— Uau, que belo arrombado — resmungou Zich.
“Hah, tô mesmo melhorando. Melhor ao ponto de deixar um lixo desse ir embora sem sofrer nadinha.”
Se não fosse por Snoc, que Sam cuidava como um irmão, e o troll que apareceu no momento certo, já teria quebrado o Drew. Literalmente.
Hans se aproximou dele e perguntou:
— O que eles fazem?
— Um aventureiro e um mineiro. Não parecem ter muito em comum. Snoc tem algumas fantasias com aventureiros, provavelmente seguiu Drew para aprender algo. Ouvi se dirigir a ele como “instrutor”.
— Bom para ele.
— Não tenho certeza disso — respondeu negativamente — Não tem como um cara que nem aquele ter um discípulo.
Além disso, nunca ouvira falar de um aventureiro com aprendizes, pois eram pessoas muito ocupadas com as tarefas diárias de sobrevivência.
“Na melhor das hipóteses, ele será um carregador de bagagem ou, na pior, um escudo de carne. Se for azarado de verdade, alguma coisa pior.”
A maioria das pessoas teria perdido o interesse a essa altura, pensando: “É a vida dele”, mas Sam gostava muito do menino, então o assunto preocupava Zich um pouco. No entanto, não pensou em fazer algo incrível por ele.
“Talvez eu devesse avisar Sam?”
— A propósito, obrigado, senhor.
— Hã? Tá agradecendo pelo quê?
O servo agradeceu do nada, então olhou estranho para ele. Se ele estava em um estado mentalmente disfuncional, então Zich estaria disposto a bater na cabeça dele algumas vezes para melhorar .
— Você não ficou com raiva porque fui xingado?
Não só o tratou muito melhor do que o normal, mas ficou com raiva por ele. Daí, Hans se sentiu um pouco comovido, mas o outro sorriu em resposta e o bateu na sua cabeça à lá Robinho.
Slam!
— Ai! — Colocou as mãos em proteção.
— Você virou um acéfalo que nem ele? É claro que eu fiquei bravo. Ele ousou insultar o meu servo; ousou insultar a posse do grandioso Zich. E sendo sincero, você é um completo fracote, mesmo.
“Por que eu esperava algo melhor?” Resmungou, ainda com as mãos na cabeça.
— Mas ainda assim, aquele maluco era forte, certo? Derrotou um troll tão facilmente.
Para ele, que mal conseguiu derrotar um, Drew parecia bem poderoso.
— Quê? — O tom de Zich estava cheio de desagrado — Quem você está chamando de forte?
— Ah? Você viu ele lutando…
Mexe! Mexe!
O arbusto balançou de novo.
— Hã? Voltaram?
— Não. — Pegou a espada — Desta vez são monstros.
Crack!
Um galho grosso se quebrou e caiu no chão, e cinco trolls apareceram, empalidecendo o rosto do criado. Um troll incomodava muita gente, mas cinco incomodava muito mais. Até aquele aventureiro impressionante, Drew, demorou para derrotar um único. Em uma situação assim, a maioria das pessoas teria se mijado e correria o máximo que pudesse.
Clang!
Mas Zich não era esse tipo de gente.
“Eu ainda tô indignado. Esses trogloditas chegaram na hora certa.” Ficou feliz por ter algum alívio do estresse.
Step!
Pulou.
Uuuuurrrrr!
Os trolls gritaram para o humano correndo em direção a eles e foram em sua direção. Era fácil imaginar uma cena em que cinco monstros gigantescos o cercavam e o transformavam em polpa. E o resultado foi o oposto.
Swing!
Balançou a espada longa, que parecia uma vara fina em comparação ao imenso corpo do oponente; a poderosa mana que permeava a espada compensava o tamanho limitado da arma dela, contudo.
Slice! Slice!
Tudo sob o toque da lâmina se dividiu. Os dois primeiros foram partidos ao meio na vertical.
