Lukas foi até o quarto de Leo, onde o mesmo estava esperando.
Toc-Toc.
— Sim.
A porta se abriu após o chamado gentil, revelando Leo.
Seu rosto estava um pouco sombrio, mostrando o quão cansado ele estava depois de voltar da missão.
Sua expressão mudou para suspeita, quando viu Lukas.
— Você era aquele cara no escritório…
— Você pode me chamar de Lukas. Eu serei responsável pelo seu tratamento desta vez.
— Ah… Então você é um sacerdote.
Leo assentiu como se isso fizesse sentido.
Afinal, era natural que um sacerdote pudesse dizer se alguém estava ferido com nada mais que um olhar.
Lukas se vestia de maneira muito livre e não tinha o zelo religioso que se costuma sentir nos sacerdotes, mas Leo não prestou muita atenção a isso.
— É… Algo parecido.
Fingir ser um sacerdote pode ser problemático, então Lukas decidiu encobrir isso grosseiramente.
— Entre. Acabei de voltar, então está um pouco bagunçado.
O quarto não era muito espaçoso. Na verdade, era bem estreito. Tinha uma estrutura semelhante a um Kitnet.
Estava mobiliado com uma cama, uma escrivaninha e uma cadeira.
Ao contrário do que Leo disse, o quarto não estava nem um pouco bagunçado. Na verdade, estava bastante limpo, exceto por um pouco de poeira. Isso mostrou que a organização manteve tudo em ordem enquanto ele estava fora.
“É como o quarto de um asceta.”
Os livros nas prateleiras e os simples adereços de treinamento no canto pareciam enfatizar ainda mais esse sentimento.
— Senta na cama.
— Certo.
Lukas pegou a única cadeira da sala e se sentou em frente a Leo.
— Estique o braço.
Leo estendeu o braço como lhe foi dito.
Quando viu o braço, Lukas franziu a testa. Sua lesão era muito pior do que ele esperava.
Uma grande e grotesca mancha preta se estendia do cotovelo de Leo até o pulso. Era uma visão bizarra.
— Você deve estar com muita dor…
— Estou confiante na minha tolerância.
— Isso não é algo para se gabar.
Leo se encolheu um pouco quando ouviu o tom áspero de Lukas. Ele abaixou a cabeça e murmurou.
— Eu sinto muito…
Lukas suspirou como se não quisesse ouvir, e começou a tratá-lo.
Basicamente, a maneira mais confiável e eficiente de lidar com uma lesão como essa era limpar a energia demoníaca que estava imbuída na carne.
Quase não haveria efeitos colaterais se alguém usasse a energia sagrada para queimar a energia demoníaca.
Mas Lukas não podia usar energia sagrada. Portanto, ele simplesmente sugou a energia demoníaca para seu corpo.
Juk- Juk-
Se um padre de verdade visse esse processo de cura, seu queixo poderia ter caído em choque. Isso não era diferente de curar veneno colocando-o em seu próprio corpo.
— …
Leo olhou para seu braço com curiosidade.
Embora não estivesse completamente certo de como a purificação funcionava, ele tinha uma vaga sensação de que isso era diferente do processo usual.
Enquanto tirava a energia demoníaca, Lukas falou.
— Como você conseguiu essa lesão?
— Foi o ataque de um chicote de um Demônio. O alcance era muito amplo e o ataque era rápido demais para eu reagir. Era o Barão Doldor, o alvo de nossa missão.
Barões não eram Demônios de alto escalão, mas mesmo assim eram ameaças.
Era um alvo que a maioria dos caçadores seria incapaz de derrotar por conta própria.
— Você não poderia ter evitado isso?
— Hã?
— Você treina seu corpo extensivamente. Você provavelmente não perde um único dia.
Os olhos de Leo se arregalaram.
— Como você sabe disso?
— Eu posso dizer só de olhar para o seu físico. Quase não há gordura em seu corpo. Você não parece ter um corpo que se encaixe no termo “não conseguiu reagir”.
— Obrigado.
Lukas olhou para a cabeça levemente inclinada de Leo e disse.
— É um problema psicológico?
Leo permaneceu em silêncio por um tempo antes de finalmente abrir a boca.
— Você é britânico?
Foi uma pergunta aleatória. No entanto, é algo que Lukas encontrou com bastante frequência desde que veio a este mundo.
Enquanto balançava a cabeça lentamente, ele ouviu uma voz suave.
— Minha família foi exterminada pelos Demônios. Eu fui o único sobrevivente e, desde então, desprezei os Demônios.
