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Arifureta Shokugyou de Sekai Saikyou – Capítulo 128

Despertar imediato

Hajime sentiu uma textura fria e seca na parte de trás de sua cabeça. A sensação rapidamente trouxe a consciência adormecida do garoto de volta a realidade.

— … onde é que…

Ele sacudiu sua cabeça para limpa-la, então se levantou e verificou seus arredores.

Sem qualquer fonte de luz, a escuridão era completa. Contudo, como Hajime tinha sua “Visão Noturna”, a escuridão não o atrapalhou.

Como resultado, uma rápida olhada ao redor o disse que ele estava em uma caverna parecida com a da grande árvore que eles entraram antes de perder a consciência. Contudo, ele logo percebeu que o local era muito maior.

Porém, havia uma diferença distinta: o espaço era um domo circular repleto de objetos retangulares transparentes que transmitiam uma sensação de limpeza. Eles estavam regularmente espaçados pela área abobadada.

Julgando pelo tamanho, cada espaço podia abrigar uma pessoa.

Hajime pensou que eles lembravam caixões.

O espaço vazio em que ele acordou estava alinhado com esses caixões escuros.

O Sinergista olhou ao redor, mas não havia nada no meio do domo e não parecia existir nenhum tipo de saída no local.

Ele voltou seu olhar para um dos caixões organizados em uma fila e, após hesitar um pouco, avançou para seu lado.

— Isto é… parecido com âmbar¹.

A respiração de Hajime parou quando ele percebeu que Shia estava dentro do âmbar.

O garoto pensou que Shia dormindo dentro do caixão transparente parecia um inseto ancestral preso no âmbar.

Ele logo usou “Detecção de Presença” para verificar o estado da garota e foi capaz de sentir um pulso estável.

Ele conseguiu se manter calmo ao se lembrar de quando ele despertou. Hajime estava imaginando que ele também esteve enclausurado em âmbar antes de acordar.

Havia um total de nove caixões de âmbar dentro da sala. Ele suspeitava que se verificasse todos eles, encontraria os outros integrantes de seu grupo presos no interior. Eles deviam ter sido presos após entrarem no espaço vazio do pseudo-treant.

Todos deviam estar presos em mundos atraentes e oníricos, assim como ele esteve. Se conseguissem escapar desse mundo de sonhos, era provável que eles seriam libertos do âmbar diante dos olhos de Hajime.

Quando o garoto encontrou e encarou a prisão de Yue, ele concluiu que havia pelo menos uma coisa boa sobre a atual situação.

— Bom, de qualquer forma, é bom que Yue e Tio estejam em seus corpos originais. Fazê-las voltar eu mesmo… poderia ter sido um problema.

Assim como o garoto disse, dentro de dois caixões de âmbar estavam Yue e Tio. Não em suas formas de goblin, mas em seus usuais corpos lindos. Elas provavelmente voltaram a seus estados originais quando o estágio anterior foi concluído.

Pessoalmente, Hajime estava contente. Ele iria amá-la de qualquer forma, mas a Yue original era melhor.

O Sinergista se abaixou ao lado de Yue e esticou sua mão em direção ao rosto de sua amada. É claro que o âmbar ficou no caminho, mas ele ainda moveu sua mão como se acariciasse o rosto dela.

— Volte logo Yue. Quero ouvir sua voz…

Por um momento, o perigoso pensamento de quebrar o âmbar à força cruzou sua mente, mas se ele a libertasse usando força bruta, havia o risco de fazer o desafio terminar em fracasso, então ele segurou o impulso.

— … Yue usando blazer… foi perigoso. Shia também… como o meu eu do sonho foi capaz de manter sua razão? Muito bem, tenho que fazer você vestir um assim que voltarmos para o Japão.

Assim que o garoto ficou preso nesses pensamentos estúpidos, o âmbar começou a emitir uma luz pálida.

Hajime retirou sua mão e deu um passo para trás enquanto observava a mudança.

Assim que a luz ficava mais forte, o âmbar começou a derreter de fora para dentro. Assim que o material derreteu, ele escorreu pelos lados e foi absorvido pelo chão.

Dentro de cinco minutos, o material cobrindo Yue se dissipou por completo.

Hajime confirmou que a vampira estava respirando pelo subir e descer de seu peito. Com isso, sua tensão se dissolveu e ele gentilmente a colocou em seus braços.

Não estava claro se ele não queria deixa-la ficar no chão, ou talvez fosse apenas seu desejo de segura-la.

