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Apocalypse Hunter – Capítulo 96

A Guerra em Shane (1)

No caminho de volta, Leona cutucou Zin e disse.

— Você foi bem duro com eles, moço. São apenas crianças.

— … esqueceu o que você disse? — Zin respondeu dizendo que foi ela que xingou eles, mas Leona só deu de ombros.

— Mas eu sou uma criança como eles.

Ela estava dizendo que não  havia problemas para ela ser dura com eles porque ela era uma criança. Zin riu com a lógica ridícula.

— Crianças indo para o caminho errado devem ser repreendidas rápido.

As crianças precisavam ser acordadas da fantasia delas a fim de prevenir que muita gente se ferisse. Leona assentiu em concordância.

— Claro, é tarde demais para você, mas há esperança para aqueles meninos.

— Por que cê tá implicando comigo de novo? — Leona perguntou com seu rosto vermelho e Zin só sorriu. Ela não percebeu que ele estava provocando ela por achar suas reações engraçadas. Ela ainda era apenas uma criança no final das contas.

A proposta calhou de ser uma perda de tempo. E já que eles não iriam aceitar o trabalho, parecia que o tempo deles em Shane estava terminando.

— Me incomoda um pouco. — Leona murmurou nervosamente. Zin olhou para ela e Leona suspirou em pesar. — Eu sei que você sabe também.

— O quê?

— Crianças podem ser perigosas quando estão com raiva.

— Isso é verdade. — Ele assentiu e olhou para Leona. Sempre que ela compartilhava genuinamente seus sentimentos – independente se estava chateada ou não – assustava Zin.

Claro, eles estavam falando de algo diferente agora.

Ele sabia muito bem que quando você acreditava em algo quando criança, isso não mudaria facilmente e eles com frequência achavam que desistir de suas vidas não era nada demais se servissem ao seus propósitos.

— Tanto faz, o que quer que aconteça não vai nos envolver. — Zin disse enquanto punha sua mão no ombro de Leona. Desejando que isso seja verdade, ela assentiu.


Depois que Zin e Leona partiram, os meninos ficaram em silêncio. Ninguém falou nada, não só porque estavam com raiva com o fato de que a honra em que eles acreditavam foi destruída, mas também porque se sentiam humilhados que eles não conseguiram falar nada antes de serem calados com uma arma. Para ser mais preciso, os meninos mantiveram suas bocas fechadas porque o chefe deles, Turian, estava quieto.

Depois de um silêncio longo, Turian disse calmamente.

— Que língua aqueles covardes tinham.

Os meninos concordaram com um aceno. Com isso dito, tudo que Leona e Zin falaram se transformou em uma desculpa para a covardice deles.

— Certo? Por que eles só não admitiam estar com medo em vez de falar tudo isso.

— Sim, ele não parecia um caçador falso?

— O caçador que nós vimos da última vez não parecia com ele.

— Se apenas nós tivéssemos trazido nossas armas… nós poderíamos ter matado eles.

Quando Turian falou, os meninos, um depois do outro, começaram a xingar Zin e Leona. O caçador não aceitou o trabalho porque estava com medo. Dessa forma, tudo que ele disse estava inválido.

Pessoas sempre sabiam se justificar desse jeito. Negar a gangue era negar a essência deles e isso era quase impossível para crianças.

As crianças recuperaram lentamente a confiança ao dizer coisas ridículas parecendo que beiravam dissonância cognitiva. Ao zoarem uns com os outros e rirem, pouco a pouco, eles se recuperaram da humilhação que o caçador fez eles sentirem.

— Nós podemos fazer isso sozinhos. — Turian disse.

— Envie alguém para os Xerifes e os Shandoos. Nós vamos abrir o cofre e mandar esses Salteadores para casa do caralho hoje a noite.

Infelizmente, em vez de perceberem a contradição, as crianças das gangues superaram a contradição para prosseguir com a vontade delas. Havia uma coisa que Zin avaliou mal: as crianças não se juntaram depois que o Grupo tomou Shane.

As crianças das gangues sempre existiram. Seus recursos eram muito mais avançados do que qualquer um poderia esperar de senhores de rua. Eles tinham armas de verdade. A única razão para eles não terem atirado em Leona e Zin era porque elas estavam guardadas em outro lugar.

