Confirmando seus medos, Lumian enfiou a chave na fechadura, abrindo a porta da suíte sem fazer barulho.
Agora, ele sabia, sem sombra de dúvidas, que Ludwig, a aterrorizante criatura selada, iria liberar sua fome e frenesi no Festival dos Sonhos.
Sob o luar vermelho que entrava pela janela, Lugano se debatia violentamente, com o rosto contorcido de agonia.
Espreitando na ponta de seu braço agitado estava Ludwig, vestido com uma touca de dormir infantil e pijama azul-celeste pontilhado de estrelas amarelas. Os sons nauseantes de ossos triturando e carne rasgando enchiam o ar.
Em meio ao caos, gotas de sangue espirraram no chão.
De repente, Ludwig avançou como um animal frenético, suas mandíbulas se fechando no braço de Lugano com um estalo nauseante.
— Ah!
O grito de Lugano perfurou o ar mais uma vez, ameaçando explodir o teto.
Instintivamente, ele tentou soltar o braço do aperto de Ludwig e empurrar a criatura para longe com a outra mão. A dor o cegou, e ele se sentiu oscilando à beira da inconsciência.
Observando Ludwig atentamente, Lumian correu atrás dele, com as narinas dilatadas.
Dois raios de luz branca dispararam de seu nariz, envolvendo Ludwig. Ludwig fez uma pausa, fechando os olhos.
Mas antes que Lumian pudesse reagir, a boca do garoto retomou seu ataque implacável ao braço de Lugano, pulverizando osso e carne.
Seus olhos se abriram de repente.
“O Feitiço de Harrumph só pode atordoar Ludwig por um momento, e isso somente se ele estiver selado…” Lumian lembrou a si mesmo, respirando fundo para acalmar os nervos.
Ele olhou para Lugano, que o havia notado, mas estava muito consumido pela agonia para falar. Levantando uma mão, Lumian fez sinal para Lugano permanecer paciente.
Embora a mente de Lugano estivesse cheia de maldições e frustrações, ele continuava incapaz de expressá-las.
Enquanto os pensamentos corriam por sua mente, Lumian assentiu imperceptivelmente.
Mudando seu foco, Lumian contornou Ludwig, que estava entretido em devorar Lugano, e agarrou o ombro de Lugano.
Num instante, Lumian recuperou uma espada afiada e reta que havia adquirido em Porto Santa, tirando-a de sua Bolsa do Viajante.
“O que ele está tentando fazer?” Em meio às dores, os pensamentos de Lugano se dispersaram.
Com um movimento rápido, Lumian balançou a espada, a lâmina explodindo em chamas brancas.
A espada de fogo caiu sobre o braço de Lugano, onde Ludwig estava se banqueteando, atingindo a articulação.
Com um som agudo, o antebraço de Lugano se soltou do aperto de Ludwig, deixando para trás um membro sangrento e truncado.
Simultaneamente, a forma de Lumian começou a desaparecer, e até mesmo Lugano, a quem ele havia agarrado, desapareceu de vista.
Teletransporte!
Mas Lumian não tinha ido muito longe. Tanto ele quanto Lugano reapareceram na porta da suíte.
A agonia persistiu, mas o alívio momentâneo de Lugano desapareceu quando a figura de Ludwig mais uma vez apareceu. A visão do garoto, sua boca ainda ensanguentada com o antebraço restante de Lugano, enviou um arrepio por sua espinha.
O medo momentaneamente eclipsou a dor, e a mente de Lugano disparou com perguntas frenéticas.
“Por que não se teletransportar para longe de Tizamo?”
“Por que não se teletransportar para Porto Pylos?”
“Por que ainda estamos parados na frente de Ludwig?”
Enquanto isso, Ludwig voltou sua atenção para a porta, seu cabelo loiro sujo de sangue, seus olhos castanhos brilhando com fome voraz.
Com a velocidade de uma criança de sua idade, ele avançou em direção a Lumian e Lugano, enquanto mastigava e engolia o que restava do braço de Lugano.
Imperturbável, Lumian calmamente devolveu a espada reta à sua Bolsa do Viajante.
Sob o olhar horrorizado de Lugano, Lumian conjurou um bolo inteiro de mil camadas de creme de amêndoa e pistache e o jogou no chão ao lado de Ludwig.
A corrida de Ludwig diminuiu enquanto ele parecia ponderar qual iguaria saborear primeiro.
Por fim, ele voltou sua atenção para Lugano.
A visão de sangue, carne e medula infundidos com essência espiritual pareceu intoxicá-lo ainda mais.
Aproveitando a indecisão momentânea de Ludwig, Lumian vasculhou sua Bolsa do Viajante mais uma vez, extraindo um fragmento do cadáver de Hisoka e jogando-o ao lado.
O olhar de Ludwig seguiu a oferenda, seus lábios instintivamente umedecendo, mas ele não fez nenhum movimento para mudar de curso.
Parecia que ele achava a oferta abaixo do seu gosto, suja demais para ser sua primeira escolha.
Lumian sistematicamente jogou fora ingredientes cheios de energia espiritual, um após o outro, criando uma barreira de guloseimas tentadoras ao redor de Ludwig. Panquecas de creme, tortas de frutas, sanduíches transbordando de creme, bouchée à la reine, chocolates com infusão de licor, biscoitos, ameixas cristalizadas, sobremesas Charlotte e uma miríade de outras iguarias formaram um círculo tentador ao redor de Ludwig, impedindo seu avanço em direção a Lugano.
Virando-se para Lugano com uma expressão severa, a voz de Lumian assumiu um tom de comando. — O que você está esperando? Estanque o sangramento primeiro!
Assustado, Lugano obedeceu, sua palma esquerda emitindo um leve brilho enquanto ele aplicava pressão no coto do braço ferido.
