Damn Reincarnation – Capítulo 315

Eugene não pôde evitar uma expressão meio atordoada.

Atualmente, ele estava flutuando acima do Castelo Real de Aroth, o próprio Abram. A formação de selamento mágico embutida em toda a enorme fortaleza tornava todos os magos impotentes, exceto a família real e os magos da corte. Além disso, o seu poder estendia-se não apenas dentro da fortaleza, mas também fora dela.

Outros magos não poderiam voar acima de Abram. Todos os ataques mágicos de fora também eram anulados pela formação de selamento mágico. Mas, apesar disso, Eugene pairava no espaço aéreo acima de Abram sem esforço.

A razão pela qual ele poderia fazer isso era simples. Foi Sienna quem criou a formação mágica de selamento e o lago circundante.

Sienna estendeu Akasha para frente e fechou os olhos.

O Eternal Hole foi ativado e a mana ilimitada contida em Akasha foi guiada para ele. Ignorando o círculo mágico de selamento, Sienna capturou o pedaço de terra conhecido como Abram com seu feitiço.

Kugugung…!

A fortaleza inteira ‘saltou’ e se moveu. Ondulações enormes começaram a se formar na superfície anteriormente calma do lago. As ondulações logo se transformaram em ondas, que começaram a atingir a fortaleza.

— Ei, ei. Você ainda está se recuperando, não se esforce. — Lembrou Eugene.

— Isso não é nenhum esforço. — Sienna riu, erguendo Akasha um pouco mais alto.

Teria custado muito se ela usasse um feitiço completamente novo. No entanto, mover Abram não era particularmente difícil para Sienna. A magia que conjurou há centenas de anos ainda estava intacta. O mesmo acontecia com a formação de selamento mágico, bem como com a magia que permitia que a fortaleza flutuasse acima do lago. Essa foi toda a magia que Sienna conjurou e gravou no passado.

As fórmulas que ela escreveu há centenas de anos quase não mudaram. As gerações futuras de magos compreenderam e desenvolveram a formação de selamento mágico até certo ponto, mas ninguém interferiu diretamente nas densas inscrições gravadas na enorme fortaleza. Era uma tarefa assustadora e perigosa até mesmo para os Arquimagos.

E se eles inadvertidamente desencadeassem um erro fatal? Um erro como esse custaria a vida até mesmo de um Arquimago.

Abram começou a afundar, embora muito, muito lentamente.

Foi exatamente por isso que ela disse que não seria difícil para ela. Levantar um objeto de tanto peso no ar definitivamente teria sido extenuante, mas alterar sutilmente a magia preexistente que fazia o objeto flutuar para fazê-lo afundar no lago não era uma tarefa enorme.

À medida que Abram afundava lentamente, as ondas do lago tornaram-se mais violentas. As ondas transbordantes atingiram as muralhas brancas e imaculadas do castelo e os portões abertos do castelo ligados ao rio.

Era literalmente um enterro na água.

Foi uma piada feita no passado durante uma audiência. Mas é claro que Sienna realmente pretendia enterrar Abram debaixo d’água.

Ele não deveria impedi-la neste momento? Eugene pensou enquanto olhava para o rosto de Sienna.

Se Sienna estivesse com uma expressão emocionada, ele teria tentado impedi-la, pelo menos verbalmente. Mas, pelo contrário, o rosto de Sienna estava incrivelmente calmo.

Ela parecia indiferente, quase como se estivesse apenas realizando uma tarefa comum.

Ela não estava fazendo isso por empolgação superficial ou raiva. Sienna estava extremamente calma e composta. Ela ouviu falar disso pela primeira vez por Eugene há alguns anos. Então contemplou mais uma vez depois de ser libertada de seu selo há um mês. No entanto, a conclusão permaneceu inalterada.

Converter sua mansão em um local turístico? Limpar a pequena floresta e encher o rio? Essas coisas eram irritantes, mas eram um tanto inevitáveis, considerando que duzentos anos se passaram desde que ela entrou em reclusão sem dizer uma palavra.

Praça Merdein e a estátua? Eram constrangedores, de fato… Mas não eram motivo de raiva.

No entanto…

Ter perseguido Mer era algo para se irritar. Era um ato imperdoável. O que Sienna mais não podia tolerar era que apesar de proclamá-la como a Sábia Sienna e torná-la o ídolo dos magos ao longo de centenas de anos, eles não trataram Mer, a familiar que ela criou pessoalmente, com o respeito que ela merecia.