Os longos cílios de Yue começaram a tremer assim que o garoto afastou um pouco de cabelo do rosto dela enquanto ele a embalava em seus braços como se fosse uma criança.

Ela lentamente abriu seus olhos.

— Yue… como você está se sentindo?

— … nn, Hajime?

— Aah, sou eu.

Yue ainda parecia estar um pouco aturdida, mas seu olhar não se afastou do garoto em nenhum momento.

Assim que sua consciência retornou por completo, ela encarou Hajime cuidadosamente.

— … esse é… o verdadeiro Hajime?

— Haha, entendo o porquê você pergunta, mas Yue deve decidir isso sozinha. Este eu na sua frente é real ou uma imitação?

Muito provavelmente, havia um Hajime impostor no sonho que Yue teve, mas o garoto estava feliz em deixar a vampira julgar por conta própria. Ele tinha certeza que ela poderia dizer a diferença entre o verdadeiro e a fantasia que ela viu.

— A propósito, agora mesmo, tenho certeza que a Yue em meus braços é a verdadeira.

As palavras de Hajime fizeram a garota o encarar com uma expressão vazia por um momento, mas ela logo entendeu o significado e sorriu.

O Sinergista estava a dizendo que também havia uma imitação de Yue em seu sonho, e que ele estava feliz por ela também ter sonhado com ele em seu mundo ideal.

Os cantos dos olhos de Yue relaxaram e sua boca se arqueou para formar um sorriso de verdadeiro encanto.

— … como você pôde dizer?

Yue já sabia a resposta, mas ela ainda queria ouvir ele dizer. Mesmo que seus corações se entendessem, ainda era algo magnífico ouvir seu amado dizer as palavras em voz alta.

Mais uma vez, Hajime sabia como a vampira se sentia. Então ele encolheu seus ombros e respondeu de forma despreocupada.

— Não sinto nenhum desconforto… dentro de mim. É como se minha alma sussurrasse para mim: “A pessoa em seus braços e a sua ‘especial’.”

— Fufu… eu também. No meu interior, algo está me dizendo que a pessoa que estou abraçando agora é Hajime… hmm, esqueci o que perguntei.

— Hmm, você ainda está adormecida.

Os olhos de Yue relaxaram assim que Hajime mais uma vez encolheu seus ombros, então ela subitamente envolveu seus braços ao redor do pescoço dele e o beijou à força.

Coff!

— … como eu era no seu sonho?

— O blazer da minha escola ficou tão bom em você que eu quase morri.

Yue conseguiu imaginar que tipo de mundo Hajime viu, mas a resposta inesperada foi tão engraçada que ela não conseguiu impedir sua voz baixa de se misturar com uma risada quando ela a ouviu.

— … vou vestir para você algum dia.

— Isso é algo que vou aguardar com ansiedade. Como foi para você?

Uuohon!

Yue enterrou seu rosto no pescoço de Hajime. Enquanto ele aproveitava os repetidos beijos dos lábios dela em seu pescoço, o garoto a perguntou sobre seu sonho.

— … as roupas cerimoniais e o trono combinaram com você tão bem que quase morri.

— Desculpe… tirando as roupas cerimoniais, um trono é impossível. Ou melhor, por que um trono?

— Kufufu… em meu sonho, eu era uma Imperatriz… e nós tínhamos 12 crianças.

— Quão longe você foi em seu sonho!? Uma dúzia é demais!

Hajime involuntariamente se afastou de Yue e a encarou em choque. Ela encarou o garoto com um olhar sedutor e lambeu seus lábios brilhantes ainda molhados pelos beijos.

Esta cena atraente fez Hajime prender a respiração e fez seu coração disparar. O espírito feroz que podia suportar os ataques de qualquer monstro com facilidade foi abalado.

— … fufu, tenho grandes expectativas.

— … como esperado, não serei capaz de derrotar Yue em toda a minha vida.

Coff! Oss! Uss! Coff!

Hajime mostrou um sorriso enquanto encarava o céu, a luz de seriedade nos olhos de Yue o forçaram a concordar.

Mais uma vez, ele tinha certeza, “Esta é minha Yue”.

Voltando para a animação de antes, o garoto colocou uma mão na bochecha da vampira antes de desliza-la até a cintura e abraça-la. Yue, sentindo que Hajime queria o mesmo que ela, fechou seus olhos e ergueu seus lábios na direção dele.

