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Damn Reincarnation – Capítulo 204

A Praça do Sol (2)

“Irmã”, Kristina chamou silenciosamente o nome de Anise enquanto ainda caminhava com Eugene.

Embora, de fato, não houvesse necessidade dela gritar assim. Anise já estava lendo os pensamentos íntimos de Kristina.

[Não quero.] Anise respondeu sem qualquer hesitação.

Isso porque Anise sentiu que, como alguém em sua posição, tal resposta era natural. Kristina sentiu a determinação de Anise em sua resposta e uma recusa em recuar.

[Também admito que tenho muitos arrependimentos que sobraram da minha vida. A partir de agora, haverá algumas vezes em que precisarei de seu corpo emprestado, mas não em uma situação como esta…] Anise recusou severamente.

“Por que não?” Perguntou Kristina.

Anise respondeu sarcasticamente: [Por que fazer uma pergunta tão óbvia? É porque meus arrependimentos persistentes podem se transformar em ganância por seu corpo. Embora eu saiba suportar meus desejos, e se eu for incapaz de continuar a suportá-los? Seria melhor para você e para mim não fazer algo assim.]

“Merecemos ser felizes. Foi você quem me disse isso, irmã.” Lembrou Kristina.

Anise vacilou, [Algo assim… Não é a verdadeira felicidade. Pode até se tornar uma maldição. Kristina, eu realmente gosto de você. Não sei quanto tempo mais poderei permanecer neste mundo nesta forma, mas enquanto estiver aqui, quero ser como uma irmã carinhosa para você.]

Anise ficou em silêncio por alguns momentos. Kristina não a apressou em concluir sua decisão, mas o ritmo em que ela caminhava com Eugene naturalmente diminuiu um pouco. Eugene olhou para Kristina, que caminhava sem dizer nada, mas não perguntou o motivo de seu silêncio contínuo.

[Se meus arrependimentos persistentes se transformarem em ganância, então eu posso gradualmente querer ainda mais e mais do seu tempo…] Anise eventualmente avisou Kristina.

Kristina prometeu: “Farei o possível para lhe dar o que você deseja, irmã.”

[E se eu acabar querendo tomar seu corpo para mim completamente? E se eu acabar me arrependendo de minha morte e quiser realizar meu desejo de vida, obtendo a posse total de seu corpo?]

“Se é isso que a irmã quer, eu cederei meu corpo com prazer. Você merece felicidade mais do que eu, irmã.”

Anise suspirou, [Você realmente é uma pessoa tão sinistra. Pode dizer algo assim enquanto acredita que eu nunca faria tal coisa.]

Kristina pensou inocentemente: “Seria sinistro da minha parte duvidar de você em primeiro lugar, irmã.”

Anise riu da resposta de Kristina e disse: [Você… Se está realmente bem com isso, tudo bem, Kristina. Aceito com prazer sua oferta. No entanto…]

“No entanto?” Kristina repetiu com curiosidade.

[Até… O sol está prestes a se pôr, deixe-me usar seu corpo até então. Enquanto aquela luz brilhante dos céus ainda ilumina a terra, para que eu não ouse abrigar nenhum desejo pecaminoso…]

“Tudo bem.”

Kristina sorriu fracamente ao obter a resposta desejada. Ela então respirou fundo e fechou os olhos.

“Irmã.”

[Sim?]

“Feliz aniversário.”

A consciência delas mudou.

Anise inconscientemente caiu na gargalhada com as últimas palavras de Krisitina. E pensar que ela ainda seria capaz de receber tais felicitações. Já se passaram duzentos anos desde que Anise morreu.

Neste dia, trezentos anos atrás, Anise Slywood nasceu no mundo. Seu nascimento foi um tanto milagroso. A imitação da Encarnação da Luz que a concebeu foi incapaz de suportar os rigores do parto e morreu prematuramente, então, no final, Anise só pôde emergir no mundo depois que o estômago de sua mãe morta foi aberto.

