— Hein? Sua conversa já acabou?
Pale falou com sua voz característica e divertida. Lukas olhou para ela profundamente por um momento, como se estivesse tentando entender suas intenções.
Ela, que esteve em silêncio e cautelosa o tempo todo, agora assumiu uma atitude gentil mais uma vez. Naturalmente, isso o fez sentir mais ansiedade em vez de alívio.
Claro, ele não mostrou nenhum sinal disso.
— Não acho que tenha sido curta o suficiente para dizer ‘já’.
— Então acho que devo ter me afastado por mais tempo do que pensei.
Pale falou com um sorriso como se estivesse de bom humor. Sua atitude taciturna não estava à vista.
— Sobre o que vocês conversaram?
Na verdade, essa era a pergunta que Lukas queria que ela fizesse todo esse tempo.
— Conversamos sobre este mundo.
— Heh.
— O Lorde é um intelectual com uma ampla gama de conhecimentos. Graças a ele, pude ampliar meus horizontes.
— Humpf.
Pale fez um som inesperado. Ele não tinha certeza se ela estava apenas ouvindo por alto ou se estava genuinamente surpresa.
— Então o que você vai fazer agora?
— Primeiro…
Os olhos de Lukas se voltaram para algum lugar distante.
— Vou deixar este lugar.
Eles deixaram a cidade subterrânea antes que Schweiser chegasse e se dirigiram diretamente para o novo destino. Não demorou muito. Lukas agora conseguiu encontrar o ‘caminho’ com mais precisão e rapidez. Na verdade, se ele não tivesse que esconder o poder do vazio, não precisaria passar por todos esses problemas.
Lukas tinha uma compreensão completa do conceito de espaço. Por causa disso, ele era capaz de se mover rapidamente para qualquer local, desde que já tivesse estado lá antes. Isso contava até mesmo para lugares que ele visitou em uma vida anterior.
Por exemplo, se ele se decidisse, seria capaz de ir para a Montanha das Flores ou para o lixão em um instante.
“Não… O lixão é um pouco mais delicado.”
Suas sobrancelhas franziram levemente enquanto ele pensava sobre isso.
Em primeiro lugar, o lixão não era nada comum. Para entrar, era necessário entrar nas mandíbulas de um monstro que vivia na Região Norte. Ele agora sabia que o monstro era chamado de ‘Faxineiro’. Eram criaturas que nadavam nas águas rasas da vasta Região Norte e coletavam cadáveres.
Seres que desistiram de seus egos, mas não de suas vidas, usavam a Região Norte como cemitério. Eles se jogavam no lixão e esperavam lá como cadáveres. Até que outros ‘eles’ viessem suceder ‘ele’.
De qualquer forma, o lixão era um espaço independente, então não seria fácil para Lukas ir e vir quando quisesse. Mesmo que fosse possível, seria impossível para ele evitar ser detectado pelo Espectro Morto.
Jacob. Para ser sincero, encontrá-lo era o método mais fácil de ingressar no Planeta Mágico, mas não era fácil de se fazer.
Na verdade, de certo ponto de vista, a Montanha das Flores era o mesmo. Com os sentidos desenvolvidos de Yang In-hyun, seria impossível para ele não notar a infiltração de Lukas.
Ele queria evitar esbarrar em qualquer um dos Doze Lordes do Vazio, tanto quanto possível. Mais precisamente, até que ele estivesse confiante de que era definitivamente mais forte que eles.
Com isso em mente, Lukas olhou para a grande cratera no deserto. Lá, ele pôde ver uma mulher inconsciente e ensanguentada.
— Ela está morrendo.
Sem responder, ele deslizou para dentro da cratera.
Então, observou o rosto de Lesha, que respirava pesadamente.
Ela se parecia com ele? Ele honestamente não sabia. Mesmo depois de olhar para ela tão de perto, ele realmente não sentia que eles eram parentes de sangue.
Lukas não sabia dizer se era porque não lhe restava muita emoção ou se era porque eram irmãos que não tinham muito em comum desde o início.
Havia apenas uma semelhança: a cor do cabelo. O cabelo loiro escuro salpicado de sangue era familiar a ponto dele se perguntar por que não tinha notado isso antes.
Este não era o momento para isso.
Lukas tirou um pedaço de carne seca do bolso. Ele o obteve dos Miglings antes de vir para cá. Eles aceitaram de bom grado o pedido de Lukas. Ele estava grato por aqueles caras. Porque agora sabia o quão preciosa era a carne seca.
Ele colocou rudemente na boca de Lesha. A carne seca foi rapidamente absorvida por seu corpo e suas feridas começaram a se regenerar lentamente.
— Você é uma pessoa tão boa.
Pale murmurou. Ela havia dito algo semelhante antes. Claro, ele não tinha entendido o comentário na época, mas agora quase não conseguiu se impedir de bufar.
Boa pessoa? Lukas estava salvando essa mulher por motivos puramente pessoais. Havia uma completa ausência de compaixão, consideração ou piedade para com a outra pessoa. Se fosse visto da perspectiva dele, ele não seria chamado de boa pessoa e isso não seria uma boa ação.
