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Damn Reincarnation – Capítulo 103

O Mercado (3)

“Para onde ele foi?”

Ujicha, o guerreiro-chefe da tribo Garung, não pôde deixar de se sentir perturbado. Ele havia perdido de vista o traficante de escravos. O homem poderia ter escapado? Mas realmente teria fugido, deixando para trás os elfos que pagou tanto dinheiro para comprar e até mesmo sua própria esposa?

Mais importante, se o mercador realmente fugiu, exatamente quando ele encontrou uma abertura para fazê-lo? Ujicha estava olhando diretamente para ele, nunca desviando o olhar.

Na verdade, havia piscado algumas vezes. Como era apenas humano, Ujicha definitivamente não poderia ficar sem piscar.

Foi precisamente durante esse piscar de olhos. Esse intervalo de tempo foi longo o suficiente para Eugene acelerar para longe de sua posição.

Bam!

Um chute de fora de seu campo de visão atingiu a mandíbula de Ujicha. Este golpe superou completamente todas as expectativas do homem. Quem poderia imaginar que um humilde comerciante de escravos seria capaz de se mover assim?

Como resultado, Ujicha nem conseguiu soltar um grito. O ataque surpresa foi muito rápido e certeiro. Com apenas um golpe, Ujicha perdeu a consciência. Suas pupilas se arregalaram quando o gigante de mais de dois metros de altura cambaleou.

Splat.

Caindo para trás, a careca de Ujicha caiu bem no centro de uma poça de vômito. Dajarang, que ainda estava engasgando quando se viu incapaz de se livrar do enjoo, não pôde deixar de gritar.

— O-O qu— O quê!

Sem nem mesmo limpar o vômito que manchava sua boca, Dajarang deu um pulo para trás. Pelo menos, tentou pular para trás. Como alguém que esteve acima do peso durante a maior parte de sua vida, seus joelhos sobrecarregados foram incapazes de executar o súbito comando de ‘salto!’.

No final, Dajarang não conseguiu recuar tanto quanto pretendia. Depois de dar apenas alguns passos, a agitação que esse movimento desencadeou em seu corpo inchado mais uma vez desencadeou sua vontade de vomitar.

— Uwaaaaargh…

Dajarang vomitou em todo o rosto inconsciente de Ujicha. Eugene tinha visto todo tipo de coisas confusas e terríveis durante sua vida anterior, mas seu rosto ainda estava distorcido em um olhar honesto de desgosto com a visão à sua frente.

— Porra, isso é nojento. — Eugene praguejou.

Dajarang continuou vomitando. 

— Urp… Uwaaargh…

— Quanto você comeu que consegue continuar vomitando e vomitando sem dar sinal de que vai parar? — Eugene cuspiu enquanto mexia os dedos.

Fios de vento se condensaram na ponta dos dedos e dispararam em direção a Dajarang.

Boom!

Uma bala de vento atingiu Dajarang bem no plexo solar e ficou lá sem se espalhar. Como alguém que possuía um contrato com Tempest, o Rei Espírito do Vento, Eugene podia controlar essa ‘brisa’ tão facilmente como se fosse a mana dentro de seu próprio núcleo.

— Urp… Uwaaargh…!

A bola de vento embutida na boca do estômago de Dajarang começou a girar. Enquanto perfurava a barriga gorda de Dajarang, enviava vibrações por todo o resto de seu corpo. Não foi apenas a carne de Dajarang que foi enviada ondulando; a violenta bola de vento sacudiu as entranhas de Dajarang, forçando tudo o que ainda restava em seu estômago e ainda não havia sido vomitado para fora de seu esôfago.

Para alguém como Dajarang, que nasceu em um condado e viveu uma vida sem nenhum sofrimento ou dificuldade, a dor que estava sentindo no momento era uma sensação desconhecida que nunca havia experimentado em sua vida e esperava nunca mais experimentar no futuro. Depois que Dajarang vomitou tudo o que estava em seu estômago, ele foi deixado rastejando no chão, com lágrimas e ranho escorrendo pelo rosto.

