A Cafeteria do Pequeno Corvo atendia a classe trabalhadora das ruas próximas, oferecendo opções de café da manhã e almoço a preços acessíveis. Mesmo em meio ao movimentado mercado noturno, os clientes podiam desfrutar de uma refeição saudável e satisfatória por apenas 1 verl d’or. Muitos indivíduos com rendas modestas, como atendentes de motel, faz-tudo de restaurantes e equipe de limpeza que ganhavam entre 60 e 80 verl d’or por mês, frequentavam a cafeteria sozinhos ou com suas famílias a cada duas semanas para se mimarem.
Quando Lumian finalmente chegou, a correria do café da manhã havia diminuído. A cafeteria tinha apenas um punhado de clientes, e a equipe parecia um tanto cansada, sem entusiasmo algum.
Depois de pedir uma xícara de café Macael, feito com grãos de café moídos, Lumian se acomodou no local designado, aguardando pacientemente a chegada de Hela.
Quando o relógio cuco de parede do café bateu a hora, uma mulher empurrou a porta e entrou.
Vestida com um intrigante vestido preto, ela emitia um charme enigmático, que lembrava o traje que se esperaria de uma viúva.
Ao avistar a mulher se aproximando, Lumian se endireitou e a examinou atentamente.
Sua pele possuía uma tez anormalmente pálida, como se ela tivesse sido protegida da luz solar por um longo período. Cabelos dourados claros caíam naturalmente sobre seus ombros, macios, mas sem brilho. Seus olhos pareciam absorver toda a luz disponível, tornando-os escuros e imunes a revelar sua verdadeira cor. Embora suas características faciais fossem bastante atraentes, não deixaram uma impressão distinta em Lumian. Era quase como se seu comportamento frio tivesse lançado uma sombra, impedindo-o de formar uma avaliação completa.
Seu comportamento frio não apenas criava distância; parecia emanar de dentro dela, fazendo com que a temperatura ambiente caísse ligeiramente.
Antes que Lumian pudesse discernir mais detalhes, a mulher sentou-se em frente a ele e perguntou em um tom frio: — Irmão da Trouxa?
Embora Lumian já tivesse imaginado que se tratava de Madame Hela, sua franqueza o pegou um pouco desprevenido.
Ele não esperava que ela aparecesse sem nenhuma tentativa de disfarce, aparentemente despreocupada com uma possível traição.
Lumian não usou o Rosto de Niese ou os Óculos do Espreitador de Mistérios, mas ele geralmente empregava disfarces básicos. Confiando em seu distinto cabelo preto-dourado e maquiagem simples, manteve divergência suficiente do Lumian Lee retratado nos cartazes de procurados.
“Talvez seja uma forma de disfarce que não consigo detectar…” Lumian ofereceu um sorriso educado e assentiu. — Madame Hela?
A madame assentiu levemente, reconhecendo sua identidade.
— Posso lhe oferecer algo para beber? — Lumian perguntou educadamente.
Hela não fez cerimônia.
— Um copo de absinto e uma dose tripla de expresso.
“Beber licor às 10 da manhã, uma combinação perfeita para meus hábitos… E ela ainda toma uma dose tripla de expresso… Ela teve uma noite sem dormir? Ou talvez uma noite de bebedeira, buscando absinto para limpar seus sentidos?” Lumian levantou a mão direita e estalou os dedos, sinalizando para o garçom.
Assim que o absinto verde-claro e o forte expresso chegaram à frente de Hela, Lumian examinou os arredores para garantir um ambiente seguro para a conversa.
Gulp… Hela bebeu metade do copo de absinto em um movimento rápido, seu rosto pálido gradualmente recuperando um pouco da cor.
Ela pousou o copo e girou um anel no dedo médio direito usando o polegar e o indicador esquerdos.
O anel possuía uma simplicidade elegante, um diamante negro com inúmeras facetas cravejado em uma base de prata pura.
Enquanto Hela girava o anel suavemente, Lumian sentiu uma mudança sutil no ambiente, como se a luz ambiente tivesse diminuído.
— Ninguém pode nos espionar agora. — A voz de Hela manteve seu comportamento frio.
