Damn Reincarnation – Capítulo 200

Se um país tivesse força nacional suficiente para ser chamado de grande potência, não apenas haveria uma diferença na qualidade das tropas enviadas, mas também haveria pelo menos um tipo de força aérea.

O Império Kiehl tinha seu Exército de Grifos, e os Leões Negros do clã Lionheart cada um tinha seu próprio wyvern para carregá-los. Da mesma forma, o Reino Ruhr treinou suas próprias subespécies de wyverns e formou o Exército de Wyverns do Gelo.

Entre as várias forças aéreas diferentes, havia duas únicas. A primeira era o Exército de magos do Reino Mágico de Aroth, que preferia voar contando com feras invocadas e seus familiares em vez de criar uma raça separada de monstros voadores. A segunda era encontrada no Reino do Deserto de Nahama, onde sua Esfinge, uma grande raça de monstros voadores, era operada mais como um encouraçado aéreo.

Dentre todos os monstros usados nas Forças Aéreas, a escolha mais clássica era o cavalo alado conhecido como Pégaso. Havia dois lugares que criavam os pégasos e os integravam em suas forças aéreas: o Reino do Mar de Shimuin e o Império Sagrado de Yuras.

O Comandante dos Cavaleiros da Cruz de Sangue, Raphael Martinez, não tinha apenas sua enorme espada larga em forma de cruz como seu único símbolo famoso.

Mesmo neste imenso Império Sagrado, dizia-se que existia apenas um Cavalo Divino. O Cavalo do Sol, Apollo, que se diz ter sido concedido pela Luz.

— É tudo propaganda. — Raphael disse com desdém enquanto gesticulava para Apollo.

Apollo era um cavalo gigantesco com uma crina dourada cujo tamanho correspondia à alegação de ser um Cavalo Divino. Apenas em termos de corpo, Apollo parecia ter mais do que o dobro do tamanho de um cavalo de guerra normal, mas uma vez que a armadura de cavalo cor de platina foi vestida, o tamanho já gigantesco de seu corpo aumentou ainda mais. Além disso, ao contrário de um Pégaso comum, Apollo tinha dois pares de asas.

— É incrivelmente grande. — Comentou Eugene.

Aproximando-se com um barulho alto de seus cascos, Apollo abriu suas quatro asas. Por sua aparência, a imagem elegante que vinha à mente quando se pensava em um Pégaso não podia ser vista. Alguns monstros de tamanho médio, como ogros e trolls, seriam forçados a encolher os ombros de medo na frente de Apollo.

— É natural que ele seja tão grande. O Vaticano propaga a mentira de que Apollo é um Pégaso que foi concedido ao mundo pela Luz, mas esse cara é na verdade um híbrido sagrado feito por uma mistura de cruzamento, magia biológica e magia sagrada. — Revelou Raphael.

— Caramba… O quê?

— Um híbrido sagrado. — Raphael repetiu. — Não só Apollo. Todos os pégasos pertencentes ao Exército de Cavalaria Sagrada de Yuras são híbridos sagrados. Embora seja verdade que Apollo é o exemplo mais excepcional entre todos eles.

Tendo se aproximado, Apollo bateu a cabeça contra Raphael enquanto soltava um relincho. Raphael piscou os olhos sombreados e acariciou a cabeça de Apollo.

— Mas essa notícia não deveria ser uma surpresa para você, Sir Eugene. Não é por isso que você quebrou a fonte e distribuiu a retribuição divina? — Raphael perguntou retoricamente.

Eugene devolveu a pergunta. — O quanto você sabe sobre isso, Lorde Raphael?

— Na verdade não sei muito. — Admitiu Raphael. — Porque eu não queria saber. As feias verdades da Igreja da Luz, que reinou como religião ortodoxa por centenas de anos, bem… Essas não são coisas com as quais eu realmente me preocupo. O que é importante para mim é que não importa quão feia seja a igreja, a Luz ainda existe. Isso é tudo que preciso.

Antes de subir nas costas de Apollo, Raphael primeiro se ajoelhou e inclinou a cabeça para Kristina. Ela hesitou por um momento antes de pisar no joelho de Raphael. Ele então apoiou cuidadosamente as costas de Kristina e se levantou, erguendo-a na sela.

— Agora você, Sir Eugene. — Raphael voltou-se para ele.

— Eu não preciso disso. — Eugene recusou rapidamente.