Suas bochechas rosadas eram irresistivelmente fofas, e sua língua vibrante, visível entre seus lábios abertos e sedutores, era muito fascinante. Não havia mais necessidade de palavras enquanto os dois se aproximavam, cada um querendo os lábios do outro. Eles continuaram a se aproximar. Dez centímetros… cinco centímetros… e quando a distância chegou a zero…

— Ugottsukeetsuehengohotsugahatsutsutobuetsukushoitsu!!!!

— Aah?

— Nn?

Os dois foram interrompidos por um som estranho que era um pouco familiar. Desta vez, o som não identificado se aproximou o bastante para eles poderem entendê-lo.

Yue e Hajime trocaram olhares, então viraram suas cabeças na direção do som. Então eles viram…

— Uuu, choraminga, que seja… posso ver que não sou desejada… mesmo tendo dado o meu melhor para voltar… e então essa atmosfera súbita… tentei atrair a atenção ao limpar minha garganta, mas… uuuu, soluça… a realidade é sempre tão cruel… uuuuuu.

Eles foram cumprimentados com a cena lamentável de Shia, lutando para segurar suas lágrimas com suas orelhas de coelho caídas. As gotas de umidade escoando pelos cantos de seus olhos incitaram um pouco de pena.

Parecia que Shia acordou pouco depois de Yue, infelizmente, o casal estava preso demais em sua própria reunião para notar.

Hajime e Yue logo começaram a tranquilizar a absolutamente miserável Shia. O Sinergista se aproximou dela e a abraçou com força, e após um tempo, o usual espírito da coelha começou a voltar. Logo, ambas as suas orelhas e bochechas estavam se contorcendo em deleite, enquanto seu rabo de coelho se sacudia feliz.

— Un, como imaginei, Shia tem que ter orelhas de coelho. São as orelhas de coelho que a fazem ser quem ela é; ela não é Shia sem elas. Ou melhor, a existência de Shia é definida por suas orelhas de coelho.

— Não, não consigo entender isso! Orelhas de coelho não são tudo o que eu sou… mas você parece muito feliz em vê-las Hajime-san. Alguma coisa aconteceu em seu sonho?

— Aaaaah, eu pareço? A Shia no meu sonho não tinha orelhas de coelho, ela era apenas uma garota comum.

— … isso ainda poderia ser chamado de Shia?

— Hmm, Yue-san? É verdade que minhas orelhas de coelho são parte de minha identidade, mas eu ainda seria Shia sem elas, entendeu?

Shia estava começando a sentir uma leve sensação de desconforto com as reações dos dois.

“Talvez eles só sejam gentis comigo porque gostam de minhas orelhas de coelho?”

Hajime e Yue começaram a tranquilizar a garota-coelho assim que viram a expressão preocupada dela e logo mudaram o assunto ao perguntar o que ela viu em seu sonho.

Parecia que ela sonhou com um mundo onde a tribo Haulia não foi exilada e caçada, e ela pôde viver com alegria junta de Yue e Hajime.

A vampira explicou o dela mais uma vez. Parecia que em seu sonho, ela nunca foi traída e sua antiga nação não entrou em colapso. Ela recebeu Hajime como seu noivo e eles começaram uma família juntos.

— Quanto a mim, meu mundo era um onde eu vivia uma vida feliz com Yue, Shia e as outras sem nunca ter sido invocado para este mundo. Ele basicamente reescreveu o grande sofrimento que enfrentei no passado, mas incluiu a felicidade de agora.

— Entendo… esse com certeza seria um mundo ideal em certo sentido.

— … como Shia escapou?

Shia explicou como escapou de seu mundo de sonho com um grande sorriso e uma gargalhada.

— Foi obviamente porque eu não poderia negar meu eu real, mesmo se quisesse fazer isso.

— … entendo.

Yue concordou com um olhar convencido enquanto Hajime assentia com um olhar gentil em seu rosto.

Em seu sonho, Shia deve ter permanecido fraca como era no passado, mas ela foi incapaz de aceitar isso.

— No sonho, conheci Hajime-san e as outras antes de minha família ser atacada. Nós estávamos vivendo todos juntos e eu estava feliz por ser apenas protegida. Mas algo parecia errado! Era como se meu coração estivesse gritando comigo: “Não tem como você ficar ao lado deles com um modo de vida que abraça a fraqueza”. O Hajime-san que estava me dizendo que iria me proteger e a Yue-san que estava me dizendo para não me preocupar… eram com certeza doces e gentis, até amáveis, mas quanto mais eles me diziam isso, mais meu desconforto aumentava… no momento que notei, já tinha decidido lutar ao lado de Hajime-san e as outras.

