Tu, tu.
Os passos de Snoc eram pesados e não continham energia. Todo o seu corpo se inclinou parecendo que um fardo pesado o empurrava para baixo.
“Ah, esqueci das minhas ferramentas.”
Já que saiu correndo sem pensar, não teve tempo de pegar a picareta ou outro equipamento. Enquanto segurava a cabeça com as duas mãos, sentou no chão.
“Acho que não vou perder as minhas ferramentas, mas…”
Sam esteva ao lado dele sempre. Cresceram como irmãos, então provavelmente cuidaria das ferramentas. No entanto, seria desconfortável encontra-lo logo após a discussão.
“Vai ser difícil falar com ele por um tempo.”
Mas Snoc não teve escolha. Não podia continuar a sua vida de mineiro sem as ferramentas. Além disso, tinha chances de Sam o incomodar algumas vezes, mas não o insultaria. Sam só o incomodava porque se importava com o bem-estar dele, e ele também sabia que as suas palavras eram mais realistas e razoáveis do que seu sonho.
Mas…
“Mas eu ainda quero ser um aventureiro.”
Snoc não conseguia esquecer do desejo. Levantou com muita energia, revitalizando-se, colocando força nas pernas e começou a andar, determinado. Endireitou os ombros curvados e apagou toda a tristeza dos espíritos cantando: “um ser antigo cheio de ira desce sobre nós como uma onda de maré. É um desastre que nunca foi visto antes”.
Enquanto cantava, se sentiu estranho. A letra parecia torná-lo mais sentimental em vez de confortar o coração, mas ignorou o sentimento e continuou a cantar a sua música favorita.
— As pessoas tremem de medo com a presença dele. O seu nome é sinônimo de medo.
Pá!
Viu estrelas na frente dele, o que o fez cair de bunda no chão. Snoc olhou para o homem que esbarrou nele.
Um homem parado na escuridão. Por um momento, se encheu de admiração pela aparência do ser. Parecia idêntico aosaventureiros que Snoc imaginara: usava uma armadura grossa de couro e carregava uma espada longa.
— Você é Snoc, certo?
— Sim?
Bunca tinha o visto antes e ficou chocado que soubesse seu nome. Porém o homem sorriu sem ligar pro que o menino estivesse pensando. Havia algo de arrepiante no sorriso dele.
— Ouvi dizer que quer ser um aventureiro.
Como muitos dias antes, Hans e Zich saíram para lutar contra monstros. Para ser mais específico, Hans era o único que fazia isso e se esforçava. Sam e Paul Chenu estavam certos sobre o número crescente de monstros, porque começaram a encontrá-los com mais frequência. Mesmo que fosse bom para o treinamento, não era uma boa notícia para Suol e todos os habitantes.
— Haaaaap! — Hans rugiu e balançou a espada. Ela, que carregava muita de sua força, acertou o pescoço do troll.
Burrrst!
O sangue explodiu da nuca e derramou-se sobre a garganta; o troll não conseguia nem gritar do jeito certo. Entretanto, possuíam um incrível poder regenerativo, e os ferimentos se curaram rápido.
— Hap! — gritou de novo. A espada foi levantada no ar e se encontrou com o pescoço do monstro mais uma vez.
Corta!
O pescoço junto à mão que o mantinha preso foram dilacerados. Não importa o quão grande fosse a capacidade regenerativa de um, não podiam sobreviver assim.
Tum!
O troll caiu no chão. Hans bufou e enxugou o suor na testa.
— Eu posso capturar trolls menores com facilidade agora.
Zich estava o observando em silêncio enquanto caminhava à posição dele. Ficou honestamente surpreso. Quando estavam na casa dos Steelwall, o servo nunca empunhara uma espada e passou todo o tempo fazendo tarefas domésticas. No início da jornada, ficou sem fôlego depois de bater em um simples goblin. Mas agora, evoluiu ao ponto de derrotar um troll, mesmo que ainda não estivesse desenvolvido ao todo. Mesmo ele não acreditava tanto que se tornara forte o suficiente para vencer o monstro e cerrou os punhos.
Treme…
O arbusto se mexeu. Hans logo foi para trás e ergueu a espada. Estava pronto, porém Zich levantou a mão a fim de detê-lo.
— Abaixe a espada. Não é um monstro.
Sabia quem eram os figuras. Hans executou a ordem.
Duas pessoas saíram do mato. Era estranho ver pessoas tão diferentes juntas.
— Ei, você não é o Snoc? — chamou quem estava mais familiarizado. Snoc pulou surpreso ao ser chamado pelo nome e olhou para Zich, parecendo uma criança apanhada em flagrante por um adulto.
— O que está fazendo? Por que não está se mexendo rápido? — Uma voz baixa o instou pelas costas. O tom do homem soou como se estivesse o observando de longe.
Snoc se encolheu e Zich olhou àquele atrás dele.
“Aquele aventureiro lá, o Drew?”
Um dos contratados pela cidade para conter o número de monstros antes da próxima varredura em grande escala.
“Parece que ele tem um temperamento desagradável. Que adequado, visto o seu trabalho.”.
Foi surpreendente vê-los juntos, já que não havia semelhanças entre um mineiro e um aventureiro. Drew pressionou Snoc para avançar, mas fez uma pausa quando viu Zich e Hans. Os olhos dele se moveram frenéticos para avaliar a situação, mas quando avistou Hans encharcado de suor e um pequeno troll ao seu lado, soltou um sorriso.
— Tem um merdinha aqui que quase morre pra derrubar um troll pequenininho desses?
