“Chegou a hora”, pensou Gravis, sentindo seu corpo coçar. Esta seria sua segunda evolução mais importante, o momento de consumir a escama para garantir uma defesa mais poderosa.
Whoop!
Gravis invocou a escama e a segurou. Seu corpo ainda era mais fraco que o anterior, e carregar a escama foi difícil, mas não impossível. Ele a encarou com olhos ardentes e, com seu Espírito, empurrou-a para o estômago. Como um estômago não é tão forte quanto um braço, ele manteve a escama levitando dentro dele. Se ela caísse, poderia romper o órgão.
Gravis observava atentamente seu estômago, mas a escama não estava sendo digerida. Com o tempo, a preocupação começou a crescer. A escama claramente estava além de seu nível atual. “Será que consigo mesmo digeri-la?” ele pensou.
Whooom!
De repente, a escama começou a brilhar, e várias Formações surgiram sobre ela. Gravis ficou chocado ao ver a quantidade delas. Cada Formação era minúscula, tão pequena quanto as letras que ele havia lido no manual sobre materiais de forja. Ele só conseguiu reconhecer cerca de 5% das Formações.
Era impressionante para ele que uma única escama contivesse tantas Formações de tamanha complexidade. Ele não conseguia sequer começar a entender os conceitos por trás delas. “Meu pai provavelmente colocou essas Formações para que eu pudesse digerir a escama”, ele concluiu. “Meu pai não esqueceria que eu não conseguiria digeri-la sozinho.”
Assim que Gravis pensou nisso, a escama se dissipou, transformando-se em um tipo de gás que se espalhou por todo o seu corpo, sem que ele tivesse controle sobre isso. Ele não sentiu nada — o gás parecia existir em outro plano. No entanto, Gravis confiava em seu pai. Seus olhos ardiam de ambição enquanto ajustava rapidamente a imagem em sua mente.
Ele visualizou seu corpo inteiro coberto por escamas semelhantes à que havia comido. A imagem se solidificou em sua mente, e ele percebeu que ainda poderia alterar mais coisas.
Gravis refinou a imagem até se sentir satisfeito. Aproveitando a oportunidade, ele também modificou o formato de sua cauda. A barbatana sumiu, e a cauda agora tinha a aparência de uma cauda de réptil.
Essa cauda poderia ser menos eficiente para nadar, mas era mais flexível e poderosa. Um golpe com a cauda seria devastador, adicionando mais uma arma ao arsenal de Gravis. Além disso, a nova cauda melhoraria seu equilíbrio e protegeria suas costas.
Gravis finalizou a imagem, e seu corpo começou a mudar. Encolheu até ter apenas dois metros de altura. Ao mesmo tempo, seu torso se alargou, formando um peito largo. Ele manteve a cintura fina para preservar a mobilidade, mas precisava de braços poderosos, e isso exigia um peito robusto.
Conforme o corpo de Gravis tomava sua nova forma, sua pele viscosa caía, revelando escamas negras como a escuridão absoluta. As escamas pareciam absorver a luz, dando a impressão de que os olhos não funcionavam direito ao olhar para elas — uma cor tão escura que parecia impossível.
Após alguns minutos, a transformação se estabilizou, e Gravis completou sua terceira evolução. Ele observou seu corpo e sorriu. Com suas presas afiadas, escamas escuras e cabeça semelhante à de um jacaré, seu sorriso era assustador, como o de um predador prestes a atacar sua presa.
— Agora sim não me pareço mais uma aberração de merda — ele disse. Enquanto fazia as mudanças, também adicionou pulmões para poder falar. A incapacidade de falar o irritava profundamente.
Gravis ergueu um dos braços e fechou o punho. Suas garras tentaram perfurar a palma, mas não conseguiram. As escamas eram mais resistentes do que suas garras. Ele então olhou para Orthar.
O corpo do polvo estremeceu sob o olhar de Gravis. A aparência frágil e esquisita de antes havia sido substituída por algo poderoso e ameaçador. No entanto, Orthar sabia que a personalidade de Gravis não havia mudado.
Se alguém encontrasse Gravis pela primeira vez em sua nova forma, ficaria cauteloso e nervoso. Mas, conhecendo-o melhor, veria sua personalidade honesta e seus princípios. Como Orthar já conhecia Gravis, a transformação teve apenas um impacto momentâneo.
— Você parece ameaçador — Orthar disse lentamente. — Parece uma besta que mata por prazer, não por necessidade. Não tenho certeza se isso vai ajudar ao lidar com bestas que você não quer matar.
O sorriso de Gravis desapareceu enquanto ele coçava o queixo com uma das garras. Finalmente, não precisava mais se preocupar com suas garras ferindo a pele. Isso o irritava mais do que ele gostaria de admitir.
Ao ver Gravis em sua pose pensativa, qualquer preocupação oculta de Orthar se dissipou. Gravis continuava sendo o mesmo.
— Acho que minha aparência inspira medo porque foi projetada para caça e combate — Gravis transmitiu. — Minhas escamas me ocultam na escuridão. Meu peito mostra a força dos meus braços. Minhas presas e garras são armas poderosas. E minha cauda protege minhas costas e me mantém equilibrado.
Ele parou de coçar o queixo. — A aparência ameaçadora vem do medo instintivo das bestas.