— Então foi assim que você voltou…

— Sim! Foi porque ao invés de observar suas costas, eu queria estar ao lado de vocês dois, agora e no futuro. Mesmo que isso acabasse se tornando um caminho repleto de dor e sofrimento.

Enquanto observava Shia sorrindo alegremente, Hajime ficou perdido em pensamentos. Ela ficou mesmo mais forte. Quando eles se conheceram… ele tentou se livrar dela o máximo que pôde… agora não era mais possível para o garoto rejeita-la, tudo graças ao amor dela por Hajime e seu forte desejo de ser uma igual no grupo deles.

Um sentimento de afeição por Shia, diferente do que ele sentia por Yue, surgiu dentro de Hajime. Ele a puxou para seu peito e começou a acariciar sua cabeça gentilmente.

De pé a seu lado, Yue conseguiu entender os sentimentos do garoto pelo rosto afetuoso que ele mostrava.

— Fue, umm, Hajime-san?

— Hmm, como posso dizer isso? Bem-vinda de volta Shia. Você se saiu bem.

— Ah… sim, estou de volta…

“O lugar ao qual você pertence é ao meu lado”, era o que Shia sentiu que Hajime quis dizer quando ela o ouviu dizer “Bem-vinda de volta”. Por um tempo, enquanto se sentia um pouco tonta e constrangida, ela logo mostrou o sorriso mais contente em seu rosto e se abraçou com força no garoto.

Como de costume, Hajime tinha Yue sob seu braço direito e Shia abraçada em seu braço esquerdo enquanto todos discutiam seus sonhos, enquanto eles conversavam, uma das prisões de âmbar começou a liberar uma luz fraca. Mais uma vez, um de seus companheiros estava a ponto de escapar da prisão feita de doce tentação.

— Se não estou enganado, aquele âmbar é da…

Hajime, se lembrando de quem estava naquela prisão, murmurou de forma suave. Yue aumentou a intensidade de sua luz mágica, assim eles poderiam ver melhor a fuga. Assim que a luz brilhou com mais força…

— Mugaa! O desprezo do mestre não é tão sem convicção como aquele! Se você espera satisfazer a esta, é melhor treinar mais duro antes de tentar de novo!

— …

— …

— …

A pessoa balançando seu punho no ar e dizendo essas coisas logo após acordar era, logicamente, ninguém menos que Tio.

Capazes de imaginar o conteúdo do sonho da mulher apenas por essa declaração, todos dirigiram olhares silenciosos de desdém para ela. Hajime, que foi descrito de tal forma, estava com olhos que pareciam estar encarando um monte de lixo.

Sentindo o olhar dele, todos os músculos no corpo de Tio começaram a tremer. Assim, se virando com uma expressão excitada no rosto, ela foi recebida com os olhares frios dos outros três e começou a tremer ainda mais. Após um momento, ela começou a correr na direção de Hajime como um cachorro perdido reencontrando seu dono, uma expressão de êxtase em seu rosto.

— Mestreeee! Esta acabou de voltaaaar! Banhe esta com o seu amoooor!

Mesmo após se tornar um goblin, ela ainda era a mesma de sempre. Tio pulou na direção de Hajime.

Dopan!!

— Gafu!

O Sinergista silenciosamente sacou Donner e atirou em Tio no meio de seu pulo, a fazendo realizar um mortal triplo no ar antes de cair de cara no chão. Ele então pisou nas costas dela e a esmagou ainda mais contra o chão usando seus pés, a fazendo começar a fazer sons misturados com gritos e arquejos.

— Este dragão desprezível! Mas que diabos ela me fez fazer em seu sonho?

— É isto! Isto é o que esta sentiu falta! Mesmo esta dando o seu melhor para escapar daquele mundo falso, esta é recompensada ao receber um tiro e ser esmagada, com olhos que parecem ver esta como nada mais do que lixo! A mansidão daquela falsificação não é nada comparada a esta dor requintada! Isto é como o mestre desta, e apenas desta, faz! Mais! Machuque mais estaaaa!

— … só morra, sua pervertida.

— Abababababababah!

Hajime, incapaz de continuar escutando os gritos dela, surtou e invocou a “Capa do Relâmpago”. Tio, incapaz de suportar isso, arqueou suas costas antes de exaurir suas forças e cair de costas no chão enquanto soltava fumaça branca.

No entanto, apesar da provação, a expressão no rosto de Tio era a de um êxtase pervertido.

Ela parecia mesmo feliz, o que fez Hajime sentir ainda mais repulsa.

