Switch Mode
Participe do nosso grupo no Telegram https://t.me/+hWBjSu3JuOE2NDQx
Considere fazer uma Doação e contribua para que o site permaneça ativo, acesse a Página de Doação.

Damn Reincarnation – Capítulo 198

O Cruzado (1)

Nas proximidades de um templo completamente destruído, havia um enorme buraco que não se encaixava bem com o terreno ao redor. Este era o buraco que Eugene havia feito alguns dias atrás.

Uma mulher alta estava parada na entrada do local. Ela inclinou a cabeça para o lado enquanto olhava para o buraco, que era muito fundo para ver o fim. Embora uma meia-lua brilhasse fracamente no céu noturno, uma onda de escuridão começou a se espalhar pelas costas da mulher.

A escuridão criada pela mulher envolveu seus arredores como uma névoa e começou a afundar no buraco. Depois que a escuridão se espalhou completamente, a mulher desceu para o buraco, com os pés totalmente despidos de qualquer proteção.

Apenas alguns passos dentro do buraco e ela já havia encontrado cadáveres. Parecia que eles haviam tentado desesperadamente sair do buraco. Embora isso fosse talvez devido à dificuldade de sair de um buraco tão profundo com seus corpos quebrados, a maioria dos cadáveres desmoronados também tinham o que pareciam ser feridas de presas de cobra.

A maioria desses cadáveres tinha as pontas dos dedos incrustadas de sangue e sujeira e pareciam ter sido esmagadas. Nos dias que se seguiram à morte, seus corpos já haviam enrijecido em rigor mortis, mas os olhares em seus rostos, contorcidos de dor e horror, permaneciam. A mulher examinou cada um desses rostos um por um enquanto se dirigia cada vez mais fundo no buraco.

O fino véu de algodão que cobria seus lábios estremeceu. A cada passo que ela dava para baixo, um odor desagradável pesava cada vez mais no espaço ao seu redor.

Era o cheiro de sangue e intestinos derramados. Os cheiros da podridão que começavam dias após a morte de um corpo. Um fedor de morte se concentrou neste buraco de incontáveis cadáveres. A mulher sentiu-se ligeiramente excitada pelo cheiro. Nesta era pacífica que não tinha visto nenhuma guerra estourar, era difícil encontrar um lugar como este onde tantos cadáveres foram enterrados em um único local.

Especialmente cadáveres como estes. Estes não eram os cadáveres inúteis de uma pessoa com pouco ou nenhum status. A mulher examinou os uniformes usados pelos cadáveres. A cruz vermelha em seus peitos era o símbolo dos Cavaleiros da Cruz de Sangue, e aquele manto vermelho era o símbolo do Maleficarum da Inquisição.

Havia bem mais de cem cadáveres. Embora nem todos tenham morrido instantaneamente. Muitos deles pareciam ter sobrevivido, mas não conseguiram escapar desse poço devido aos ferimentos graves e à exaustão.

No entanto, como as vidas humanas eram muito tenazes, algumas pessoas ainda podiam ser vistas agarradas aos seus últimos suspiros. Com vozes moribundas, eles entoaram orações ou clamaram a seu Deus em um murmúrio. Havia também algumas vozes implorando por ajuda, enquanto algumas haviam perdido completamente a cabeça e murmuravam incompreensivelmente.

A mulher não lhes deu atenção. Ela não tinha motivos para salvá-los. Pelo contrário, a escuridão que se espalhava dela a cada passo que dava estava reivindicando suas vidas. As almas que foram coletadas por isso não foram capazes de ascender ao céu, em vez disso se dissolveram na escuridão.

Bem no fundo do buraco, os passos da mulher pararam.

Ali embaixo estava tão escuro que a mulher não conseguiu escurecer ainda mais. O cheiro de morte que havia se concentrado ao máximo tornava cada respiração uma alegria. A mulher ergueu um pouco o véu e sentiu o fedor. Então olhou um pouco mais para baixo com prazer em seus olhos.

