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Circle of Inevitability – Capítulo 311

Garoto Estranho

“Lenburg? O filho ilegítimo ou afilhado do Barão Brignais é de Lenburg?” Lumian ficou intrigado, sua mente correndo com palpites brincalhões.

“O Barão Brignais dá grande valor à educação, confiando seu filho mais amado ao território do Deus do Conhecimento e da Sabedoria para que aprenda…”

Lumian estudou o jovem rapaz diante dele e perguntou em um tom descontraído, — Você não deveria estar estudando em Lenburg na sua idade? A educação lá está muito à frente do que Trier oferece.

O rosto do garoto se iluminou com uma expressão estranhamente animada. — Nah, não estou a fim da rotina diária da escola, de ficar acordado até tarde fazendo lição de casa e de enfrentar provas todo mês!

“Parece um pouco assustador…” Um arrepio percorreu a espinha de Lumian ao pensar em uma vida assim.

No mínimo, isso não lhe pareceu bem.

Concordando com um aceno de cabeça, Lumian perguntou casualmente: — Ratos vivos são saborosos?

O garoto recuperou a compostura. — Não é exatamente gourmet, mas não posso ser exigente quando a fome me atormenta. Esperar até o meio-dia para invadir a cozinha não resolve. A verdadeira felicidade é saborear uma refeição preparada por um grande chef. E algumas leves pontadas de fome acrescentam um certo… toque.

Depois de explicar, ele deve ter achado que estava parecendo muito maduro e rapidamente recalibrou.

— Não me culpe se sua cozinha estiver arrastando os pés até o meio-dia! Bem, esse não é o ponto, não é? 

“Quando eu estava vagando por aí sem um lugar apropriado para ficar, eu com certeza não tinha a mínima ideia de mastigar ratos vivos. O grande problema, claro, era que eu não conseguia nem pegar essas coisas irritantes. E se por algum milagre eu conseguisse, então eu tinha que descobrir como fazer uma fogueira, esfolá-los e assá-los. Mas esse garoto aqui? Ele está aqui pegando ratos, usando nada além das próprias mãos. Sua força ou talvez apenas sua boa sorte não é nada ruim, eu admito. Não falta nem uma hora para o meio-dia, e ele está agindo como se tivesse uma fome insaciável?” Quanto mais Lumian olhava para ele, mais se convencia de que havia algo peculiar naquele rapazinho.

Divertido, ele perguntou: — Brignais não se preocupou em alimentá-lo, então? Precisa que eu o acompanhe até a delegacia de polícia para que você possa registrar uma queixa sobre o abuso infantil dele?

— Bem, além de me importunar sobre meus estudos, ele é legal. Ele garante que eu tenha uma refeição adequada a cada duas horas. Além disso, ele prepara bolos, biscoitos, carne assada e tortas para aquelas dores de fome da meia-noite. — Uma sutil lambida nos lábios revelou o desejo do garoto.

“Você é um porco?” Lumian nunca comeu tanto enquanto estava na puberdade.

E, ainda assim, o rapaz não parecia acima do peso, apenas tinha uma constituição sólida.

Num piscar de olhos, o olhar do garoto mudou enquanto ele falava em rápida sucessão: — Talvez estudar exija muita energia. Preciso de todo esse sustento para manter meu cérebro funcionando a todo vapor.

“Não há nenhum ditado sobre como ‘tentar explicar é apenas um disfarce’ na educação de Lenburg? Sua justificativa elaborada me faz pensar se seu apetite é problemático… Toda essa comilança não fez de você um gênio, fez?” Lumian sorriu e brincou: — Se Brignais não estava intencionalmente te deixando passar fome, por que recorrer a ratos crus e bife?

Em tom frustrado, o garoto respondeu: — Consegui escapar sem café da manhã ou merenda da manhã hoje!

“E ainda assim, você está tão faminto que está engolindo ratos crus? Se você passar fome por mais meio dia ou mais, vai começar a olhar para os pedestres na rua?” Com ​​um movimento fluido, Lumian tirou um frasco militar cinza-ferro do bolso da camisa.