Na verdade, Kristina também não precisava de tal consideração. Embora pudesse ser difícil para Raphael, que parou de crescer durante a infância, aceitar isso, Eugene e Kristina eram na verdade mais altos que ele…

— Nesse caso, deixe-me sentar na frente. — Raphael prontamente concordou.

As costas de Apollo eram muito largas, e sua sela era igualmente espaçosa. Mesmo com os três montados nele, podiam sentar-se confortavelmente juntos na sela, e as pernas de Apollo não mostravam sinais de tremor. Raphael sentou-se na frente da sela e pegou as rédeas.

— Embora já tenhamos discutido isso, assim que começarmos nossa descida em direção ao Vaticano… Por favor, finja desmaiar, Sir Eugene. — Raphael o lembrou. — Como mestre do seu nível, Sir Eugene, tenho certeza de que também terá um desempenho excelente fingindo estar inconsciente.

— Não seria melhor eu fingir que estou morto do que apenas inconsciente? — Eugene perguntou.

O importante era evitar ser notado pelos paladinos encarregados de proteger a Santa Sé. As coisas ficariam muito complicadas se fossem pegos logo no início de sua missão. Eugene também entendeu esse fato e estava bastante confiante em sua capacidade de fingir estar morto. Quando se tornou um mercenário, costumava enterrar seu corpo no espaço entre os cadáveres e esconder sua respiração e presença para sobreviver nos campos de batalha mais difíceis.

— Quanto tempo vamos levar para chegar lá? Não sei exatamente onde fica, mas parece bem longe da Catedral de Tressia? — Eugene adivinhou.

— Se você montasse um cavalo comum ou uma carruagem… Hmm. Provavelmente levaria um dia apenas para chegar à estação de trem de Tressia desta floresta. Então, levaria cerca de seis horas para pegar um trem de Tressia para a capital da Yurasia. Mas com a velocidade de Apollo, podemos chegar à catedral em quatro ou cinco horas no máximo… — Raphael parou por um momento e se virou para olhar para Eugene. — Embora se você não tivesse destruído o portal de dobra, teria sido muito mais rápido e fácil chegar ao Vaticano, Sir Eugene.

Eugene argumentou:

— Mas, graças a minha destruição, não tivemos a sorte de ter você vindo nos encontrar depois de três dias?

Raphael concordou facilmente.

— Sim, é verdade. Se o portal de dobra tivesse sido deixado de pé, poderia ter sido outra pessoa diferente de mim que seria enviada para cá.

— Então, no final, isso significa que foi uma sorte eu estar sendo cauteloso.

— Sim, foi muito bem-feito.

Eugene mudou de assunto.

— A propósito… Lorde Raphael, você está realmente bem com isso? Como não vejo nenhum outro método para resolver nossa situação, sinto que não podemos evitar que estejamos fazendo isso, mas você deve ter muitas outras opções disponíveis e tem muito a perder ofendendo a terra santa, não é?

Quando esta pergunta foi feita a ele, Raphael apenas encolheu os ombros e disse:

— Quando vejo as opções disponíveis, parece que a única outra opção além de ajudá-lo é de alguma forma arrastar você e a Candidata a Santa para o Vaticano à força ou simplesmente matá-lo. Sir Eugene, como você disse, é verdade que tenho muito a perder, mas se eu puder apenas proteger o que tenho, ao fazer algo que detestaria fazer, então prefiro perder tudo.

— Ah… — Murmurou Eugene.

— Além disso, como seguidor da Luz, há algo que quero confirmar: diante do Herói e da Candidata a Santa abençoada com quatro pares de asas, se o Papa e os Cardeais se recusarem a inclinar a cabeça e continuarem a insistir que sua própria fé é inquestionavelmente correta e superior. — Os cantos da boca de Raphael se contraíram quando ele dizia.

Foi apenas por um instante, mas Eugene viu a intenção assassina de uma víbora prestes a atacar por trás daquele rosto de menino.

Raphael continuou:

— Se o fizerem, isso seria blasfêmia e deve ser punido. Possuo um corpo que me viu reverenciado como o Paladino mais excepcional nos cultos da igreja. Eu me orgulho de ser a lâmina mais afiada da Luz nesta era. Na minha frente… Se eu os pegasse no ato de inegavelmente blasfemar contra a Luz, como eu poderia simplesmente deixá-los em paz?

Apollo abriu suas asas. Então uma luz suave o envolveu, e o cavalo disparou rapidamente no céu. Eugene manteve a mão em Akasha enquanto estava guardado dentro de seu manto e olhou para as asas de Apollo.