As armas dos adultos foram tomadas, mas ironicamente, as crianças – que estavam sob vigilância relativamente menos firme – mantiveram as suas. As crianças das gangues eram as únicas gangues de Shane que tinham armas.

— Isso significa guerra. — Turian disse com um tom sério e ninguém riu. Com expressões sérias em seus rostos, todos os meninos concordaram. Não importando razão ou lógica, as crianças decidiram lutar pela honra delas.

Ao inspecionar melhor, as gangues de Shane eram a classe dominante e havia apenas um pequeno número delas. A maioria das crianças eram as filhos de mercadores e fazendeiros e como as crianças de pais fracos, elas estudaram como poder dominava.

O forte mandava no fraco e o forte em Shane eram as crianças. Aprendida essa lição de seus pais que lambiam os pés das gangues, aquelas crianças também lambiam os pés das crianças das gangues.

O número de crianças nas gangues era pequeno, mas havia muitas crianças civis. Entretanto, a estrutura de poder dos adultos naturalmente passou para as crianças e as crianças das gangues se tornaram as líderes de todas as crianças.

Eles batiam em quem fosse irritante ou desrespeitoso e ninguém podia fazer nada.

Até os adultos não se envolviam no mundo deles.

As gangues das crianças saiam juntas e falavam sobre honra, mas debaixo da superfície, era uma questão de sobrevivência.

As gangues mandavam nos adultos e as gangues das crianças mandavam nas crianças. Entretanto, quando o Grupo entrou em Shane, o sistema de poder foi totalmente destruído. Ainda, os adultos não podiam desafiar os gangsters devido aos seus medos profundamente impregnados e, apesar deles pensarem em vingança, eles não podiam de fato fazer isso devido a vigilância dos Salteadores.

As crianças por outro lado tiveram um tempo curto para aprender sobre medo. No fim, as crianças eram fisicamente similares umas as outras, fossem elas das gangues ou não.

A vingança dos fracos foi bem cruel. As crianças dos fracos começaram a se juntar e sempre que avistavam uma das crianças das gangues andando sozinha, elas iam aos montes e a atacavam cruelmente. Algumas crianças quebravam braços e pernas e algumas eram mortas e enterradas em segredo.

Quando a nova estrutura de poder tomou forma, um sistema de classe emergiu entre as crianças fracas e as das gangues foram forçadas a ficarem em seus esconderijos.

O motivo das crianças das gangues monitorarem o terreno ao redor de seus esconderijos não era por causa das outras gangues, mas porque elas tinham medo das crianças que antes elas menosprezavam no passado.

Elas tinham que se esconder dos mais fracos, que estavam constantemente buscando vingança e viajar em grupos a fim de se protegerem contra-ataques.

— Ei! Os filhotinhos de arroz estão passando. Saia do caminho.

— Sim, sims! Você está aqui? Boa viagem para você!

As crianças que nem conseguiam olhar para elas nos olhos antes estavam agora as provocando. As crianças das gangues estavam furiosas, mas elas não podiam fazer nada.

Seus números não eram o bastante para as crianças das gangues ousarem sonhar em se vingar, mesmo quando um de seus membros era linchado.

O fraco de antes se tornou o forte agora.

Quando o forte ficava fraco, eles não conseguiam não sonhar de serem o forte de novo. Caso contrário, eles não seriam capazes de respirar em resposta ao que eles fizeram. Alguns já estavam mortos, então honra isso e honra aquilo era só um mero pretexto.

Eles tinham que lutar a fim de sobreviver. Eles tinham que fazer a cidade deles de novo. Mesmo se eles morressem depois de tomar com sucesso a cidade, eles não tinham outra escolha além disso.

O Grupo comandava somente, mas coisas demais mudaram em Shane. A existência de um comando unificado fundamente mudou aquela cidade.

— Vocês estão prontos?

Os três gangsters que se reuniram no prédio abandonado trocaram olhares uns com os outros sob o céu noturno. Houve uma longa história de animosidade e lutas entre eles.

O que os uniu agora era que eles eram parte dos fracos agora. Eles também compartilhavam a realidade de que os adultos estavam com medo de vingança e estavam se escondendo em seus porões, usando drogas que eles esconderam em desespero. Não havia esperança para os adultos.

Os cabeças dos outros dois grupos assentiram para responder Turian. Ele era o mais novo aqui, mas era o mais determinado.

