Alguns dias depois.
Em um mercado movimentado perto do portão externo da cidade de Lanthanor.
Uma mulher segurando a mão de uma garotinha entrou no mercado, olhando ao redor como se procurasse algo.
Suas roupas já tinham perdido há muito tempo suas cores originais, agora pareciam monótonas e ásperas por anos de desgaste. A menina tinha uma roupa semelhante, com os olhos bem abertos enquanto olhava ao redor de todos os pontos turísticos que a capital tinha para oferecer. Parecendo cansadas de viagens, as duas pareciam ter viajado muito tempo para chegar ao seu destino.
“Dalia, fique perto. Eu não quero que você fuja e se perca, tudo bem?”
A mulher ajoelhou-se no chão e colocou a mão no rosto da menina, limpando a poeira e o suor, a mulher deu um beijo na testa da filha. O beijo animou a menina, fazendo-a dar um largo sorriso enquanto a mulher também não resistiu e imitou sua filha, sorrindo ao ver a pura inocência de uma criança.
Suas mãos intensamente calejadas seguraram sua filha novamente enquanto caminhava para um prédio que parecia ter sido criado recentemente.
“Centro de Justiça do Cidadão” era o nome escrito na bandeira, que a mulher olhou antes de entrar com uma expressão determinada no rosto.
Lá dentro, vários policiais estavam sentados em frente a mesas segurando artefatos que pareciam pequenas tigelas de prata redondas.
Muitas das cadeiras do outro lado dos policiais eram ocupadas por pessoas que estavam falando nos artefatos. Enquanto isso, os policiais pareciam estar tomando notas em pergaminho na frente deles usando uma pena e uma garrafa de tinta.
Caminhando até uma mesa que estava vazia, a mulher sentou-se com pressa como se fosse recuar e partir caso não criasse coragem para se sentar o mais rápido possível.
A menina subiu na cadeira e sentou ao lado da mãe, olhando ao redor de forma fascinada para todas as pessoas novas e pelos policiais em seus uniformes. O número de pessoas que ela tinha visto hoje já tinha ultrapassado o número de pessoas que conheceu em sua pequena aldeia enquanto crescia.
“Diga seu nome, local de residência, injustiça e o responsável. Por favor, tenha em mente que você terá que testemunhar sob juramento quando necessário. A punição será dada se suas alegações forem falsas.”
Vendo as duas se sentarem, o policial repetiu a frase que disse pelo menos 100 vezes desde a manhã.
Balançando a cabeça como se já tivesse se preparado, a mulher começou a falar.
“Meu nome é Helena, e esta é minha filha, Dalia. Moramos na vila Burbery, no interior de Lanthanor. Três anos atrás, um nobre que passava por lá parou durante a noite em nossa aldeia. Enquanto estava lá, ficou bêbado e queria ser entretido. O prefeito da aldeia ordenou que algumas de nós dançassem para acalmar o nobre, e eu era uma delas. No meio da nossa dança, ele tropeçou e pegou minha mão, com a intenção de me arrastar para longe. Meu marido que…”
Até este ponto, a mulher tinha falado com uma expressão resoluta enquanto tentava não deixar que as memórias dolorosas a afetassem. No entanto, com a menção de seu marido, a quem ela sentia tanta falta, ela não podia deixar de chorar.
“Mamãe, o que há de errado? Posso ir pegar flores para animá-la novamente?”
A menininha ao lado dela puxou seu vestido, fazendo esta pergunta com uma expressão preocupada em seu rosto enquanto via as lágrimas aparecendo nos olhos de sua mãe. Em sua casa, sempre que isso acontecia, ela saía para pegar as flores que cresciam perto da pequena cabana de palha em que viviam. Sempre que sua mãe via as flores, ela enxugava as lágrimas, colocava-as em seus recentes cabelos grisalhos e a beijava em suas bochechas.
Ao ouvir a filha perguntar isto, a mulher se apressou para enxugar as lágrimas. Vendo a cena, o policial não pôde deixar de suspirar quando começou a preencher os detalhes no pergaminho em sua frente. O artefato de gravação já havia sido ativado quando a mulher começou a falar.
“A mamãe está bem, Dalia. Só me dê alguns minutos. Então, podemos sair e comprar doces.”
Ouvindo a rara palavra “doce”, o rostinho da menina se iluminou novamente enquanto ela concordava e continuava a olhar ao redor.