Não havia terra visível no fundo do buraco. Também não havia corpos empilhados. Em vez disso, o sangue carmesim se acumulou no fundo como se fosse água da chuva.

Dentro dessa poça de sangue, os restos de cadáveres podiam ser vistos flutuando. Isso fez com que os lábios da mulher, que estavam bem apertados, se esticassem em um sorriso fino. Então, com os olhos roxos brilhando, ela deu um passo em direção à poça de sangue.

Boom!

Uma ondulação se espalhou pela poça de sangue quando ela deu aquele passo à frente. A superfície da piscina ficou clara, expondo o que havia por baixo. Havia corpos que pareciam ter sido mastigados, mas ainda havia muito desse sangue agora claro para ter sido derramado desses cadáveres.

— Bem, agora eu só queria ver o que aconteceu para causar a morte de Atarax. — Comentou a mulher consigo mesma.

Na opinião da mulher, ele era um sacerdote raro e iluminado.

Nesta era atual, a magia negra não receboa uma rejeição incondicional. Embora fosse impossível para um povo demônio ascender à posição de bispo, se desejassem, eles realmente poderiam entrar na Igreja da Luz e se tornar um sacerdote.

No entanto, era difícil imaginar que um Inquisidor de todas as pessoas tivesse um leve desejo de compreender a magia negra em vez de ter um enorme preconceito contra ela.

No passado, depois de ter mantido contato secreto com ele por algum tempo, essa mulher conheceu Atarax pessoalmente. Naquela época, ele mostrou uma atitude incorruptível, mesmo quando pediu ao inimigo de sua organização conselhos sobre magia negra. Não, ao invés de apenas incorruptível, naquela época, a atitude de Atarax era quase intimidadora.

Nós, a Inquisição, podemos caçá-la a qualquer momento. Portanto, se você valoriza sua vida, deve cooperar com nossas demandas.

A mulher percebeu imediatamente que o pedido de Atarax não passava de uma fachada para suas verdadeiras intenções. Isso porque o conselho que Atarax havia solicitado em relação à magia negra não era sobre como lidar com ela como um inimigo.

A mulher esperava que ele caísse um dia.

Ela queria ver o momento em que a ilusão arrogante de Atarax de que a Luz perdoaria qualquer injustiça que ele cometesse fosse quebrada. Se um clérigo que alcançou tal nível caísse, que tipo de sabor único poderia permear sua alma. Foi a curiosidade e a ganância que levaram a mulher a marcar secretamente o jovem Atarax.

— Não resta nem vestígio do cadáver dele. — Observou a mulher. — A alma dele também não está aqui. Ele subiu ao céu como tanto esperava e confiava? Ou talvez a própria alma tenha desaparecido… Haha. Eu realmente queria ver seus momentos finais pessoalmente.

A mulher não estava falando sozinha.

Ela estava olhando para um ser flutuando no centro da poça de sangue. Todos os seus membros foram cortados, deixando apenas um torso e uma cabeça. No entanto, tendo sido deixado em uma condição em que a morte era certa, ele de alguma forma conseguiu sobreviver.

— Dependendo do uso da magia do sangue, você realmente poderia alcançar a imortalidade comparável à de um morto-vivo. — Sussurrou a mulher. — Você estava ciente? Você pode ter classificado a magia de sangue como sendo diferente da magia negra, mas a verdade é que não é necessariamente assim. A magia de sangue foi originalmente desenvolvida por aqueles vampiros que gostam de sugar o sangue das pessoas e bebê-lo.

Hemoria continuou a se agarrar a seus últimos suspiros que pareciam que poderiam ser interrompidos a qualquer momento.

— Mesmo entre os demônios, os vampiros possuem uma classe particularmente alta de imortalidade. Eles podem ser revividos desde que haja uma única gota de sangue. A magia de sangue deve ser capaz de fazer o mesmo, certo? Em vez de precisar se alimentar do sangue de outras pessoas como um vampiro, você deve ser capaz de multiplicar seu próprio sangue com mana e magia… Haha. Embora, no seu caso, pareça que você ultrapassou o que a magia de sangue comum pode curar. — Observou a mulher.