“Impressionante… Essa maestria vai além das habilidades de Franca. Realmente condizente com um membro da Sociedade de Pesquisa de Babuínos de Cabelos Encaracolados que se aventurou mais longe pelos caminhos do divino…” Lumian manteve seu olhar nos olhos negros de Hela que possuíam uma intensidade de engolir luz. Ele prosseguiu com calma compostura.
— Fiz algumas novas descobertas recentemente.
Hela permaneceu em silêncio, com o olhar fixo em Lumian, aguardando novas revelações.
— Peguei Guillaume Bénet. — Lumian disse isso sem um ar de arrogância; era como um barman no Salle de Bal Brise mencionando a preparação de um novo coquetel.
A resposta de Hela foi um aceno de cabeça, demonstrando pouco interesse nos detalhes da captura de Guillaume Bénet.
Começando com Guillaume Bénet, Lumian relatou as transformações da Trouxa — Aurore — detalhando as peculiaridades que surgiram, incluindo a aparição do elfo parecido com um lagarto e o nome Roche Louise Sanson.
Para concluir, ele apresentou uma pilha de papéis.
— Este é o caderno que minha irmã escreveu três meses antes da disseminação da fé da Inevitabilidade em Cordu. Por favor, revise-o e verifique quaisquer irregularidades.
Ao longo da narrativa, Hela permaneceu uma ouvinte atenta. No entanto, suas flutuações emocionais e expressões faciais permaneceram limitadas. Somente quando Lumian mencionou a segunda aparição do elfo parecido com um lagarto e pronunciou o nome — Roche Louise Sanson, ela exibiu uma leve carranca.
Hela, que havia permanecido em silêncio, examinou rapidamente o caderno, com um ritmo quase sobrenatural, como se pudesse extrair insights místicos de suas páginas a cada virada, detectando qualquer anomalia.
Depois de um intervalo de cinco a seis minutos, ela extraiu uma página de seu caderno.
Ele continha o Feitiço de Invocação de Almas que Aurore havia documentado.
“Somente membros da Sociedade de Pesquisa de Babuínos de Cabelos Encaracolados e aqueles que compartilhavam experiências comuns detectariam o problema de relance…” Lumian se viu agitado por uma onda repentina de emoção.
Hela levantou o absinto mais uma vez, terminando o resto do líquido verde e sonhador em um único gole.
Depois de terminar, ela voltou seu olhar para Lumian e falou: — O que você pensa sobre o assunto do elfo parecido com um lagarto?
— Ouvi rumores de que o Céu baniu um grupo de elfos recentemente. Entre eles, há alguns que se assemelham a lagartos diáfanos, — Lumian respondeu. Ele se absteve de se aprofundar nas interpretações simbólicas que o Sr. Poeta havia fornecido, optando, em vez disso, por apresentar o relato fornecido pelo investigador oficial, Ryan.
A pele de Hela assumiu um tom um pouco mais rosado e a frieza em seu comportamento diminuiu.
— Tenho certos conhecimentos sobre esses elfos e realizei um certo grau de estudo sobre eles.
— Eles não foram banidos do Céu. É plausível que tenham se originado de um reino alternativo. Alinhar certos folclores e eventos no reino alternativo, juntamente com a passagem do tempo, pode ter permitido que elementos do reino alternativo permeassem o mundo espiritual e entrassem em nosso mundo.
— Atualmente, essa é uma hipótese que eu pessoalmente tenho. Ainda não a comprovei. Eu simplesmente desejo transmitir que estudei o fenômeno desses elfos nos últimos anos e pessoalmente encontrei os elfos diáfanos semelhantes a lagartos que você descreveu. No entanto, eles diferem dos seres diáfanos semelhantes a lagartos que você mencionou.
— Não são elfos verdadeiros? — Lumian não expressou surpresa com essa afirmação. Afinal, Ryan e seus colegas estavam teorizando, e a perspectiva do Sr. Poeta pendia para uma afiliação com uma facção diferente.
Hela optou por não dar mais detalhes, confirmando a suspeita de Lumian com um aceno de cabeça.
— Continuarei a procurar motivos semelhantes em lendas élficas de várias fontes.
Dito isso, ela girou o caderno contendo o Feitiço de Invocação de Almas e o empurrou em direção a Lumian.