Dajarang implorou. 

— P-P-Por favor, por favor me poupe…

— Quem disse que eu ia te matar? — Eugene cuspiu enquanto torcia o nariz.

Ele estava preocupado que Dajarang continuasse vomitando sem ser capaz de responder às suas perguntas, então o ataque de Eugene tinha apenas o objetivo de garantir que não houvesse mais nada para vomitar. Em vez de se aproximar de Dajarang, Eugene apenas apontou o dedo para ele.

— Aahh! — Embora Eugene tivesse apenas apontado um dedo, Dajarang soltou um grito e ficou de joelhos.

Dajarang nunca esqueceria a dor que acaba de sentir quando aqueles dedos estendidos lançaram a bola de vento que o atacou. Como tal, Dajarang não pôde deixar de se ajoelhar preventivamente em uma posição de súplica. Em todos os seus vinte e três anos de vida, esta foi a primeira vez que este jovem mestre não teve confiança de que sua autoridade como filho de um conde seria suficiente para protegê-lo da ameaça que estava à sua frente.

— Quanto dinheiro você tem aí? — Eugene perguntou sem rodeios,

Apertando o dedo indicador estendido e o polegar juntos, Eugene formou um círculo com a mão. Era óbvio o que aquele gesto simbolizava, mas essa demanda gananciosa realmente tranquilizou Dajarang. Se tudo o que Eugene queria era dinheiro, isso não era simples e fácil de lidar?

— E-Eu tenho cerca de trezentos milhões de sals em moeda real. Em joias, tenho cerca de um bilhão. — Dajarang confessou honestamente.

— E o que você faria se eu lhe pedisse esse dinheiro? — Eugene perguntou.

Dajarang gaguejou. 

— Claro que daria a você…

— Estou grato que você está disposto a dar tudo para mim. Mas talvez você se lembre desse incidente mais tarde e tente se vingar de mim? — Eugene enfatizou propositadamente as palavras ‘mais tarde’ enquanto olhava para Dajarang.

Essas palavras fizeram com que Dajarang tivesse o melhor uso de sua cabeça em todos os seus vinte e três anos de vida. Ele imediatamente chegou a uma conclusão: já que as palavras ‘mais tarde’ haviam sido pronunciadas, isso não significaria que o comerciante não pretendia matá-lo?

Dajarang imediatamente balançou a cabeça.

— Pela honra do Conde Kobal, algo assim definitivamente não vai acontecer. — Dajarang jurou.

— Por que você está colocando a honra de seu pai inocente em risco? — Eugene resmungou enquanto olhava para Dajarang. — Eu nunca fiz nada para provocá-lo. Se eu realmente tivesse que pensar em alguma coisa, seria que eu não vendi a escrava que você queria. Mas como comerciante, cabe a mim decidir se vou ou não vender alguma coisa para você, não é?

— S-Sim. — Dajarang concordou rapidamente.

— Então as coisas deveriam ter acabado assim que nos separamos, mas então você teve que tentar me matar. Não é mesmo? Você definitivamente conspirou com aquele nativo que está deitado ali, que ainda está inconsciente. Você estava planejando me matar, e também planejando matar a mulher que está comigo, então simplesmente roubaria os elfos que eu estava transportado. Estou certo? — Eugene o olhou desafiadoramente.

— Sim… — Dajarang admitiu relutantemente. O tempo todo, Dajarang orava interiormente para si mesmo: ‘Não acorde.’

Ujicha ainda estava deitado inconsciente. Mas o que aconteceria se ele acordasse? Ujicha seria capaz de fazer algo para mudar essa situação? O principal guerreiro da Tribo Garung, alguém que foi nocauteado por um único golpe desse traficante de escravos, e que implorou por sua vida enquanto se mijou na frente do monstro que matou Bron?

Tremendo de medo, Dajarang lentamente enfiou a mão no bolso.

Eugene assentiu em aprovação. 

