‘Então esse é o plano deles’, Noah pensou depois que as palavras de Van chegaram aos seus ouvidos.
Usar Noah como isca não era uma estratégia ruim em teoria. Ash e Van não sabiam da real natureza de seu relacionamento com o Demônio Divino. Então não se importaram em testá-lo nessa missão.
Mesmo que Noah os traísse no meio da missão, teriam uma ideia da posição do Demônio Divino. Isso já era bom para o plano deles. A guilda inteira poderia cercá-lo nesse ponto.
A guilda não perderia nada, mesmo que Noah fugisse sem procurar o Demônio Divino. O chefe Van só mudaria de tática naquele momento.
Ainda assim, não suspeitavam do pior cenário. Noah não era um simples cultivador que aprendeu lendas sobre o Demônio Divino durante sua estadia no plano inferior. Ele era seu herdeiro, e deixá-lo sozinho com o especialista poderia levar a resultados inesperados.
Noah não respondeu. Ele não precisou responder à Van para expressar sua decisão de ser a isca. A situação o beneficiou, e não poderia escapar dessas ordens de qualquer maneira.
“Você vai lidar com o resto?” perguntou Noah.
“Concentre-se em atraí-lo”, disse Chefe Van depois de bufar. “Ele não pode derrotar toda a minha guilda se lutar em campo aberto.”
Noah pensou sobre a Técnica de Cópia* e se perguntou se o Demônio Divino conseguiu melhorá-la durante sua estadia nas Terras Imortais. No entanto, rapidamente se concentrou em sua missão e voou para a próxima região.
Os olhares de Van e do resto da guilda pousaram nas costas de Noah quando ele partiu do terreno azul e voou em direção à próxima região. Sua partida marcou o início da missão, e uma aura tensa encheu o ambiente quando aqueles especialistas começaram a sentir a pressão da batalha iminente.
Era incomum que cultivadores mais fracos lutassem contra os mais fortes. O oponente da guilda era um especialista no estágio sólido, e apenas o Chefe Van igualava esse poder.
Ash e os outros poderiam se juntar à batalha de frente. Os subordinados de Van usavam dispositivos de camuflagem para se esconder entre as altas plantas mágicas que enchiam essas regiões e se preparavam para a chegada de seu oponente.
Em vez disso, Chefe Van permaneceu em aberto. Ficou no meio do céu com sua consciência desdobrada. Nada escapou de suas ondas mentais. Ele podia sentir cada criatura na floresta que enchia aquelas regiões.
Noah estudou o ambiente enquanto voava sobre aquelas terras. Uma imensa floresta se expandia em sua visão, e algumas montanhas atrapalhavam aquele cenário verde. Essas árvores também escondiam algumas rachaduras profundas que ligavam a superfície a um mundo subterrâneo desconhecido.
‘Demônio Divino não parece do tipo que se esconde no subsolo,’ Noah pensou enquanto seus instintos guiavam seus movimentos, ‘Mas eu não consigo sentir nada daqui de cima.’
Noah estudou a floresta, voou ao redor das montanhas e inspecionou os covis que irradiavam uma aura poderosa, mas não encontrou o Demônio Divino. Isso o deixou com o mundo subterrâneo, que não hesitou em explorar.
Noah mergulhou dentro de uma das maiores fendas e encontrou algo estranho assim que atingiu uma certa profundidade. Ele não sentiu nada a partir daquele momento. O chão nem sequer irradiava sua aura habitual.
Algo estava cobrindo a área. Assemelhava-se a uma barreira destinada a esconder qualquer aura ou impedir que se espalhasse pelo ambiente. Noah não conseguiu identificar sua verdadeira natureza, mas seus instintos confirmaram que era inofensivo, então continuou sua descida.
Seus pés finalmente alcançaram uma membrana invisível. Aquele leve toque criou ondas através da barreira que mostrou a Noah até onde essa proteção se estendia. Cobria toda a fenda e a maior parte de suas paredes, mas não impedia que ninguém a atravessasse.
Noah poderia entrar diretamente se desejasse, mas preferiu testar outra coisa primeiro. Sua consciência se expandiu para garantir que as ondas mentais do chefe Van não pudessem chegar àquele lugar, e uma voz suave saiu de sua boca depois que confirmou esse detalhe.