— É provável que o problema da sua irmã tenha origem aqui.
Os olhos de Lumian transmitiam sua expectativa por uma explicação.
Ele estava genuinamente curioso para ouvir a perspectiva de Hela. No entanto, não esperava que ela revelasse o segredo mais bem guardado da Sociedade de Pesquisa de Babuínos de Cabelos Encaracolados, como Franca havia feito.
O tom de Hela permaneceu frio como gelo quando ela começou: — Tive inúmeras interações com sua irmã e percebi que ela estava lidando com uma turbulência psicológica enraizada em sua família original.
— Algo está errado com sua família biológica. Consequentemente, sua irmã não teve outro recurso senão distanciar-se deles e buscar refúgio numa vila na fronteira. Isso reflete sua percepção gradual da crescente anormalidade de Cordu, incitando seu desejo de escapar. É por isso que direcionei sua atenção para esta via de investigação.
— E se alguém empregar o Feitiço de Invocação de Almas detalhado neste caderno sobre si mesmo, é altamente provável que o sofrimento psicológico de sua irmã se transforme em uma doença mental, potencialmente levando à verdadeira dissociação de sua personalidade.
Lumian ponderou por um momento antes de perguntar: — Você está sugerindo que Roche Louise Sanson é uma personalidade dissociada da minha irmã? Que a fundação da fé da Inevitabilidade se origina de sua família biológica?
Essa dedução, embora se abstendo de revelar o segredo mais bem guardado da Sociedade de Pesquisa de Babuínos de Cabelos Encaracolados, parecia ser a conclusão mais lógica. No entanto, a Madame Mágica também entreteve a noção de transtorno dissociativo de identidade como uma causa potencial.
Hela tomou um gole de seu expresso de três doses.
— A situação pode ser mais complicada do que um caso de transtorno dissociativo de identidade. Parece haver algum fenômeno místico bizarro envolvido. Isso, no entanto, continua dependente de suas investigações futuras.
Lumian reconheceu a resposta dela com um aceno de cabeça e fez sua pergunta com uma atitude séria,
— Há algum problema com o membro da Reunião da Mentira que vendeu o Feitiço de Invocação de Almas para minha irmã? Eles previram um cenário envolvendo transtorno dissociativo de identidade?
Hela permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de responder: — É suspeito, mas não posso ter certeza definitiva. Pretendo investigar mais, embora possa levar um tempo considerável. Como você sabe, a estrutura organizacional da Sociedade de Pesquisa é bastante informal, e minhas conexões com os indivíduos do Reunião da Mentira são limitadas.
— Eu entendo. — Lumian percebeu um sentimento semelhante de Franca.
Hela olhou para ele e refletiu por um momento.
— Na realidade, você é o candidato mais adequado para investigar esse assunto. Infelizmente, você não tem os pré-requisitos necessários.
— Por que você diz isso? — Lumian questionou, surpresa genuína permeando suas palavras.
Para alguém conhecido por sagacidade e travessura em Cordu, a perspectiva de liderar a investigação era inesperada. Ele havia assumido que seu papel envolveria meramente dar suporte a Franca.
O tom de Hela manteve sua frieza.
— Se você possuísse um poder Beyonder para alterar fisicamente sua aparência, você poderia se transformar na Trouxa e participar de vários Encontros da Sociedade de Pesquisa como ela.
— Então, quando a ocasião surgir, você pode observar qualquer membro do Reunião da Mentira que reaja estranhamente à presença da Trouxa e mostre sinais de comportamento anormal. Você pode até se empregar como isca para atrair qualquer indivíduo que abrigue motivos ocultos.
“Assumir a identidade de Aurore e usar o codinome Trouxa para me tornar um membro da Sociedade de Pesquisa de Babuínos de Cabelos Encaracolados?” Lumian nunca tinha imaginado tal cenário.
Sua testa franziu quando ele comentou: — Será que eu realmente consigo ser minha irmã mesmo com um item de transformação? Especialmente dentro da sua Sociedade de Pesquisa?
Ele não estava familiarizado com o mundo deles e suas complexidades. Como ele poderia efetivamente preencher a lacuna de comunicação?
Apenas uma ou duas frases poderiam potencialmente revelar seu disfarce!