Sua mão esquerda deslizou para dentro do bolso da calça, desatarraxando habilmente a tampa do frasco antes de guardá-lo.

Lumian levantou o frasco de metal cinza-ferro, respirando a fragrância com um sorriso satisfeito. Ele perguntou, sua voz leve, — Quer um gole?

Gulp! O pomo de Adão1 do garoto balançou enquanto ele engolia sua saliva.

Lutando, ele respondeu: — Ainda não sou maior de idade. Sou apenas uma criança!

“Ele já provou antes e gostou…” Lumian deu seu veredito e engoliu um gole da bebida.

Mantendo o frasco militar nos lábios, ele falou em um tom casual, com uma pergunta pairando no ar: — Em qual divindade você acredita?

— Por que você está perguntando? — o garoto perguntou cautelosamente.

Vendo a falta de alarme, Lumian deu um suspiro de alívio. Ele inclinou o frasco novamente, o líquido borbulhando.

Ele abaixou o frasco militar, sua expressão brilhante enquanto falava com clareza: — Como um seguidor devoto do Deus do Vapor e da Maquinaria, tenho que verificar a fé daqueles com origens incertas.

— Pelo vapor!

Desta vez, Lumian falou sem o véu do álcool.

Inconscientemente, o menino balançou a cabeça.

— Palavras não significam muito. Apenas dizer que acredito em qualquer divindade não torna isso verdade.

Lumian estudou a reação do garoto. — É verdade que pessoas das Igrejas ortodoxas podem às vezes alegar crença em qualquer divindade sem muita sinceridade, mas elas são inofensivas. Estou mais preocupado com adoradores de deuses malignos. Eles são fervorosos e imprevisíveis. Eles não vão fingir para enganar os outros, acreditando que isso é contra sua fé e blasfêmia.

Instintivamente, o garoto retrucou: — Nem sempre. Alguns seguidores de deuses malignos se passarão por adeptos dos deuses ortodoxos para promover suas missões sagradas. Eles podem rezar, participar de rituais, participar da missa e louvar os nomes de outros deuses sem pensar duas vezes… contanto que se arrependam em seu deus depois, eles acham que não há problema…

Naquele momento, o jovem rapaz parou abruptamente. Ele trocou olhares com Lumian e caiu em um silêncio prolongado.

Depois de um tempo, ele deu uma mordida em seu bife cru e se apresentou: — Eu sou um crente no Deus do Conhecimento e da Sabedoria. Os fiéis devotos em nossa Igreja têm esse jeito peculiar de apontar deslizes no discurso da outra parte, assim como antes. Sim, assim como antes!

Lumian fixou um olhar penetrante no rapaz por alguns instantes antes de perguntar: — Quais seriam as orações habituais na Igreja do Deus do Conhecimento e da Sabedoria?

Rápido como um relâmpago, o garoto respondeu: — Como eu estava dizendo antes, pessoas que acreditam nesses deuses malignos podem murmurar o nome honroso de um deus ortodoxo com o coração pesado e recitar essas orações. Você não pode descobrir corretamente o que se passa na mente dos outros a menos que seja um membro certificado da Igreja do Eterno Sol Ardente…

Com isso, o rapaz se calou mais uma vez, seu olhar fixo e vago em Lumian.

Após uma breve pausa, ele estendeu sua mão direita vazia e a pressionou contra sua testa. — Que a sabedoria esteja com você!

“Um sujeito tão tolo não deveria ser um espião enviado por um deus maligno… Pela sua inteligência, ele é realmente uma criança…” Lumian lutou para manter a compostura, precisando respirar fundo e disfarçadamente para recuperar o controle sobre os músculos faciais.

— De fato, — ele concordou, seus lábios se curvando em um sorriso. Espelhando a ação do garoto, ele roçou a cabeça com a base do frasco militar cinza-ferro e proferiu com significância, — Que a sabedoria esteja com você!

Sem dar ao garoto a chance de responder, Lumian adotou um tom sedutor. — Você se importaria em se juntar a mim na cafeteria no segundo andar? Eu lhe darei uma refeição decente. Os chefs aqui são bem notáveis.