Naturalmente, Anise não se lembrava desse momento. Ela nem sabia como era a mãe que a deu à luz. O nome de sua mãe também foi mantido em segredo. No entanto, desde que ela era jovem, havia uma coisa que sabia com certeza.

Ela nunca iria dar à luz seus próprios filhos.

Da mesma forma, outra coisa de que Anise tinha certeza era que ela desejava não ter nascido neste mundo.

Para a jovem Anise, seu aniversário nunca foi uma ocasião feliz. Em seu terceiro aniversário, ela foi forçada a ir à Fonte de Luz pela primeira vez e realizar o ritual. A partir daí, suas visitas cíclicas à Fonte foram se tornando cada vez mais frequentes, mas por menor que fosse o intervalo do ciclo, ela seria obrigada a realizar o ritual na fonte em seu aniversário.

Anise também sabia que o aniversário de alguém deveria ser um dia muito especial. Mas enquanto as outras crianças recebiam algo em seu aniversário, Anise nunca recebeu um único presente. Ela nem teve a chance de pedir um.

No entanto, houve uma vez… Mas… Quando exatamente foi mesmo? Certa vez, uma das freiras que cuidavam de Anise deu a ela um pequeno brinquedo de pelúcia em seu aniversário.

—Porém, em vez de uma boneca surrada como esta, que a Luz que surge dentro de você no seu aniversário seja um presente muito mais gracioso para a Santa.

Essas palavras tinham sido um consolo para a jovem inexpressiva? Anise sorriu ironicamente e balançou a cabeça.

Assim, a cada aniversário, ela precisaria ir à Fonte de Luz e realizar o ritual, absorvendo mais da Luz em seu próprio corpo. No entanto, ela nunca considerou isso um presente. Aquele bichinho de pelúcia foi o primeiro e último presente de aniversário que Anise recebeu na infância.

Então, depois de conhecer Vermouth e deixar Yuras—

— Anise. — Eugene falou de repente, interrompendo a linha de pensamento dela. Enquanto olhava abertamente para Anise, que tinha um leve sorriso no rosto, ele inclinou a cabeça para o lado e perguntou: — O que faremos para o almoço?

Embora a voz de Eugene fosse tão indiferente como sempre, Anise estava bem ciente da consideração ligada a suas palavras. Então, com um largo sorriso, Anise passou por Eugene.

— Vamos a um lugar com uma boa cerveja. — Decidiu Anise.

A bebida dourada feita de cevada fermentada era um dos produtos especiais mais famosos de Yuras. Entre os muitos monastérios espalhados por Yuras, havia vários especializados na fabricação de cerveja, e aqueles cujas cervejas eram particularmente boas as exportavam para o exterior com rótulos com o nome de seu monastério.

Anise gostava especialmente da cerveja do Monastério Corradict. Quando estava em Helmuth, raramente bebia cerveja, mas depois de voltar de Helmuth, bebia cerveja todos os dias enquanto vivia no Monastério Corradict.

Graças a essa conexão, muitas lojas compravam e vendiam cerveja especial de lá durante o festival de aniversário de Anise. Ela saiu para a rua e rapidamente passou por todos os garçons que ofereciam canecas de cerveja. Ela nem precisou tentar tomar um gole de qualquer um deles. O aroma da cerveja que ela bebia todos os dias há décadas já impregnava sua alma.

— A qualidade dessas canecas é toda ruim. Parece que eles até diluíram um pouco a cerveja. Algumas das lojas estão até vendendo uma cerveja completamente diferente sob o rótulo de Corradict. Se eu pudesse, gostaria de quebrar um pouco a cabeça deles, mas não há necessidade disso. Pessoas como eles vão morrer e cair no inferno de qualquer maneira. — Disse Anise com regozijo.

O lugar que ela acabou escolhendo com cuidado foi um antigo pub cuja placa estava pendurada em um beco. No entanto, o interior do pub não parecia envelhecido. Anise gostou imediatamente da luz laranja que vinha da grande lareira, bem como do barulho familiar encontrado em todos os pubs. Assim que se sentou, pediu duas cervejas junto com as refeições.

