve muito bem com um buraco.
— Um Nar. Um vestido extravagante com um rouxinol preto nele, mesmo as damas nobres e recatadas lutariam por ele. — Lucien mais do que dobrou a oferta.
McDowell balançou a cabeça e entregou o laço de volta para Lucien.
— Cinquenta Fells. Eu não posso pagar mais do que isso.
— Hum… Sinto muito, mas obrigado de qualquer maneira, senhor. — Lucien calmamente se virou e estava pronto para sair. Na verdade, ele estava muito nervoso. Sua preocupação era que ele poderia perder sua única chance, simplesmente por ser ganancioso.
Passo a passo, Lucien arrastou os pés para a saída. Quando ele estava prestes a sair da loja, a voz de McDowell chegou novamente aos seus ouvidos.
— Oitenta Fells. Minha última oferta. Eu só estou pagando isso porque o laço é uma combinação perfeita para um dos meus vestidos.
Beleza! — Lucien acenou com o punho alegremente e então ele se virou e sorriu.
— Fechado, senhor.
As moedas tilintantes encheram o bolso de Lucien. Para ele, nada era mais delicioso do que ficar rico.
— Eu não te conheço, e também não me importo. Porém, se no futuro você tiver mais algum material bom como este, pode trazê-lo aqui, desde que seja de procedência. — McDowell acrescentou.
— Com certeza, senhor. Obrigado. — Lucien se curvou ligeiramente e sorriu.
Depois de sair da loja, ele descobriu que a luz do sol era muito brilhante sob o céu incrivelmente azul. Respirando o ar mais fresco do que nunca, Lucien descobriu que esse mundo também era adorável.
Oitenta Fells representavam um montante mais que decente para ele. Ele começou a achar que sua ideia de colecionar dinheiro realmente funcionaria. Essa perspectiva era a coisa mais importante para ele nesse momento!
Iven estava esperando por Lucien perto de sua casa. Ele acenou com a mão assim que viu seu amigo chegar.
— Lucien! Aí está você! Minha mãe me mandou convidar você para o jantar. Meu irmão está na cidade!
John? O irmão mais velho de Iven? — Lucien tentou se lembrar, — John é… sim, um escudeiro.
Ele sabia que não era seguro carregar tanto dinheiro consigo por toda parte.
— Só um momento, Iven. Eu tenho que secar meu suor um pouco. — Lucien sorriu.
— Claro, Lucien. — Iven parecia mais animado do que de costume, — Sabe do melhor? John trouxe um pedaço de carne do Lord Venn! Nós vamos ter guisado de carne esta noite!
Seu rosto sujo estava cheio de excitação e expectativa.
— Eu não como guisado de carne faz um bom tempo!
Na verdade, a família do pequeno Iven não era tão pobre quanto a maioria das pessoas que viviam em Aderon. Como um artista de rua, a renda de Joel podia variar às vezes, mas ainda assim era melhor do que um trabalho fixo. Alisa também trabalhava como lavadeira. Porém, nos últimos tempos eles estavam sempre economizando para custear a formação de John. O velho Evans, o pai de Lucien, os ajudou muito quando ainda era vivo.
Depois de esconder o dinheiro com segurança, Lucien rapidamente lavou o rosto e seguiu Iven para a casa da tia Alisa.
Um grupo de vizinhos estavam reunidos na frente do barraco.
— O pequeno John agora é um escudeiro juramentado que segue Lord Venn, não é?
— Sim, Alisa me disse.
— O pequeno John ainda não tem nem dezenove anos. Um dia ele pode ter sorte e despertar a bênção em seu sangue… Daí então ele vai ser um verdadeiro cavaleiro!
— Então não devemos mais tratar ele como pequeno John. Vamos dizer, Senhor John!
— John também pode ser o comandante da Guarda da Cidade como um escudeiro juramentado agora.
— Joel e Alisa são tão sortudos… Eles devem estar muito orgulhosos de seu filho!
Iven estava acenando com grande orgulho. Quando entraram na sala, um jovem loiro levantou-se da cadeira. John era um rapaz bonito, alto e de postura ereta, com os olhos do pai. Seu trato elegante impressionou bastante Lucien.
— Eu estava muito preocupado ao ouvir o que aconteceu com você, Lucien. — John deu uns tapinhas no ombro dele e sorriu, — Fico feliz em ver que você está bem agora. Acho que foi um teste de Deus para você.
