Então essa Esfera Envidraçada de um tom de azul pálido era a razão pela qual Jon veio da Terra. Além de sentir-se surpreso, Angor ficou curioso e confuso.
Era apenas natural que ele se sentisse assim vendo tal artefato extraordinário. Seu professor não estaria nessa situação se não fosse por isso, e estaria aproveitando sua vida com esposa e filha.
Além disso, havia uma voz que secretamente sussurrava na mente de Angor: A esfera envidraçada também era a razão pela qual pôde conhecer uma figura erudita como o Professor, primeiramente. Sem o professor, talvez ele tivesse se tornado um garoto mimado que viveria uma vida entediante para sempre, sem nunca saber nada sobre esse mundo.
Claro, Jon não podia ler a mente de Angor. Ele brincou com a esfera em sua mão, quase murcha, e depois esticou-a para colocá-la na de Angor.
“Eu já a joguei fora, e continuará assim. Já que a trouxe, é provavelmente destinada a você. Fique com o Olho Alienígena… Eu não tenho muito tempo sobrando, mas você ainda é jovem. Talvez você encontre uma chance de visitar a Terra.” Jon balançou sua cabeça com um sorriso. Ele sequer acreditava em si mesmo, mas ainda assim insistiu. “Se realmente conseguir, por favor, leve minhas cinzas de volta para China e as enterre debaixo do velho visco em minha casa, ao longo do rio Yangtze…”
…
A névoa estava densa esta noite. Angor segurou o queixo e permaneceu ao lado de Jon até que adormecesse. Só então, Angor foi embora esfregando seu braço doído.
O corpo do professor constantemente ficava mais fraco, e ninguém sabia quando seria sua hora de ir. Apesar da vontade de Angor, se o Professor disse que a Consciência de Gaia não o pouparia, então não havia nada que Angor pudesse fazer. Bem, talvez houvesse uma coisa: ele ficaria ao lado do Professor, com satisfação, e cumpriria seu dever como pupilo durante os últimos momentos de Jon.
Quando Angor pisou no jardim, a luz do luar brilhava sobre a terra. Ele vestia uma capa com o emblema da família bordado nele, por cima do seu casaco fino. Sua sombra se estendia sobre a lua, e sua figura solitária foi em direção ao castelo, no centro da mansão.
No salão do castelo, um grupo de dançarinas vestindo trajes elegantes, seguravam as pontas de seus vestidos e dançavam à melodia do músico. As servas acenderam as valiosas velas feitas de óleos de peixes do fundo do oceano, iluminando o salão com luz artificial.
Cheiros deliciosos preencheram o lugar: vinho, queijo cremoso, e um doce e suave cheiro de flores e chás. Essa cena alegre era o que Angor viu quando entrou no castelo.
Leon estava em meio as pessoas, com uma taça de vinho em sua mão, conversando com vários estranhos, alegremente. Aqueles deviam ser as pessoas da Família Morn. Observando os visitantes calmamente, Leon o viu e foi até ele em meio ao grupo para apresentá-lo.
Quem estava na frente era um homem de meia-idade vestindo um traje cavalheiresco. Ele tinha olhos verdejantes, cabelo castanho escuro, e características faciais distintas, com um olhar afiado como uma espada sem bainha.
“Bem a tempo, Angor! Este é o Conde Eton, da Famíia Morn, que estão nas linhas de frente.” Apresentou Leon.
Angor o cumprimentou de uma maneira natural. As nobres etiquetas já estavam cravadas em seu ser, e as executou de maneira perfeita, como um nobre.
“Esses são Alan e Aleen, filho e filha do Conde Eton.”
Alan tinha cerca de 15 anos, similar ao próprio Angor. Seus traços faciais ainda não haviam crescido completamente, fazendo sua aparência gorducha meio que adorável. Ele herdou olhos verdes e o cabelo marrom de seu pai; apesar disso, seus cabelos tinham uma infinidade de curvas e cachos, dando-o um aspecto infantil.
Apesar de ser a irmã mais nova, Aleen aparentava ser mais madura que Alan. Ela já tinha curvas femininas por seu corpo, acompanhada de seu longo e elegante vestido de nobre; ela tinha uma aparência de uma jovem princesa que estava prestes a entrar na vida adulta, carregando uma atratividade jovem e particular de uma mulher.
Ao mesmo tempo, todos também estavam analisando Angor.
Ele era um rapaz bonito para os padrões do império — cabelo loiro, olhos azuis, e uma pele branca, limpa e saudável. Todas as partes de seu rosto eram perfeitas, e se tornava marcante quando postas juntas. A aparência impecável possuía um efeito. Quando Angor sorriu para o irmão e irmã, cortesmente, Aleen imediatamente corou e se escondeu atrás de Alan, fingindo pegar um prato. Uma gracinha.
Eton riu silenciosamente. Apesar disso, ele estava surpreso com a aparência de Angor. O Velho Padt tinha uma aparência normal, mas, ainda assim, conseguiu ter dois lindos filhos, entre os quais não conseguia escolher um vencedor.