Splaaaash!
Sangue jorrou das feridas e espirrou em seus companheiros. Os trolls vacilaram, pois nunca viram os parceiros se dividirem em dois de tal jeito. Por outro lado, Zich abaixou o corpo para evitar o jato de sangue e continuou se movendo.
Push!
Perfurou o estômago mais próximo a ele. Teria sido fatal a um humano, mas era uma ferida de tamanho médio para um daqueles, que simplesmente fez uma careta de dor e não sentiu grande sensação de perigo em relação à vida. Mas, claro, não durou muito.
Wing!
A mana do corpo de Zich viajou através da lâmina e fluiu agressivamente para o corpo do troll.
Blop!
Como a bexiga de um porco cheia de água, ele inchou em um instante. Até que, uns segundos depois…
Pop!
Explodiu. A pele, sangue, ossos e órgãos foram espalhados por todo o lugar. Foi uma cena nojenta ao extremo, porém as partes desintegradas que continham a mana de Zich eram ainda mais.
Glop! Glop! Glop! Glop!
Os restos ficaram presos aos dois restantes. A regeneração massiva deles não estava dando conta do recado, pois os ataques explosivos e consecutivos eram muitíssimo poderosos. Não puderam nem gritar e caíram no chão com enormes buracos.
— Hum!
Em um piscar de olhos, matou cinco e virou as costas à bagunça de sangue e órgãos, e ele não tinha um único arranhão ou uma mancha de sangue. Depois de embainhar a espada, chamou Hans, que estava de boca aberta.
— Tá na hora de meter o pé. Bó?
— S-sim, senhor! — Olhou as dele a uma boa distância e engoliu saliva de volta.
“Drew é forte, mas o senhor Zich está em outro nível.”
Cuidou dos trolls assustadores feito lixos na estrada e o empregado estremeceu ao testemunhar o poderoso poder.
Uma noite na mina de Iruce era sombria. Durante o dia, os gritos e machados dos mineiros ecoavam pelos arredores, mas agora, parecia que fantasmas sairiam. No entanto, neste lugar desolado e ameaçador, figuras em movimento formavam longas sombras no chão.
Uma luz fraca iluminou o local. Snoc tinha os ombros arqueados enquanto caminhava para frente com uma lâmpada; a primeira vez que entrava na mina sem os colegas.
— T-tá tudo bem, mesmo? — perguntou a Drew, que o seguia por trás.
— Do que você tá falando?
— Entrar na mina à noite é perigoso…
— Eu pensei que falei que tínhamos permissão.
— S-sim, é. — Fechou a boca, ainda ansioso.
— Que foi? Você não tá acreditando em mim?
— N-não é isso! Eu acredito, pode ter certeza! —respondeu por nervosismo. Então Drew olhou para ele, insatisfeito, mas falou com mais bondade do que o normal.
— Eu sei que você está nervoso, mas um aventureiro não sabe quando vai cair em perigo, e é por isso que a experiência é mais importante. Por isso continuo trazendo você junto às minhas caças. A realidade é diferente da ficção.
Snoc assentiu. Sam e Zich, que não eram aventureiros de verdade, disseram a mesma coisa.
— É o mesmo desta vez. Tudo isso é para você. Se temos uma mina como esta, devemos utilizá-la, já que há muitas masmorras em cavernas assim. Você pode obter experiência dessa forma.
— Eu sei.
Drew o avisou sobre os perigos de um aventureiro e ajudou a preparar a mente e o coração do menino, tirando as dúvidas emergentes.
“Além disso, Drew mencionou uma masmorra, mas achar algo desse estilo não era o sonho de qualquer aventureiro?” Não conseguia acalmar o coração batendo rápido.
— Ok, vamos continuar andando.
— Sim!
Caminhou pela mina com um pouco mais de energia do que antes. Por trás, Drew abriu um sorriso discreto.
