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Damn Reincarnation – Capítulo 182

Yurasia (1)

O Império Sagrado de Yuras tinha uma história longa e histórica. Depois de passar pelo portal de dobra que ficava ao sul de Yurasia, a capital do Império, eles emergiram na ‘Praça do Sol’, que havia sido elogiada como o lugar mais bonito e sagrado de Yuras.

Esta praça continha todas as estátuas dos santos que foram reverenciados em Yuras ao longo dos tempos.

O dia treze de abril era um dos aniversários de Yuras.

“Aniversário de Anise”, lembrou Eugene.

Em Yuras, a Fiel Anise era considerada sua santa mais famosa, sua fama superando até mesmo a do fundador de Yuras, a Encarnação da Luz. Isso porque o povo de Yuras se sentia muito mais próximo da Santa, que dizia ter matado três Reis Demônios ao lado do herói, o Grande Vermouth, trezentos anos atrás do que da Encarnação, que fundou Yuras há tanto tempo.

Talvez seja por isso que os seguidores da Luz de todo o continente se reuniam em Yuras no dia treze de abril. Este ano não foi diferente. Embora ainda faltassem alguns dias para o aniversário de Anise, o portal de dobra e a Praça do Sol já estavam lotados de seguidores da Igreja da Luz.

Misturado com a multidão, Eugene olhou para a estátua de Anise.

Localizava-se no centro da Praça do Sol. A estátua dela estava flutuando no céu com um par de asas abertas. Era uma estátua verdadeiramente grande feita de vários minerais mágicos, ouro e joias. Os diferentes tons claros dos materiais brilhavam ainda mais à luz do sol, e na escuridão da noite, quando o sol se punha, a estátua emitia sua própria luz para iluminar a praça.

Nesta praça, a estátua de Anise era a única que havia sido feita com tanto esforço e custo que poderia até flutuar no céu assim. Enquanto a estátua flutuava, os visitantes que vinham todos os dias só podiam olhar para cima para vê-la de longe, mas no aniversário de Anise, treze de abril de cada ano, sua estátua descia ao chão, dando aos crentes uma chance de ver mais de perto.

Eugene olhou para a estátua de Anise por um bom tempo.

Em sua vida anterior, ele nunca havia visitado o Império Sagrado. Quando se tornou um membro do grupo em sua vida passada, Vermouth já havia se tornado o Mestre da Espada Sagrada, e a Santa Anise já estava ao seu lado.

Portanto, não havia razão para eles voltarem.

“E também não ouvi muito sobre isso”, pensou Eugene.

Anise, que era de Yuras, não falava muito sobre o lugar onde nasceu e foi criada. Sempre que um deles começava a falar sobre sua cidade natal, Anise apenas observava à distância e nunca participava diretamente de tal discussão.

Mesmo um tolo sem tato como Moron sabia que Anise não tinha nenhum sentimento afetuoso por sua cidade natal. Eugene também estava ciente de que os sentimentos de Anise em relação ao Império Sagrado estavam mais próximos do ódio.

Ele simplesmente não sabia as razões para isso.

As asas estendidas nas costas da estátua de Anise eram lindas. As asas eram feitas de vitrais. Centenas, milhares de penas de vidro de cores diferentes eram sobrepostas para formar essas asas. E sempre que a luz do sol brilhava sobre eles dos céus acima, raios de luz coloridos se espalhavam de dentro desses vitrais.

— É tão lindo. — Mer murmurou, olhando para Anise com olhos ofuscados do lado de Eugene.

Era exatamente como Mer disse. Entre todas as estátuas desta praça, a de Anise era excepcionalmente bela. Ao vê-la flutuar no céu, com raios de luz saindo de suas asas, parecia que até mesmo alguém sem nenhuma crença no Deus da Luz poderia começar a ter fé. Esta estátua era uma das mais belas e resplandecentes ferramentas de propaganda de Yuras.

— Era isso que você queria? — Eugene murmurou.

— Hã? — Mer inclinou a cabeça em questão ao ouvir o murmúrio de Eugene.

Em vez de responder, Eugene relembrou uma conversa que teve com Anise.