Foi Turian que uniu as outras duas gangues. Os líderes das outras duas gangues, os Xerifes e a Tribo Shandoo, eram mais altos que Turian, mas, bem no fundo, eles o respeitavam.

Se eles conseguissem tomar Shane de volta, poderiam dividi-la de novo, mas baseado do jeito que as coisas estavam agora, unificação também parecia possível.

As crianças das gangues estavam cansadas de guerra. Havia um sentimento forte na mente de todos de que não havia motivo para não haver uma grande reconciliação.

O sentimento de camaradagem que sentiam como os oprimidos abriu a mente das crianças.

Todos estavam armados com as armas que eles esconderam. As armas que eles tinham não eram armas de tiro único, mas algo similar a M1s ou a Mosin-Nagant, que podia atirar múltiplas vezes.

Eles podiam matar qualquer criança que os ameaçassem com uma arma, mas já que estava claro que eles seriam presos pelos Salteadores se atirassem em alguém, eles estavam poupando as munições para o final de tudo.

E o fim chegou.

Quando os adultos lutavam, as crianças odiavam umas as outras, mas ao compartilhar a mesma cries, eles desenvolveram um sentimento de camaradagem. Cada uma delas trocou olhares umas com as outras sob uma ilusão coletiva de que estavam fazendo algo nobre.

Sob a luz da lua, Turian esticou suas mãos com uma arma em seu ombro.

— Hoje, nós conseguiremos nossa terra de volta.

— Vamos fazer isso.

— Eu não tinha ideia de que faríamos isso juntos.

— Ninguém poderia ter imaginado. Entretanto, vamos deixar nossas diferenças de lado por agora…

Os três deram as mãos e as crianças ao redor assistiam como se estivessem maravilhadas pela cena. Depois de segurar as mãos por um tempo, Turian disse.

— Agora, eu vou repassar o plano.

A guerra era de verdade agora.


— Então, nós precisamos de uma medida de segurança para lidar com a Asura…

*Ba-bang!* *Bang!*

Zin e seu grupo, que estavam conversando uns com os outros no meio da noite, perderam suas palavras quando ouviram sons de tiros distantes.

*Rat-tat-tat-tat!* *Bang!* *Bang!*

Como se esse fosse apenas o começo, o som de tiros começou a soar de todo o lugar. Zin murmurou com um franzido no cenho.

— … puta merda!

— O que pode ser isso? — Ramphil foi até a janela aberta e olhou ao redor.

*Rat-tat-tat-tat!* *Bang!*

Por todo lugar, sons similares de milho estourando em uma panela num fogão.

— É uma ataque! Peguem suas ferramentas!

— Levem os cidadãos para a segurança!

— Venham, se movam!

Os Salteadores guardas apareceram na rua um a um e cada um olhou ao redor com rostos rígidos. Leona, que estava dormindo, foi correndo até lá com seu cabelo bagunçado.

— O-o que? Começou?

— Eu acho que sim.

— O que começou?

Zin explicou rapidamente o plano das crianças para um golpe e os olhos de Ramphil se estreitaram.

— Bom, isso é ridículo.

*Rat-tat-tat-tat!* *Bang!*

Independente se era um plano efetivo ou não, estava acontecendo.

— Não consigo acreditar que eles têm armas…

Ele pensou que as crianças estavam porcamente armadas, porque sua arma as assustou. Ele julgou mal a situação e não tinha ideia de que elas começariam esse ataque ousado.

Pelo visto, Leona previu corretamente a situação. Leona viu algo que ele falhou em ver.

Ela sabia quão tolas e estúpidas pessoas poderiam ser.

*Kabooom!*

— Elas têm granadas de lasca também?

As crianças não só tinham armas, mas elas também tinham granadas de lasca, que podiam explodir áreas metropolitanas inteiras.

— O que nós fazemos? — Leona perguntou. Zin permaneceu em silêncio por um momento. Os Salteadores nas ruas estavam começando a ir na direção dos tiros e estavam sendo acertados por lampejos de disparos vindo do teto do prédio.

— Aah!

Um tiro acertou a coxa de um Salteador, por pouco errando uma artéria. O Salteador caiu e Zin notou um menino no telhado do prédio mirando para sua próxima vítima.

Qualquer um podia atirar com uma arma, mas acertar um alvo não era tão fácil. Parecia que o menino praticou muitas vezes.