O garoto engoliu em seco visivelmente. — Você não vai se voltar contra mim, vai?

— Você pode me seguir o tempo todo. Dessa forma, eu nunca terei a chance de te enganar. — Lumian iniciou um pequeno teste, testando se o cérebro do outro cara combinava com sua aparência e idade, ou talvez eles estivessem atrasados. — E veja bem, nós apenas proibimos a Igreja do Deus do Conhecimento e da Sabedoria de pregar em Intis ou de construir uma catedral. Nós deixamos seus fiéis cruzarem a fronteira. Trier tem a Câmara de Comércio de Lenburg, sabe.

O menino refletiu por um momento e disse: — Tudo bem.

Lumian o avaliou, retirou a mão esquerda, selou o frasco de bebida e guardou o frasco cinza-ferro de volta em seu casaco marrom.

Então, ele pressionou a testa novamente. — Que a sabedoria esteja com você!

Com isso, Lumian virou e subiu as escadas.

O garoto ficou grudado nele, fechando educadamente a porta marrom-escura do porão atrás de si.

Ao ver Lumian se virar, o garoto explicou seriamente: — Se ficar aberta, a comida lá dentro vai estragar.

— É verdade. — Lumian desviou o olhar e subiu as escadas.

O garoto o seguiu de perto, com os olhos atentos a qualquer movimento estranho, qualquer sinal de traição.

Lumian o levou até a cozinha, depois subiu para a cafeteria no segundo andar e pediu uma refeição.

Rapidamente, a comida chegou à mesa: bife de vitela frito, enguia grelhada, perna de cordeiro assada, torta de frango, vinho tinto e creme.

Lumian se acomodou, observando o garoto devorando-o como se não tivesse fundo.

De vez em quando ele fazia um comentário,

— A vitela é bem crocante, mas a carne não é nada especial…

— O molho doce mascara o sabor de peixe da enguia, mas a torna gordurosa…

— A perna de cordeiro é assada no ponto certo, crocante por fora, macia por dentro. Os temperos estão um pouco errados, no entanto.

– …

“Só coma. Por que você é tão falador…” Lumian observou silenciosamente o garoto comer a mesa cheia de comida com uma expressão satisfeita.

Quinze minutos depois, o Barão Brignais entrou pela entrada do segundo andar, usando uma cartola com um anel de diamante brilhando.

O garoto se virou surpreso e olhou para Lumian.

Lumian sorriu e disse: — Você achou que eu era a única aqui que te conhecia?

O menino ficou surpreso e ficou em silêncio.

O Barão Brignais aproximou-se de Lumian e disse com evidente relaxamento: — Agradeço, Ciel.

— Acontece que o peguei escondido no porão, mastigando alguma coisa — Lumian respondeu, com uma voz calorosa e amigável.

O Barão Brignais lançou-lhe um olhar de soslaio antes de desviar sua atenção para o garoto. — Hora de voltar, Ludwig.

Ludwig, o jovem garoto, permaneceu em silêncio. Rapidamente, ele terminou os últimos restos de sua refeição e se levantou de seu assento.

— Ciel, te devo uma, — o Barão Brignais acenou para Lumian.

Sentado em frente, Lumian observou enquanto o Barão Brignais apertava a mão de Ludwig, sua partida iminente. Os lábios de Lumian se curvaram novamente antes de dizer: — Não se esqueça de pagar a conta.

O Barão Brignais demonstrou uma pitada de surpresa. Seus olhos piscaram, sugerindo uma incerteza momentânea em sua avaliação inicial.

Mas sem dizer uma palavra, sacou uma carteira cheia de notas e prontamente cobriu o custo da refeição de Ludwig.

Lumian manteve um silêncio contemplativo, observando a dupla desaparecer escada abaixo. Recostando-se na cadeira, ele murmurou suavemente, sua voz um mero sussurro, — Temiboros, onde exatamente está o golpe do destino que você mencionou?


Nota:

[1] o gogó.

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