Embora fosse apenas um ou dois anos mais velho que Lucien, John parecia muito mais maduro. Seu traje acinzentado de cavaleiro também passava uma impressão de destaque.
— Obrigado, John. Não foi grande coisa, na verdade. A tia Alisa sempre se preocupa comigo. — Lucien assentiu.
Quando se sentaram ao redor da mesa de jantar, John colocou a mão no ombro dele.
— Por que você parece tão seco? Eae velho, nós somos melhores amigos!
— Umm… Eu acho que você mudou bastante desde que você saiu de casa. — Lucien estava um pouco nervoso.
John assentiu com a cabeça seriamente.
— É… Eu diria que sim. O treinamento de lá me mudou muito, tanto física como mentalmente. Foi muito difícil, mas também ganhei muito com isso.
O jantar não foi um banquete. Eles apenas tinham ensopado de carne e peixe assado na mesa, mas, para Lucien, estava delicioso. Ele devorou o seu prato e até mesmo mordeu a língua algumas vezes. O encontro feliz foi tão agradável que Joel se permitiu até mesmo desfrutar de sua carne com um pouco de cerveja.
Alisa falou ainda mais do que de costume durante o jantar. Na maioria das vezes, ela era a única que falava o tempo todo. Um par de palavras de Joel, Lucien ou Iven eram suficientes para deixa-la animada e assim ela continuava por muito tempo. De acordo com as regras de um cavaleiro, John não falava muito.
*Bluuuur*
— Nossa, eu estou cheio… — O jantar feliz terminou com um arroto alto do pequeno Iven.
John sorriu e balançou a cabeça.
— Iven, comer demais faz mal.
Então, ele se virou para Lucien.
— Você tem algum plano para o futuro? — Ele perguntou.
Cuidadosamente escolhendo suas palavras, Lucien assentiu com a cabeça.
— Sim. Ainda não está pronto, mas eu não quero mais levar uma vida como a que estou levando agora.
— Bom. — John olhou dentro de seus olhos, — Lorde Venn nos disse que ‘estar insatisfeito com sua vida te motiva a seguir em frente’. A padaria e a adega da mansão de Lord Venn estão agora à procura de aprendizes. É uma boa chance, mas você tem que trabalhar lá por dez anos. Se você está interessado neste trabalho, me diga até a próxima segunda-feira.
As pessoas neste mundo também acreditavam no mito de que Deus havia criado tudo em sete dias. Eles também frequentavam a igreja todos os domingos.
Ser um escudeiro era algo muito promissor. Agora, John era capaz de ajudar sua família e amigos. Embora a ajuda não pudesse mudar suas vidas completamente, ainda era de grande importância.
— Obrigado, John. — Honestamente, Lucien ainda estava relutante em se restringir pelos próximos dez anos, especialmente quando ele tinha acabado de fazer sua primeira pequena fortuna. Porém, ele ainda queria pensar por algum tempo antes de tomar uma decisão definitiva.
— Tudo bem, eu tenho que voltar agora. — John se levantou de sua cadeira e abraçou sua família. E deu um grande abraço em Lucien. — Gostaria que você soubesse ler, Lucien. Downey está procurando um funcionário para o tribunal. É um trabalho muito decente com um salário bem bacana.
— Estou planejando começar a estudar. — Lucien aproveitou a oportunidade e disse a John.
O escudeiro ficou bastante surpreso. Logo, ele sorriu e balançou a cabeça.
— Vou ver se há alguma chance para você lá.
Lucien agradeceu a John novamente, sinceramente, mas também não colocou toda a sua esperança nele. Ele tinha que contar com seu próprio esforço.
Durante os três dias seguintes, Lucien não encontrou nada tão valioso quanto o rouxinol negro. Porém, ainda assim ele conseguiu juntar um Nar e sessenta e quatro Fells. Naquele momento ele estava andando em direção ao portão da cidade como de costume, com sua confiança elevada.
Olhando Lucien se afastar de costas, André cutucou Mag de leve.
— Por que é que ele sai da cidade todas as manhãs?
— Quem sai da cidade? — Uma voz amável veio detrás deles.
André se virou num pulo, parecendo sério.
— Bom dia, Jackson.
Jackson Riodors, um dos líderes da turma de Aaron, tinha uma cara amável. Mas, sua astúcia e malícia poderiam definitivamente colocá-lo no topo do grupo.
Eita problemas😱😱😱😱
merda