É claro que Sienna também não era inocente nesse assunto. Ela havia ligado Mer à Bruxaria em Acryon. Então, em última análise, foi tecnicamente culpa de Sienna que Mer tivesse ficado presa em Acryon por centenas de anos.

“Mesmo assim, dissecar ela?”

O mínimo que poderiam ter feito era modificar o salão para a conveniência de Mer, mas em vez disso, ousaram dissecar a pequena familiar para descobrir os segredos da Bruxaria!

Isso era algo que Sienna simplesmente não conseguia perdoar.

— Oh, eu estou bem… Hehe… — Mer disse do lado de Sienna sem entusiasmo.

Quem liderou a dissecação de Mer foi o antigo mestre da torre verde. Era um passado que ela particularmente não desejava recordar. Porém, pensar nisso não lhe causou nenhuma angústia significativa. Isso porque Mer não sentiu nenhuma dor física durante a dissecação. Mesmo assim, ela ainda sofreu muitos danos psicológicos. Ela se lembrou de sentimentos de humilhação e raiva. Isso aconteceu há mais de cem anos, mas ser dissecada enquanto estava totalmente consciente e viva não era uma experiência que alguém pudesse suportar facilmente.

— Não está tudo bem para mim. — Sienna cuspiu severamente. — O ex-mestre da Torre Verde? Aquele desgraçado deveria estar grato por já estar morto.

Sienna havia levado três discípulos no passado durante seu tempo em Aroth: Theodore Throne, Vice Osman e Frilla Helen. Entre eles, Theodore tornou-se o Mestre da Torre Vermelha, enquanto Vice e Frilla se casaram. Depois que Sienna se aposentou como Mestra da Torre Verde, Vice a sucedeu.

O filho da dupla foi Roland Osman, pai do atual Chefe da Torre Verde, Jeneric Osman, e responsável pela realização da dissecação de Mer.

Sienna nunca tinha ouvido falar do nome dele, mas ainda estava cheia de uma raiva feroz. Como Vice e Frilla educaram seu filho? Como ele poderia ter tido a ideia insana de dissecar uma familiar pertencente à sua grande mestra?

A família real de Aroth também não era inocente neste assunto, uma vez que tal coisa não poderia ter acontecido sem a sua permissão.

— Pare imediatamente!

No momento em que os jardins do palácio ficaram submersos na água, alguém disparou para o céu de um edifício dentro das muralhas do castelo. Eram o comandante dos magos da corte de Aroth, Trempel Vizardo e Melkith El-Hayah. Melkith estava atualmente presa.

— Pare agora mesmo, eu disse!

Tentando submergir o palácio real de Abram? Este era um ato de terrorismo sem precedentes na história de Aroth. Os cabelos de Trempel se arrepiaram devido à sua imensa raiva.

— Como você ousa?!

Trempel olhou para os terroristas, não, para os rebeldes, com olhos arregalados e furiosos.

Apesar de não usarem capuz, seus rostos não eram visíveis. Era um feitiço de altíssimo nível que estava interferindo em sua percepção. Trempel concentrou mana em seus olhos e conjurou um feitiço.

— Impossível… Nunca imaginei que encontraria uma situação tão ridícula durante minha época…! — Gritou Trempel.

Ele podia ver três adversários no momento, mas certamente haveria mais. Era impossível que um mero grupo de três estivesse lançando um ataque contra Aroth. Isso era uma rebelião? Ou era um ataque de outra nação? Trempel estava inclinado para a última possibilidade.

— Sua espiã, Melkith El-Hayah, já foi capturada. Pare seus ataques imediatamente e—

— O que você está dizendo? Já te disse que não sou espiãa! Não tenho ideia de nada disso! — Melkith gritou enquanto se contorcia no ar.

Eugene suspirou com a visão. A raiva e o mal-entendido de Trempel eram compreensíveis, mas ainda assim, ele não conseguia compreender por que capturou Melkith e a considerou uma espiã.

Trempel não foi o único que voou para o céu.

Entre os magos da corte, cem magos de elite especializados em combate ergueram-se no ar para bloquear o caminho de Sienna. Além disso, outros magos e cavaleiros faziam fila no chão, que lentamente era submerso na água.

— Ora, ora.

Não era apenas a frente deles e o terreno que estava lentamente sendo revestido de oposição. Os magos também estavam começando a se reunir nos fundos. Eles consistiam em magos da capital, os Mestres das Torres, excluindo Melkith e Balzac, bem como magos pertencentes à guilda. Eles não se aproximaram precipitadamente devido à formação de selamento mágico em torno de Abram, mas bloquearam o caminho de retirada de Sienna com determinação.