Anise começou.

— Embora eu só esteja dizendo isso agora, nunca imaginei que chegaria um dia em que poderíamos beber em uma loja como esta apenas nós dois.

Eugene murmurou.

— Sinto que já estivemos em alguns pubs ainda mais animados do que este.

Anise franziu a testa.

— Hamel, eu deixei óbvio, então por que você está fingindo não notar? Não me ouviu dizer, ‘só nós dois’?

Com um sorriso irônico, Eugene ergueu sua caneca de cerveja. Na verdade, esta foi a primeira vez que ele e Anise saíram para beber sozinhos.

— Bem, para ser honesto, em vez de apenas nós dois… Prefiro ter mais pessoas sentadas conosco como no passado. — Confessou Eugene.

Vermouth, Sienna e Moron. Eugene e Anise se lembraram dos três membros desaparecidos de seu grupo.

— Poderemos vir aqui algum dia com Sienna. — Disse Anise com otimismo.

Suas canecas de cerveja bateram uma na outra.

— Talvez possamos trazer Moron conosco também. — Eugene a lembrou. — Não importa o quanto eu pense sobre isso, não acredito que aquele desgraçado esteja morto ainda.

— Não tenha tanta certeza disso. Se você criar esperanças assim, e descobrir que Moron realmente está morto, você vai acabar muito desapontado. — Anise alertou Eugene.

Eugene negou isso.

— Na verdade não. Se ele está morto, então está morto. Até eu estou ciente de quanto tempo são trezentos anos.

— Quanto a Sir Vermouth… Nem eu tenho muita certeza sobre ele. Mas vale a pena falar sobre esse tipo de coisa agora? — Anise perguntou com um sorriso enquanto levava a caneca de cerveja à boca.

A caneca de vidro era tão grande quanto sua cabeça, mas a cerveja que a enchia até a borda foi derramada pela garganta de Anise de um só gole.

— Aaaah! — Anise estremeceu de êxtase ao pousar o copo vazio e continuou falando: — O importante agora é que você e eu estamos aqui bebendo nossas cervejas.

Enquanto esperavam que a comida fosse servida, conversaram sobre vários assuntos. Enquanto Eugene estava examinando a Fórmula da Chama Branca durante sua estadia na pousada, Anise — não, Kristina tinha ido para o Departamento da Inquisição e o Departamento de Pesquisa de Magia Divina. O Papa e o Cardeal Beshara, que se tornou o único Cardeal restante, não ousaram ficar no caminho dela, e Raphael, o líder dos Cavaleiros da Cruz de Sangue, sacou pessoalmente sua espada e acompanhou Kristina.

— As duas organizações são realmente muito parecidas. Eles cresceram muito em relação ao que eram quando eu ainda estava viva. O Departamento de Magia Divina estava tentando criar novos santuários e relíquias sagradas por meio do uso da Luz e dos milagres. — Disse Anise sem sentir a necessidade de entrar em detalhes sobre quais métodos eles poderiam ter experimentado.

Embora a comida deles ainda não tivesse acabado, estava claro que ela perderia o apetite se tais tópicos saíssem de seus lábios.

Anise continuou. — Quanto à Inquisição… Parece que eles podem ter ganhado algum tipo de inspiração de uma Santa que viveu muito tempo atrás. Aparentemente, eles estão tentando algo há muito tempo, e parece que Sergio Rogeris, que já foi membro da Inquisição, os apoiou constantemente.

— O que você está falando? — Eugene perguntou com uma carranca.

Anise explicou:

— Para colocar em termos simples, a Inquisição estava tentando fazer sua própria arma divina. Em vez de uma arma biológica que se concentra no uso de milagres e na Luz como uma Santa, sua versão era mais especializada em combate. Bem, aos meus olhos, não parecia diferente de um ninho de Quimera…

Um ninho de Quimera.

Eugene sabia que tal termo era, na verdade, uma figura de linguagem. As quimeras não põem ovos nem dão à luz filhotes, muito menos constroem ninhos. As quimeras eram apenas criaturas feitas misturando as partes do corpo de diferentes monstros ou mesmo humanos.