Anise queria se tornar uma luz brilhante de fé acumulando continuamente boas ações. Ao fazer isso, esperava se tornar um sol que seria capaz de conduzir todos aqueles que viveram e morreram naquela época para o céu.

Eugene não tinha certeza se Anise realmente conseguiu se tornar esse tipo de luz depois que morreu, mas se tornou um anjo.

Ela havia recebido suas justas recompensas por realizar milagres continuamente sem cuidar de seu próprio corpo, ressuscitando pessoas que só queriam morrer repetidamente. Anise também deixou uma bela estátua de si mesma nesta terra, que serviu para converter inúmeros descrentes em devotos seguidores da Igreja da Luz.

“Mas parece que você não gostaria muito dessa estátua”, Eugene disse silenciosamente a Anise.

Nesse ponto, ainda era difícil dizer o que Anise pensava de Yuras. Com um sorriso irônico, Eugene se virou.

Ele não veio a este país para comemorar o aniversário de Anise ou participar das festividades de Yurasia.

“Embora pudesse ser outra questão se esse fosse o aniversário de sua morte”, Eugene considerou pensativo.

Se fosse esse o caso, ele estaria mais do que disposto a participar dos eventos. Mesmo que fosse por causa das memórias de sua vida passada, ele se sentiria obrigado a tomar uma bebida, derramar uma para ela e até derramar algumas lágrimas, dependendo de quais eventos do passado ele pudesse recordar.

A Espada Sagrada havia mostrado a ele uma memória do que havia acontecido naquela sepultura no fundo do deserto. Sienna, Anise e Moron choraram pela morte de Hamel. O único cujas lágrimas não haviam derramado naquele túmulo era Vermouth.

Eugene suspirou: “Já que você chorou por mim, eu deveria ser capaz de chorar por você também.”

Aniversário? E sobre isso? Não era como se eles não tivessem comemorado o aniversário um do outro antes, mas já se passaram trezentos anos. Seria engraçado celebrá-lo agora.

Esses foram os pensamentos de Eugene quando ele começou a caminhar em direção à saída da praça.

Mas não foi capaz de continuar andando por muito tempo. Porque encontrou o olhar de alguém que estava um pouco longe dele. Seus olhos azuis desenharam uma curva rasa sob as sombras profundas de seu manto com capuz.

Eugene soltou um suspiro enquanto caminhava até a mulher vestida com essas vestes. Parecia que ela não tinha intenção de manter uma conversa ali quando se virou e se moveu para sair. Eugene seguiu atrás da mulher sem pressa de persegui-la.

— Você ficou embriagado com a beleza da estátua? — A mulher perguntou de repente.

Assim que deixaram a praça, a multidão diminuiu visivelmente. Só depois de chegarem até ali, a jovem diminuiu os passos, permitindo que Eugene se aproximasse de seu lado.

— Era um pouco brilhante demais para o meu gosto. — Criticou Eugene. — Não é um pouco extravagante demais?

— A Fiel Senhorita Anise quis iluminar a escuridão por toda a eternidade. Essa estátua representa a personificação do desejo da Senhorita Anise. — Kristina Rogeris respondeu a Eugene sem levantar seu capuz profundamente puxado.

O motivo da ocultação era compreensível. O aniversário de Anise estava chegando. Os crentes que se reuniram nas proximidades da praça eram todas as pessoas que vieram ali para participar das festividades e oferecer sua adoração.

As estátuas de Anise não haviam sido erguidas apenas na Praça do Sol; havia mais por toda Yuras. Como não havia como os fiéis que vieram ali para celebrar o dia da festa de Anise não reconhecerem sua aparência se vissem Kristina, que se parecia tanto com Anise, bem, não seria estranho alguns dos mais velhos e frágeis seguidores desmaiarem na hora.

— Há quanto tempo? Você não vai dizer que é bom me ver de novo? — Eugene brincou.

Erguendo a cabeça com essas palavras de brincadeira, Kristina olhou fixamente para Eugene por alguns momentos antes de assentir levemente e dizer: 

— Já faz muito tempo, Sir Eugene. Sinto que é uma grande bênção encontrá-lo em um estado tão ileso.