Era isso.
Ele não sentia nenhuma emoção por Lesha Trawman, apesar de saber que ela era sua irmã mais nova. Ele ainda estava perfeitamente calmo. Essa indiferença não diminuiria mesmo que Lesha abrisse os olhos e eles começassem a conversar diretamente.
Tudo o que ele queria era uma maneira de chegar ao Planeta Mágico. Quando ele alcançasse seu objetivo, a levaria de volta para a Cidade Subterrânea e não sentiria nenhum arrependimento pela separação.
Logo, as forças de Montanha das Flores atacariam e a cidade enfrentaria uma crise, mas desta vez ele não pretendia impedir.
[Lesha… Lesha Trawman.]
[Minha pobre irmãzinha.]
[Esta criança também viveu uma vida difícil. Que pena.]
Claro, não era o mesmo para os outros ‘Lukas’. Os ‘Lukas’ que tinham um relacionamento direto com Lesha como irmã e que a ensinaram, começaram a resmungar em vozes tristes.
Ignorando-os, ele continuou carregando Lesha. Ele a estava levando para outro lugar. Claro, era para evitar encontrar os membros da Montanha das Flores.
Ele poderia levá-la de volta para a Cidade Subterrânea imediatamente, mas não o fez. Em vez disso, parou no meio do caminho entre o lugar onde encontrou Lesha e a Cidade Subterrânea.
“É sufocante.”
Se ele pudesse usar o poder do vazio, poderia restaurar a consciência de Lesha em um instante. Mas é claro, não podia agir de forma imprudente porque Pale estava ao lado dele com um sorriso brilhante.
Então Lukas esperou pacientemente que Lesha abrisse os olhos.
Talvez a carne seca que os Miglings lhe deram tenha sido particularmente eficaz. Lesha abriu os olhos mais cedo desta vez.
— Hmm…
Suas pálpebras tremeram um pouco antes de finalmente abri-las.
— Onde…
— Você acordou.
— !
Lesha deu um pulo ao ouvir a voz desconhecida. Ela rapidamente olhou em volta e compreendeu a situação. Lukas não a impediu. Ele percebeu naquele momento que não eram apenas os cabelos, mas também os olhos que eram exatamente da mesma cor.
Agora que ele a estava vendo novamente, sentiu que ela se parecia um pouco com ele…
— Quem é você?
— Aquele que salvou você. Você ficou gravemente ferida, não foi?
— …
— Michael me pediu diretamente. Entendo que você possa estar desconfiada e cautelosa, mas não seja hostil. Poderíamos ter matado você centenas de vezes enquanto você estava inconsciente.
— Ou talvez você só queira algo mais de mim.
Lesha não pareceu acreditar prontamente nas palavras de Lukas. Claro, Lukas não achava que conseguiria conquistar a confiança dela em tão pouco tempo. Talvez se ele realmente a considerasse sua irmã mais nova, teria tentado.
“Uma sensação de identificação?”
Ou era afeto familiar?
Lukas foi dominado por essa nova emoção. Uma emoção que veio dos outros ‘Lukas’ também. Como se sentisse que seria tomado se baixasse a guarda, sua expressão enrijeceu e sua voz baixou.
— Eu quero alguma coisa. Há algo que quero perguntar a você.
— O que você quer perguntar?
— Como entrar no Planeta Mágico.
— …
Lesha pareceu confusa por um momento.
— Isso… Quem… Ah, Michael. Ele te contou isso?
— Sim.
— Ele é o único na Cidade Subterrânea que sabe disso… Então suponho que não seja mentira que você conheceu Michael.
— É verdade? Que você foi ao Planeta Mágico?
Lukas queria terminar essa conversa o mais rápido possível, então perguntou novamente.
Lesha assentiu sem qualquer tentativa de esconder.
— Sim.
— Então eu gostaria de perguntar. A localização do Planeta Mágico… E como chegar lá.
— Eu certamente visitei o Planeta Mágico. No entanto, o método que usei não foi o padrão…
O que ele percebeu com essas palavras foi que havia, pelo menos, duas maneiras de entrar no Planeta Mágico.
— Recebi ajuda de alguém. Mas esse método só foi utilizado porque coincidiu com um caso especial. Mesmo que você tente abordar da mesma maneira, as chances de sucesso são mínimas.
— De quem você recebeu ajuda?
— Embora não possa responder, posso dizer onde ele está.
Depois de dizer isso, Lesha tirou algo do bolso. A expressão de Lukas ficou um pouco estranha. Era uma ferramenta conhecida como Bastão de Radiestesia. No entanto, não era um par e a cor estava fraca.
— Isso servirá como sua ferramenta de guia. A ferramenta apontará para onde ele está. Você apenas tem que ir na direção que ele estiver apontando. Se você mostrar esta ferramenta na ‘entrada’, poderá encontrá-lo sem problemas.
Parecia que Lesha não tinha intenção de acompanhá-lo.
Claro, Lukas também preferia isso.
— Posso pegar isso?
— Pense nisso como uma recompensa por me salvar.