— Eles devem estar loucos. — Eugene praguejou.

— São mesmo. — Concordou Anise. — Graças a isso, o cruzado teve que cortar a garganta de alguns deles. Só estou dizendo isso agora, mas acho que gosto bastante daquele paladino.

— Você não acha que ele é um pouco louco demais?

— Hamel, você realmente acha que está em condições de chamar outra pessoa de louca?

— O que tem eu? — Eugene protestou defensivamente. — Também só estou falando isso agora, mas acho que de todos nós, eu era o mais normal.

— Agora isso é loucura. — Disse Anise com uma risada enquanto balançava sua enésima caneca de cerveja. — De qualquer forma, desde que os eliminamos de forma limpa, destruímos e queimamos suas pesquisas, sinto-me realmente aliviada. Os restos mortais que ainda não haviam desaparecido também foram devolvidos à Luz com um sacramento…

Anise levantou ligeiramente a túnica branca. Então, com um sorriso brilhante, mostrou o mangual que usava na cintura.

— A maça que eu usei uma vez também foi modificada para torná-la mais fácil para Kristina usar. — Revelou Anise. — Embora, para ser sincera, acho que as habilidades dela ainda são bastante imaturas… Haha, na verdade, deve ser porque meus padrões são muito altos.

— Não tem jeito. Afinal, trezentos anos atrás, nós éramos os melhores. — Disse Eugene com um sorriso idêntico ao de Anise.

Com essas palavras, ela bateu sua caneca de cerveja na mesa e caiu na gargalhada.

— Aha, ahahaha! Ahahaha! Sim, isso mesmo. Nós… Ahaha! Nós éramos os melhores. Embora Hamel, eu acho que você ainda estava um pouco atrás. — Anise insistiu.

Eugene zombou.

— Você está falando sério?

— Ei, feri seu ego por acaso? Não leve muito a sério. Estou falando de você quando nos conhecemos. — Esclareceu Anise calmamente.

A comida deles finalmente saiu.

Enquanto espetava uma linguiça em um garfo grande, Anise riu e disse:

— Posso dizer com toda certeza, nós definitivamente éramos os melhores. No entanto, Hamel, quando você se encontrou conosco pela primeira vez, não era tão bom assim. Mesmo agora, minhas memórias daquele dia ainda estão claras. Sienna, Moron e eu não conseguimos entender por que Sir Vermouth queria aceitá-lo como um de seus companheiros.

— Você acha que eu entendi? — Eugene resmungou enquanto cortava sua carne.

Eugene também estava muito familiarizado com essa história. Naquele porto, trezentos anos atrás, Vermouth tentou sozinho recrutar Hamel para seu grupo sem nem mesmo receber a compreensão e o consentimento de seus outros membros. No final, os outros membros do grupo também reconheceram o potencial de Hamel por meio de seu desafio ao Vermouth e o aceitaram como membro. Mas o Hamel que eles conheceram definitivamente não se encaixava na imagem de um ‘Companheiro do Herói’.

— No final das contas, Sir Vermouth estava certo. — Suspirou Anise.

Fazia muito tempo desde a última vez que ela bebia e, mais importante, o corpo de Kristina nunca havia ingerido álcool, então rapidamente ficou embriagado. Anise gostava desse lânguido estado de embriaguez. Se ela quisesse, poderia facilmente sacudi-la como uma nuvem de poeira, mas Anise não se preocupou em fazê-lo. Inclinou ligeiramente o rosto corado enquanto olhava para Eugene.

Anise hesitou. — Nós éramos… Perfeitos juntos. Era porque éramos os cinco que o grupo era perfeito. Assim, a ausência de um de nós foi fatal.

— Você também está tentando me repreender por morrer primeiro? — Eugene reclamou.

— Acho que isso significa que Sienna já te repreendeu?

— Ela é muito fraca. Não conseguiu nem me repreender direito. Em vez disso, depois de falar sobre algo assim, ela simplesmente começou a chorar sozinha e implorar pelo meu perdão.