Eugene entendeu por que Raphael chamou o cavalo de ‘híbrido sagrado’. As asas de Apollo tinham vários feitiços inscritos nelas, como um artefato encantado com magia. Isso fez com que as asas se parecessem mais com os exemplos de tecnologia mágica vistos em golens ou artefatos que foram implantados no torso, em vez de partes naturais do corpo brotando do corpo do cavalo.

[Que terrível…] Mer murmurou.

Tais experimentos também foram conduzidos nas Torres Mágicas de Aroth. Mas pelo menos não propagandearam os resultados de tal experimento, chamando-o de graça da Luz ou evidência de um milagre como Yuras fez.

Kristina olhou silenciosamente para as asas de Apollo com um olhar angustiado.

Ela também conheceu Apollo uma vez quando era mais jovem. Quando jovem, diante de um Cavalo Sagrado com quatro asas, Kristina ficou emocionada ao ver a luz que emanava dele, e isso a convenceu ainda mais da existência de seu Deus. Também serviu como uma fonte de conforto para ela. Ela disse a si mesma que, uma vez que a Luz definitivamente existia, ser escolhida como a Santa desta era, era uma honra abençoada.

No entanto, a atual Kristina descobriu toda a verdade. Embora o processo de sua criação e o propósito de sua existência fossem diferentes, entre Apollo, que havia sido feito como uma peça de propaganda para a Luz… E ela mesma, a Candidata a Santa, que era uma Imitação da Encarnação, no final, eles não eram fundamentalmente tão diferentes, eram?

Kristina examinou as penas que compunham as asas estendidas de Apollo.

Cada uma das penas parecia ter sido produzida pela luz do sol… Mas a luz das penas foi criada artificialmente. Até mesmo Kristina, com seu conhecimento superficial de magia, poderia dizer isso.

Ela só precisava olhar para o que estava acontecendo agora. O voo de Apollo estava indo rápido o suficiente para que o cenário no chão abaixo estivesse passando, mas nenhum vento soprava nelas da frente. E mesmo voando tão rápido, seus corpos sentados na sela não tremiam nem um pouco…

[Pare de ter pensamentos tão inúteis e abrace a cintura à sua frente.]

— Hã?

Uma voz reprovadora de repente soou dentro da cabeça de Kristina.

A voz de Anise a repreendeu. [Kristina Rogeris. Quantas vezes eu a repreendi sobre isso durante suas orações nestes últimos dias? Embora seja verdade que você sofreu uma existência miserável, também é verdade que sua própria existência é milagrosa.]

“Sim…” Kristina humildemente concedeu.

[Além disso, você é realmente muito sortuda. A mão que você recebeu pode até ser considerada afortunada o suficiente para ser outro milagre. Você não terá que passar dezenas de anos vagando por horríveis campos de batalha durante aquela era terrível como eu fiz. Você também não precisará se preocupar ou duvidar da existência de Deus. Já que você e eu que habito dentro de você, somos a prova da existência de Deus.]

Kristina não podia negar as palavras da voz em sua cabeça. Embora Kristina também estivesse bastante confiante em suas habilidades retóricas, a grande Santa de trezentos anos atrás era extremamente boa em encurralar Kristina sem deixar espaço para resistência.

[Não importa o que aconteça, você encontrou sua própria salvação. De agora em diante, não precisará mais passar por esses rituais agonizantes e não precisará sentir a dor dos estigmas como eu senti. Porque a maior parte da dor que você deve sentir será suportada por mim.]

“E-Eu não tenho certeza se estou bem com isso, Senhorita Anise.”

[Mesmo que você não esteja bem com isso, continuarei a fazê-lo, e tudo o que você precisa fazer em troca é certificar-se de tomar algumas bebidas. Além disso, Kristina, eu não disse para você me chamar de irmã?]

“Como eu poderia ousar–”

[Ou então você prefere me chamar de irmã mais velha? Embora eu ache engraçado que estejamos discutindo sobre a diferença entre irmã e irmã mais velha.]

“Não seria bom chamá-la de Senhorita Anise?”

[Eu não quero isso. Você e eu somos alter-egos espirituais. Embora haja uma diferença de tempo de trezentos anos entre nós, ainda podemos ser chamadas de irmãs por causa disso. Eu quero valorizar esse vínculo com você, então se você não estiver disposta a pelo menos me chamar de irmã… Então me sentirei tão triste e desapontada que não conseguirei conter minhas lágrimas.]

