Eugene utilizou o feitiço dracônico muitas vezes depois, mas sem sucesso.
Na primeira vez que usou o feitiço de localização, ele ouviu gritos abafados e soluços, seguidos por um baque final.
As coisas seriam diferentes quando se aproximassem do Mar de Solgalta, mais perto dos santuários sagrados de Agaroth?
Eugene não podia depender apenas da esperança. A revelação de Agaroth e as memórias vistas através do anel falavam de tempos distantes, um período anterior à existência de Eugene ou Hamel; falavam do tempo conhecido como a Era dos Mitos.
Ele estava curioso sobre sua verdadeira natureza. No entanto, com sua curiosidade vinha um medo inegável, pois a revelação e as memórias que ele tinha visto eram aterrorizantes.
Ele testemunhara montanhas intermináveis de cadáveres, ondas que engoliam tudo, e um mundo engolido pela névoa, tornando-o pálido e distante. Para Eugene, aquele espetáculo parecia o fim de algo grandioso — talvez uma cidade, possivelmente uma nação, ou talvez até uma era. Tais coisas estavam além de sua compreensão.
Três séculos atrás, Vermouth e seus companheiros lutaram contra os Reis Demônios. Mas e se eles não os tivessem enfrentado então? E se tivessem falhado em derrotar os Reis Demônios? O que poderia ter acontecido com esta era?
Não estava claro por que os Reis Demônios invadiram o continente. Eugene não conhecia suas intenções. No entanto, Eugene não podia deixar de pensar que os Reis Demônios nunca desejaram acabar com tudo.
Os Reis Demônios não desejavam aniquilar a humanidade e apagar civilizações, assim como Eugene tinha visto na visão.
Para Eugene, os Reis Demônios de trezentos anos atrás eram conquistadores meticulosos e cruéis. Eles podem ter sido assassinos, mas não massacraram cegamente todos os humanos. Os corrompidos eram acolhidos sob suas asas, e os prisioneiros eram tentados com corrupção.
Apenas um entre os cinco Reis Demônios buscava extinguir a vida humana sem pensar.
Tap!
— Argh! — Eugene fez uma careta de dor. Ele havia tentado desesperadamente olhar para trás com o feitiço dracônico, mas a magia foi cortada à força. Esfregando as têmporas, ele olhou com raiva para o Anel de Agaroth.
— Sir Eugene, você está bem? — Mer estava assistindo ansiosamente do lado e correu até Eugene ao ouvir seu grito.
A fórmula mágica de Mer estava conectada a Akasha. Portanto, ela podia sentir a tensão colocada tanto em Eugene quanto em Akasha pela conjuração repetitiva do feitiço dracônico.
— Estou bem. — Grunhiu Eugene.
— Acho que já chega por hoje. Sério. Se você não fizer como eu digo, vou ficar realmente chateada. — Disse Mer com firmeza.
Esse tipo de magia sobrecarregava a mente imensamente. E se fosse abruptamente interrompida, a reação resultante não se limitaria apenas à sobrecarga da mente. Se não fosse pela singularidade de Akasha e Eugene, qualquer outro mago teria desmaiado com a reação da magia interrompida.
— Entendi. — Disse Eugene. Não importava o quanto ele tentasse teimosamente, nada mais lhe era revelado. Portanto, Eugene não teve escolha a não ser ceder.
Eles entrariam no Mar de Solgalta no dia seguinte se tudo corresse conforme o planejado. Então, talvez lá, ele pudesse ver ou ouvir algo diferente.
“Talvez uma nova revelação esteja aguardando”, Eugene pensou com esperança.
Uma coisa para se preocupar era a natureza do Mar de Solgalta, já que seria impossível conjurar magia lá. Sienna tinha afirmado com confiança que não seria um problema para ela, mas isso ainda estava para ser visto. Eles não poderiam ter certeza até chegarem lá. Havia a possibilidade de até mesmo perderem a magia que impulsionava sua frota. Nesse caso, teriam que depender do método antigo, com marinheiros remando diligentemente para navegar.
Na verdade, Sienna estava se preparando para esse problema, embora tenha mencionado isso com um ar de improbabilidade. Mesmo agora, ela fora se encontrar com Maise para fortalecer os encantamentos lançados na frota.
— Por que não dar um passeio para mudar de humor? Você pode andar nos conveses comigo e olhar para o mar. — sugeriu Mer.
— Você acha que perdi a cabeça? — Questionou Eugene.
— Hmm, entendo suas hesitações, Sir Eugene. Para sair desta sala, você deve deixar de ser Sir Eugene e se tornar Yuri. Eu pessoalmente gostaria de ver mais de Sir Eugene como Yuri, mas não o pressionaria a se tornar Yuri se você detesta a ideia.
Por que ela mencionava esse nome tão frequentemente? Eugene franziu a testa, lançando a Mer um olhar severo.
— Mer-Mer-Mer-Merdein, pare de me provocar com palavras sem sentido. — Disse Eugene.
— Eu não sou Mer-Mer, Srta. Yuri. — Retrucou Mer.