— Aha… Acho que entendo o que você quer dizer. — Anise assentiu. — Sienna não conseguiu superar a petulância e disse algo assim para você, certo? Que você foi e morreu sozinho ou algo assim.

— Algo semelhante. — Confirmou Eugene.

— Parece que Sienna também não mudou. — Observou Anise com carinho. — Mesmo que ela não suportasse dizer tal coisa, ainda disse e então começou a chorar sozinha. Ah… Hamel, você se lembra do sonho que eu te mostrei? O que você acha?

— O que quer dizer? — Exigiu Eugene.

— Não te deixou triste? Sentiu mágoa ou saudade? — Anise perguntou com um sorriso malicioso.

Esse sorriso que fazia Anise parecer tão astuta era o motivo pelo qual Eugene e Sienna a chamavam de ‘cobra’ pelas costas durante sua vida anterior.

— Você não sentiria isso também? — Eugene admitiu com relutância.

— Ainda parece um pouco injusto. — Anise fez beicinho. — Naquela época, Sienna, Moron, eu e até Sir Vermouth estávamos chorando, mas nunca vi você chorar.

— É melhor que você não veja. Minha cara de choro é feia para caralho.

— Ahaha! É possível fazer uma expressão feia com seu rosto atual?

— Por que não? — Eugene resmungou enquanto pegava sua caneca de cerveja.

Naquele momento, Anise saltou de seu assento. Ela se inclinou para a frente como se estivesse desabando sobre a mesa, então suas mãos agarraram o rosto de Eugene. O rosto de Anise de repente se aproximou.

— Fufu. — Anise riu para si mesma.

Seus lábios não se tocaram. Com apenas uma pequena distância entre eles, Anise olhou para Eugene com um sorriso no rosto corado.

— Eu realmente tenho que me conter. — Sussurrou Anise.

Suas mãos pressionaram as bochechas de Eugene. O rosto de Eugene se transformou no de um peixinho dourado enquanto seus lábios eram estupidamente empurrados para a frente em um franzido. Anise riu dessa aparência antes de soltar o rosto dele.

— Se eu agir de acordo com meus impulsos mais uma vez, Sienna pode realmente enlouquecer e tentar se livrar de mim. Estaria tudo bem se eu pretendesse ficar aqui, mas assim que finalmente ascender… Isso não deixará a pobre Kristina sendo assediada por Sienna? — Anise relutantemente murmurou.

— Sinceramente… — Eugene suspirou.

— Hamel, o Tolo… O que você vai fazer agora? — Anise perguntou desafiadoramente. — Agora que deixei bem claro que mesmo um tolo como você deveria ser capaz de entender, e Sienna também deve ter transmitido seus sentimentos a você, mesmo que ela não tenha sido tão direta quanto eu.

— Ela definitivamente não fez o que você fez. Na verdade, nem tentou dizer algo diretamente. Sienna é exatamente a mesma de trezentos anos atrás. — Eugene soltou um suspiro profundo e puxou sua caneca de cerveja. — Sinceramente falando, estou confuso e… Hum… Surpreso. Eu realmente nunca pensei em vocês duas desse jeito—

— Você é um eunuco?

— Coff!

Eugene cuspiu a cerveja que acabara de descer por sua garganta. Anise rapidamente se afastou para evitar o jato de cerveja.

Eugene gritou

— E-Ei! Como você pode dizer algo assim…! Não, não era apenas natural? Onde você encontrou tempo para pensar sobre essas coisas trezentos anos atrás…?

— Quem não pensaria nessas coisas quando houvesse uma oportunidade de relaxar? Sienna e eu só começamos a pensar no que aconteceu entre nós depois que a guerra acabou. Infelizmente, a guerra acabou dessa forma, e você já tinha morrido. — Disse Anise com um sorriso torto enquanto bebia mais cerveja. — Bem… Na época, eu não tinha intenção de revelar meus sentimentos por você pelo resto da minha vida. Eu estava desiludida com muitas coisas e sabia que minha existência não era uma que pudesse me dar ao luxo de buscar tanta felicidade. No entanto, como já morri assim, só quero saber se posso prosseguir agora.