— Você é… — Os lábios de Hemoria se abriram. Olhando para a mulher, ela espremeu com uma voz rouca. — Amelia Merwin…

Um dos Três Magos do Encarceramento.

A mestra de masmorras do deserto. O Espinho Negro. Respondente da Morte.

Entre os magos negros que assinaram um contrato com o Rei Demônio do Encarceramento, Amelia Merwin era conhecida por ser particularmente excêntrica e poderosa, por isso tinha muitos apelidos. O Deserto de Ashur, que ela governava, foi designado como Zona Restrita pelo Reino de Nahama, e todo acesso foi proibido.

— Por que você está aqui? — Hemoria espremeu para fora.

— Eu já não te disse? Eu vim aqui para ver o cadáver de Atarax. É lamentável que eu não tenha conseguido vê-lo cair enquanto ainda estava vivo, mas enquanto seu cadáver permanecesse, eu estava pensando em transformá-lo em um morto-vivo. Ah, será que você não sabe? Enquanto o cadáver permanecer e estiver morto há apenas alguns dias, ele pode ser usado para invocar a alma do falecido. — Amelia disse enquanto sorria e levantava a mão.

Um cajado feito de cabeça de cabra e vários outros ossos apareceu em sua mão.

Buzzzz!

O Poder das Trevas liberado de seu cajado evaporou o sangue.

Amelia continuou.

— No entanto, o cadáver de Atarax está desaparecido. Embora existam muitos outros cadáveres, todos eles são inúteis. Mas parece que fiz bem em descer até o fundo desse buraco profundo. É como se eu tivesse encontrado uma joia na calçada.

— Me solte…! — Hemoria sibilou.

O Poder das Trevas de Amelia envolveu Hemoria. Ela se debateu, tentando de alguma forma escapar de seu alcance, mas a única resistência que seu corpo desmembrado poderia oferecer era arquear as costas e balançar a cabeça.

Não. A verdade é que Hemoria tinha outros meios de resistência disponíveis para ela. Era que sua magia de sangue estava sendo suprimida pelo Poder das Trevas de Amelia. Se ela pudesse se aproximar um pouco mais, Hemoria estava confiante de que teria uma chance…

No momento em que o Poder das Trevas de Amelia arrastou o corpo de Hemoria para mais perto, padrões apareceram em cada uma das bochechas de Hemoria.

— Pare! — Hemoria rugiu.

Quanto mais simples o comando, mais forte o poder. Ela não precisou segurar Amelia Merwin por muito tempo. Hemoria só precisava que ela parasse por um momento.

As mandíbulas de Hemoria se abriram, então deu uma mordida no ar.

Crack!

A cabeça de Amelia se inclinou para o lado. Mais da metade de seu pescoço foi mordida e desapareceu. O sangue jorrando manchou o véu de algodão de Amelia e suas roupas de vermelho. Se ela fosse apenas humana, então definitivamente estaria morta.

No entanto, Amelia Merwin não morreu.

Sua cabeça inclinada se endireitou mais uma vez. O jato de sangue parou abruptamente. Enquanto procurava a parte que faltava em seu pescoço, Amelia riu.

— Artes das Palavras em cima da Magia de Sangue. Ambos os tipos de magia já foram perseguidos pelo Império Sagrado. E essas presas… — Amelia parou enquanto olhava para os dentes afiados de Hemoria.

Eles não eram apenas dentes simples. Maldições que se aproximavam da magia negra foram reduzidas à forma de um dente. A ideia de inserir dentes feitos por esse método nas gengivas era insana, mas…

— Você realmente foi projetada para aproveitar ao máximo a magia que seu próprio corpo possui. — Elogiou Amelia. — Por mais que alguém seja treinado em magia desde tenra idade, seria difícil atingir seu nível de otimização. Em primeiro lugar, se você tinha tanto talento, deveria ser exibido de outras maneiras, mas parece ter se especializado apenas em magia de sangue e nas artes das palavras, enquanto todo o resto não é tão bom assim.