Já que o garoto sabia o caminho, não precisavam se preocupar em se perder.
Drew questionou:
— Ainda está treinando a mana?
A primeira e única coisa que ensinara a Snoc foi a maneira de despertar a mana.
— Sim, a estimulei esta manhã também.
— Tente caminhar enquanto a desperta.
— Beleza.
Tentou usá-la, mas como tinha acabado de aprender a controlá-la, era uma pequena quantidade. Além disso, se não se concentrasse o suficiente, se rompia facilmente.
— Wah! — Estava tão focado no fluxo de mana que não percebeu uma pedra irregular e caiu no chão — Ugh!
Raspou os joelhos e o sangue correu para fora. Ainda assim, o seu “instrutor” não mostrou nenhum sinal de preocupação e ordenou que continuasse andando, fazendo-o se levantar hesitante e voltar ao movimento. Então, caiu no chão de novo e o ciclo repetiu. Após uma boa distância, o seu corpo estava coberto de hematomas e arranhões.
Bam!
— Ai! — Tropeçou em uma pedra mais uma vez e mal manteve o equilíbrio. Soltou um suspiro de alívio e levantou a cabeça, mas seus olhos ficaram imóveis para o que viu. Na frente dele, uma nova mina.
— O que é?
— N-nada — respondeu apressadamente e ergueu seu corpo e começou a andar mais uma vez. No entanto, nem sequer olhou para a nova mina que acabou de aparecer, como se o lugar fosse proibido.
— Não vamos por este caminho? — Drew a observou. Snoc mordeu os lábios e fingiu estar calmo, para abrir a boca novamente.
— É que ali tem uma parte que desabou, aí é perigoso. Acho melhor não ir por aqui. Só veríamos detritos e destroços lá, de qualquer maneira.
— Ah, sério? — Não fez mais perguntas. Todavia, mesmo enquanto seguia Snoc, os olhos permaneceram na mina colapsada, brilhando misteriosamente.
— Ah! — Deu outro passo errado em falso. De suas orelhas, suspiros exasperados. Não querendo desapontar o aventureiro, ignorou a dor que sentia por todo o corpo e tentou se levantar.
Koo.
Halt!
Congelou ao ouvir um grito desconhecido por perto. Logo pegou sua lamparina e iluminou a área onde ouviu o barulho e avistou pequena sombra agachada no canto.
Koo.
Koo.
A pequena figura apontou ao nariz dele e o cheirou.
— Ah, é apenas uma toupeira — Suspirou aliviado. No entanto, era estranha. A maioria delas fugia a qualquer sinal de movimento, mas esta não. Em vez disso, colocou o nariz nos tornozelos dele e continuou a cheirá-lo.
Koo.
Emitia barulhos enquanto olhava para cima. Snoc estava interessado nela, contudo Drew não perdeu o foco.
— O que você está fazendo? Rápido, mexa-se.
— Sim! — Acelerou os passos.
Tú! Tú!
Tí! Tí!
Combinando com o som dos seus passos, um pequeno animal se moveu. Snoc olhou para baixo e viu a toupeira o seguindo ao lado. Ela estava com a cabeça erguida como se quisesse encontrar os seus olhos minúsculos com Snoc, e a maneira a qual seguia era fofa.
Bump!
Empurrou ela de leve com as bordas dos pés. Ela se contraiu um pouco e cambaleou atrás de novo. Bateu, voltou… E assim foi. A mente do menino ficou ocupada por seu joguinho.
— O que você está fazendo? — disse Drew com um tom frio.
— E-eu tô treinando agora! F-foi mal! Eu vou continuar! — Reuniu sua mana mais uma vez e caminhou. Não podia mais deixar a atenção na toupeira.
Koo.
No entanto, continuou a segui-lo perto dos seus pés, parecendo não estar ciente de que poderia ser pisada. E por trás, Drew observou toda a cena com um sorriso travesso.