Gravis teve que conversar com Orthar por um longo tempo. Felizmente, isso não foi uma perda de tempo, já que ele decidiu comer a Besta Espiritual de grau médio que ainda tinha. Assim, manteve sua eficiência máxima.
Depois de terminar de consumir a besta, Gravis interrompeu a conversa. As perguntas de Orthar pareciam intermináveis, e a conversa não teria fim se ele não a interrompesse. Por sorte, ou azar, dependendo da perspectiva, Gravis tinha um raciocínio bastante lógico e conhecia muitos assuntos, o que lhe permitia responder à maioria das perguntas de Orthar.
Orthar ficou um pouco frustrado pelo fim da conversa, mas sabia que precisavam seguir em frente. Ele então conduziu Gravis até a próxima besta de corpo pequeno que conhecia. Orthar não conhecia nenhuma Besta Espiritual de grau alto, razão pela qual pensava ter atingido o ápice de seu poder.
Orthar também perguntou por que nunca havia encontrado outras bestas no mesmo nível que ele. A resposta de Gravis foi direta e lógica:
— Porque você está nas bordas do mundo. Nenhuma Besta Espiritual de grau alto quer permanecer em uma área com densidade de Energia tão baixa.
Orthar não sabia que existiam regiões com maior densidade de Energia. Ele havia viajado bastante, mas nunca em uma única direção; geralmente nadava pelos arredores de seus próprios territórios.
Enquanto viajavam, Gravis percebeu outra coisa. Para acompanhar Orthar, ele estava usando mais Espírito do que conseguia regenerar. Seu corpo estava ficando cada vez mais pesado. Agora, Gravis precisaria usar muito do seu Espírito até mesmo para voar.
Ele esperava que, quando alcançasse o nível de Besta Espiritual de grau médio, seria mais eficaz simplesmente nadar ao invés de usar seu Espírito. Esse seria seu estado mais lento até agora.
Após cerca de uma hora, eles encontraram o próximo alvo de Gravis, um peixe-espada de 30 metros. Era um pouco grande para o gosto de Gravis, mas era difícil encontrar bestas pequenas nesse nível, então o peixe-espada teria que servir.
Gravis decidiu enfrentá-lo diretamente com seu corpo para testar suas habilidades. O peixe-espada avançou em sua direção com uma velocidade impressionante, equivalente à de Orthar, notável para uma Besta Espiritual de grau médio. A lança do peixe acertou o braço esquerdo de Gravis e o perfurou. Gravis permitiu o impacto para testar suas escamas.
A poderosa investida conseguiu perfurar o braço, mas foi só isso. Não conseguiu arrancar o braço nem causar mais danos. As escamas ao redor mantiveram tudo no lugar, e o peixe-espada acabou preso no braço de Gravis.
Gravis girou o corpo na lança do peixe até se sentar sobre ela, enrolando sua cauda ao redor da base. Então, ele arrancou o próprio braço, cortando metade dele. No entanto, com uma rápida cura, estava em plena forma novamente. Em seguida, usou seus braços para arrancar a lança. O princípio da alavanca mostrou sua eficácia.
O peixe-espada, em dor, tentou sacudir Gravis de cima dele, mas não conseguiu. A cauda de Gravis continuava firmemente enrolada na base da lança. Com um movimento rápido, Gravis usou a lança para perfurar os olhos do peixe-espada, atravessando seu cérebro. A luta terminou rapidamente.
— Seu corpo é poderoso e mortal — comentou Orthar. — Não pensei que fosse possível matar uma criatura um nível inteiro acima de você. Quando alcançar o grau médio, provavelmente será mais forte que eu sem precisar do Espírito.
Gravis já havia guardado o corpo do peixe. — Isso acontece porque você seguiu apenas seus instintos. Seu corpo não é tão mortal quanto poderia ser — respondeu Gravis.
A longa conversa com Orthar então foi retomada. Como Orthar não conhecia outras Bestas Espirituais de grau alto, eles teriam que viajar em direção ao centro do mundo, onde a densidade de Energia seria maior.
Gravis decidiu parar de guardar sua comida até acumular o suficiente para subir de nível. Agora era útil ganhar experiência de combate com seu corpo, que já estava bastante próximo da forma final que ele havia imaginado. A única coisa que ainda faltava eram pernas.
Depois de consumir o peixe em dois dias, algo inesperado aconteceu, e Gravis franziu a testa.
— Meu nível não aumentou — disse, estreitando os olhos para o próprio corpo. — Meus cálculos estavam corretos até agora, mas isso não faz mais sentido. Bestas Espirituais não precisam de proporcionalmente mais comida do que Bestas de Energia, então não pode ser por isso.