Os olhos de Hemoria tremeram de medo.

Amelia continuou.

— É honestamente uma surpresa. E pensar que o Império Sagrado… Não, que a Inquisição mostraria conhecimento tanto de magia quanto de magia negra.

— Ca… Cale a boca… — Hemoria rosnou fracamente.

 Ah. — Amelia suspirou fracamente. — Parece que você não sabia? Não é apenas Atarax. Sua Inquisição fez contato com magos negros em todas as épocas. Não sei com quem eles estiveram em contato anteriormente, mas mesmo antes de Atarax, dei conselhos sobre magia negra a dois inquisidores anteriores.

O rosto de Hemoria ficou pálido.

— O quê? Você está desapontada? Odeia o fato de que a Inquisição que você serve realmente tem laços com os magos negros e comigo, Amelia Merwin, ainda por cima? Por que agora, depois de ter chegado tão longe? Na verdade, eu os admiro. Mesmo para os magos, é raro ver tamanha dedicação em entender a magia negra, tudo pelo bem de seu deus… — Amelia riu enquanto sondava suas próprias feridas.

Onde quer que seus dedos fossem, uma nova pele crescia e a carne ferida era reconectada.

— Ah, mas mesmo entre eles, Atarax era um indivíduo bastante interessante. — Suspirou Amelia. — Mesmo não sabendo nada sobre o assunto, ele ainda tentava me ameaçar, e mostrava tanta confiança que a luz continuaria a protegê-lo incondicionalmente—

— M-Mestre…! Não insulte… Meu pai! — Hemoria soltou um grito enquanto seu corpo se contorcia inutilmente.

O pai dela!

Um grande sorriso se abriu no rosto de Amelia com essas palavras. Ela se aproximou e agarrou Hemoria pelos cabelos. Depois de puxar com força a cabeça de Hemoria para cima, Amelia pressionou seu rosto perto de Hemoria e olhou em seus olhos.

Um calafrio desceu pelas costas dela quando seu ânimo caiu.

O terror da morte parecia brotar dos olhos que estavam fixos nos dela. Hemoria não conseguiu dizer mais nada e seu corpo tremia de medo. Incapaz de segurar por mais tempo, as marcas persistentes de suas artes das palavras desapareceram de suas bochechas.

— Seu paaaai? — Amelia soltou uma risadinha enquanto agarrava o queixo de Hemoria com a outra mão.

Com esse aperto, Amelia forçou a boca de Hemoria a se abrir e agarrou um dos dentes afiados.

Pupuput!

O sangue jorrou da abertura onde o dente havia sido arrancado com força. No entanto, Hemoria nem conseguiu soltar um grito.

Depois de virar o dente arrancado para um lado e para o outro enquanto o examinava, Amelia encolheu os ombros e perguntou:

— Você comeu humanos, certo?

O rosto de Hemoria empalideceu ainda mais.

— Dos cadáveres aqui, assim como daqueles que ainda não eram cadáveres. Não eram todos seus camaradas? Você realmente devorou seus próprios camaradas para sobreviver aqui no fundo deste buraco. — Amelia acusou.

Hemoria gaguejou.

— N-Não, eu não—

— Você estava tentando dar a desculpa de que não os comeu mesmo? Você não está ciente de quão ridícula é essa desculpa? Você usou magia de sangue para drenar o sangue dos cadáveres aqui, bem como daqueles que estavam apenas meio mortos. Você os usou para restaurar seu próprio sangue e curar suas feridas. Se tivesse mais alguns dias, provavelmente teria se recuperado o suficiente para sair deste buraco por conta própria. — Amelia disse enquanto empurrava a cabeça para baixo em cima da cabeça de Hemoria.

Splash!

Quando o corpo sem membros de Hemoria caiu na poça de sangue, ela viu todos os cadáveres que estavam submersos ali.