— Já que foi você quem causou tudo isso em primeiro lugar, também deve assumir a responsabilidade por isso.

O item que Dajarang tirou do bolso era uma pequena bolsa. Dajarang a virou de cabeça para baixo e a sacudiu. Várias caixas grandes de jóias caíram com um baque.

— Este é o preço que você pagou para manter sua vida. — Eugene o advertiu enquanto olhava para Dajarang com olhos semicerrados. — Se tentar me encontrar novamente, então não poderá me pagar apenas com jóias, eu realmente tomarei sua vida como o custo de seus pecados.

O rosto de Eugene estava disfarçado. A identidade que ele usou para entrar em Samar também era falsa. E em primeiro lugar, desde que realmente entrou na floresta, nunca usou sua carteira de identidade. Quanto à moeda e às jóias que estava tirando de Dajarang? Coisas como essas podem ser lavadas de forma limpa, não importa a quantidade.

Mesmo assim, Eugene ainda deu um aviso à Dajarang. Então, convocou uma brisa que carregou as pesadas caixas de jóias até ele.

— Aargh. — Só então Ujicha abriu os olhos com um gemido.

A primeira coisa que sentiu foi um ‘sabor’ indescritivelmente complexo e sutil. Por trás disso, permanecia um ‘cheiro’ um tanto familiar. Essas duas coisas rapidamente despertaram sua mente atordoada.

— Gah! — Ujicha gritou enquanto se levantava rapidamente.

Enquanto raspava o vômito que cobria sua cabeça e rosto, Ujicha rapidamente observou o ambiente. Ele viu Dajarang de joelhos e as caixas de jóias flutuando no ar. E na frente dele estava o comerciante de escravos.

A raiva levou o corpo de Ujicha à ação imediata. Ele soltou um rugido e atacou Eugene.

Ujicha não era alguém que conquistou a posição de guerreiro-chefe apenas com base em sua aparência assustadora. Sua mana, que rapidamente entrou em operação, acelerou seu corpo em um borrão.

No entanto, esse nível de aceleração ainda parecia lento para Eugene. Ele estalou a língua e gentilmente pressionou o pé no chão.

Banbanbang!

O chão à sua frente se ergueu para se tornar uma barreira.

“Magia!” Ujicha percebeu em alarme quando chutou o chão em um salto. Ao fazê-lo, sentiu que algo estava errado.

Os guerreiros de Samar foram todos capazes de receber a proteção dos espíritos sem ter que aprender magia de invocação. Os guerreiros que nasceram nesta vasta floresta possuíam afinidade com os espíritos desde o nascimento e, no caso de Ujicha, ele recebeu a proteção dos espíritos do vento.

Os espíritos primitivos existentes em cada rajada de vento foram o que permitiu que Ujicha se movesse com tanta agilidade para seu tamanho. No entanto, seu salto atual não foi tão poderoso quanto ele esperava.

Ujicha tinha a intenção de pular alto no céu e esmagar o crânio deste atrevido comerciante de escravos, esmagando-o de cima. Mas seu salto atual mal o permitiu pular a barreira.

“O que está acontecendo?” Ujicha se perguntou.

A razão era bem simples. Os espíritos primitivos sem vontade própria não resistiam ao comando dos espíritos superiores, e todo o vento da região estava sob o controle de Eugene. Em outras palavras, a compatibilidade de Ujicha com Eugene era absolutamente a pior.

Eugene acenou com a mão direita para Ujicha.

Roooar!

Uma enorme rajada de vento engoliu Ujicha. A rajada então se transformou em uma tempestade de lâminas, rasgando as roupas de Ujicha em pedaços.

— Gaaagh! — Ujicha gritou enquanto lutava no meio daquele redemoinho cortante.

Eugene olhou para Ujicha com uma expressão indiferente no rosto. Ao contrário de seu couro cabeludo sem pelos, o corpo de Ujicha era coberto por pelos grossos. Eugene assentiu para si mesmo e cerrou os punhos.