— Você está pedindo para tomar bronca? — Eugene perguntou com seriedade.
— Ops, meu erro. Sir Eugene, você é apenas Sir Eugene e não Srta. Yuri. — Aplacou Mer o ego ferido de Eugene.
Então, com um risinho, ela se aninhou no abraço de Eugene. Em resposta, Eugene abriu seu manto para acomodá-la.
— Você deve estar ficando bastante entediada. — Disse Eugene.
— Claro, você mal sai daqui. A Senhorita Sienna está sempre ocupada, e a Senhorita Ciel está ocupada com o treinamento. Até a Rami está ocupada ajudando o anão. — Reclamou Mer com um bico.
— Anão? Eu disse para não usar essa palavra! — Eugene repreendeu.
— Como mais eu chamaria os anões de pernas curtas se não de anões? Hmm, bem, peço desculpas. É errado zombar deles com base em suas características raciais. Embora seja verdade que Gondor é um anão, se considerarmos a altura média dos anões, ele pode ser considerado alto.
Mer estava tentando imitar Sienna ou simplesmente provocar uma reação de Eugene? De qualquer forma, não era uma conversa para consumo público.
Clicando a língua, Eugene beliscou a bochecha de Mer.
— E, ah, eu não posso ir até lá. — Murmurou Mer, uma bochecha ainda apertada.
Eugene virou-se para olhar do outro lado da sala. Ele podia ver Kristina sentada no meio de um círculo de luz. Cada vez que ela sussurrava uma oração, o terço ressoava com um brilho que então se concentrava em uma forma semelhante a uma agulha.
Eugene estudou a expressão de Kristina e acenou levemente com a cabeça.
— Tudo bem, fique aí quietinha e não—
De repente, sua própria voz pareceu distante. Não, não era apenas sua voz. Sua própria presença na sala parecia remota.
Era como se sua consciência tivesse se separado de seus sentidos e corpo. Havia uma sensação estranha como se seu espírito estivesse sendo puxado para longe.
Não, não era apenas uma sensação porque ele se viu sentado com a mão dentro do manto. Ele também viu Kristina no centro do círculo de luz e uma figura sobreposta de Anise com ela.
A cena recuou, e a consciência de Eugene subiu mais alto.
O convés de treinamento revelou Carmen, Ciel e Dezra. Membros da tripulação ocupados se apressavam. O espírito de Eugene continuava a subir ainda mais alto, eventualmente alcançando uma altura onde podia observar toda a frota e vislumbrar o mar distante.
Ele podia ver uma névoa escura se aproximando da distância.
De volta à arena de treinamento, Mer espiou de baixo do manto e chamou.
— Sir Eugene? — Ela inclinou a cabeça confusa. Mesmo que ela não pudesse saber o que Eugene estava vivenciando, percebeu que algo estava errado pelo olhar vago de Eugene e sua postura abatida.
Mer rapidamente puxou o braço de baixo do manto e agarrou Eugene.
— Ugh…! — Sua consciência interrompeu seu voo e voltou ao reino físico. Surpreso, Eugene se levantou abruptamente.
O que ele acabara de vivenciar? Projeção astral? De repente? Foi uma visão de Agaroth? A situação escapava de sua compreensão. No entanto, a paisagem que ele acabara de testemunhar estava vívida em sua mente pulsante: a névoa avançando do mar distante.
Seria realmente chamada de névoa? Não era fraca, mas escura. Era diferente das névoas vistas nas memórias de Agaroth. No entanto, ao contrário da névoa da visão, essa névoa estava se aproximando neste exato momento.
— Ugh! — Eugene gemeu, pois não conseguia pensar direito. De repente, Kristina, que estava canalizando o poder divino no centro do círculo de luz, tossiu sangue. Ela agarrou a boca, e um rio de carmesim escuro fluiu entre seus dedos.
— Kristina?! — Eugene exclamou, alarmado, antes de se aproximar dela.
Mesmo enquanto sangrava, choque e confusão preenchiam seus olhos. Ela não conseguia compreender a aflição repentina.
[Isso é…] A voz de Anise ecoou em sua mente.
Isso foi um golpe que não apenas rompeu o vínculo das almas, mas também corrompeu a própria essência da Santa. Kristina podia não estar familiarizada com tais sensações, mas Anise não era estranha a elas.
— Ah…! — Logo, a compreensão também chegou a Kristina. A sensação que ela sentia agora espelhava a descida do Rei Demônio do Encarceramento. No entanto, ela não tinha sangrado naquela época…
[É devido à diferença na intenção.] Anise falou com evidente hostilidade. [Naquela época, o Rei Demônio do Encarceramento desceu sem um traço de hostilidade. Mas agora, é diferente. Eu não sei quem é, mas essa presença é como a de um Rei Demônio armado tanto com hostilidade quanto com loucura.]
Kristina estendeu apressadamente a mão para Eugene. Ela lutava para falar devido à dor, mas sua intenção era clara: eles precisavam sair.