— Ahem. — Eugene pigarreou em vez de responder.

— Eu já sei. Você nunca teve tais sentimentos por mim, certo? Hamel, seus sentimentos por mim eram de amizade por uma companheira e… Simpatia. Não é mesmo? — Anise perguntou resolutamente.

— Hmm… — Eugene não evitou responder desta vez. — Tinha pena de você. Você nunca soltou um grito de dor, mesmo que suas costas estivessem encharcadas de sangue. Você bebia álcool todos os dias para aguentar a agonia, e ainda tentava teimosamente salvar aqueles desgraçados que só queriam morrer sem cuidar do próprio corpo, então eu sentia pena de você.

— Eu realmente gostava do jeito que você cuidava de mim. — Disse Anise enquanto descansava o queixo na mão e olhava para Eugene. — Gostava do jeito que me tratava como um frágil pedaço de vidro. Hamel, você geralmente é incrivelmente rude e violento, mas eu… Sempre que o sangue estava jorrando de meus estigmas, e eu expunha minhas costas na sua frente, suas mãos ásperas que estavam cobertas de calos e massacraram incontáveis demônios. Eram muito macias e delicadas.

— Nesse caso, devo fazer mais algumas feridas em você? — Eugene perguntou sarcasticamente.

Anise imediatamente o expôs.

— Você está envergonhado. Eu também gosto desse seu lado. Não importa o que você possa pensar de mim, isso realmente não importa. Felizmente, graças à ajuda da Luz, sou capaz de permanecer no mundo assim, e Kristina foi atenciosa comigo e até me deu a chance de resolver alguns dos meus arrependimentos persistentes.

— Bem, quanto a isso… Ainda não sei bem o que sinto. Você gosta de mim? E Sienna… Ela também gosta de mim? — Eugene perguntou com alguma descrença.

— No caso da Sienna, você já deu alguns palpites, certo?

— Bem… Talvez um pouco…

— Parece que você também sente algo por Sienna. — Observou Anise. — Você provavelmente sente mais por Sienna do que por mim, certo?

Eugene reclamou.

— Podemos apenas beber nossas cervejas…?

— Não vou apressar uma resposta sua.

O garçom trouxe novas canecas de cerveja. Anise levantou o copo primeiro, e Eugene respondeu levantando sua caneca de cerveja para encontrar a dela.

— Farei o possível para que você nos ame. — Prometeu Anise, ainda consciente de Kristina, que ouvia do outro lado de sua consciência compartilhada.

Suas canecas de cerveja tilintaram. Enquanto Anise esvaziava sua caneca de cerveja em grandes goles, Eugene apenas inclinou a cabeça para o lado sem beber nada de sua cerveja.

— Nós? Você está falando sobre Sienna e você? — Eugene perguntou curiosamente.

— Maldito idiota. — Disse Anise com um tom de voz sincero.

Por que ela sentiu a necessidade de xingá-lo…? Eugene apenas estalou a língua em vez de perguntar e enfiou a mão no manto.

— Feliz Aniversário. — Disse Eugene, mesmo se sentindo estranho por dizer essas palavras para Anise, e colocou um pacote embrulhado para presente na mesa.

Anise hesitou.

— Isso… O que diabos é isso…?

— Hoje é seu aniversário, não é? — Eugene apontou desajeitadamente.

— Hamel…! Você realmente preparou um presente para mim?

— Não é nada tão impressionante—

— Espere, não me diga o que é. Quero confirmar pessoalmente com meus olhos. — Disse Anise enquanto rasgava rapidamente o papel de embrulho de seu presente.

Poderia haver uma carta dentro do embrulho junto com o presente? Anise pensou por um momento, e Kristina, que ainda estava assistindo do outro lado de sua consciência compartilhada, também estava cheia de expectativa, então ela também olhou para a caixa de presente através dos olhos de Anise.

