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Abe the Wizard – Capítulo 3

Pantera das Sombras

Sob a luz do amanhecer que iluminava a planície, o Castelo Bennett, mais uma vez, revelou sua grandiosidade para o mundo.

Comparado a outros castelos do mesmo nível era, na verdade uma peça de arquitetura muito mais extravagante. Foi, de certa forma, o que chamariam de obra de uma era. Demorou cerca de dez anos para o Primeiro Lorde Bennett terminar de construí-lo.

E se não fosse pela manutenção diligente daqueles que vieram depois dele, não haveria um marco tão magnífico hoje.

Devido à incompetência de seus sucessores nas últimas gerações, a família foi rebaixada de um dos Lordes mais prestigiosos do reino para apenas uma família de cavaleiros. Por isso que os Bennett ficavam tão envergonhados quando falavam sobre seu passado.

Como o atual governante da casa, lamentou muito ter realizado tão pouco durante a guerra.

Lutou contra os orcs, mas as conquistas que fez não foram suficientes para mudar o status de sua família.

Era por isso que estava tão interessado em educar seus filhos. Se pudesse se tornar um cavaleiro antes dos trinta, é garantiria a continuidade da linhagem. Poderia decidir seu futuro por si.

Abel, porém, não foi colocado com tal responsabilidade. Se não oferecesse para se tornar um cavaleiro, o Cavaleiro Bennett mandaria alguém lhe ensinar matemática.

Para que pudesse encontrar um emprego de escritório na cidade quando ficasse mais velho.

Estava muito preocupado com o futuro de seu filho mais novo. Abel não iria ter seu próprio castelo. Nem o seu próprio cavalo de guerra ou armadura. Quando ficasse mais velho, se tornaria um cavaleiro errante, e não eram reconhecidos pelos nobres deste país.

Teria que gastar grande parte de sua vida apenas para poder comprar o equipamento mais básico. Se pudesse encontrar uma vida estável antes dos quarenta anos, isso seria considerado mais do que sorte.

“Você avançou.” O Cavaleiro Bennett perguntou a Abel.

Abel levou cerca de dois meses para se tornar um cavaleiro novato de nível 1. O mesmo processo levou quatro meses para seu pai e quatro meses e meio para seu irmão. Não havia recebido a mesma quantidade de recursos.

A atenção que recebia não era nem de longe a mesma de outros homens, mas o talento bruto por si só lhe deu uma vantagem no início.

“Sim, Pai. Tornei-me um cavaleiro novato de primeira classe na noite passada.” Respondeu. Zach correu para abraçá-lo.

“Você é um gênio, irmão!” Zach girou seu irmãozinho. Queria elogiá-lo um pouco mais, mas Abel não parecia gostar de ser abraçado como se fosse um boneco de pano.

“Você é um gênio.” Zach disse mais uma vez colocando-o de volta no chão.

“Que pena.” O Cavaleiro Bennett observou com um olhar complexo em seu rosto. Estava feliz, mas meio triste ao mesmo tempo.

Se Abel fosse seu filho mais velho, ganharia mais do que Zach como cavaleiro. Dito isto, o treinamento de Zach já estava em andamento. A Família Bennett não tinha dinheiro de sobra.

Abel recebeu ontem o seu Cubo Horádrico. Não podia usar o Pergaminho, mas é sempre bom possuir um item valioso. Na verdade, depois que acordou esta manhã, pensou apenas na fórmula que usou para criar o cubo. Mesmo que não houvesse muitas fórmulas que pudesse usar agora, poderia encontrar algo útil na cidade.

“Pai, quero ir para Fort Lee hoje.” Pediu Abel. Como de costume, foi muito direto ao fazer esse pedido. Não estava acostumado a falar dessa maneira, mas os cavaleiros deveriam ser assertivos em seu discurso.

O Cavaleiro Bennett assentiu: 

“Claro. Você acabou de se tornar um cavaleiro na noite passada. É melhor tirar um dia de folga do seu treino.”

“Eu te ajudo a conseguir um cavalo.” Zach disse, então correu para o estábulo. Conseguiu um cavalo inferior para Abel. Após ajudá-lo a subir, colocou uma moeda de ouro no bolso.

O Cavaleiro Bennett viu, é claro, mas não disse nada. No entanto, ficou muito feliz em vê-lo. Afinal, um vínculo fraternal era uma coisa rara de se encontrar entre os de origem nobre.

Todo cavalo que não fosse de guerra era considerado o que se chamava de cavalo inferior. Um cavalo de guerra seria alimentado com trigo e feijão, alimentos de qualidade que custariam pelo menos 10 moedas de ouro por mês.

Sem receber esse tipo de tratamento, perderia sua velocidade e se tornaria um cavalo inferior regular.

O cavalo que montava era um pônei de dois anos, mas nasceu de um cavalo de guerra que pertencia à família Bennett. Se a família pudesse dar-lhe a nutrição adequada, não haveria problema em criá-lo como um cavalo de guerra.

Enquanto estava montado em seu pônei, tinha seu guarda-costas, Norman, seguindo-o por trás. Estava vestindo um conjunto completo de armadura de couro, carregava uma longa espada nas costas, mas não tinha um cavalo.

Como o cavalo que seu mestre montava era um pônei, não teve problemas em segui-lo apenas com as duas pernas.

Norman era um soldado aposentado que voltou da guerra com o Cavaleiro Bennett. 

Como subalterno, viveu com o resto da família no Castelo. 

De certa forma, era a maneira de um servo mostrar sua gratidão e lealdade ao seu senhor.