— O rei não vai sair? — Sienna perguntou. O rei em suas memórias já estaria morto há muito tempo, mas ela ainda perguntou.

Para convocar o rei de uma nação como um cachorro comum…! Trempel sentiu uma onda de raiva e ergueu a mão. O cajado que apareceu com um clarão absorveu a raiva e a mana de Trempel. Com um estrondo, um redemoinho de mana intensa começou a se formar no céu acima da cabeça de Trempel.

— Parece que o príncipe herdeiro está aqui… Senhorita Sienna. — Eugene sussurrou para Sienna, inclinando ligeiramente a cabeça.

Era o príncipe herdeiro Honein Abram. Seu rosto estava distorcido pela confusão e raiva quando ele se aproximou de Trempel.

— Por que de repente você está sendo formal…? Ah, hum, hmm, bem… Entendo. — Sienna se conteve e pigarreou, sem jeito, com compreensão. Ainda não era conhecido no mundo que Eugene Lionheart era a reencarnação de Hamel. Consequentemente, Sienna não poderia tratar Eugene como Hamel em um espaço público.

“Isso pode ser legal. Será como um romance secreto.” Sienna pensou por um momento, mas rapidamente recompôs sua expressão, lembrando a si mesma que este não era o momento para tais sentimentos.

— Vocês todos. — Disse Sienna. Sua voz carregava mana.

Uma vibração poderosa ressoou no ar enquanto sua voz ecoava, amplificada por Akasha e o Eternal Hole. Trempel enrijeceu quando viu com que facilidade seu feitiço foi desviado.

“Uma voz capaz de perturbar os próprios fundamentos da magia?”

Era possível? Isso era uma realização de Dracônico, a lendária magia dos dragões…?

“Poderia ser…?”

Dragão. Como ele deixou isso passar? Que outra existência era capaz de ignorar a formação mágica de selamento que a Sábia Sienna havia deixado para trás? Que outra existência era capaz de fazer com que a mana no ar flutuasse apenas com a voz?

Afinal, por que presumiram que tal entidade deveria ser humana? Eles estavam contra um dragão, uma entidade que havia desaparecido desde a era das guerras?

Trempel engoliu em seco, sua voz quase um sussurro:

— Você é… Um dragão?

Essas palavras enviaram uma onda de choque significativa por toda a multidão. Os magos da corte, liderados por Trempel, endureceram os rostos em suspeita compartilhada. O príncipe herdeiro Honein também apareceu como se tivesse sido atingido com força por trás, com a boca aberta. Até mesmo as forças terrestres sitiadas ecoaram gemidos de desconforto.

— Hum…

Os mestres das torres responsáveis pela defesa da retaguarda também ouviram as palavras de Trempel. Como Trempel, o Mestre da Torre Verde e o Mestre da Torre Azul suspeitaram que a entidade misteriosa fosse um dragão. No entanto, o rosto de Lovellian, o Mestre da Torre Vermelha, estava marcado por uma emoção diferente.

— Poderia ser…?

A interferência da magia que altera a percepção era muito forte. Além disso, a formação do selamento mágico dificultava a intervenção direta. Com os olhos semicerrados, Lovellian olhou para o trio afundando Abram na água. Uma única possibilidade girou na mente de Lovellian, transformando-se continuamente numa convicção. Mas a terrível verdade era algo que Lovellian não conseguia expressar.

— Um dragão, que bobagem. — Sienna franziu as sobrancelhas e sacudiu Akasha. A magia que alterava a percepção desapareceu e as figuras obscurecidas agora pareciam mais distintas.

Muita surpresa poderia tornar alguém incapaz de ficar chocado, incapaz de emitir até mesmo um gemido ou um grito de surpresa.

Este era o estado das centenas de pessoas que agora olhavam para Sienna. Seus olhos estavam arregalados e boquiabertos enquanto olhavam para ela.

Eles sabiam disso por meio de retratos que capturavam o passado, bem como de estátuas em todo o Pentágono. A pintura inconfundível de trezentos anos atrás ainda estava pendurada em Acryon. Seu traje havia mudado. As roupas e o manto eram diferentes.

Mas seu cabelo violeta e Akasha, que ela segurava em uma das mãos, eram idênticos à imagem de trezentos anos atrás.

— Sir… Eugene…? — Trempel conseguiu gaguejar algumas palavras, mal conseguindo forçar a voz. Graças ao desaparecimento da magia que alterava a percepção, a figura de Eugene também estava visível agora.