Depois de muitos elogios, Leon notou que Eton continuava olhando em outra direção, então disse:
“Essa é uma festa de chás, então já chega de vinhos. Vamos aproveitar alguns chás.”
Com isso, Leon bateu palmas para as dançarinas pararem, e conduziu todos a seus respectivos assentos na sala de chá. De repente, o portão do salão estalou e abriu vagarosamente. Estava chovendo lá fora, foi só então que todos notaram o clima. A figura misteriosa debaixo de um manto negro entrou lentamente.
Leon franziu. “Sinto muito, você é…?”
Antes que pudesse finalizar, Conde Eton, Alan e Aleen correram até o lado da pessoa, respeitosamente.
“Visconde Padt, esse é meu pai, Mara Morn,” introduziu Eton, “Meu pai ama chá com sabores suaves. Ele veio conosco quando ouviu que um chá especial seria servido. Ele ocupou-se com algo ao longo da estrada, é por isso que somente chegou agora.”
Leon entendeu e soltou um “Oh!”, então caminhou e cumprimentou o ancião da Família Morn com grande entusiasmo.
Angor, porém, manteve o foco nos sapatos de Mara, e contraiu as sobrancelhas. Aqueles sapatos macios de camurça, estavam com terra molhada ao redor, e o que atraiu Angor foi a débil cor vermelha da terra. A maioria dela, na Cidade de Grue, era amarelada ou com solo preto. Havia apenas um lugar, em uma área de 50km, onde terra vermelha podia ser encontrada… O Jardim de Chás de Padt. Esse homem era tão interessado em chás que foi ao jardim mesmo na chuva?
Mara devia ser o que perguntou sobre o Orvalho da Manhã, mas, ainda assim, Angor não sabia o que havia de especial no chá. Era amargo seguido de uma leve doçura ao fim. Mara era o único interessando, fora o Professor.
Angor não disse nada disso para ninguém, ele apenas mostrou uma expressão um pouco séria. Os Morn eram poderosos demais, e sua família de um pequeno interior tinha zero chances contra eles. Ele apenas esperava que o chá de hoje pudesse o satisfazer.
Com o capuz removido, Mara parecia apenas um velho homem normal. Barba longa, branca, olhos apertados devido ao sorriso, e um traço benevolente típico de velhinhos.
Leon ordenou à Chefe das Empregadas Mana para servir todos os doces preparados hoje. Além deles, estavam diversas chaleiras de porcelanas delicadas com entalhes.
“Essas chaleiras possuem todos os tipos de chás que crescem em nossa mansão.” Enquanto Leon introduzia os chás, Mana abriu seus olhos.
Quando a primeira chaleira foi aberta, um leve vapor subiu, levando uma rica fragrância de flores.
“Esse é o Melão Gélido, as folhas são pétalas da Árvore de Melão, únicas da Mansão Padt. Foi produzido usando neve derretida da montanha em vez de leite. Doce, mas não tanto. Ela dá uma sensação gelada em seu cérebro.” Leon suspirou. “É uma pena um inverno longo tenha chegado. Isso faz você sentir-se confortável durante os intensos verões.”
Os Morn provaram. Aleen foi a única que realmente gostou e tomou mais um pouco, todos os outros tomaram apenas um gole, exceto por Mara, que apenas cheirou antes de colocá-lo de lado. A segunda chaleira possuía chá leitado. Este possuía um sabor mais distinto, o que o fazia diferente de todos os outros chás famosos ao redor do império.
“Esse é chamado de Chá Leitado de Limão, preparado com uma fruta amarga chamada de Limão de Verão, adicionado com folhas de menta,” ele apontou para Angor. “É o favorito do meu irmão. Ele bebe vários copos ao longo do dia, enquanto tenta esconder de todos. Ha!”
Angor “encarou” Leon em sua mente, mas manteve o sorriso por fora.
“O Senhor Padt gosta?” Aleen sorriu com prazer, pegando um copo de porcelana de Mana e tomando de um grande gole. Leite escorreu por seus lábios. Aleen fechou os olhos e ponderou sobre o sabor doce no começo e amargo no fim do leite. Brilhante! “Isso é ótimo!” comentou em voz alta, “Gostei mais que o chá de flores.”
Ouvindo isso, Alan também pegou um copo e tomou em um único gole. Ele estalou os lábios, apertou os olhos, e assentiu com satisfação. Com um barulho, concordou com o gosto de sua irmã.
O Conde Eton olhou para suas crianças e apenas gargalhou. Ele não bebeu o chá leitado, pois já tinha descoberto o significado escondido nas palavras de Leon — esse chá era obviamente destinado a Alan e Aleen. Aparentemente Mara também tinha um amor profundo por seus netos. Ele empurrou seu chá diretamente para a frente de Aleen.
Logo após, Mana abriu diversas chaleiras em sucessão. A maioria deles era de chá leitado e chá com flores, os quais Mara não ligava muito. Ele apenas provou de dois tipos de chás verde que também eram os favoritos de Jon, mas ainda permaneceu indiferente a eles.
Angor lançou um olhar para a última chaleira, que continha os três chás mais queridos por Jon, e a única com uma planta trazida da Terra — O Orvalho da Manhã.