Na verdade, os cadáveres estavam tão danificados que era difícil reconhecer que já haviam sido humanos. Não foi Hemoria que os matou. Hemoria tinha acabado de conectar seu sangue a esses cadáveres para extrair deles…

Ou, pelo menos, era o que ela pensava.

— Eu realmente gosto de coisas assim. — Amelia admitiu alegremente. — Apenas o fato de um Inquisidor, que deveria mostrar obediência incondicional à luz, na verdade ter contatado secretamente um mago negro e estudado magia negra seria divertido o suficiente… Mas pensar que ele seria pai de uma criança a portas fechadas. Então, para descobrir que aquela filha acabaria sugando o sangue de seus companheiros, tanto Paladinos quanto Inquisidores, para sobreviver.

— Não. Não é verdade. — Hemoria negou desesperadamente. — Eu não….

Amelia continuou impiedosamente.

— No final, descubro que a filha nem é um ser humano de verdade, mas sim uma espécie de quimera? Eu só vim até aqui para pegar o cadáver do seu pai, mas… Ahaha! Você é um achado muito mais divertido do que seu pai.

Hemoria levantou a cabeça debilmente para olhar para Amelia. Aqueles olhos roxos que brilhavam no meio da escuridão eram aterrorizantes. Hemoria inconscientemente mordeu o lábio inferior enquanto murmurava uma oração.

— Depois de se transformar nisso, você está mesmo procurando a luz que te salve? — Amelia zombou. — Não acredito na luz, mas ainda posso dizer isso com confiança. A luz pode não ser uma idiota impiedosa, mas você realmente acha que ela ainda cuidaria de algo como você, que fez as coisas que você fez?

Hemoria ofegou.

— F-Foi tudo pela luz que eu…

— Seu pai disse a mesma coisa. Ele provavelmente até disse essas palavras antes de morrer, certo? Se a luz realmente estivesse cuidando de vocês dois, seus membros não teriam sido cortados e seu pai não teria morrido. Não, espere. Se a luz realmente se importasse com este mundo em primeiro lugar, seu pai não teria ousado fazer algo como você. Sua própria existência é um insulto à luz! — Amelia cuspiu.

Bam!

Seu cajado caiu nas costas de Hemoria.

— Parece que como uma idiota, você nem sabe que tipo de existência você é, então deixe-me informá-la. Você não é um ser humano normal. Você sabe o que isso significa? Você é uma quimera feita da mistura de um humano com várias outras coisas. — Amelia a esclareceu.

O tremor de Hemoria parou.

— Você disse que Atarax é seu pai? Provavelmente porque parte de seus genes foi copiada do sêmen e do sangue de Atarax, mas, do meu ponto de vista, tanto como maga quanto como maga negra, sua relação com Atarax não passa de um punhado de areia. Você também não acha? Depois de ter sugado tanto sangue para sobreviver nos últimos dias, você realmente acha que o sangue que herdou de Atarax é mais espesso do que o sangue que absorveu em seu corpo? — Questionou Amelia.

— Não… N-N-Não é verdade… — Hemoria negou fracamente.

— O que quer dizer com não é verdade? Por que negar uma coisa tão óbvia? Ah, eu acho que vem naturalmente. Vocês fanáticos reagem a qualquer coisa que não seja a luz com negação. Está bem. Vou mostrar alguma compreensão. Eu preferiria que sua personalidade e a força de suas crenças permanecessem muito, muito fortes. — Amelia confessou enquanto usava seu Poder das Trevas para erguer o corpo de Hemoria no ar. — É isso que tornará o treinamento tão divertido. Não se preocupe, não vou te matar. Em vez disso, vou te dar o que você quer. E daí se seus membros foram cortados? É apenas uma questão de restaurar seus membros, certo? Ah… A propósito, qual é exatamente o seu nome?

Hemoria não respondeu. Ela não conseguiu.

As palavras que Amelia soltou com uma risada, as verdades que Amelia despejou tão casualmente, como se estivesse apenas provocando, abalaram a mente de Hemoria.