— Tsc…

Não havia nenhuma carta. Anise estalou a língua por ter suas expectativas traídas.

Hamel reclamou:

— Não importa o quanto você não goste, não é um pouco rude estalar a língua assim…?

— Hamel! Eu não estava estalando a língua por causa disso! Eu só esperava que você tivesse incluído uma carta junto com o presente… — A expressão de Anise mudou abruptamente.

Ela sorriu sinceramente enquanto juntava as mãos trêmulas na frente do peito. Dentro da caixa de presente havia um colar lindamente trabalhado. Havia apenas um barbante, sem enfeites, então coube a Anise reconhecer para que servia esse colar.

— Seu… — Começou Eugene.

Anise atualmente tinha um rosário pendurado no pescoço. Era o rosário que havia usado em sua vida anterior e que eles haviam recuperado do Cofre de Relíquias Especiais do Vaticano. A cruz feita à mão ainda brilhava lindamente, mas o cordão do colar era feito apenas de couro, por isso estava desbotado e gasto.

— Seu rosário estragou. — Eugene terminou.

— Fufu…

Anise tirou o rosário com uma gargalhada. Ela trocou o cordão pelo que acabara de ganhar de presente e depois puxou os cabelos para trás para facilitar a colocação do rosário no pescoço. Vendo esta visão, Eugene levantou-se sem pensar muito e pendurou o rosário no pescoço dela.

Olhando para o rosto de Eugene que estava voltado para ela, Anise sentiu um forte desejo de levantar a cabeça para encontrar a dele. Ela deveria se inclinar um pouco mais para a frente? Costuma-se dizer que a primeira vez é a mais difícil e a segunda é a mais fácil, e Anise já não tinha superado o desafio do primeiro beijo?

[Irmã…!] Kristina gritou dentro de sua cabeça.

Se Anise realmente decidiu fazer isso, não tinha o que fazer, mas Kristina se sentiu muito envergonhada vendo isso acontecer de lá…

“Serei paciente”, Anise assegurou a ela.

Claro, ela realmente queria continuar com isso, mas Anise ainda se conteve. Foi pelo bem de Sienna e Kristina.

— O que você está olhando? — Eugene finalmente perguntou.

— Estou olhando para você. — Respondeu Anise com um sorriso.

Eugene apenas sorriu e sentou-se novamente.

— Acabamos de comer, então há algum outro lugar que você queira ir a partir daqui?

— Ainda não terminei. Quero beber um pouco mais de cerveja. — Respondeu Anise enquanto acariciava o colar em seu pescoço.

Trezentos anos atrás, mesmo depois de deixar Yuras, ela nunca havia realmente comemorado seu aniversário. Isso valia para Vermouth, Moron, Sienna e Hamel também. Quando era aniversário de alguém, eles pelo menos davam os parabéns, mas nunca trocavam presentes.

Isso porque todos eles não tinham o tipo de personalidade para se importar com tal coisa. No entanto, mesmo que não trocassem presentes… Ter outras pessoas reconhecendo que era seu aniversário ainda tornava o dia bastante agradável. Mesmo no terrível Domínio Demoníaco, quando chegava a hora do aniversário de alguém, eles montavam acampamento cedo e abriam seus estoques de bebidas cuidadosamente preservados.

Anise sentiu que cada dia de suas viagens com seus amigos era um presente para ela.

— Só mais um pouco. — Murmurou Anise para si mesma.

Isso era para um momento como aquele também.

Anise sorriu ao sentir uma sonolência agradável se instalar nela.

A agitação do pub.

O som da lenha queimando na lareira.

O barulho das canecas de cerveja tilintando.

E com Hamel sentado na frente dela.

Tudo isso fez com que Anise se sentisse grata por estar viva.

— Quero ficar aqui com você até o sol se pôr. — Disse Anise com um sorriso enquanto levantava a caneca de cerveja mais uma vez.


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Fã da Mer
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Fã da Mer
4 meses atrás

Eles são muito fofos! ♥️♥️♥️

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