Bang!

A rajada de vento explodiu. Com o corpo engolfado pelo vento, Ujicha teve todos os pelos arrancados pela raiz por causa da explosão, não deixando um único fio para trás.

— Kyaaaah! — Ujicha soltou um grito agudo ao sentir uma dor como nunca havia sentido antes em sua vida.

O depilado Ujicha caiu no chão, mas não conseguiu ficar de pé. Eugene levantou outra rajada de vento que ergueu Ujicha de volta ao ar.

— S-Solte-me! — Ujicha exigiu enquanto tentava de alguma forma se livrar das garras do vento.

O núcleo de Ujicha se agitou enquanto ele espremeu tudo o que pôde de sua mana e orou sinceramente aos espíritos que lhe concederam sua proteção. Além disso, até ativou a feitiçaria de batalha da tribo Garung.

A feitiçaria de batalha da tribo Garung emprestava o poder da alma. Podia ser visto como uma espécie de necromancia. Não eram apenas os Garung — havia várias tribos que usavam esse tipo de feitiçaria de batalha derivada da necromancia, e as técnicas que Ujicha usava não eram nada incomuns para Samar.

Mas era algo que na opinião de Eugene não deveria ser usado. Eugene sentiu as almas que estavam sendo atraídas para Ujicha. Era semelhante a como a magia negra poderia invocar espíritos ressentidos e apagar completamente os ‘eus’ de suas vidas passadas.

“Que nojento”, Eugene pensou com uma carranca.

Eugene odiava esse tipo de feitiçaria por causa do quanto se assemelhava à magia negra. Como tal, ele não sentiu a necessidade de mostrar qualquer misericórdia. Afinal, seu oponente não era alguém que merecesse misericórdia em primeiro lugar. Aquele maldito foi quem tentou atacá-lo sem ser provocado.

— Uwaaaagh!

Dajarang cobriu os ouvidos, seu corpo tremendo enquanto tentava bloquear os gritos que vinham de cima de sua cabeça. Também houve estalos e estouros quando os ossos de Ujicha foram torcidos à força. Ujicha rapidamente começou a gritar por misericórdia, fazendo com que Dajarang se lembrasse de uma memória de apenas alguns dias atrás, que ele sinceramente esperava nunca recordar.

Era a memória do monstro que rasgou Bron em dois pedaços com tanta facilidade. Seus olhos bestiais que brilhavam dourados sob o capuz e as presas afiadas que apareciam cada vez que os lábios do monstro se curvavam em um sorriso.

“E-Eu só quero voltar…”, Dajarang rezou desesperadamente. “…para minha casa… Para Shimuin…”

O som dos gritos de Ujicha começou a desaparecer. Não foi porque os gritos pararam; em vez disso, a fonte dos gritos estava voando rapidamente para longe de Dajarang.

Um humano seria capaz de sobreviver tendo seus membros torcidos como um pretzel e depois sendo jogado para longe? Mesmo que o destino de alguma forma permitisse que ele sobrevivesse, como seria capaz de continuar vivendo nesta floresta selvagem com um corpo que não conseguia se mover sozinho?

Mas nada disso importava para Eugene. Ele guardou as caixas de jóias dentro de seu manto, depois voltou para a carruagem.

— Que você tenha uma morte pacífica. — Kristina rezou na direção que Ujicha havia voado com as mãos cruzadas à sua frente.

Essas palavras pareciam uma piada desagradável para Eugene, ele zombou e disse: 

— É ridículo esperar uma morte pacífica para ele. Se de alguma forma conseguir sobreviver, terá um destino pior que a morte; e mesmo que tenha sorte e morra assim que atingir o chão, ainda terá que sofrer toda aquela dor antes de morrer.

— No entanto, depois de sua morte, ele pode encontrar paz. — Kristina respondeu com um sorriso suave.

Sim, ela estava tão distorcida quanto o esperado.

Enquanto escondia tal pensamento, Eugene agarrou as rédeas. Com um chocalho, o carrinho começou a se mover.