Eugene entendeu a mensagem dela e virou-se com uma careta.
Ele precisava esconder sua identidade. Ele precisava se disfarçar de uma garota. Ele poderia ser zombado pelo resto da vida. Pensamentos assim não lhe ocorreram desta vez, pois tudo isso era irrelevante. O que Eugene precisava fazer agora era avaliar rapidamente a situação e se preparar para o combate.
Bang!
A porta se abriu com uma força incrível, e muitos olhares se encontraram com os de Eugene, cheios de surpresa e confusão. Eles se perguntavam por que um homem saiu da cabine, onde apenas as mulheres dos Lionheart permaneciam. Ninguém tinha visto tal homem a bordo do navio desde a partida há quinze dias.
“Eugene?” Não muito longe, Ciel, que estava praticando nos campos de treinamento, encarava incrédula.
Por que ele sairia quando estava tão relutante?
Ciel pausou, tentando descobrir a melhor maneira de lidar com a situação. Dezra teve o mesmo pensamento.
Pela honra de Eugene e da família Lionheart, era crucial que ninguém descobrisse que ele havia se disfarçado como uma donzela. Era necessário um escândalo maior para enterrar um vergonhoso? Ela deveria dançar orgulhosamente diante de todos para distraí-los da verdade? Dezra não pôde deixar de ponderar sobre essas questões profundamente em seu coração.
Carmen não teve a oportunidade de ficar surpresa.
Um barulho repentino a fez virar-se rapidamente para Eugene. Pensamentos correram em sua mente, e ela se preparou para falar, mas antes que pudesse, os sentidos aguçados e os instintos afiados de Carmen entraram em ação. Seu coração deu um salto, e seu rosto normalmente pálido perdeu a cor, deixando-a com uma palidez assustadora.
“O que é isso?” Ela pensou, horrorizada.
Ela tinha sentido hostilidade muitas vezes e enfrentado perigo e até mesmo loucura. Mas nenhuma dessas emoções realmente instilou medo em Carmen Lionheart. Desta vez, no entanto, era diferente. Ela não conseguia identificar a fonte de seu medo nem entender suas origens.
Essa incerteza apenas aumentou seu terror. O desconhecido tinha uma maneira de enredar o espírito. Sua respiração acelerou, e seus punhos começaram a tremer incontrolavelmente. Naquele momento, a desventura de Carmen foi que ela era intransponivelmente mais forte do que qualquer outra pessoa no navio. Aqueles incapazes de sentir o que estava por vir só perceberiam a profundidade de seu terror quando finalmente fossem confrontados com isso. Mas Carmen havia alcançado um nível em que poderia senti-lo sem vê-lo.
“Não,” ela se repreendeu.
Ela não podia se dar ao luxo de vacilar agora. Forçou-se a não entrar em pânico. Tentando entender a situação, ela mudou o olhar e viu Eugene saltando em direção ao mastro.
— Pelos deuses! — Exclamou o vigia no topo do mastro, embora sua exclamação fosse ignorada. Mesmo desse ponto de vista elevado, a visão estava obscurecida.
Eugene continuou subindo e se elevou para o céu, atingindo uma altura semelhante à que alcançou quando foi separado de seu corpo.
Só então a visão ficou clara. Uma névoa escura se aproximava de longe. A cor do mar mudou, sendo tingida pelo matiz da névoa, e através das ondas ondulantes, uma sombra vermelho-sangue se espalhava.
O mar de cor alterada começou a ferver. Criaturas do mar começaram a flutuar. Peixes de todos os tipos encontraram seu fim e encheram a superfície do mar.
Tubarões gigantes, baleias ainda maiores e monstros do mar — criaturas tão grandes quanto navios — morreram sem chance de escapar. Suas mortes bloquearam o caminho da frota, interrompendo a viagem.
Os fenômenos assustadores e sombrios espalharam o medo entre todos a bordo dos navios. A magia que impulsionava a frota parou. Sienna Merdein certamente teria sentido. Agindo por sua intuição de que precisavam parar, ela havia trazido a frota para uma parada. Moendo os dentes de frustração, ela voou para os céus.
— Eugene? — Sienna viu Eugene quando subiu para o céu. Mas, ao se aproximar dele, ela sentiu uma sensação arrepiante e instintivamente olhou para trás e viu o mar vermelho-sangue.
O cheiro salgado do mar foi substituído pelo cheiro de sangue e decomposição. Partículas escuras como poeira, aparecendo do nada, zuniam no ar como insetos. A névoa que avançava subiu, obscurecendo o sol e escurecendo o céu.
O mar fervente parecia estar cheio de sangue antigo. O odor fétido nublou os sentidos de todos.
A poeira flutuante logo se transformou em insetos reais. O zumbido incessante de incontáveis asas de insetos confundiu ainda mais as mentes de todos.
Um único pensamento surgiu na mente de todos a bordo da frota quando contemplaram o mar agora transformado: o Domínio Demoníaco.
Foda! Simplesmente, redondamente, Thais Carlamente, Foda!
Demaissss