Hans ficou surpreso por ter sido insultado do nada, e Snoc também. Era apenas Zich cuja expressão facial não mudava.
“Hmmm, é verdade que o Hans é um fracote.”
Não refutou a declaração de Drew e concordouele, porém não deixaria o insulto escapar.
“Mesmo que seja verdade, como seu mestre, sou o único que pode chamá-lo assim.”
— Tem um sequelado aqui que chama um novato que acabou de começar a treinar de merdinha.
Os lábios voltados para cima de Drew caíram de imediato, e ele virou a cabeça e os olhos afiados para Zich.
— … O que disse?
— Não apenas tem probleminha mental, mas também no ouvido? Nem sequer consegue julgar alguém do jeito certo; teus olhos também devem estar um cu. Ah, não sabia que você tinha retardo. As minhas mais sinceras desculpas. — Abaixou a cabeça para pedir perdão, mas ninguém viu sinceridade na ação.
— Tá pedindo pra morrer! — Tirou a espada gigante das costas.
— Ei, calma aí. Quero viver só de gentilezas, poxa. Não quero lutar contra um desgraçado lamentável surdo, cego e que está vegetando a todo momento.
Ao contrário de suas palavras, Zich também tirou as espadas com movimentos rápidos. Uma atmosfera explosiva, tensa e perigosa começou a preencher o espaço ao redor.
— E-esperem um momento! — Snoc interveio — P-por favor, se acalmem um pouco!
— Sai do meio!
Drew olhou para Snoc com olhos afiados. As costas do garoto ficaram imediatamente encharcadas de suor, mas suportou o olhar.
— P-poxa, espera um pouco? Ele é um conhecido do meu amigo. Então se virou e olhou para Zich — Você é o senhor. Zich, certo? Por que não se acalma também? Este aqui é o meu instrutor!
— Instrutor? — Olhou para Drew.
“Ele vai fazer daquele desgraçado o instrutor dele? A habilidade desse maluco parece mais ou menos, e a personalidade dele é um cu.”
As únicas coisas que provavelmente se poderia aprender com ele eram provocar brigas e xingar a todos. Então outro som os interrompeu.
Agita!
O arbusto tremeu mais uma vez. Hans e Snoc saltaram de surpresa. Comparados a eles, Zich e Drew apenas viraram a cabeça.
Tut!
Um pé verde sujo apareceu. Logo, um corpo gigantesco com um rosto horrível ficou à vista; um troll.
O troll estava carregando uma clava rudimentar de madeira e olhou ao redor e, depois, soltou uma grande gargalhada. Parecia feliz em ver muitas presas disponíveis.
“É um grande.”
Era demais para o atual Hans lidar. Zich estava prestes a matá-lo, quando Drew deu um passo à frente.
Ruuuuur!
O aventureiro caminhou com uma espada brilhante na mão em direção ao monstro.
Oohwaaaaa!
O troll fez um som alto e foi direto para Drew parecendo feroz ao mover os enormes músculos. E Zich guardou a espada e cruzou os braços para ver Drew lutar.
Créck!
A arma do monstro desceu e bateu no chão. Sujeira e grama voavam por toda parte, e um buraco gigante foi deixado no solo, contudo o oponente movera o corpo ao lado muito antes.
— Ha! — Balançou a espada de prata que brilhava intensamente à luz do sol.
Swish!
Um corte profundo apareceu no ombro do troll.
Kuaaaaak!
Soltou um grito de raiva e dor e empunhou a clava ainda mais forte.
Swoosh!
Além disso, os ferimentos começaram a sarar rápido. Mas Drew permaneceu calmo e continuou com a espada em mãos; quando um corte era curado, recebia mais dois; quando dois eram curados, fazia três. Os movimentos do troll tornaram-se cada vez mais limitados pelos constantes ataques.
— Hup! — Evitou o ataque de novo e cortou o braço do monstro como se estivesse derrubando um machado.
Crash!
— Ahhhhhhhh!
A espada passou pela metade do seu braço; o corte mais profundo que fez até agora. Enquanto o seu inimigo tremia, empurrou a espada mais fundo ainda.
— Gaaaaah! — Então soltou um grito alto e foi em direção ao pescoço.
Fatia!
A lâmina gigante atravessou a nuca do monstro. Seu balanço foi largo e quase conseguiu decapitar o bicho.
Tosse!
O troll soltou a língua e começou a tossir, mas Drew só colocou mais força na espada.
Swoosh!
Uma cabeça esmurrada de troll flutuou no ar e caiu no chão.
Swish!
Como se fosse se exibir, Drew devolveu a lâmina gigante às costas com um manejo ágil. Parecia um pouco legal posando na frente de um monstro encharcado de sangue. Hans e Snoc, que se chamava de discípulo de Drew, olharam para ele, admirados.
“Cara, ele está se exibindo por conta de um troll.”
Óbvio, Zich não ficou impressionado. Drew trabalhou tão duro para matar apenas um troll e agora estava fingindo ser maneiro. Se Zich demorasse tanto quanto ele para derrotar um, teria morrido de vergonha.
Swoosh!
O cadáver desapareceu na caixa mágica de Drew antes de ela voltar ao bolso do portador. Ele olhou entre Hans e o sangue e seu olhar enfim pairou em Zich.
— Hmph! — Virou-se, fazendo Zich parecer não valer o seu tempo — Vamos.
Fixou a posição da espada e começou a andar, e Snoc seguiu de perto por trás. Ele pediu desculpas a Zich e, depois de inclinar a cabeça uma vez, desapareceu na floresta.
Snoc sai daí menino, tu tá indo pro mal caminho!