Eugene tentou blefar. 

— Estado ileso? E o que isso significa? Quando eu já estive—

— Já ouvi tudo sobre o que aconteceu no Castelo dos Leões Negros. — Interrompeu Kristina ao se aproximar dele. Ela olhou para Eugene, que era mais alto do que ela, e seus olhos se suavizaram gentilmente quando disse. — Ouvi dizer que ocorreu um grande incidente. Eu não sou uma especialista ‘desse’ tipo de coisa, então não fui chamada para ir ao castelo, mas pude ouvir em detalhes o que aconteceu lá através dos Inquisidores Atarax e Hemoria.

— Bem, o que mais posso dizer? — Eugene hesitou. — Não tenho certeza do que eles disseram a você, mas… Hum… Foi um grande incidente, mas saí ileso sem um único arranhão…

Kristina interrompeu novamente. 

— Ouvi dizer que seu corpo não se recuperou totalmente, mesmo depois de alguns dias de repouso na cama.

Eugene se atrapalhou por uma resposta. 

— Hmmm…

— Não há como o Castelo dos Leões Negros carecer de poções de cura. Se você tivesse pedido, então eu, como a Santa, teria ido procurá-lo pessoalmente para cuidar de suas feridas. No entanto, não houve tal pedido. — Disse Kristina acusadoramente.

— Você também não deveria estar ciente de que as poções de cura não são todo-poderosas? — Eugene tentou argumentar. — Até um Elixir tem seus limites. Além disso, não era como se eu estivesse ferido o suficiente para precisar de um sacerdote—

— Você ficou de cama por vários dias. — Observou Kristina.

— E daí—

— Por acaso você usou aquilo? O nome era… Você o chamou de Ignição, não é? Isso é basicamente um método de suicídio que destrói seu corpo e seu coração enquanto destrói sua vida útil.

— Acho que chamar isso de método suicida pode ser um pouco duro.

— Não é. O que é ‘duro’ é como você, Sir Eugene, abusa de seu corpo com técnicas tão imprudentes. — Enquanto olhava para Eugene através de seus olhos estreitos, Kristina continuou falando, — Eu já deveria ter avisado você sobre essa técnica em Samar. Ela exige que você fique de cama por vários dias depois de usá-la apenas uma vez e, enquanto estiver assim, é difícil você controlar seu corpo, então precisa de alguém para ajudá-lo.

Sua voz era gentil, mas também tinha uma qualidade aguda e penetrante.

Eugene realmente não queria se lembrar do que havia acontecido em Samar. Foi bom poder usar Ignição para matar Barang, mas ele havia mostrado uma cena tão feia durante sua primeira vez sofrendo com os efeitos dessa técnica desde sua reencarnação. Eugene não conseguia nem andar com os próprios pés e foi forçado a se deixar carregar nas costas de Kristina. Então, nos três dias seguintes, ele foi forçado a comer a comida que Kristina dava para ele e beber a água que ela escorria em sua boca…

Não é como se ela tivesse feito algo para desprezá-lo. Na verdade, ela se comportou com tanto respeito que ele sentiu que ela estava exagerando…

Mas por alguma razão… Por alguma razão, parecia que seu orgulho como pessoa estava sendo prejudicado…

— Tudo bem se eu estiver ao seu lado. Se fosse eu naquele momento, teria sido capaz de responder rapidamente aos seus ferimentos e sei como cuidar do seu corpo desgastado. No entanto, foi muito imprudente usar tal técnica quando eu não estava com você. — Reclamou Kristina.

— Bem, isso é… — Eugene hesitou. — Eu não tive escolha a não ser fazer isso… Eu realmente não queria usá-la também…

— E ouvi dizer que você lutou contra a princesa Rakshasa em Kiehl. Quando ouvi essa notícia, você sabe que tipo de pensamento passou pela minha cabeça? — Kristina perguntou.

— Como eu saberia disso? — Eugene respondeu.

— Lamentei o fato de não poder estar lá com você. Como a Santa, se eu estivesse lá com você, poderia ajudá-lo a fazer justiça àquela líder maligna dos Elfos Negros.