Kristina ruminou silenciosamente.

[Isso também conta como um dos arrependimentos que não pude cumprir durante minha vida. Embora eu fosse mais velha que Sienna, aquela garota arrogante nunca me chamou de irmã mais velha. Quando eu tentava convencê-la a fazer isso, ela simplesmente me ignorava e olhava para mim toda engraçada, então ela e Hamel cooperavam para roubar minha preciosa água benta e bebê-la eles mesmos.]

“Eles realmente… Faziam isso?” Perguntou Kristina, incrédula.

[Sim. Como tal, sinto um arrependimento prolongado por nunca ter sido chamada de irmã mais velha. Mas como você é muito tímida e hesitante em me chamar de irmã mais velha, vou ceder e permitir que me chame de irmã. Agora, Kristina Rogeris, como poderia haver algum problema com isso? Não é natural que o título de irmã seja usado entre freiras.]

“Tudo bem, irmã Anise,” Kristina finalmente concedeu.

[Você não precisa adicionar meu nome.]

Kristina hesitou

“Sim… Irmã… Mas… Pode ser por causa da minha inexperiência. Eu não acho que realmente entendi sua primeira instrução. Você poderia, por favor, repetir, irmã?

[Kristina! Não tenho certeza de quem no mundo você puxou, mas realmente tem um lado astuto. Você obviamente está fingindo que não ouviu direito, mas só quer que eu te dê um empurrão nas costas, não é? Que mulher sem vergonha!]

“D-De jeito nenhum,” Kristina gaguejou. “Eu realmente, realmente não ouvi você direito.”

[Se for esse o caso, ouça com atenção. Kristina, sabe do que mais me arrependi antes de morrer?]

Diante dessa pergunta repentina, Kristina não respondeu imediatamente, em vez disso ponderou por alguns momentos. Considerando os arrependimentos deixados pela Fiel Anise… Na verdade, não havia realmente nenhuma necessidade de considerar a questão.

Depois de respirar fundo, Kristina respondeu silenciosamente com um olhar confiante: “É que você não foi capaz de matar o Rei Demônio do Encarceramento e o Rei Demônio da Destruição.”

[Não.]

Kristina vacilou diante dessa negação contundente: “Nesse caso… Quando você e Hamel… Não, com Sir Eugene e os outros… Ah! Será que você não conseguiu salvar o mundo?

[Novamente, não. O que mais me arrependi foi de não poder aproveitar a vida.]

Os pensamentos de Kristina congelaram com essa resposta firme.

[Ouça com atenção, Kristina Rogeris. Ambas temos sido infelizes desde o momento em que nascemos. Você concorda com isso?]

“S-Sim…” Kristina reconheceu hesitantemente.

[Depois do nosso infortúnio, nós duas finalmente tivemos a chance de ser felizes. Porque nascemos assim e passamos por todo tipo de adversidades, merecemos ser mais felizes do que qualquer outra pessoa no mundo. Especialmente eu! Eu vaguei naquele horrível Domínio Demoníaco por mais de dez anos e fiz o meu melhor para salvar inúmeras pessoas, mesmo sofrendo com a dor dos estigmas quase diariamente.]

Kristina tentou consolá-la: “Irmã, sua história é um exemplo brilhante para todos os sacerdotes da Luz.”

[E daí se é? Mesmo tendo feito o meu melhor para salvar inúmeras pessoas, ainda não consegui salvar minha própria vida. Como você acha que eu vivi durante a paz que o Rei Demônio do Encarceramento tão misericordiosamente nos concedeu? Depois de retornar do Domínio Demoníaco, levei cerca de setenta anos para morrer. Durante esse tempo, não pude desfrutar da paz concedida pela pena do Rei Demônio ou encontrar minha própria satisfação na vida.]

Kristina ouviu em silêncio.

[Para me preparar de alguma forma para o futuro distante, eu me tranquei em um monastério no campo e ensinei um bando de pirralhos mimados. Era praticamente meu único prazer ouvir os papas e cardeais que vinham de vez em quando mendigar sangue. Durante tudo isso, fiz questão de continuar orando e nutrindo a geração futura enquanto tentava me tornar uma Encarnação perfeita da Luz. Mas até isso falhou! Eu não pude me tornar a perfeita Encarnação da Luz durante minha vida. Embora eu tentasse esconder meu corpo para sair da igreja, não consegui nem fazer isso, por causa daquele maldito Hamel.]