— Não vai falar? Nesse caso, não terei escolha a não ser ouvir de você na próxima vez. Agora então, de agora em diante, eu quero que você entenda. A luz não te protegeu. Não cuidou de você enquanto você estava morrendo. Você acha que o que você fez foi inevitável? Sim, está certo. Se a luz realmente se importasse com você, não teria que sugar o sangue de seus companheiros. — Amelia disse tudo isso com uma voz agradável enquanto começava a arrastar Hemoria para longe. — Você sabe o que isso significa? A luz que você serve não é tão gentil quanto suas orações a descrevem. Então, sabe do que deve se ressentir a partir de agora?

A voz de Amelia parecia vir de muito longe. Em sua visão vacilante, Hemoria viu uma pequena luz.

Mas aquela luz estava nas mãos de um demônio. Um demônio que se aproximou de Hemoria enquanto mantinha uma intenção assassina inacreditável e aterrorizante e ódio por todas as coisas que existiam neste mundo.

A luz que havia prometido proteger Hemoria e seus outros crentes foi ofuscada pela luz nas mãos do demônio. Então ela começou a dançar com esse demônio.

— Grgr…

Em suas mandíbulas fortemente cerradas, os dentes de Hemoria começaram a ranger.

* * *

Dois dias após o término dos rituais realizados na Fonte de Luz, Eugene e Kristina estavam hospedados em uma tenda que haviam montado no meio de uma grande floresta. A tenda era um artefato mágico que usaram enquanto vagavam pela floresta Samar.

Embora os efeitos colaterais desta vez tenham sido leves, Eugene ainda teve que ficar na cama nos últimos dois dias sem se esforçar. Kristina cuidou dele enquanto estava neste estado, apenas saindo da tenda para caçar pequenos animais e procurar ervas quando chegava a hora de suas refeições.

Às vezes, se Mer se oferecia para cuidar de Eugene, Kristina se ajoelhava e oferecia suas orações.

Embora ela não mais pronunciasse suas orações em voz alta, ainda era atraída pela luz no fundo de seu coração.

Sempre que isso acontecia, ela ouvia a voz de Anise dentro de sua cabeça e, ao ouvir a voz de Anise, uma luz suave envolvia o corpo de Kristina.

— Parece que não há necessidade de acendermos nenhuma luz à noite. — Comentou Mer descaradamente.

A luz ao redor de Kristina era apenas moderadamente brilhante. Ao contrário das luzes que podiam ser invocadas por magia, ou do sol no céu, seus olhos não doíam mesmo depois de olhar para aquela luz por um longo tempo. Kristina também era bastante quente, embora não tão quente quanto uma fogueira. Mer realmente gostava de como Kristina estava confortavelmente quente, pois isso a impedia de sentir muito calor, não importa o quão perto sua mão chegasse dela.

— Acho que seria muito bom tê-la por perto quando eu quiser ler. Também seria bom aconchegar-me a ela e dormir junto durante o inverno frio… — Mer parou o que estava dizendo para encarar Eugene. — Claro, Sir Eugene, você não tem permissão para fazer isso.

— Quando eu disse que queria fazer isso mesmo? Eugene protestou.

— Se a Senhorita Anise assumir o controle daquele corpo e tentar abraçá-lo, então você precisa dizer isso com firmeza. — Instruiu Mer. — Diga a ela que você não pode fazer isso. Entendeu?

— O que eu sou, uma criança? — Eugene resmungou.

— Você às vezes age como uma criança, Sir Eugene.

— Apenas pare de falar comigo e também mantenha alguma distância dela. Por que você continua a incomodando quando ela está tentando orar?

Enquanto Kristina estava ajoelhada, Mer estava deitada com a cabeça apoiada nas coxas dela.

— Eu gosto de como isso é macio e fofo. — Mer suspirou de contentamento. — Embora esse sentimento seja algo que você nunca experimentará pelo resto de sua vida. Ah, só porque eu disse isso, você não tem permissão para tentar secretamente descobrir como é—

— Apenas pare com isso. — Eugene resmungou enquanto desfazia o curativo enrolado em sua mão esquerda.