Orthar refletiu e concordou. — Sim, acho que você está certo. Seu corpo inteiro é uma arma, e isso pode intimidar aqueles que não dedicam toda sua vida ao combate. Ao vê-lo, senti que meu corpo era inadequado. Meus tentáculos são fortes, mas preciso trazer o inimigo até meu bico para feri-lo, se ele for poderoso.
Gravis assentiu. — Concordo. — ele transmitiu. — Você poderia diminuir de tamanho para ser mais ágil. Poderia adicionar garras ou espinhos nas pontas dos tentáculos para ferir seus inimigos sem precisar puxá-los até o bico. E sua camada externa é muito macia. Ela deveria ser mais resistente.
Antes de conhecer Gravis, Orthar acreditava que seu corpo era perfeito. Ele havia seguido seus instintos para moldá-lo e se sentia confortável com sua forma atual. No entanto, agora percebia que Gravis tinha razão. Seus instintos se opunham a essa ideia, e Orthar sentiu uma onda de raiva crescer. Felizmente, ele era inteligente o suficiente para reconhecer que seus instintos estavam errados.
Outra besta poderia ser dominada pela raiva, mas Orthar era diferente. Ele entendeu que seu corpo, do qual tanto se orgulhava, era inadequado e precisaria mudar no futuro.
Seu disfarce era apenas isso — um disfarce. Não era capaz de criar armas verdadeiras, apenas a aparência de uma.
— Me acerte — Gravis disse a Orthar.
Orthar saiu de seus pensamentos e olhou para Gravis. — Acertar você?
— Sim — Gravis respondeu. — Preciso testar essas escamas. Use 25% de sua força.
— Pelo que você me contou antes, isso seria um ataque no nível de uma Besta Espiritual de grau médio, um nível inteiro acima do seu. Tem certeza de que quer isso? — perguntou Orthar.
Gravis assentiu. — Essas escamas deveriam me permitir sobreviver a um ataque assim.
— Tudo bem — Orthar disse, levantando um tentáculo. Ele então aplicou um tapa casual em Gravis. Embora casual para Orthar, Gravis sentiu a força do golpe se propagar pela água. O golpe também foi bastante rápido, mas Gravis tinha certeza de que seria capaz de esquivar de algo assim em uma luta real.
BANG! BOOM!
O tapa acertou, e o corpo de Gravis foi arremessado para o chão. Uma nuvem massiva de areia se levantou, bloqueando completamente a visão.
Gravis sentiu um pouco de dor, mas nada que não pudesse suportar. O ataque foi um golpe de força bruta, sem nada afiado. Ele percebeu como a força do impacto havia se distribuído pelas escamas, protegendo seus órgãos internos. A única consequência foi que seus órgãos ficaram um pouco feridos, mas nada sério. Essa pequena lesão exigiria apenas 1% de seu Raio da Vida para ser curada.
Mas então, Gravis percebeu um problema que havia esquecido completamente.
Ele ainda não havia sido atingido por nenhum ataque desde que chegou a este mundo intermediário. Isso significava que, até agora, todos os seus movimentos tinham sido voluntários. Essa foi a primeira vez que ele se moveu involuntariamente, e isso revelou uma falha devastadora.
Quando Orthar o atingiu, houve uma explosão — mas essa explosão não causou dano a Gravis.
A mente de Orthar, porém, transmitiu uma dor tremenda ao seu redor. Um tentáculo inteiro de seu corpo havia sido reduzido a cinzas, e se Gravis não tivesse reagido a tempo, Orthar estaria morto. Gravis sentiu um calafrio por dentro ao perceber o quão perto havia chegado de matar acidentalmente mais um amigo.
Uma pequena esfera de raio pairava no local onde Gravis estava antes. Ele sempre movia o raio com seu Espírito, mas, como mencionado, esses eram movimentos voluntários. Desta vez, ao ser atingido, ele não havia controlado o raio.
O raio queimou através de seu estômago e atingiu o tentáculo gigante, aniquilando-o no processo. Depois disso, começou a se mover em direção ao corpo de Orthar. Felizmente, Gravis reagiu rápido o suficiente e fez o raio voltar para sua forma de esfera.
Whoop!
A esfera de raio retornou ao seu corpo, passando pelo buraco que havia queimado. Gravis então curou seu próprio corpo.
— Me desculpe muito, Orthar! Esqueci do meu raio! Deixe-me tentar curá-lo — Gravis disse com urgência.
BZZZZZ!
Gravis transformou toda sua Energia interna em Raio da Vida e a transferiu para Orthar. Felizmente, um tentáculo não representava nem 10% da massa total de Orthar. Assim, mesmo estando dois níveis abaixo dele, Gravis conseguiu curar quase todo o tentáculo perdido.
Orthar olhou para Gravis com raiva, seus instintos de combate despertos. No entanto, ele era inteligente o bastante para perceber que tudo havia sido um acidente.
— Exijo compensação — Orthar declarou.
Gravis suspirou. — O que você quer?
— Me fale mais sobre o conceito de guerra psicológica e como usar as emoções para vencer seu inimigo — Orthar afirmou.
Ao ouvir isso, Gravis soltou um longo suspiro. Orthar estava com raiva, mas obviamente não pretendia atacar ou abandoná-lo. Ele apenas havia aproveitado a oportunidade para obter mais conhecimento de Gravis.
— Certo — Gravis respondeu.
Orthar ‘se sentou’ no fundo do oceano, aguardando Gravis começar sua explicação.
Era evidente que a maior parte de sua raiva já havia desaparecido.