Depois de ouvir isso, Lukas aceitou a ferramenta guia sem qualquer hesitação.
— Já é hora de eu dizer adeus. Obrigado por me salvar. Então, vejo você mais tarde.
Acreditando que não havia mais nada a fazer, ela se virou e se preparou para sair.
— Espere.
Lukas a parou quase reflexivamente.
— Sim?
Ela virou a cabeça para olhar para ele. No momento em que viu a expressão questionadora dela, esqueceu o que queria dizer. Por que ele parou Lesha? Um dos desejos de um ‘Lukas’ saiu de sua boca?
Depois de hesitar um pouco, Lukas falou.
— Tome cuidado.
— Sim… Obrigada…?
Depois de dizer essas palavras, Lesha partiu de verdade.
Lukas sentiu uma pitada de profundo arrependimento em um canto de sua mente. Ele desejou que eles tivessem conversado um pouco mais. Isso foi o que ele pensou.
Usando o Bastão de Radiestesia como guia, eles continuaram andando. Até mesmo Lukas, que já tinha adquirido muito conhecimento, não conseguia identificar o princípio exato para o qual a ferramenta apontava.
Pale havia retornado à sua personalidade tagarela. Ela parecia ter um talento especial para falar sobre assuntos triviais por horas. Por exemplo, a correlação entre a cor do céu e os monstros que apareciam.
— Tenho certeza de que é uma regra.
No início, Lukas a ouviu. Afinal, não eram outras senão as deduções do Cavaleiro Azul da Fome, então ele pensou que ela poderia revelar um pouco da verdade do mundo.
Ela não fez isso.
Pale apenas dizia o que lhe vinha à mente. Esse pensamento se tornou certo quando as palavras que ela falou entraram em conflito com o que ela disse antes. A partir de então, ele deixou as divagações de Pale entrarem por um ouvido e saírem pelo outro.
— …
Quando cruzaram uma duna, os olhos de Lukas se estreitaram.
Ele viu um monstro. Esse fato por si só não o surpreendeu muito, mas duas coisas estavam estranhas.
Primeiramente, parecia ser muito mais gentil do que qualquer monstro que ele já tinha visto antes. Claramente notou a presença de Lukas, mas não parecia ter nenhum interesse.
E segundamente…
Lukas conhecia esse monstro. Não apenas sua aparência, mas também seu nome.
Tinha seis pernas, um par de asas degeneradas nas costas e, em vez de olhos, dois narizes em constante movimento projetavam-se de sua cabeça.
— Deixe-o. Dois narizes são inofensivos.
— …
Eles continuaram a cruzar as dunas.
Embora o cenário do deserto fosse o mesmo, não importava para onde fossem, esse cenário parecia familiar.
E os monstros que vagavam por aí…
Uma cama com mãos e pés, um monstro com um corpo enorme que parecia uma língua e estava coberto de tentáculos, e um gigante cujo rosto estava no meio do peito.
Ele passou por eles como se estivesse possuído. Em algum momento, Lukas parou de olhar para o bastão. Não porque ele era capaz de calcular o espaço, ele estava simplesmente andando de acordo com seus instintos. No entanto, estava confiante de que estava indo na direção certa.
Não demorou muito para que uma caverna aparecesse.
A aparição da caverna no meio do deserto era facilmente perceptível.
Lukas sabia o que era essa caverna. Foi o lugar onde ele entrou pela primeira vez neste mundo.
Era a caverna em que Kasajin estava…
Havia uma aura fria em torno da caverna. Cruzando os braços enquanto olhava para a caverna, Pale murmurou.
— Este lugar parece um pouco diferente…
— Você sabe onde é isso?
— Não~ Você não sabe?
Ela contou mentiras que nem mesmo um tolo acreditaria. Lukas estava prestes a discutir, mas fechou a boca e voltou o olhar para a caverna.
Ele podia sentir uma presença.
Tum!
Ele ouviu o som de passos pesados. Alguém estava saindo da caverna aparentemente interminável.
[Quem é você?]
O que apareceu com uma voz bestial foi um demônio tão grande que seus ombros tocavam o teto da caverna. Tinha pele vermelha brilhante, asas, chifres pretos e presas que se projetavam de sua mandíbula inferior.
[Eu perguntei quem é você.]
Em vez de responder, Lukas mostrou-lhe a Bastão de Radiestesia.
[Um Sensor do Demônio? Um convidado do Lorde. Por favor, me dê licença.]
Os olhos do demônio se estreitaram ligeiramente.
[Bem-vindo a Demonsio.]
Demonsio.
A expressão de Lukas enrijeceu.
Ele sabia onde era isso. Era o território do [0º Demônio], um dos Doze Lordes do Vazio. Em outras palavras, era o lugar chamado ‘O Fosso’.
[Siga-me. Eu vou guiá-lo ao Lorde.]
Ao ouvir essas palavras, Lukas pensou em Haspin, o demônio do fosso que ele conheceu no lixão.
Ele havia dito que um novo Lorde do Vazio governava o fosso agora.
“…”
Isso… Não era bom.