— Não vamos falar de algo que já está no passad—

Os passos de Kristina pararam abruptamente. Enquanto se perguntava o que ela queria, Eugene também parou e se virou para olhar para ela. Naquele momento, suas mãos se estenderam para agarrar as de Eugene.

— Sir Eugene. — Disse Kristina enquanto agarrava as mãos dele e as mantinham juntas. Ela notou o anel no dedo anelar da mão esquerda de Eugene, mas optou por não dizer nada sobre isso por enquanto, em vez disso, falou: — Por favor, reconheça que existência especial você é. Você é um herói que foi reconhecido pela Espada Sagrada. Como Santa, estou pronta para morrer por você, Sir Eugene. Se você fosse ferido, eu faria tudo ao meu alcance para realizar um milagre para curá-lo.

Eugene ouviu isso em silêncio.

— Como Herói, você precisa cumprir seus deveres. Neste mundo, o único dever que um Herói absolutamente precisa cumprir é matar os dois Reis Demônios restantes. Então, por fa—

— Algo está errado?

Eugene olhou para as mãos de Kristina. Elas não estavam tremendo e também não havia suor. Mesmo o pulso que podia sentir sutilmente através de suas mãos unidas estava calmo. No entanto, por algum motivo, Eugene sentiu uma estranha sensação de mau presságio.

Talvez fosse devido ao sorriso que Kristina estava usando no momento. Eugene não desconhecia esse tipo de sorriso; ele tinha visto isso uma vez antes. Isso mesmo, foi quando conheceu Kristina, pouco antes de entrarem na tumba de Vermouth. Quando mencionou a semelhança de Kristina com Anise e perguntou sobre seus pais biológicos.

Kristina exibiu o mesmo tipo de sorriso naquele momento. Mesmo que parecesse pacífico, os sentimentos por trás disso certamente não eram. Era um sorriso que parecia ter sido cultivado com muito cuidado durante muito tempo para que pudesse ativá-lo quase inconscientemente e não parecer uma fachada, embora fosse. À primeira vista, aquele sorriso parecia ser benevolente e condizente com seu título de Santa.

Se esta fosse a primeira vez que Eugene encontrasse Kristina, e seu relacionamento com ela ainda fosse superficial, ele não teria sentido nenhum desconforto com aquele sorriso. No entanto, Eugene passou vários meses com ela dentro de Samar. Juntos, eles chegaram ao domínio élfico que ninguém visitava há séculos, e Kristina até conseguiu enfrentar com calma o risco de morte com ele quando conheceram Barang.

Fazia apenas alguns meses. No entanto, se ele adicionasse os anos de sua vida anterior, não parecia tão curto. Isso mostrava o quanto Kristina se parecia com Anise. Se cada um de seus traços fosse examinado separadamente, um por um, poderiam não ser exatamente iguais, mas não seria exagero dizer que pareciam gêmeas a julgar pelo ar que ambas exalavam.

Como tal, Eugene não conseguia lê-la. Kristina também tinha dado aquele tipo de sorriso antes de se separarem na propriedade dos Lionheart. Quando se conheceram, aquele sorriso parecia artificial e pretensioso, mas depois de passar por várias crises em Samar, seus verdadeiros sentimentos começaram a emergir lentamente.

— Do que você está falando? — Veio a resposta tardia de Kristina.

Depois de piscar os olhos algumas vezes, Kristina inclinou a cabeça para o lado e mudou sua expressão. Seu sorriso desapareceu e sua expressão ficou duvidosa.

— Você estava com uma expressão estranha no rosto. — Explicou Eugene.

— Você está dizendo que meu rosto está estranho? — Kristina perguntou.

Eugene respondeu honestamente: 

— Parece que você está se forçando a sorrir.

— Não é o caso, mas… Se você realmente se sente assim, pode ser porque tenho sorrido com mais força do que imaginava. Já se passaram vários meses desde a última vez que te encontrei, então pode ser que minha expressão esteja um pouco estranha. — Kristina afirmou enquanto soltava as mãos de Eugene. Então imediatamente desviou o olhar e olhou para Mer, que estava piscando para ela do lado de Eugene agora. — Bem, agora, pensar que esta garotinha é a familiar que a Sábia Senhorita Sienna criou pessoalmente.