Os elfos estavam completamente silenciosos, nem mesmo ousando respirar. No entanto, mesmo fazendo o possível para não atrair atenção, olhavam para Dajarang, que ainda estava ajoelhado no chão. Os elfos, que se acostumaram a ser perseguidos enquanto eram vendidos como escravos, sentiram um prazer incomum ao ver aquele nobre humano ajoelhado no chão e implorando por sua vida, ainda sem ousar levantar a cabeça.

O mesmo aconteceu com Lavera. Ela tocou o buraco cicatrizado que antes era seu olho direito antes de ser esfaqueado com uma espada por seu antigo mestre e depois cauterizado. Um calor desconhecido estava queimando em sua cavidade ocular. Calor de um tipo completamente diferente da dor que ela sentiu quando foi queimada.

“Que legal,” Lavera pensou consigo mesma enquanto olhava para as costas de Eugene com um olhar apaixonado.


— Acho que você provavelmente deveria ir para o oeste. — Disse Signard vagamente.

— Suas palavras não soam muito certas. — Criticou Eugene.

— Não tem jeito. Eu disse a você que não fui capaz de reter as memórias adequadamente. — Signard resmungou com uma careta. — Tudo o que resta das minhas memórias são… Algumas lembranças fragmentadas. Contando apenas com elas, vaguei desesperadamente procurando por nosso domínio.

— Se é esse o caso, então por que não vamos procurá-lo juntos? — Eugene ofereceu, com a cabeça inclinada para o lado em interrogação.

Signard não respondeu de imediato. Depois de olhar para Eugene por alguns momentos, sorriu e balançou a cabeça.

— Claro que não posso fazer isso. Porque não sei o que pode acontecer enquanto estiver fora da aldeia. — Explicou Signard.

Embora fosse a primeira vez que Eugene fazia essa oferta, ele já esperava que Signard respondesse dessa maneira. A barreira das árvores encantadas não era absoluta. A razão pela qual esta vila construída para os elfos errantes durou todos esses anos, foi porque Signard matou todos os intrusos que tentaram se aproximar dela.

— Nos últimos anos, tenho entrado em contato mais frequente com os elfos negros. — Signard murmurou enquanto acariciava a espada ao seu lado. — Cada vez que se aproximam, eu os pego, interrogo e os executo. Ao fazer isso, pude me manter a par da situação. Ouvi dizer que a Corruptora, Íris, tem tentado infectar mais elfos com a corrupção para garantir sua posição.

— … 

Eugene escutou em silêncio.

— Não é engraçado? Aquela garota é um monstro — não, ela é um pedaço de merda que nem deveria existir. Tanto que é até difícil acreditar que já fomos da mesma raça, muito menos pertencentes à mesma nação. Depois de ser a responsável por massacrar tantos elfos trezentos anos atrás, ela realmente acha que pode simplesmente abraçar os elfos restantes neste momento?

Criiik.

Signard agarrou o punho de sua espada com força enquanto cerrava os dentes. 

— Não posso confiar na palavra dela. Iris e seus elfos negros dizem que estão apenas fazendo uma ‘oferta’ aos elfos errantes, mas não há como isso ser verdade. Eles devem estar intimidando aqueles pobres elfos e os transformando à força em elfos negros. Se os elfos se recusarem a aceitar a oferta, certamente serão mortos. O que aconteceria se os elfos negros viessem… Enquanto eu estivesse ausente da vila?

Signard havia participado da guerra de trezentos anos atrás. Ele foi um dos poucos sobreviventes entre os patrulheiros élficos. Em uma floresta incendiada por Iris, ele viu centenas de cadáveres pertencentes a elfos que tiveram seus intestinos arrancados. Essa cena havia se gravado no cérebro de Signard, tornando-se uma memória inabalável que o assombrava nas últimas centenas de anos.