“Sou o Demônio Desafiador, herdeiro da herança do Demônio Divino e líder das Seitas Demoníacas”, disse Noah. “Solicito um encontro com o Demônio Divino.”
Suas palavras se dispersaram pela fresta, mas nada aconteceu do outro lado da barreira. Noah só podia suspirar e atravessar aquela membrana, esperando que o Demônio Divino não construísse nenhuma defesa que pudesse enganar seus sentidos.
A membrana não carregava nenhuma aura peculiar. Não mostrava nada que pudesse revelar detalhes sobre a individualidade do Demônio Divino, e Noah nem se preocupou em inspecioná-lo depois de descobrir esse recurso.
Assim que cruzou a barreira, Noah pôde sentir as auras vindas daquela aura subterrânea. Imediatamente sentiu a presença de algumas feras mágicas junto com uma emoção intensa que preencheu todos os materiais da área.
A fenda terminava em um vale que se dividia em muitos túneis. Um vasto mundo subterrâneo parecia se desdobrar daquele local, e Noah até adivinhou que alguns desses caminhos levariam às outras fissuras. Ainda assim, seu foco principal permaneceu naquela emoção peculiar.
‘É Intensão de Batalha?’ Noah se perguntou enquanto respirava o ar cheio dessa emoção.
Estar com June por séculos inteiros ensinou a Noah os diferentes tons que uma intenção de batalha poderia tomar. June irradiava felicidade violenta quando lutava, enquanto Noah vazava agressividade fria nessas situações.
Em vez disso, a intenção de batalha que enchia o vale parecia gananciosa. Desejava algo que Noah não podia adivinhar sem nenhuma pista. Nem era violento, mas parecia prestes a explodir.
As feras mágicas sentidas durante a descida estavam dentro dos túneis. Esses caminhos eram bastante profundos, então Noah não conseguia entender onde exatamente essas criaturas estavam. O mesmo foi para o Demônio Divino. Noah não conseguiu encontrá-lo de sua posição no vale.
Ele precisava entrar nos túneis e explorar aquele mundo subterrâneo para encontrar seu alvo, e sua consciência superior o ajudou na tarefa. Noah só precisava andar na frente de cada entrada e listar em sua mente aquelas que faziam seus instintos gritarem mais alto.
Se o Demônio Divino ocupasse a área, ele seria o ser mais forte de todo o mundo subterrâneo. Aquele especialista era apenas um humano, então era improvável que tivesse aprendido a viver em paz com aquelas feras mágicas. Era mais provável que as tivesse dominado.
Noah ativou seu manto e entrou no túnel que escondia os maiores perigos. Sua matéria escura também se espalhou sob seus tecidos para preparar uma primeira camada defensiva no caso de alguma armadilha rápida ser ativada.
A exploração transcorreu sem problemas até que o túnel se abriu em um grande salão subterrâneo que se dividiu em ainda mais cavernas. Noah podia contar mais de dezesseis caminhos a partir de sua posição, mas sua atenção logo se voltou para uma figura colocada em uma das entradas acima dele.
A figura pertencia a um homem de meia-idade com longos cabelos brancos. Uma aura densa cercava seu corpo, e seus olhos vermelhos iluminavam a garrafa que ele levava à boca.
Noah tinha visto uma figura semelhante no passado. Ele estava no fundo de uma herança escondida sob o Grande Redemoinho perto do Arquipélago de Coral. Ele poderia reconhecer instantaneamente o Demônio Divino quando o viu.
“Nós finalmente nos encontramos”, disse Noah enquanto fazia uma reverência.
Ele sentiu pura gratidão pelo Demônio Divino. Seu gesto expressou quão profundamente a herança do especialista e seus discípulos melhoraram a vida de Noah.
“Eu estou pensando,” Divino Demônio disse sem virar seus mortos. “Eu não falo quando estou pensando. Fale com os dragões.”
“Dragões?” Noah perguntou antes de uma série de cabeças dracônicas saíram dos vários túneis conectados àquele grande salão.
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