As habilidades de tiro do menino estavam no ponto, mas as tropas Salteadoras começaram a retaliar.

*Rat-tat-tat-tat!*

Pessoas seguravam seus fôlegos em suas casas. Quando sua localização foi exposta, o menino levou um tiro de fuzil na hora e ele caiu do prédio com um buraco grande em seu corpo.

*Thunk!*

O corpo do menino se contorceu de um jeito estranho e quando os Salteadores viraram ele, eles fizeram careta.

— É a porra de uma criança.

— Mas que porra? — Salteador murmurou incapaz de acreditar que uma criança estava envolvida nesse caos. Ele isolou o soldado caído e começou o tratamento de primeiros-socorros.

— É uma bagunça.

Assim como era numa caçada, quem atacava primeiro tinha a vantagem na guerra. O mero fato de que as crianças começaram o ataque delas no inimigo exposto – mesmo se as condições no geral eram insuficientes – era extremamente vantajoso para elas.

O número de Salteadores que controlavam Shane era apenas de cem no total e o número das três gangues era mais ou menos esse também. Apesar das armas dos Salteadores serem melhores, as crianças nasceram e foram criadas aqui, logo elas podiam usar o terreno efetivamente, incluindo os becos e rotas de Shane que passavam por prédios abandonados. Era difícil dizer que tinha a vantagem e essa não era a guerra de Zin e seu companheiros, então não havia motivo para ajudar qualquer um dos lados.

— É melhor nós só assistirmos – — Zin parou de falar abruptamente. — Algo está vindo para cá.

A mudança abrupta nos olhos de Ramphil mostrava que ele entendeu. Quando Zin apontou para a parede da porta, todos entenderam e pressionaram seus corpos contra a parede perto da porta. Leona pegou sua arma e Zin pegou também sua espingarda Saiga.

*Tak-tak-tak*

Leona conseguia ouvir alguns passos subindo as escadas e de repente se lembrou que deixou as crianças saberem onde eles estavam ficando.

— São as crianças. Três delas.

Devido a leveza dos passos, Zin podia dizer quem estava vindo. Enquanto as crianças planejaram o golpe, elas também preparam uma pequena vingança contra o caçador e sua companheira que os insultaram.

Já que estavam com seus corpos contra a parede, eles conseguiram evitar serem acertados. Como se dissessem “vamos esperar e ver o que nossos oponentes vão fazer”, Zin levantou uma mão para todos ficarem em silêncio. Já que seus oponentes não eram mais simples crianças de gangue. Eles eram inimigos armados com armas de fogo.

Então, o inimigo agilmente entrou em ação.

*Creeaaak…*

Assim que a porta sem tranca se abriu quietamente, algo entrou pela fresta.

*Tk, tk, tk…*

Ela tinha brilho azul emanando dela e estava claro que a granada iria explodir a qualquer minuto. O inimigo escolheu explodir o quarto em vez de abatê-los por força. Era uma tática bem sábia e ao mesmo tempo mortal.

— Porra! — Leona foi a primeira a reagir com sua voz e a próxima pessoa a se mover foi Ramphil.

*Whoop!*

Ramphil pegou a granada de lasca na frente dele com reflexos animalescos e a jogou para fora da janela com precisão. Foi um movimento defensivo perfeito sem um movimento desperdiçado.

*Ba-ba-bababam!*

A granada de lasca voou pela janela e explodiu no ar. Sem tempo para reagir a resposta rápida de Ramphil, Zin olhou para Leona.

Ela entendeu e assentiu. Zin chutou a porta e foi para fora e Leona o seguiu bem atrás.

Antes das três crianças – que estavam longe da porta para escapar da explosão e não esperavam que alguém saísse pela porta – pudessem ao menos pegar em suas armas….

*Boom!* *Boom!*

*Bang!* *Bang!*

A Saiga atirou duas vezes e explodiu a cabeça de uma criança e o ombro de outra e Leona deu dois tiros no outro menino, um em seu buço e o outro no pescoço.

As duas crianças morreram antes de ao menos conseguirem gritar, mas a criança com seu ombro arrasado começou a gritar.

— Ah! Aah! Meu-meu braço.

A criança, cujo braço direito foi totalmente arrancado porque seu ombro explodiu, perdeu sua arma e estava chutando o ar com seus pés.

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