— Meu nome é Mer Merdein. — Mer se apresentou.

Então Kristina finalmente estava prestando atenção nela. Embora Mer tivesse conhecido muitas, muitas pessoas diferentes ao longo dos anos, Mer sentiu um certo sentimento pela primeira vez ao conhecer Kristina, algo que parecia indescritível e desagradável.

— Prazer em conhecê-la, Senhorita Familiar. Ah… Seria grosseiro da minha parte chamá-la assim? — Kristina disse hesitante.

— Hum… Não, estou bem com isso. Embora eu possa ter nascido há mais de duzentos anos, é verdade que sou uma garotinha fofa e adorável que se parece exatamente com a Senhorita Sienna. — Mer declarou com orgulho.

Era impressionante que Mer pudesse dizer algo assim com sua própria boca. Enquanto Eugene pensava isso, olhou para o topo da cabeça dela.

Na verdade, Eugene também disse algumas coisas sobre sua vida anterior como Hamel, como que seu rosto não era ruim e que ele tinha o charme de um garanhão selvagem indomável, mas isso foi antes dele se revelar Hamel. E não era como se tivesse cuspido coisas tão sem vergonha e ousadas sobre seu próprio rosto atual.

— Hehe, realmente parece ser o caso. Eu também já vi o retrato e a estátua da Senhorita Sienna antes, mas parece que a Senhorita Mer realmente foi feita à imagem exata da Senhorita Sienna. — Disse Kristina com um leve sorriso enquanto olhava nos olhos de Mer.

Mer não evitou encontrar esse olhar. Ela ainda estava sentindo essa sensação desconhecida de Kristina e estava lutando para descobrir o que era.

— Então, foi você quem me pediu para vir aqui. — Eugene falou, quebrando esse breve silêncio. — Por que me disse para vir aqui? Embora eu tivesse meus próprios motivos para querer vê-la, não esperava que fosse você a me ligar primeiro.

— Quais são as suas razões para querer me ver, Sir Eugene? — Kristina perguntou.

— Os que instigaram o plano para matar você e eu não foram o papa e seus cardeais. — Eugene a informou calmamente, como se não fosse grande coisa.

No entanto, ele ainda se certificou de que os arredores estivessem limpos. Uma teocracia como essa estava absolutamente repleta de fanáticos religiosos andando por aí com rostos normais. Muito menos seu Deus, não seria estranho levar uma facada no olho se alguém fosse pego caluniando o papa ou os cardeais nas ruas.

— Ah. — Kristina fez um ruído de reconhecimento enquanto assentia levemente. — De fato. Embora eu tivesse minhas suspeitas no começo, pensei que eles não teriam motivos para fazer algo assim… Então realmente não foram eles.

Você confia no Papa e nos Cardeais? Eugene perguntou a Kristina algo assim no passado. Ele podia se lembrar claramente da resposta que ela havia dado naquele momento.

Não.

Mas eles não gostariam que os dois morressem de algo assim.

— Espero que você comece a confiar totalmente em mim depois desse incidente. — Insistiu Kristina sinceramente.

— Eu já disse que confiava em você. — Eugene a assegurou.

— Sim, você disse a mesma coisa para mim naquela época. No entanto, parecia que você ainda precisava de uma prova concreta, e não apenas da minha palavra. Então, eu estava disposta a voltar ao Império Sagrado para investigar nossas suspeitas sobre o Papa e o Cardeal Rogeris. No entanto, parece que isso não ajudou muito. — Kristina admitiu com uma risada enquanto voltava a andar. — Em uma situação em que até nossas cartas são monitoradas, fiz questão de usar cifras e até transmiti minhas cartas a você por meio de um dos meus poucos amigos. Portanto, Sir Eugene, espero que aprecie quanto esforço fiz para ganhar sua confiança.

— Já disse que confio em você. — Insistiu Eugene com firmeza.