— Se conseguirmos encontrar o território élfico, isso pode ajudá-lo a superar seu trauma. — Eugene disse com um sorriso amargo. — Afinal, como ninguém conseguiu encontrá-lo por centenas de anos, ele ainda deveria estar em paz.

— Sim, isso mesmo. — Signard murmurou enquanto afrouxava o aperto no punho de sua espada.

— Se não conseguirmos encontrá-lo, não fique muito desapontado. — Continuou Eugene. — Pode não ser tão grande quanto Samar, mas a floresta em nossa propriedade principal também é bem grande. Não faria uma diferença perceptível mesmo se cerca de cem elfos começassem a viver dentro dela.

— Mais do que isso, deveria ser muito mais seguro. — Signard suspirou enquanto olhava para Eugene com uma expressão aliviada. — Obrigado, Hamel.

Eugene tentou impedi-lo. — O que está dizendo de repente?

— Porque se você não tivesse vindo aqui, eu não teria nenhuma esperança de trazer com segurança os elfos para deixar esta vila. Como tal, devo expressar minha gratidão. — Explicou Signard com sinceridade.

— Bem, o que mais posso dizer. — Eugene aceitou esse agradecimento com um bufo e se levantou. — Então, enfim. Eu deveria apenas ir para o oeste a partir daqui… Mais alguma coisa?

— Já que centenas de anos se passaram, todos os marcos também devem ter mudado. — Signard admitiu com um encolher de ombros.

— Maldito inútil. — Zombou Eugene.

— Em direção ao oeste, preste muita atenção na folha. Se fizer isso, provavelmente será capaz de encontrar o caminho para o território. — Signard baixou o olhar e soltou um suspiro. — Receio não ter outro conselho para você…

— Então é só isso que preciso saber. Vou partir imediatamente. — Eugene deu um tapinha no ombro de Signard e saiu da cabana.

Kristina já o esperava na entrada da aldeia.

Depois de oferecer uma reverência a Signard, que havia seguido atrás de Eugene, ela se virou para Eugene e perguntou: 

— Vamos partir agora?

— Sim. — Eugene confirmou com um aceno de cabeça.

Kristina não era a única que esperava por eles na entrada. Todos os elfos que viviam naquela vila foram se despedir deles. Parecia que havia crentes que adoravam o deus da luz entre eles, pois alguns dos elfos juntaram as mãos e fizeram uma oração a Kristina.

Não, não era apenas Kristina. Vários elfos também estavam olhando para Eugene com olhos expectantes.

Esses olhares não eram estranhos para ele.

“Que pesado”, Eugene pensou consigo mesmo.

Fosse no passado ou no presente, esses olhares cheios de expectativa pareciam insuportavelmente pesados. Mas os elfos tinham outra opção senão orar sinceramente pelo sucesso de Eugene e Kristina? Eles tinham que saber que sua aldeia não tinha garantia de permanecer segura. Portanto, não podiam deixar de depositar suas expectativas em Eugene e Kristina.

Ao olhar em volta, Eugene se lembrou de algo, “Vermouth…”

Narissa estava soluçando e chorando ao se despedir. Embora estivessem viajando juntos por apenas alguns dias, ela parecia ter desenvolvido uma queda por ele. Mesmo enquanto chorava, olhava para Eugene com admiração em seus olhos cheios de lágrimas.

Lavera também estava olhando para ele com olhos semelhantes aos de Narissa.

Terminando o pensamento, Eugene perguntou ao velho amigo: “Tudo isso parece ainda mais pesado para você do que para mim?”

Todos chamando-o de herói e tendo que suportar as expectativas de todos. Não importa onde ele fosse, aqueles que reconheciam Vermouth sempre pediam a ele para salvar o mundo, derrotar os Reis Demônios e vingar a morte de seus filhos, pais e amigos.

— Eu odiaria ser um herói. — Eugene inconscientemente cuspiu seus verdadeiros sentimentos.

— Hã? — Kristina virou-se para Eugene com uma expressão confusa.

— É assim que me sinto. — Murmurou Eugene, encolhendo os ombros.


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