Logo após isso, Tio se reviveu sem qualquer traço de ter sofrido algum dano. Assim, apesar de ninguém perguntar e todos se recusarem a ouvir, ela zelosamente falou sem parar sobre quão inconveniente como mestre o Hajime de seu sonho era.

O mundo falso devia ser desenhado para mostrar ao indivíduo específico uma fantasia doce que o deixaria preso dentro de seus sonhos.

Assumindo que isso era verdade, Tio sendo capaz de escapar ao se sentir insatisfeita era uma história esquisita ao extremo. Apesar de ser algo desagradável, parecia que Tio conseguiu escapar porque o Grande Calabouço foi incapaz de estimar sua perversão. Ele conseguiu reconhecer que Hajime era o amado de Tio, e que ela gostava de opressão sexual, mas parecia que a magia não conseguiu entender como ela interpretava “punição” e “recompensa”.

Agora, o Grande Calabouço, cuja armadilha foi superada com facilidade e estava sendo criticado após ter dado o seu melhor para criar o mestre ideal de Tio, parecia um pouco lastimável.

Haltina nunca deve ter imaginado que este tipo de pervertida iria desafiar seu calabouço.

Em sua mente, Hajime prestou seu respeito a Haltina, enquanto imaginava ela se tornando poeira e desaparecendo.

Enquanto todos estavam ocupados com isto, outra das prisões de âmbar começou a brilhar. Parecia que a próxima a escapar seria Kaori.

Hajime e as garotas se aproximaram do lado do âmbar pouco antes de ela abrir seus olhos. A princípio, ela parecia estar ofegando um pouco, mas quando ela viu Hajime e as outras reunidos ao redor dela, a garota respirou fundo com alívio. Contudo, no momento que seus olhos se encontraram com os de Hajime, seu rosto ficou vermelho e ela recuou até suas costas atingirem a parede.

Hajime, que nunca foi evitado por Kaori, estava mais confuso do que surpreso. Ele voltou seu olhar para Yue e as outras como se perguntasse o que tinha acontecido. Kaori, notando a confusão do garoto, logo tentou resolver o mal-entendido.

— Ó! Não é nada disso Hajime-kun! Agora mesmo, isso foi, um pouco, como posso explicar… de qualquer forma, não é nada disso. Eu não estava te evitando…

— Ahhhhh. Não, isso não é um problema… acho que deve ter alguma relação com seu sonho… o que foi que você viu?

— Eh? Ah, o que… você pergunta? É que… … … awwaaah.

Kaori tentou responder à pergunta feita por Hajime, que sorria sem graça, mas não foi capaz de dar uma resposta coerente. Suas bochechas começaram a corar mais e mais até que ela cobrisse seu rosto com ambas as mãos e começasse a lamentar-se.

As garotas foram capazes de entender o cerne de seu sonho com essa reação e mostraram respostas diferentes. Tio estava rindo: — Hohouuuu. —, enquanto sorria como se estivesse vendo algo extremamente interessante. Shia estava murmurando: — … Kaori-san, uh! —, enquanto corava e desviava seus olhos. E quanto a Yue… ela atacou com palavras afiadas enquanto a olhava com olhos de desdém.

— … Kaori, sua pervertida dissimulada.

Kaori tremeu e tentou inventar desculpas para seu rosto ainda muito vermelho.

— Eu… eu não sou uma pervertida dissimulada! Não-não diga essas coisas estranhas!

— … então, nos conte que tipo de sonho você teve.

— É-é que… foi-foi… apenas uma rotina repetitiva.

— … quer dizer que você atacou Hajime diariamente…

— Eu… eu não ataquei! Eu só fiz um pouco de pressão nele… depois disso, o próprio Hajime-kun… waaah!

— … Kaori está proibida de se aproximar de Hajime. Ela é perigosa demais.

— Eu-eu não sou perigosa! Hajime-kun, ela está errada, entendeu? Eu não atacaria Hajime-kun, você ouviu?

— Haa… sim, sim… eu entendi.

— Uuuuuuuu.

Parecia que todos os tipos de coisa aconteceram com Hajime enquanto Kaori estava em seu sonho. Apesar de ela conseguir se livrar da tentação e voltar… parecia que ela se deixou levar na agridoce primavera de sua juventude antes de voltar.

Kaori continuou corando e lançando olhares para Hajime. Parecia que esta reação inocente agitou a sádica em Yue, que começou a tentar estimular a outra ainda mais ao sussurrar algo em seu ouvido.