— Acho que são essas escamas. —Ele olhou para seu braço. — Como são tão poderosas, provavelmente precisam de mais comida que o normal. — Gravis então se voltou para Orthar. — Orthar, me leve até as outras bestas relativamente pequenas que você conhece.
— Também estou curioso sobre esse enigma — respondeu Orthar. — Me siga.
Após mais uma hora, eles chegaram ao próximo alvo — uma moreia de 40 metros. Gravis decidiu testar seu estilo de combate verdadeiro e invocou seu Sabre de Pedra do Vazio. No entanto, encontrou um problema que já esperava.
Gravis costumava segurar o sabre com as duas mãos, o que lhe dava mais força nos golpes. Infelizmente, suas novas mãos eram muito grandes e poderosas, impossibilitando segurá-lo com ambas as mãos. Ele mal conseguia segurá-lo com uma, e o sabre parecia leve e pequeno demais.
— Preciso de uma arma mais adequada — pensou Gravis enquanto avançava contra a moreia. A enguia também o atacou, mas Gravis desviou facilmente e desferiu um golpe com o sabre.
Puchi!
O sabre penetrou o corpo da moreia, mas não profundamente. Usá-lo com apenas uma mão parecia estranho, e suas técnicas de combate anteriores não se encaixavam mais em seu novo corpo. Se ele ainda tivesse um corpo humano com essa força, teria partido a moreia ao meio.
— Dane-se isso — pensou Gravis enquanto guardava o sabre. Ele então invocou a lança arrancada do peixe-espada morto. — Isso é maior e mais útil por enquanto. Pelo menos posso usar toda minha força.
A moreia atacou novamente, mas Gravis simplesmente enfiou a lança em sua boca e atravessou seu cérebro. Ele já conseguia matar essas bestas sem nenhuma arma, e com uma, as lutas se tornavam triviais.
Depois de mais combates e refeições, Gravis percebeu que seu nível ainda não havia aumentado. Orthar o levou até outra presa, que também foi derrotada rapidamente.
Após consumir sua quarta Besta Espiritual de grau médio, o corpo de Gravis finalmente evoluiu. — O dobro do custo, hein? — ele pensou.
Seu corpo cresceu até atingir 10 metros de comprimento, o que o tornava uma figura intimidadora. No entanto, em vez de estar satisfeito, Gravis fez uma careta. — Agora, até a lança mal serve. Além disso, não posso forjar essas partes de besta em armas adequadas. Elas são tão fortes quanto meu próprio corpo. Precisarei encontrar materiais do nível da Unidade, mas provavelmente não estão aqui.
Após pensar por um momento, Gravis decidiu deixar aquele lugar. Orthar não conhecia outras Bestas Espirituais de grau alto. Eles teriam que viajar para regiões — ou mares — com maior densidade de Energia.
— Chegou a hora — disse Gravis.
— Esperei por isso — respondeu Orthar, enquanto seu desejo ardente por conhecimento e poder transparecia em seus pensamentos.
— A partir de agora, precisamos das mesmas presas para evoluir — disse Gravis. — Proponho um acordo: alternamos quem luta e come a presa. Como você não come há mais tempo que eu, pode ficar com a primeira. No entanto, se encontrarmos uma presa menor, seria gentil da sua parte deixar essa luta para mim. Claro, você pode ficar com as presas maiores.
— Aceito — Orthar respondeu. — Não tenho problema em comer presas maiores. E, graças às nossas conversas, entendo a importância de ter uma base sólida. Se um de nós enfrentar uma besta adequada, o outro não deve interferir, mesmo que o lutador corra o risco de morrer.
Gravis assentiu. — Concordo. É melhor assim.
— Para onde vamos? — Orthar perguntou.
— Observei a densidade de Energia enquanto nadávamos — explicou Gravis. — Notei mudanças mínimas na densidade ao longo do caminho, e tenho quase certeza de que o núcleo do mundo está naquela direção. Não sei exatamente a distância, mas provavelmente levará um bom tempo para chegarmos lá.
— Esperei eras. Alguns anos não farão diferença para mim — disse Orthar.
— Não acho que levaremos anos — Gravis respondeu com um sorriso sem jeito. — Talvez algumas semanas, mas não sei ao certo.
— Melhor ainda. Vamos — disse Orthar, e Gravis assentiu.
Então, começaram a viajar sem descanso em uma única direção. O corpo de Gravis era muito mais fraco que o de Orthar, e usar seu Espírito para se mover era exaustivo demais. No entanto, seu corpo pequeno o permitia nadar quase na mesma velocidade que Orthar. O tamanho imenso de Orthar deslocava muita água, o que o deixava consideravelmente mais lento.
Eles viajaram assim por um mês inteiro.