Isso foi realmente culpa de Hamel?

Kristina não tinha certeza da resposta para essa pergunta, então apenas manteve a boca fechada sem dar qualquer tipo de resposta.

[No final, minha vida como a santa foi cheia de arrependimento e fracasso. No entanto, a Luz misericordiosa não conduziu minha alma à força para cima, mas me acolheu como um anjo. É assim que eu pude permanecer neste mundo e agora habitar dentro de você.]

“Ah… Sim, isso foi realmente uma sorte.”

[Sim, isso mesmo. É realmente uma sorte! Mas o que você pensa que está fazendo? Mesmo tendo recebido tantas bênçãos, ainda simpatiza com a situação daquele potro e se coloca em seu lugar. Por que eu, que vivi tão miseravelmente, devia ser forçada a lidar com tais sentimentos de tristeza que nem me pertencem?]

“I-Isso é…”

[Ouça com atenção, Kristina Rogeris. Podemos ter sido infelizes, mas merecemos ser felizes. No final, a chamada Santa nada mais é do que uma ilusão, então se nossa carne é pura ou não, não tem efeito sobre o poder de nossos milagres.]

“I-Isso é ridículo…! Como você descobriu tal fato, irmã? Poderia ser–”

[Não tenha a ideia errada! Eu vivi toda a minha vida como uma santa deveria. No entanto, depois de morrer assim e me tornar um anjo, acabei de perceber que o corpo é de pouca importância ou significado quando se trata de coisas como a Luz e a realização de milagres.]

“Mas isso… Isso é…”

[Por que falar tanta besteira neste ponto? Kristina, você não molestou a bunda de Hamel completamente por causa de sua luxúria furtiva?]

Kristina tentou abafar a voz, “Ahh, ahhh! Irmã, não foi assim. Tudo fazia parte de cuidar de Sir Eugene enquanto ele estava ferido…”

[Sim, sim, eu entendo. Não importa o quão furtiva você seja, mais uma vez, acho que posso ignorar isso… Mas Kristina! Com o quão instável é sua postura atual, estando presa dentro de você, estou ainda mais ansiosa do que você.]

Kristina suavizou sua expressão enquanto verificava sua postura. Ela estava sentada na parte de trás da sela de Apollo, segurando firmemente o torso do cavalo com as pernas. Então, estendeu as duas mãos para segurar a sela.

Nem era tão precário.

Não haveria problemas para ela continuar sentada sozinha. Os milagres que foram imbuídos em Apollo impediram completamente qualquer chance de seus cavaleiros caírem. Além disso, Kristina era capaz de invocar as asas de Anise, então tudo o que ela teria que fazer se caísse seria abrir as asas e voar.

[Não. Minhas asas são apenas para exibição. É impossível realmente voar com elas.]

“Hã?”

[Isso é realmente importante agora? Kristina! Apresse-se e segure a cintura de Hamel.]

“Não há… Não há necessidade real de…”

[Se você disser que não quer, então terei que tentar forçadamente e mover seu corpo para fazê-lo. Sabe o que isso significa? Isso significa que vou tirar sua iniciativa, então você não poderá fazer nada além de observar o que acontece por dentro.]

“Irmã!”

[Farei coisas além de sua imaginação. Para uma pessoa furtiva como você, isso não funcionaria melhor? Portanto, pense nisso como algo que não pode ser evitado e aprecie a vista de dentro…]

Kristina parou de ouvir as palavras de Anise e levantou as mãos da sela. Então hesitou por alguns momentos antes de colocar as mãos na cintura de Eugene. Suas mãos apertaram em seus lados robustos que não tinham nenhum traço de gordura.

— Ahem… Ahehem! — Kristina tossiu em constrangimento auto-infligido.

Ela esperava que Eugene virasse a cabeça e dissesse algo suspeito para ela, mas Eugene não mostrou esse tipo de reação.

Em vez disso, Eugene perguntou:

— O que você está pensando há tanto tempo?

Kristina tossiu uma vez antes de responder.

— Ahem… Eu só estava meditando e rezando um pouco.

Como Raphael estava sentado na frente deles, Kristina sentiu que não podia falar sobre Anise. Embora aliviada por Eugene não parecer suspeitar de nada, Kristina cuidadosamente esticou os braços ainda mais. Depois de continuar assim, no momento em que ela finalmente tentou inclinar o corpo para frente enquanto envolvia totalmente os braços em volta da cintura dele…

Slap!