A Curandeira cobriu seus ouvidos e começou a sacudir sua cabeça, tentando escapar dos sussurros atormentadores da vampira. Era como ver um rato patético sendo atormentado por um gato brincalhão.

— Hmm, de qualquer modo, com isto, todas estão de volta.

Shia liberou a tensão de seus ombros assim que ouviu as palavras de Hajime, então ela voltou seu olhar na direção de Kouki e seu grupo.

— Tem razão. Então, o que fazemos sobre eles?

— Vejamos… se for preciso, podemos apenas destruir o âmbar, mas por enquanto, vamos esperar que eles escapem por conta própria. Se interferirmos, isso provavelmente tornará sem sentido seus esforços de desafiar o Grande Calabouço.

— Quanto tempo vamos esperar?

— Hmm… talvez tempo o bastante para nós comermos e descansarmos um pouco? No meu caso, eu surtei e destruí meu sonho com força bruta. Eu devo ter completado o desafio de forma satisfatória… mas só tenho cerca de 10% de minha magia restando, assim, gostaria de descansar e me recuperar um pouco.

— … mas que diabos você estava pensando?

Shia estava dirigindo um olhar de espanto para Hajime enquanto ela falava. Seus papéis usuais foram invertidos e o garoto estava com uma expressão bastante angustiada.

— Acredite em mim, estou refletindo em minhas ações. Acho que estive excepcionalmente perturbado desde que entramos neste Calabouço.

— Ahhhhh! Deve ser porque o Calabouço usou Yue-san…

— Talvez, mas não posso usar isso como desculpa, quer dizer, em certo sentido, isso prova que essa é mesmo uma de minhas fraquezas. Vai ser difícil, mas vou tentar usar esta oportunidade para superar isso.

Shia dirigiu um olhar de admiração para Hajime, que estava mostrando essa atitude admirável. Então, após lançar um olhar de canto de olho para Yue, que ainda estava ocupada provocando Kaori, e Tio, que estava ouvindo e respirando com dificuldade, Shia se inclinou e sussurrou para Hajime.

— Hmm, Hajime-san…

— Nn?

— Umm, é que… se o que aconteceu com Yue-san acontecesse comigo… você também ficaria assim tão furioso?

Shia estava desviando seu olhar, mas suas orelhas de coelho estavam focadas na direção do garoto. Ela queria saber se o Sinergista ficaria nervoso por ela, mesmo que não chegasse ao mesmo ponto do caso de Yue.

A princípio, Hajime iriaa fugir dela como de costume, mas quando ele viu a garota-coelho o espiando com olhos hesitantes, ele coçou sua bochecha e decidiu responder ela com honestidade desta vez.

— A razão que eu destruí o sonho não foi apenas por Yue. Você também estava lá, mas eu… não poderia ficar feliz sem a Shia que conheço.

— Ah… ehehe, é mesmo?

Shia estava balançando suas orelhas e rabo de coelho contente enquanto mostrava um sorriso encantado em seu rosto. Vendo a expressão feliz dela, a mão de Hajime se esticou de forma natural para senti-las.

Em seguida, Kaori, incapaz de suportar as provocações de Yue, se agarrou ao garoto em lágrimas. Shia, que ainda estava com um humor excessivamente bom, começou a tranquilizar Kaori enquanto Yue estufava seu peito com satisfação. Tio… bom, vamos deixar ela de lado.

Eles decidiram comer uma refeição enquanto esperavam por Kouki e os outros, mas mesmo após três horas, não havia sinais deles escapando.

— Pode ser melhor salvá-los…

— … nn, tem razão.

— Parece que sim… vamos ficar aqui por muito tempo se continuarmos esperando que eles saiam por conta própria.

Ambas Yue e Shia expressaram sua concordância, pensando que não havia outra escolha. Contudo, Kaori logo interviu.

— Não estaria tudo bem esperar mais um pouco? Só mais um pouco? Se for Shizuku-chan e os outros, então eles com certeza podem…

Como a própria Kaori entendia o desespero de Shizuku e seus colegas melhor do que ninguém, de uma forma ou de outra, ela queria que eles capturassem o calabouço e recebessem a Magia da Era dos Deuses. A taxa de sobrevivência de uma pessoa dispararia com apenas uma das Magias da Era dos Deuses. Kaori queria que eles ficassem mais fortes, assim, eles também poderiam voltar com segurança para o Japão.