Embora fosse difícil de suportar, situações como essa eram bastante comuns nessa época. Neste dia e idade, havia muito poucas pessoas que não haviam perdido suas famílias para os Demônios.
No entanto, Leo parecia resumir sua provação como se ele fosse apenas um terceiro que assistia de lado.
— Eu queria ser um caçador. Felizmente, eu era rico de talento. Me disseram até que eu tinha um talento excepcional para as artes marciais. Me senti com tanta sorte. Afinal, quanto mais rápido eu ficasse forte, mais cedo eu seria capaz de matar os Demônios.
Ele treinou por 3 anos.
E no dia em que completou 15 anos, Leo participou de uma missão de subjugação.
— Foi só então que eu percebi que tinha uma grande falha.
Lukas sabia qual era essa falha. Afinal, ele já tinha visto em seu arquivo.
— Sempre que pratico, meu corpo fica firme. Mas quando enfrento Demônios, fico tão tenso que não consigo nem mover um dedo. É por isso que ainda não consegui me tornar um caçador de verdade.
— …
— Não sei se você acredita em mim ou não, mas é por isso que não consegui evitar o chicote.
Ele não tinha motivos para esconder isso.
A maioria dos caçadores da filial europeia sabiam da falha de Leo.
Isso porque ele tinha estado na maioria dos grupos de caçadores antes.
— Ouvi dizer que você é um suporte.
— Isso.
— Normalmente, os suportes estariam na retaguarda durante uma batalha contra um nobre.
A pergunta de Lukas tinha um significado profundo.
Por que um suporte estava no alcance de um nobre?
— Eu te disse, não disse? O alcance do chicote era longo.
Mesmo Lukas não pôde deixar de suspirar quando recebeu essa resposta.
— Eu não sei por que você está mentindo para mim.
— Por que você acha que estou mentindo?
— Há muitos hematomas em seu corpo.
Leo ficou em silêncio.
— Vi o registro da missão. A arma do nobre era um chicote, enquanto o resto dos inimigos eram todos bestas demoníacas. Se você tivesse sido ferido por eles, você teria arranhões ou marcas de mordidas.
— …
— Essas são lesões que só poderiam ser infligidas por outros humanos.
Eram hematomas que ocorriam quando alguém era chutado ou socado.
Lukas percebeu que, fora o ferimento no braço, causado pelo chicote, o resto de seus ferimentos eram assim.
Claro, era possível que ele tivesse sido socado ou chutado por bestas demoníacas, mas se fosse esse o caso, ele não teria sofrido ferimentos tão leves.
Mas o mais importante, ele podia sentir profunda malícia nas feridas de Leo.
Elas foram deliberadamente causadas por uma pessoa maliciosa que queria causar o máximo de dor possível sem matá-lo.
— Eles fizeram você de escudo.
É por isso que ele ficou com o ferimento no braço.
Não havia necessidade de dizer quem eram.
Leo olhou para o braço dele por um tempo.
— Por favor, mantenha isso em segredo.
— Por quê?
— Eles são o único grupo que aceita um cara como eu. Eu realmente quero ajudar a derrotar os Demônios. Eu te imploro.
Ao dizer isso, Leo curvou-se profundamente.
Isso significava que ele estava disposto a continuar vivendo sua vida atual.
— Não importa se eles me baterem. Eu aguento.
Até aquele momento, o tratamento fora concluído.
Lukas se levantou e disse.
— Você é patético.
Leo piscou surpreso.
Sua voz estava cheia de desprezo, o que era completamente diferente da atitude levemente carinhosa que ele vinha mostrando até agora.
— A dor não é um problema? Você consegue aguentar? Dizer isso faz você sentir que está fazendo um grande sacrifício?
A voz sarcástica fez a expressão de Leo enrijecer.
Um sorriso zombeteiro pendia dos lábios de Lukas.
— Você é muito bom em embrulhar o fato de que “você não tem coragem de lutar” em uma caixinha bonita. Mas não distorça os fatos. Você não passa de um perdedor incapaz de superar suas próprias falhas.
— O que você quer que eu faça?
A voz de Leo estava cheia de impotência.
— Fiz tudo o que pude para curar o trauma. Já tentei psicoterapia e tomei remédios. Eu pensei que experimentar o choque de enfrentar um Demônio ajudaria, então não hesitei em esconder isso. E ainda assim…
E ainda assim seu corpo ainda não se movia.
Ele não conseguia mover nem um único dedo.
Quando ele enfrentava um Demônio, seu corpo inteiro ficava coberto de suor frio, sua visão ficava turva e seu corpo inteiro ficava dormente.