Uma mão saiu de dentro do manto de Eugene e bateu levemente nas costas da mão de Kristina.

— Não ultrapasse o limite. — Alertou Mer.

Kristina argumentou:

— Que limite eu cruzei? Senhorita Mer, por favor, não tenha algum tipo de mal-entendido estranho. Eu só estava fazendo algo assim, porque não quero cair do Pégaso…

Mer enfiou a cabeça para fora do manto para olhar silenciosamente para Kristina. Sabendo que qualquer outra desculpa seria inútil, Kristina desviou ligeiramente o olhar e soltou a cintura de Eugene.

— Tire essa expressão do rosto. — Os lábios de Kristina de repente começaram a se mover sozinhos. — Porque se você não fizer isso, eu posso acabar com tudo.

Enquanto seus lábios diziam essas palavras, Kristina não sentiu nenhuma necessidade de se esforçar muito para detê-las. Em vez disso, seu queixo caiu. Então, enquanto franzia os lábios, Mer teimosamente olhou nos olhos de Kristina antes que ela acabasse sendo puxada para os braços de Eugene.

— Sir E-E-Eugene! — Mer gaguejou.

— Eu sei… Eu sei, mas… Ainda é difícil para mim, dizer qualquer coisa neste tipo de situação… — Eugene murmurou.

— Sir Eugene! — Mer protestou mais uma vez.

— Isso é… Hum… Tente não ser muito má com essa garota… — Eugene pediu humildemente.

— Se essa jovem familiar fizer questão de levar em consideração meus sentimentos, então farei o mesmo com ela. — Disse Anise com a boca de Kristina.

No final, Mer não conseguiu mais interferir em Kristina. Graças a isso, Kristina conseguiu segurar a cintura de Eugene durante o voo, enquanto Mer também passou metade do voo abraçada nos braços de Eugene.

— Haaah… — Eugene soltou um longo suspiro ao ser imprensado entre as duas mulheres.

Ele sentia falta dos tempos de paz na mansão dos Lionheart.

* * *

A capital de Yuras era Yurasia. No coração daquela enorme capital havia um magnífico e belo palácio.

Este era o Vaticano.

No céu acima do palácio, um Pégaso de quatro asas estava circulando com as asas abertas. Este era o amado corcel de Raphael Martinez, o Comandante dos Cavaleiros da Cruz de Sangue e um Cavalo Divino concedido pela Luz, Apollo.

Os cavaleiros que guardavam o Vaticano se curvaram em direção à luz que circulava no céu. Das centenas de Paladinos designados para o Vaticano, apenas o Cruzado e seu Cavalo Divino, Apollo, tinham o privilégio de descer diretamente dos céus do Vaticano para o Palácio Branco que ficava em seu centro.

— São muitos. — Observou Eugene. — Quantos são?

— Só em termos de Paladinos, são pelo menos quinhentos. — Raphael respondeu. — Cerca de duzentos deles são dos Cavaleiros da Cruz de Sangue, enquanto o resto dos Paladinos são de outras unidades. Se você contar os Soldados da Igreja além disso, eles chegam aos milhares. Yuras é extremamente grande e já fez todo tipo de coisa, então… Ela também tem muitos inimigos.

— Bem, isso é verdade. — Eugene murmurou em concordância.

— Bem, a verdade é que, em vez de inimigos… Hmm, Sir Eugene, você pode achar isso divertido, mas o Vaticano tem tanta segurança principalmente por causa de todos os fanáticos. — Admitiu Raphael.

Eugene caiu na gargalhada.

— Bwahaha!

— Eu sabia que isso iria te divertir. Enquanto os crentes que vivem em Yurasia não são assim… Mas ocasionalmente, os crentes que vivem no campo vêm ao Vaticano esperando de alguma forma se encontrar com o Papa e pelo menos tocar a bainha de suas vestes, Raphael disse enquanto baixava o olhar.

Atualmente, Eugene estava na sela na frente de Raphael, mas ele não conseguia se sentar corretamente e, em vez disso, estava pendurado na sela. Isso foi para criar a ilusão de que havia sido levado para lá depois de ser dominado por Raphael.

Kristina também estava sentada em silêncio atrás dele. De acordo com o cenário de sua ilusão, Kristina foi inocentemente apanhada na fúria do Herói caído. Enquanto estava sendo sequestrada assim, foi resgatada por Raphael.