A razão para Hajime permitir que eles o acompanhassem dentro do calabouço era para que ele pudesse os usar como soldados rasos para o caso em que apóstolos como Nointo aparecessem de novo. Para impulsionar este plano, ele torcia para que seus colegas conseguissem obter a Magia da Era dos Deuses aqui e então seguirem para completar os outros Grandes Calabouços por conta própria.

Por esse motivo, quando ele viu os olhos suplicantes de Kaori, ele encolheu seus ombros e decidiu esperar um pouco mais. A Curandeira sorriu contente quando viu que o Sinergista concordou e começou a tentar se aproximar dele de modo casual, contudo, ela foi bloqueada na mesma hora (da mesma forma casual) por Yue.

Enquanto isso acontecia, uma das prisões começou a brilhar.

— Aquele âmbar é da… Shizuku-chan!

— Hã, como esperado, a mais rápida foi Yaegashi.

— Fumu. Shizuku é mesmo sensata.

Ao ver o âmbar derretendo, Kaori correu a toda velocidade. Em seguida, Shizuku abruptamente abriu seus olhos e começou a gemer com uma voz suave enquanto tentava se levantar. A Curandeira chegou ao lado dela e a ajudou enquanto a Espadachim se levantava sem força dos restos de sua prisão.

— Onde eu estou? Kaori?

— Un, sou eu Shizuku-chan. Bem-vinda de volta!

— Entendo, eu voltei, hã. Fuu, por algum motivo, estou me sentindo muito cansada…

Shizuku suspirou profundamente como se ela estivesse mesmo se sentindo cansada antes de sacudir sua cabeça para se livrar de algum pensamento persistente. Ela então sorriu para Kaori e devolveu seu cumprimento com um caloroso: — Estou de volta.

Após as duas amigas terminarem sua reunião feliz, Hajime e as outras se aproximaram.

— Você dormiu demais, mas é bom que tenha conseguido superar o desafio.

— Hah? Ah, Na-Nagumo-kun… vo-você tem razão. É bom estar de volta.

Por alguma razão, no momento que Hajime a chamou, o olhar de Shizuku começou a vagar sem destino e ela começou a gaguejar.

Ao ver o comportamento estranho da garota, Yue e as outras ficaram confusas. Shizuku limpou sua garganta como se estivesse disfarçando sua agitação e desviou seu rosto para esconder suas bochechas um pouco vermelhas.

— … parece que Kouki e os outros estão demorando, hã?

— Un, nós escapamos há várias horas, mas desde então, Shizuku-chan é a primeira a escapar.

— É mesmo? Acho que eles se depararam com um desafio bem perturbador. Bem, não há o que fazer. Mesmo dizendo isso, parece que eu fiz vocês esperarem por bastante tempo. Acho que devo me desculpar.

— Não se preocupe com isso Shizuku-san. Parabéns por escapar… e… gostaria de te fazer uma pequena pergunta, mas…

— Obrigada Shia. Está tudo bem, o que poderia ser?

Shizuku respondeu a Shia com um sorriso que usando toda a sua reserva de compostura. Ela tinha um mau pressentimento sobre a pergunta da garota-coelho.

No entanto, parecia que aquela que iria fazer a pergunta não seria Shia, mas sim Yue, que tinha chegado ao lado da Espadachim sem que ninguém percebesse.

— …

— O qu-que foi?

— …

— Umm, me olhar em silêncio faz eu me sentir desconfortável… Yue?

Por algum motivo, Yue estava encarando os olhos de Shizuku do lado dela. A aluna estava desesperadamente tentando suprimir o sentimento de desconforto que o rosto requintado, parecido com uma boneca e sem expressão de Yue estava causando dentro dela.

Por fim, a vampira fez uma pergunta com um tom que sugeria que ela estava confirmando algo que já sabia.

— … Shizuku… que tipo de sonho foi esse?

— Eh? Você quer saber o tipo? Foi um sonho comum. Não houve nada de incomum. Sim, foi mesmo um sonho simples e sem graça.

— … comum? Quem estava nele?

— Quem? Todo mundo. Todos estavam lá.

— … entendi.

Shizuku respondeu com firmeza enquanto olhava nos olhos de Yue, como se estivesse mostrando que não estava nem um pouco perturbada. Apesar de esta ser sua intenção, ela não percebeu que suas respostas extremamente abstratas entregaram a situação de seu coração.

É claro que Yue notou isso, assim como as outras. Contudo, Shizuku estava liberando uma aura tão forte implicando que não queria falar sobre isso que elas decidiram deixar o assunto de lado por ora.

Quando Yue e as outras se afastaram, Shizuku pareceu aliviada.