Enquanto Ludwig se entregava ao banquete disposto diante dele, sua urgência diminuiu. Embora ainda preocupado com Lugano, ele não correu mais para frente.
Nos estágios finais, Lumian jogou caixas de biscoitos, doces, carne seca e provisões variadas, cercando Ludwig com uma “parede” de comida aleatória, porém eficaz.
Quase todas as rações de Lumian para sete dias de Ludwig foram retiradas de sua Bolsa do Viajante.
— O que… qual é o significado disto? — Lugano, tendo tratado com sucesso seu ferimento e aliviado sua dor, observou as ações de Lumian com perplexidade. Ele não conseguia entender por que seu empregador estava tão obcecado em alimentar Ludwig no meio de sua situação.
— Selando aquele sujeito — Lumian respondeu calmamente, suas mãos nunca cessando a tarefa.
— Selamento? — Lugano quase duvidou de sua audição.
“Isso não é muito absurdo?”
“Usando comida para selar um monstro?”
Ele não conseguia se lembrar de ter encontrado tal conceito, nem mesmo nas novels mais absurdas do mercado. Nenhum autor sonharia com um método tão peculiar!
Um selo convencional não envolveria o uso de materiais espiritualmente potentes para inscrever símbolos e padrões místicos, seguidos de magia ritualística ou o emprego de um artefato místico?
Qual seria o possível propósito de atirar comida no monstro?
Lumian sorriu e suspirou.
— Quando ele estiver saciado, não terá mais apetite para você ou qualquer outra pessoa aqui.
— E há comida suficiente para mantê-lo ocupado até o amanhecer, e possivelmente até depois.
Lumian tinha elaborado esse plano ao perceber que o único desejo de Ludwig era comer. Somado ao seu comportamento durante o Festival dos Sonhos, Lumian estava confiante de que Ludwig agora era movido puramente por sua fome insaciável — uma característica única exclusiva dele em Tizamo.
Nesse cenário, enquanto o apetite de Ludwig estivesse saciado, ele poderia permanecer confinado na suíte, festejando sem representar uma ameaça aos outros.
Qual era a diferença entre esse e os métodos tradicionais de selagem?
É claro que o sucesso desse selo improvisado dependia da conclusão do Festival dos Sonhos antes que Ludwig esgotasse os alimentos necessários para sete dias.
Caso contrário, a habilidade de Lumian de caçar na floresta pode não acompanhar o apetite voraz de Ludwig.
A compreensão de Lugano surgiu ao ouvir a explicação de Lumian.
De fato, esse método oferecia um meio prático de conter Ludwig temporariamente.
Entender as preferências e fraquezas do alvo permitiu a implementação de um selo sem recorrer ao misticismo!
Observando Ludwig ainda tentando se aproximar da porta em meio ao seu banquete, Lumian percebeu a relutância da criatura em se separar de Lugano. Com um movimento rápido, ele agarrou o ombro de Lugano e teletransportou os dois para um canto da escada do segundo andar na sede da polícia.
Ludwig olhou rapidamente para a porta vazia antes de se concentrar novamente em sua conquista culinária dentro da suíte.
…
— Você tem certeza de que tudo está sob controle? — Lugano perguntou ansiosamente, no momento em que saiu do mundo espiritual.
Lumian riu em resposta.
— Enquanto nenhum Beyonder passar pela porta, ele não abandonará seu banquete.
Aliviado, Lugano exalou profundamente, lançando um olhar pesaroso para seu braço restante. Pensamentos giravam em sua mente enquanto ele contemplava seu futuro.
“Pelo menos ainda estou vivo. Enquanto eu estiver vivo…”
“No futuro, vou ver se consigo juntar dinheiro suficiente para comprar um braço mecânico da Igreja do Vapor. Isso pode reforçar minha força de combate.”
A perícia do Médico só poderia fazer algo até certo ponto, pois transplantar o membro de outra pessoa estava além do reino das possibilidades.
Camus e Rhea, observando o membro ensanguentado de Lugano, franziram as sobrancelhas, lembrando-se do aviso ameaçador de Louis Berry sobre um problema maior.
— O que aconteceu? — Camus perguntou.
Lumian sorriu.
— É uma complicação causada por aquele grande problema, mas consegui selá-lo temporariamente. Só lembre-se, fique longe do Motel Brieu, especialmente da porta da suíte do segundo andar.
Aliviado ao saber que Louis Berry havia intervindo, Camus garantiu a Lugano:
— Felizmente, é tudo apenas um sonho. Você ficará bem quando acordar.
— Um sonho? — Lugano ficou perplexo.
Lumian não ofereceu mais explicações, apenas comentando: — De fato, é um sonho. Mas lembre-se, se você perecer no sonho, você perecerá na realidade também.
Em meio à perplexidade de Lugano, Lumian disse a Camus e Rhea: — Vamos para a casa de Twanaku agora.
Seu objetivo principal ao investigar o Festival dos Sonhos era localizar o ouro de Hisoka e o item adquirido do Demônio da família Nois. Ele pretendia avaliar quaisquer mudanças em seus respectivos locais após o início do festival.
Se nada surgisse, Lumian planejava procurar o Padre Cali na Catedral do Santo Sien.
A condição peculiar de “fraqueza nas profundezas do Corpo Espiritual” possuída pelo Padre Cali na realidade o diferenciava de todos os outros em Tizamo. Isso sugeria algo distintamente especial sobre o padre. Além disso, foi o Padre Cali quem inaugurou oficialmente o Festival dos Sonhos.
Camus hesitou, seu silêncio sugeria que ele poderia ter assuntos urgentes para resolver.
Naquele momento, Rhea olhou Lumian com confusão, gesticulando em direção a Lugano.
— Por que ele ainda está lúcido?