— No momento eles não podem vê-lo, Sir Eugene. — Raphael o informou. — Aos olhos deles, Apollo parece apenas uma enorme fonte de luz. Isso é parte da razão pela qual Apollo é chamado de Cavalo Divino.

— Posso ficar com ele? — Eugene imediatamente perguntou, deixando Raphael sem palavras.

— O teto do Palácio Branco foi aberto. Os únicos com o privilégio de descer diretamente do céu para o Palácio Branco assim, somos Apollo e eu. — Raphael disse ignorando a pergunta anterior.

Eugene aceitou a mudança de assunto.

— Isso não significa que eles não têm a menor suspeita de que você possa traí-los, Sir Raphael?

— Sim. Eu servi como um cavaleiro leal e seguidor da Luz por décadas. Se pensassem que eu iria traí-los, realmente teriam me enviado para encontrá-lo, Sir Eugene? — Raphael perguntou com uma risada enquanto puxava as rédeas de Apollo. — Embora isso não me traga muita felicidade. Eles… Eles não têm a menor ideia de que o que estão fazendo é blasfêmia. Estão convencidos de que estão inegavelmente certos e apenas cumprindo a vontade da Luz. Não se pode dizer que estejam completamente errados, pois a luz benevolente continuou a abençoá-los com sua iluminação brilhante.

O teto circular do Palácio Branco havia se aberto, revelando a entrada de uma passagem que levava direto para baixo. Apollo dobrou suas quatro asas e desceu lentamente pela passagem.

A partir daquele momento, Eugene teria que começar a se fingir de morto. Ele parou de falar com Raphael e conteve a respiração e todos os vestígios de sua presença. Kristina também ajustou sua expressão, trazendo de volta a máscara familiar e cobrindo o rosto com ela.

Eugene não confiava completamente em Raphael. Embora tivesse concordado em acompanhar Raphael até ali, Eugene ainda considerava a possibilidade de que tudo que Raphael havia dito poderia ser uma mentira e que tudo isso poderia ser uma encenação. Durante a surpresa planejada na Câmara de Audiências, a espada de Raphael poderia ser apontada para o pescoço de Eugene em vez dos Cardeais ou do Papa.

Então Eugene ainda manteve sua mão direita escondida dentro de seu manto. Mas em vez de segurar a Espada Sagrada, sua mão estava apoiada na Espada do Luar. Não importa qual seja a situação, Eugene estava convencido de que seria capaz de rompê-la liberando os raios da Espada do Luar.

Eugene confiava em Kristina e Anise. Raphael ainda poderia traí-los, mas aquelas duas definitivamente não o trairiam.

“É uma sensação boa”, Eugene sorriu ao sentir algo coçando dentro de seu peito.

Essa sensação era em parte a tensão de não saber como as coisas iriam acabar, mas também o conhecimento de que agora ele tinha companheiros que absolutamente nunca o trairiam. Depois de reencarnar, era difícil se acostumar mais uma vez com a presença familiar de seus companheiros, que ele havia considerado natural naqueles campos de batalha trezentos anos atrás.

Especialmente já que estavam em uma situação como esta.

Eles chegaram ao porão do Palácio Branco, o local conhecido como “Câmara de Audiência”. Não fazia parte dos aposentos do Papa. Este era um lugar onde se dizia que os crentes eram capazes de realizar uma audiência com a Luz que residia nos céus lá em cima. Era ali que a Luz daria uma revelação e escolheria o novo Papa entre os Bispos estigmatizados.

Nas circunstâncias originais, Kristina receberia o reconhecimento de algumas outras relíquias sagradas que foram armazenadas ali, e teria feito a transição completa de uma Candidata a Santa para uma Santa. Depois de tudo feito, Eugene e a Espada Sagrada teriam recebido a confirmação de ser o novo Herói diante do Papa e seus Cardeais.

Mas, no final, todas essas cerimônias serviram apenas para forçar o Herói, que já havia sido ‘escolhido’ pela Luz, a se provar mais uma vez ao Papa e aos Cardeais.

[Kristina Rogeris,] Anise falou com ela de dentro da mente ansiosa de Kristina. [Você não é alguém que precisa receber reconhecimento.]

Kristina desceu do Apollo e ficou de pé.

[Em vez disso, são eles que precisarão provar sua fé para você.]

Raphael estava carregando o flácido Eugene em ambas as mãos. Assim, caminhou até a porta da Câmara de Audiências.

Não havia necessidade dele bater.

As portas da Câmara de Audiência abriram-se sozinhas.