— Então você está dizendo que o que você está fazendo agora é a resposta? Você está fingindo se confortar com o fato de poder caçar demônios enquanto satisfaz os humildes desejos desse grupo?
— E do que você sabe?
— Eu sei uma maneira melhor.
Lukas murmurou em voz baixa.
— Claro que não será fácil. Na verdade, será dezenas de vezes mais difícil do que tudo o que você fez até agora. Talvez viver como você está agora seja uma escolha melhor em comparação. Mas se você não gosta do jeito que as coisas estão agora, se você tiver o mínimo de insatisfação… Venha para a 12ª Sala de Treinamento. Vou esperar lá até amanhã de manhã.
Depois de dizer essas palavras, ele saiu da sala sem se virar.
Leo olhava para suas costas com os olhos brilhando.
Ele poderia descartar tudo o que acabara de ouvir como besteira de uma pessoa que acabara de conhecer e que não sabia nada sobre ele. Afinal, ele já havia sido insultado inúmeras vezes.
Ele aturava isso todas as vezes. Na verdade, neste momento, nem era difícil de fazer.
Ele sabia ignorar as críticas e o desprezo dos outros.
Mas ele não sabia por que as palavras de Lukas abalaram tanto seu coração.
— Merda…
Não. Leo sabia o porquê.
Ele mordeu o lábio com força.
— Míssil Mágico.
Woowoong-
Três projéteis azulados apareceram ao mesmo tempo.
“Ótimo.”
Min Ha-rin cerrou o punho.
Agora ela conseguia lançar três mísseis mágicos ao mesmo tempo.
— Hoo.
Mas no momento em que ela perdeu o foco, os mísseis mágicos desapareceram.
Min Ha-rin tomou alguns goles de água fria e enxugou a boca antes de olhar para a porta.
“Ele não tem aparecido muito ultimamente.”
Seu Mestre, em outras palavras, Lukas, vinha mostrando seu rosto cada vez menos nos últimos dias.
Originalmente, ele vinha dar conselhos a ela duas ou três vezes por dia, e às vezes até ficava o dia inteiro, mas ultimamente ele não aparecia por dois ou três dias.
“Eu não estou empacada com nada agora, mas…”
Com toda a honestidade, a presença de Lukas não era absolutamente necessária.
O aumento de sua capacidade de mana, que era o que Min Ha-rin estava trabalhando atualmente, não era nada além de simples repetição, e não havia nada que ela não entendesse quando ocasionalmente lia os livros.
Primeiramente, Min Ha-rin era muito inteligente. Ela não podia falar por si mesma, mas era raro encontrar alguém mais inteligente do que ela.
Apesar de não ter dificuldades de aprendizado, ela ainda se sentia vazia por dentro.
Era porque ele não estava lá?
— Hmm…
Min Ha-rin franziu a testa.
Não. Ela não podia fazer isso.
Esse tipo de dependência não era bom e não combinava com ela.
Min Ha-rin reuniu sua determinação, mas logo depois disso, sua mente ficou em branco novamente.
Ela estava atualmente no quartel-general da filial europeia, então conhecia poucas pessoas. A maioria dos caçadores que escaparam com ela, ou retornaram à sua própria filial ou saíram em missões.
E embora Allida ainda estivesse no quartel-general, ela parecia estar muito ocupada devido ao fato de ser uma feiticeira.
No entanto, ela não se sentia sozinha.
Isso porque aprender magia era divertido, e ela ainda tinha Lukas.
Lukas foi o primeiro professor de verdade que ela já teve. Ela ainda se importava com a identidade dele, mas depois de algumas semanas, ela passou a confiar nele.
Ele era sensato, sábio e justo.
O último era apenas sua opinião, mas ela sentiu que era a razão pela qual Nina era tão respeitosa com ele.
Claro que ainda havia problemas. Ela não sabia a distância adequada a se manter.
Ele foi seu primeiro Mestre. E às vezes, ela sentia que ele não gostava dela, então ela não tinha certeza.
Que tipo de relacionamento um mestre e um aluno deveriam ter? Quão educada ela deveria ser? Ele se importaria se ela pregasse peças nele?
Se eles se aproximassem, talvez ele pudesse mimá-la um pouco…
Depois de pensar sobre isso, Min Ha-rin não pôde deixar de abanar o rosto com a mão.
— Ah. Que calor.
Seus olhos mais uma vez se voltaram para a porta.
No entanto, a porta não se moveu, como se não tivesse intenção de se mover, em primeiro lugar.