“Meu marido que tentou detê-lo foi assassinad… tirado de nós pelos guardas do nobre. Felizmente, o nobre desmaiou depois disso e teve que sair na manhã seguinte. Desde então, tenho tentado sustentar a nossa família. Vim aqui porque ouvi dizer que o novo Rei prometeu ouvir nossas queixas e se vingar por nós. Eu ainda sonho em mata…… enterrar esse homem diariamente. Não sei o nome dele, mas posso reconhecê-lo facilmente. Por favor, me diga se minha queixa será feita? Quando tentei fazer isso há três anos, fui jogada na rua.”
A nitidez em seus olhos e rosto que tinha aparecido quando ela falou sobre enterrar o nobre foi substituída por soluços silenciosos no final de sua fala.
“Todas as reclamações serão atendidas. Por favor, use este Lan de Ouro para ficar em qualquer pousada da cidade. Nosso Rei será oficialmente coroado em dois dias, e os tribunais especiais para casos como estes também abrirão logo depois. Se o seu caso for verdade, você também receberá uma pensão pelo governo por um determinado período de tempo. O Rei agradece por ter chegado até aqui depois de confiar em suas palavras.” Respondeu o policial com um leve sorriso no rosto.
Vendo o Lan de Ouro brilhando na mão do policial, a mulher não pôde deixar de esfregar os olhos. Em sua pequena aldeia, a moeda mais alta usada normalmente era o Lan de Prata. Apenas o prefeito era conhecido por ter alguns Lans de Ouro que costumava pagar em massa para os mercadores para necessidades da aldeia, como arados e martelos.
Tomando o Lan de Ouro com as mãos trêmulas, a mulher ainda parecia descrente até sentir o peso que significava que definitivamente não era um de prata.
Todos esses anos, tudo o que tinha obtido do governo foi desprezo e ridicularização. Não importa quantas vezes tenha tentado submeter seu caso ao tribunal, era descartado citando alguma razão insensível. Finalmente, teve que parar depois de ela e sua filha receberem uma ameaça de morte.
Agora, ela só se atreveu a tentar novamente depois de ouvir as proclamações que tinham alcançado todas as cidades campestres que o Rei anterior tinha sido morto e substituído por alguém que prometeu ouvir todas as queixas do povo.
Isso era tudo o que ela precisava; este simples gesto de alguém se importar o suficiente por sua situação e ouvi-la e dá-la uma chance de apresentar seu caso. Isto fez seu coração se encher de gratidão. A sensação de ser ouvida pelas autoridades era algo que ela nunca pensou ser tão doce.
Segurando o Lan de Ouro em sua mão, um pequeno sorriso apareceu em seu rosto antes que se virasse para ver sua adorável filha ainda olhando ao redor com fascínio. A garotinha adorava doces, mas ter que trabalhar o dia todo apenas para ganhar o suficiente para ter comida o bastante e economizar um pouco de dinheiro para tempos difíceis, tinha sido muito duro; o que somado com o fato de que sua ocupação principal era a agricultura, que exigia força e esforço, o que fazia seu corpo doer todas as noites depois de voltar para casa, tornou sua situação ainda mais complicada.
Agora, com um pouco de gestão de dinheiro inteligente, elas teriam o suficiente para alugar um quarto, comer três refeições completas por dia e comprar tanto doce quanto a garotinha quisesse. Além disso, houve até menção de uma pensão!
Agradecendo ao policial, Helena se levantou e guiou Dalia até a saída. Tudo ao seu redor parecia mais brilhante, como se algo tivesse tirado o pano escuro que cobriu a sua visão e mente nos últimos anos.
Rei Daneel. Ela abençoou esta figura que tinha feito todo o possível com todo o seu coração. Prometendo estar presente na coroação e ver por si mesma como alguém com um coração tão gracioso se parecia, ela pegou Dalia em suas mãos e caminhou em direção a um vendedor de doces que chamou a atenção de Dalia desde que elas chegaram lá.
Por toda a capital, tais cenas ocorreram com mais e mais pessoas ansiosas pela Cerimônia de Coroação que ocorreria em dois dias.
Enquanto isso, o Rei que foi responsável por todos esses corações calorosos estava roncando em sua cama, descansando enquanto sonhava em cavalgar para salvar princesas presas em torres altas.
Com as decorações em pleno andamento, Lanthanor se preparou para receber seu novo Rei com uma pompa e vigor que definitivamente chocariam os céus e abalaria os deuses, fazendo-os olhar para baixo com admiração para ver quem era tão amado aponto de todos no Reino tentassem tudo o que pudessem para fazer de sua coroação um grande sucesso.