A sala seguinte parecia um tribunal. Uma longa mesa branca ficava na cabeceira elevada da sala, e três homens de meia-idade estavam sentados atrás dela.

A cadeira onde Sergio Rogeris deveria estar sentado estava vaga. Ao lado de seu assento vazio estavam dois outros cardeais em vestes clericais com panos vermelhos sobre os ombros.

Um homem de meia-idade usando uma coroa de três camadas na cabeça, junto com um anel de platina e um bastão em uma das mãos, estava sentado no centro entre eles.

Este era Aeuryus, o Papa que liderava a Igreja da Luz nas últimas décadas.

— Você fez um bom trabalho, Lorde Raphael. — Disse Aeuryus.

Ele olhou para Raphael, parado abaixo deles, e Eugene, que havia perdido a consciência.

Aeuryus pediu.

— Eu gostaria de ouvir o que você viu lá e também o que você fez.

— Claro, permita-me informá-lo do que aconteceu sem uma única omissão, vossa Excelência. — Raphael disse enquanto inclinava a cabeça. — Mas antes disso, por favor, instrua-me sobre o que precisa ser feito com este corrompido.

— Traga-o para mais perto. Mesmo que ele tenha se corrompido, ainda é alguém com um certo status, e já que foi o Herói escolhido pela Luz… — Aeuryus disse enquanto levantava seu cajado.

O anel de platina que o Papa usava no dedo indicador começou a emitir uma luz suave, então, como se ressoasse com o cajado, a luz se espalhou e começou a emanar de ambos os itens. Raphael não ergueu a cabeça baixa, mas ergueu os dois braços que carregavam Eugene no ar.

Tap.

Raphael não tentou dizer algo secretamente. Em vez disso, bateu levemente na cintura de Eugene com a ponta dos dedos. Então lentamente começou a caminhar até o estrado elevado na cabeceira da sala. Conforme Raphael se aproximava, Aeuryus se levantou de sua cadeira.

Os outros cardeais não se levantaram de seus assentos. Seus olhos estavam em Kristina, não em Eugene. Podia-se ver que seus olhos estavam cheios de perguntas. Mas naqueles olhos, as únicas coisas que podiam ser vistas eram uma preocupação com o andamento do ritual e se Kristina havia se transformado completamente na Santa; não houve luto pelo falecido Sergio.

À medida que a distância entre eles diminuía, Aeuryus lentamente estendeu seu cajado.

Raphael ergueu Eugene ainda mais alto, como se o estivesse oferecendo em sacrifício.

As pontas dos dedos de Raphael bateram na cintura de Eugene mais uma vez. Desta vez, a força da batida foi mais forte do que antes. No momento em que sentiu as pontas dos dedos nas costas, o corpo de Eugene flutuou ligeiramente para cima.

Crack!

Movendo-se como um raio, Eugene ricocheteou em suas costas e disparou no ar. Assustado com isso, Aeuryus empurrou seu cajado para frente.

Fwoosh!

Uma explosão de luz envolveu o corpo de Eugene, mas a Espada do Luar que Eugene tirou de seu manto cortou essa luz em dois. Tendo aberto um caminho adiante com isso, sua mão esquerda sacou a Espada Sagrada. Ao desembainhar a espada, Eugene desencadeou um corte afiado. O braço direito de Aeuryus, que estava segurando o cajado, foi cortado e lançado voando no ar.

— Haagh! — Um suspiro chocado foi ouvido dos cardeais.

Os cardeais, que estavam prestes a responder rapidamente a essa mudança, viram-se incapazes de se mover de seus assentos. Isso porque a grande espada de Raphael, que correu em um instante, parou bem na frente de seus pescoços. Raphael havia puxado sua grande espada tão perto de seus pescoços que havia cortes leves em suas gargantas.

Mesmo que seu braço tivesse acabado de ser amputado no cotovelo, Aeuryus não soltou um grito.

Em vez disso, ele apenas olhou para Eugene com olhos frios e perguntou:

— O que você está planejando fazer?

A Espada Sagrada e a Espada do Luar foram mantidas cruzadas uma sobre a outra. As duas espadas estavam apertando o pescoço de Aeuryus de ambos os lados como uma tesoura.

Eugene chamou:

— Kristina.

A esta chamada, Kristina acenou com a cabeça e deu um passo à frente.

Whoosh!

Oito asas emitindo raios de luz cobriram tudo na Câmara de Audiência com sua luz.