Com a inquisição terminada, elas guiaram a cansada Espadachim para o centro da sala e começaram a preparar chá. Enquanto ela era levada para se juntar ao chá improvisado, a aluna não pôde evitar de murmurar para si mesma.

— … eu sendo uma princesa é impossível… e mais importante, por que o príncipe não foi Kouki ou Ryutaro? Murmúrio

Porém, não havia ninguém perto o bastante para ouvi-la.

Várias horas mais tarde, Shizuku terminou de descansar e se recuperou por completo de sua fadiga mental. Decidindo que eles não podiam mais esperar, o grupo agora se preparava para forçar a fuga de Kouki, Ryutaro e Suzu.

Hajime ou Yue poderiam facilmente destruir o âmbar, mas em seu grupo, havia alguém que tinha uma habilidade muito mais adequada para o serviço.

— Muito bem Kaori, é com você. Tente não “decompor” o corpo deles.

— Un, está tudo bem. Fora de uma batalha real, não há mais necessidade para se preocupar com o controle.

Após dar sua resposta para Hajime, Kaori colocou sua mão na prisão mais próxima de forma abrupta e começou a liberar sua magia para permeá-la. Raios mágicos pálidos e prateados coloriram a sala com um brilho parecido com o luar, enquanto a magia da Curandeira delicadamente se espalhava de modo uniforme nas prisões de âmbar restantes.

— “Decompor”.

Não havia necessidade de encantamento, mas como isso ajudava a focar a imagem em sua mente, ela o recitou de propósito. Na sequência, o âmbar cercando Kouki e os outros começou a desmoronar. Era como se ele estivesse mais apodrecendo do que derretendo, as partículas se tornaram pequenas para os olhos verem assim que elas começaram a desaparecer no ar.

Dentro de três minutos, todo o âmbar foi decomposto por completo e desapareceu. Preocupadas com os efeitos de serem liberados à força de seus desafios, Shizuku e Kaori começaram a checar as condições de Kouki e os outros com ansiedade.

No entanto, parecia que esse era um temor desnecessário.

— … hã? Quê!? Kaori? Shizuku? Isto é… ? Mas eu estava… com vocês duas…

— Nn, ah? Que lugar é este? Pensei que eu estava…

— Eh? De jeito nenhum… Eri estava… Eri…

Os três acordaram de repente, como se nunca tivessem dormido.

Como eles despertaram de modo súbito de seus sonhos agradáveis para se verem em uma caverna pouco iluminada, parecia que seus sentidos foram jogados na confusão. Suzu estava especialmente desesperada, esticando sua mão para o espaço vazio. Era óbvio por suas palavras quem ela estava buscando. Pensando sobre que tipo de sonho ela deve ter tido, era compreensível o motivo para ela não ser capaz de despertar sozinha.

Ambas Kaori e Shizuku mostraram expressões simpáticas quando viram o estado triste da colega. Não era de se surpreender que a severa traição deixou feridas profundas. Embora ela sempre risse e sorrisse, mesmo agora, essa ferida devia estar sangrando embaixo da superfície.

O trio lentamente ficou em silêncio assim que eles começaram a perceber que o que eles estavam vendo era apenas um sonho. Entretanto, todos lidaram de forma diferente com o entendimento. Ryutaro, mesmo ainda transmitindo um sentimento de decepção, coçou sua cabeça com uma expressão envergonhada enquanto dizia: — Acho que não há o que fazer. — Kouki apenas mordeu seus lábios com uma cara irritada. Enquanto Suzu logo forçou um sorriso em seu rosto em uma tentativa de enganar os outros.

Como elas não podiam vê-la assim, Kaori e Shizuku imediatamente a puxaram para um abraço apertado.

Assim que Hajime estava a ponto de chama-los, um círculo mágico apareceu no centro da sala.

Parecia que quando todos escapavam do âmbar, eles eram enviados à força para o próximo estágio. Excluindo Ryutaro, Kouki e Suzu ainda estavam instáveis. Hajime preferiria os deixar se recuperarem primeiro, porém… parecia que isso não seria possível.

— Amanogawa, Taniguchi, agora não é hora de vocês ficarem perdidos em seus pensamentos, se preparem. Se não, todos os seus sonhos vão mesmo se desfazer.

— Hã… aah, eu sei.

— U-un. Certo!

No instante seguinte, a luz do círculo mágico irrompeu e preencheu a visão de Hajime e os outros.


Nota:

[1] O âmbar é uma resina fóssil muito usada para a manufatura de objetos ornamentais.


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