Norman era um espadachim muito habilidoso. Se tornou um guerreiro de nível 6 após ser treinado pelo Cavaleiro Bennett.

Não possuía nenhum tipo de técnica especial, mas sua esgrima por si só era suficiente para torná-lo um guarda-costas confiável de Abel.

“Espere um segundo, Jovem Mestre.” Norman puxou uma espada das suas costas e examinou as árvores ao lado da estrada. Levaria cerca de meia hora para ir daqui até o Castelo. Também ficava a meia hora de Fort Lee. Se algo acontecesse com Abel, seria impossível pedir reforços.

“O que você encontrou?” Abel puxou as rédeas de seu pônei.

Embora fosse muito mais alto que Norman a cavalo, não conseguia ver nada que estivesse nas árvores. O que podia ouvir era um rosnado alto ao longe.

Foi quando a sombra apareceu. Abel podia ver agora. Uma pantera das sombras e estava pulando direto para o pescoço do pônei. O pônei não estava com medo, estava mais do que pronto para assumir uma postura defensiva.

Em menos de um segundo, pulou para trás e evitou a mordida mortal da pantera. A pantera errou e foi punida por Norman com sua longa espada.

Normalmente, uma pantera das sombras não aparecia durante o dia, gostava de estar no escuro e emboscar sua presa enquanto se escondia na beira da estrada. 

Esta pantera deveria estar morrendo de fome para ir tão longe da floresta.

Norman já tinha sua espada pronta. A pantera, porém, não era de forma alguma um felino comum. Por mais ineficazes que suas mordidas fossem contra a lâmina de Norman, ainda conseguiu evitar cada um de seus ataques.

Abel saltou do cavalo para se juntar à luta. A pantera não lhe deu importância. A julgar pela experiência, o humano maior era a única coisa que o impedia de obter uma refeição completa.

Estava certa. Bem, em parte, pelo menos. Abel não fez uma abordagem direta. Em vez disso, apenas circulou à distância por uma oportunidade de atacar. Se recusava a ser um incômodo para Norman. Não era como se pudesse fazer muito.

Demorou um pouco para Norman fazer seu primeiro acerto. Estava mirando no pescoço da pantera, mas era rápido o suficiente para fazer a lâmina acertar suas costas. Pior ainda, a besta astuta explorou essa chance para um contra-ataque. Enquanto Norman estava desprevenido, usou sua cauda para um ataque surpresa chicoteando uma de suas pernas.

Norman ficou em desvantagem. A dor começou a aparecer em seu rosto, e seus pés estavam se movendo mais devagar enquanto tentava reajustar sua posição.

Enquanto observava de lado, Abel sabia que não podia esperar mais.

Respirou fundo. Queria concentrar todo o seu Qi em um ataque poderoso. 

Se pudesse soltá-lo em direção à pantera, isso deveria acabar numa instância.

Ele tinha que ser muito cuidadoso, no entanto. A técnica que estava usando era para cavaleiros novatos treinarem até a exaustão. Se errasse e fizesse outra tentativa, acabaria destruindo seu meridiano a ponto de não se recuperar.

Em um piscar de olhos, a pantera saltou em direção a Norman para um golpe final. Como houve uma pausa momentânea no ar, Abel aproveitou a chance e apostou. Correu por trás da pantera com adaga apontada para frente em suas mãos.

A pantera soltou um rosnado doloroso. Estava ciente da presença de Abel o tempo todo, mas a lesão que Norman infligiu ainda teve um efeito em atrasar seus movimentos. Se não fosse por Abel, o resultado seria muito diferente agora.

Abel enfiou a adaga dentro dela e se afastou. A pantera, por outro lado, começou a sacudir o corpo ao cair no chão. 

Não tinha energia para continuar a luta, mas a sede de sangue nunca deixava sua consciência.

Demorou um pouco para a pantera das sombras morrer. Quanto mais rosnava para Abel e Norman, mais fraca sua voz começava a ficar. Quando parou de fazer barulho, também parou de se mover.

Abel queria ter certeza de que a pantera estava morta, mas Norman o puxou para trás quando ele se aproximou.

“Tenha cuidado.” Disse, enquanto jogava a bainha de sua espada na direção da pantera.

Para surpresa de Abel, a pantera arrancou a bainha com suas garras. Mesmo à beira da morte, seus reflexos ainda eram muito mais rápidos do que a grande maioria dos humanos.

Norman não deixou Abel verificá-lá. Em vez disso, ele foi pegar a bainha que jogou.

“Jovem Mestre.” Apontou para a marca da garra em sua bainha enquanto a pegava.

“Como pode ver, a maioria das feras prefere matar suas presas instantaneamente.”

Norman pegou o cadáver da pantera no chão. Então, com um sorriso no rosto, tirou a adaga de suas costas e a devolveu a Abel.

“Como você gostaria de lidar com isso, senhor?” Norman perguntou. 

“Afinal, este é o seu prêmio.”

“Vamos carregá-lo e vendê-lo na cidade.” Ordenou Abel enquanto olhava para o ferimento na perna de Norman.

“Leve o cavalo daqui em diante e a pantera com você também.”

Apesar de seu papel de servo humilde, Norman não hesitou em pegar o cavalo de seu jovem mestre. Daria sua vida se fosse pela família Bennett, mas nada disso era contraditório com o que ele estava fazendo. Agora, ele era um homem ferido.

O máximo que podia fazer por Abel era não ser um fardo. Como havia apenas um cavalo disponível, a maneira mais rápida de viajar era fazê-lo montar no cavalo.

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