Ele chamou o nome de Eugene porque se sentia mais confortável em chamá-lo do que chamar ‘Sienna Merdein’.

— Isso… É… Hum…

Mas pronunciar o nome de Eugene não mudou a situação nem o que viram. Trempel não conseguia nem pensar em se acalmar. Ele mal conseguia mover os olhos.

— Sábia Senhorita Sienna… É você mesmo? — Ele gritou.

— Você não sabe? — Sienna respondeu enquanto levantava um dedo alto. Todos os cem magos da corte recuaram em uníssono com seu simples movimento.

O Príncipe Honein não foi diferente. Sem saber o que fazer, ele alternou entre olhar para Abram afundando e Sienna.

— Você não vai descartar isso? — Disse Sienna.

— Perdão? — Respondeu Trempel.

— Eu disse, você não vai descartar isso, garoto! — Sienna gritou com raiva enquanto apontava para o vórtice mágico que Trempel conjurou. Sem hesitar um momento, Trempel dissipou instantaneamente a magia e baixou seu cajado. Não, pensando que seria rude segurar um cajado na presença dela, ele também dissipou o cajado e respeitosamente segurou as mãos na altura do umbigo.

— É-É… Uma honra conhecê-la… Meu nome é Trempel Vizardo. Atualmente sirvo como Mago Chefe da Corte de Aroth…

Trempel achou difícil acalmar a voz trêmula. Para todos os magos após a era da guerra, a Sábia Sienna era praticamente uma religião. Quase todos os magos usavam a Fórmula dos Círculos. A fórmula estabelecida por Sienna era a espinha dorsal dos princípios básicos para os magos desta época, as máximas que ela deixou eram escrituras sagradas, e a própria Sienna era um ídolo semelhante a um deus.

— Eugene! — Melkith gritou. Ela ainda estava confinada, contorcendo-se como uma lagarta, gritando. — Me ajude! S-Senhorita Sienna! Meu nome é Melkith El-Hayah! Eu também desempenhei um grande papel em encontrar você!

Melkith também respeitava a Sábia Sienna. Mas, ao contrário de Trempel, ela não estava nervosa nem aterrorizada. Em vez disso, estava muito confiante.

Quem libertou Sienna selada na Árvore do Mundo? Eugene Lionheart? Não. Foram todos que lutaram ao lado de Eugene na floresta naquele dia. Na verdade, se Melkith não tivesse fornecido sua mana, a batalha contra Raizakia teria terminado com a morte de Eugene há muito tempo.

Sienna não voltou imediatamente sua atenção para o grito desesperado de Melkith. Com uma careta, Sienna ouviu os sussurros de Mer.

— Senhorita Sienna, esse é o cara. O maldito de barba e manto verde.

— Uh–huh.

— Esse cara é Jeneric Osman, o atual Mestre da Torre Verde. O cara que me dissecou era o pai dele, mas ele morreu há décadas.

— Uh–huh.

— Mas você sabe, Senhorita Sienna. Como te contei ontem, aquele maldito do Jeneric também me torturou muito. Sempre que ele vinha ao seu salão, me dizia que eu era uma inútil. Ele disse que não conseguia interpretar a Bruxaria porque eu era inútil.

— Isso é um desgraçado falando bobagem. — Disse Sienna furiosamente.

— Sim, com certeza. Ele não conseguia entender a Bruxaria porque era estúpido e incompetente, então por que ele me repreendeu? Estou muito curiosa sobre isso.

— Também estou muito curiosa. — Sienna assentiu enquanto acariciava a cabeça de Mer. — Então, vou perguntar diretamente a ele.

— Ehe… Você não precisa ir tão longe.

— Não, eu realmente quero. — Com isso, Sienna virou-se para Trempel e Honein. — Fiquem aí.

— Sim… Sim?

— Não interfiram e baguncem as coisas; apenas fiquem aí.

Ela não esperou por uma resposta. Sienna levantou Mer nos braços e depois a entregou a Eugene. Mer ria o tempo todo.

— Ehem… Eugene, você também. Fique aí segurando Mer… Fique quieto… Está bem?

Foi uma frase simples, mas pareceu fazer cócegas em sua garganta. Sienna tossiu algumas vezes e se virou.

— Ei. Ela voltou seu olhar feroz para Jeneric. O homem ainda estava flutuando no ar sem qualquer compreensão de sua situação atual. — Venha aqui. Não, não importa. Apenas fique aí.

— Sim… Sim?

— Fique ai, seu desgraçado.

A raiva e o desejo de matança transformaram-se em magia.