Embora a mão tivesse sido esmagada há dois dias, graças a um milagre de Kristina, agora estava completamente curada. Mesmo os ossos que foram quebrados em pedaços foram totalmente curados durante o tempo em que as bandagens foram enroladas em seu braço e nenhum nervo foi cortado.

“Como eu pensei, o poder de seus milagres está mais forte do que antes”, observou Eugene.

Embora os milagres de Kristina estivessem além de qualquer comparação com aqueles realizados por outros sacerdotes até agora, a magia de cura que ela havia usado na floresta Samar ainda não havia atingido esse nível.

Isso era tudo graças à Anise habitando dentro de Kristina. Um dia, Kristina chegaria ao ponto de ser capaz de regenerar membros cortados como Anise.

Mesmo enquanto Eugene antecipava a chegada de tal dia, ao mesmo tempo, ele se sentia preocupado. Afinal, não era como se estivessem segurando Anise, que já havia morrido há muito tempo, mantendo-a neste mundo para fazê-la sofrer?

“Não… Espere. Se pensarmos assim, sou eu quem você deveria sentir pena em primeiro lugar. Por que uma pessoa que morreu há trezentos anos tem que reencarnar e passar por tanta dor de cabeça…? Vermouth, aquele maldito filho da puta.” Eugene xingou silenciosamente para si mesmo.

Anise não sabia nada sobre Vermouth.

Por meio de Eugene, ela soube que ele havia feito um buraco no peito de Sienna, mas parecia que não sabia de nada além disso. Não tinha jeito mesmo. Depois de voltar de Helmuth, Anise não teve mais contato com Vermouth.

Por causa do Juramento com os Reis Demônios.

Sienna não foi a única que ficou desapontada com o fim da batalha.

— Hm. — Eugene murmurava pensativo enquanto terminava de desembrulhar o curativo e se levantava.

Kristina também interrompeu suas orações e abriu os olhos. Ela se virou para Eugene com uma leve preocupação em seus olhos.

— Por que você está tão assustada? Estávamos esperando que alguém viesse nos procurar. — Assinalou Eugene.

Kristina hesitou.

— Mas…

— Tudo bem. — Disse Eugene ao abrir a entrada da tenda.

Alguém estava se aproximando deles à distância. Se quisessem, poderiam ter escondido sua presença e tentado se aproximar furtivamente de Eugene e dos outros, mas em vez disso, estavam se aproximando com uma exibição óbvia de sua chegada. Era para que eles pudessem alertar o lado de Eugene e dar-lhes tempo para preparar uma resposta.

— Que educado da parte dele. — Murmurou Eugene enquanto puxava a Espada Sagrada de seu manto.

Embora Eugene não soubesse quem era, definitivamente seria um sacerdote de alto escalão dentro de Yuras. Talvez outro cardeal?

Não… A presença se aproximando deles hoje parecia algo próximo a um cavaleiro. Tinha que ser alguém que estivesse pelo menos no posto de capitão dos Cavaleiros da Cruz de Sangue.

“Não, é diferente”, Eugene franziu a testa.

Era ainda maior do que isso. Embora ainda houvesse bastante distância entre eles, Eugene já podia perceber que a sensação da presença daquela pessoa era extremamente pesada. Tinha que ser um guerreiro comparável a Alchester, o Comandante dos Cavaleiros Dragão Branco, que estava se aproximando deles.

“Então, este é o Comandante dos Cavaleiros da Cruz de Sangue?” Eugene se perguntou enquanto a figura se aproximava.

Era o Cruzado.

Eugene deu um passo à frente para encontrá-lo.


Comentários

5 1 voto
Avalie!
Se Inscrever
Notificar de
guest
1 Comentário
Mais recente
Mais Antigo Mais votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
Fã da Mer
Visitante
Fã da Mer
3 meses atrás

Mer protegendo o seu pai. A coisa mais fofa deste mundo. E o Eugene só faz merda. Continua.

Opções

Não funciona com o modo escuro
Resetar