— Eu sei. Estou dizendo isso, porque espero que você seja um pouco mais atencioso comigo e um pouco mais… — Kristina parou por alguns segundos.

Nesse breve momento, Eugene notou uma ligeira mudança na expressão dela.

O sorriso falso desapareceu e o sorriso que viu em Anise surgiu em seu lugar.

Kristina voltou a falar.

— Um pouco mais… Haha… Embora possa soar estranho para você, Sir Eugene, mas sim, espero que venha a confiar e me valorizar um pouco mais do que já faz.

— Valorizar você? — Eugene repetiu.

— Por favor, não me entenda mal. Como Santa, certamente continuarei a acompanhá-lo em sua jornada, Sir Eugene. No entanto, acredito que um vínculo de companheirismo ainda não foi forjado entre nós. — O sorriso genuíno de Kristina desapareceu. — Como tal, preciso construir nosso vínculo passo a passo.

— Você tem uma personalidade bastante exigente. Enfim, por que me pediu para vir até Yuras? — Exigiu Eugene.

— Em alguns dias, no aniversário da Senhorita Anise, serei confirmada como a Santa. — Anunciou Kristina.

— Confirmada? — Eugene repetiu em confusão. — Você já não era reconhecida como a santa formal em vez de apenas a candidata a santa?

— Apenas alguns estão cientes desse fato. — Explicou Kristina. — Mesmo em Yuras, apenas o Papa e três dos Cardeais sabem que me tornei a Santa formal.

Agora que mencionou isso, os Inquisidores de Heresia pertencentes ao Maleficarum, Atarax e Hemoria também chamaram Kristina de ‘Candidata a Santa’.

— Claro, agora que me tornei formalmente a Santa, será um evento agradável e honroso ser oficialmente confirmada e anunciada como tal. Eu também estarei recebendo bênçãos e um batismo. No entanto, isso também significa que no dia da festa da Senhorita Anise, me pedirão para recitar uma oração na Praça do Sol e bem em frente à estátua dela… Isso me faz sentir como se houvesse um fardo pesando sobre mim. Uma vez feito isso, posso ser considerada a Segunda Vinda da Fiel Senhorita Anise. — Disse Kristina com alguma dúvida.

— …

— … 

Eugene a ouvia em silêncio.

— No entanto, não tenho capacidade de vetar essa decisão. Não é como se eu pudesse simplesmente rejeitar esse acordo por causa do fardo que isso representa para mim. — Reclamou Kristina.

— Está dizendo que precisa de mim para sua confirmação? — Eugene perguntou enquanto soltava seu manto. — Ou será que o que você realmente precisa é da Espada Sagrada?

— O fato de Sir Eugene ser o Herói não será revelado. — Prometeu Kristina. — Afinal, a existência do Herói é um assunto muito mais pesado do que a existência da Santa. Minha confirmação como Santa acontecerá em um dos locais mais profundos e secretos do Vaticano. Se Sir Eugene estiver lá… Por favor, cuide de mim enquanto sou confirmada como a Santa. — Implorou Kristina.

— Mas isso realmente não importa. — Eugene falou enquanto exibia seu manto. — É um pouco mesquinho estar tão focada no fato de que sua identidade como Santa está sendo anunciada.

— O que você quer dizer com isso? — Kristina perguntou em estado de choque.

— Não só você não deveria se preocupar tanto comigo, mas também não precisa ser tão excessivamente consciente do fato de que a Santa tem que se dedicar a ajudar o Herói. — Eugene a informou.

Incapaz de pensar em uma resposta para isso, os olhos de Kristina se arregalaram em descrença. Eugene observou enquanto o sorriso desaparecia de seu rosto e toda expressão parecia desaparecer.

— Você precisa especialmente parar de dizer que morrerá em meu lugar. — Instruiu Eugene.

Embora fosse estranho para ele estar dizendo algo assim, considerando como ele morreu em sua vida passada.

— Eu realmente odeio esse tipo de coisa. — Cuspiu Eugene.

Mas foi por ter morrido assim que Eugene, mais do que qualquer outra pessoa neste mundo, sentiu-se qualificado para dizer tal coisa.


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