Damn Reincarnation – Capítulo 336

Enquanto Sienna e Mer tomavam chá com Ancilla, Eugene estava com Kristina.

Isso se devia à tarefa de purificar o corpo gigantesco de Raizakia. Ao aproveitar o poder da Espada Sagrada, Eugene podia ajudar Kristina a acelerar o processo de purificação. Eugene não tinha motivo para recusar o pedido, já que raramente usava a Espada Sagrada fora das batalhas. Assim, nos últimos dias, ele esteve ao lado de Kristina.

Ele estava com ela pela maior parte do dia, desde o nascer do sol.

A divindade que Kristina e Anise serviam era o Deus da Luz, e Altair, a Espada Sagrada que Eugene possuía, também era criação do Deus da Luz. Na verdade, o poder divino do Deus da Luz não exigia necessariamente que o ambiente fosse claro. Mas razões podiam ser fabricadas sempre que fossem necessárias.

[Que criança assustadora…], pensou Anise sinceramente.

Foi Kristina quem planejou tudo isso.

Dia e crepúsculo — o comprimento de cada um dependia da estação, mas Kristina julgou que monopolizar Eugene durante o dia seria vantajoso esmagadoramente.

Sua avaliação estava correta.

Crepúsculo. Noite. O que alguém geralmente fazia à noite? Pessoas comuns dormiam. Alguns até escolhiam fazer algo travesso…

Infelizmente, Sienna não tinha coragem para isso. A única coisa que Sienna podia fazer com Eugene durante a noite era dar uma caminhada.

— Falta muito tempo ainda? — Perguntou Eugene.

Acredito que ficará pronto em duas semanas, no máximo. — Respondeu Kristina com um sorriso, sua postura de oração inalterada. Não era mentira. Inicialmente, ela esperava que levasse mais de um mês, mas com a ajuda da Espada Sagrada, o processo de purificação seria concluído em duas semanas.

— O problema é como usar isso.

Eugene sentou-se com os braços cruzados, perdido em pensamentos. Havia várias maneiras de usar o corpo de um dragão, mas os restos de dragões eram extremamente difíceis de manusear como materiais.

Na verdade, seria mais apropriado dizer desconhecido em vez de difícil. A maioria dos dragões foi caçada e morta trezentos anos atrás, mas havia pouco registro de humanos caçando dragões antes disso.

No entanto, alguns artefatos feitos de materiais de dragão existiam no continente, embora fossem muito raros. Mas a existência de tais artefatos devia-se à misericórdia e graça dos dragões.

Um dragão moribundo podia escolher conceder sua própria carne a alguém em vez de devolver seu corpo à natureza. Era um evento infrequente, mas houve algumas ocorrências na história do continente.

Por exemplo, o Coração de Dragão no Akasha de Sienna foi um presente de um dragão que havia formado um vínculo com os elfos. Mesmo em sua vida passada como Hamel, Eugene tinha vagado com seus companheiros em Helmuth, onde encontrou um dragão moribundo e recebeu o Coração de Dragão como presente. O fundador da família Dragonic, Orix Dragonic, recebeu a graça de um dragão enquanto explorava uma masmorra.

Ao longo da longa história do continente, tais instâncias eram raras, mas ainda existiam. O problema era que eram muito raras, e mesmo os artesãos mais habilidosos careciam do conhecimento e das técnicas para lidar adequadamente com os materiais.

Como uma família de guerreiros, a família Lionheart tinha conexões com guildas de artesãos e também amizades pessoais com os melhores artesãos e ferreiros, conhecidos como mestres artesãos. No entanto, mesmo os mestres artesãos expressavam sua hesitação e insegurança em lidar com materiais de um dragão.

Então isso não era uma opção viável. Nada menos que a perfeição era esperada com esses materiais requintados.

— No final, teremos que recorrer aos anões.

Não havia anões nas guildas de artesãos. Os orgulhosos anões se recusavam a se juntar a guildas em pé de igualdade com artesãos humanos.

— Se eu soubesse disso, teria trazido um anão do Castelo do Dragão Demoníaco. — Eugene clicou a língua com arrependimento. Se tivesse trazido os anões do Castelo do Dragão Demoníaco, ele não estaria se preocupando com tais assuntos agora…

— Ouvi dizer que Noir Giabella, aquela mulher devassa, acolheu os anões do Castelo do Dragão Demoníaco. — Kristina franzia a testa enquanto falava. — Parque Giabella ou algo assim. Eles estão trabalhando lá agora.

— Um mestre diferente, hein. Esses malditos ingratos, depois de toda a dificuldade que passei para libertá-los, estão se rastejando aos pés de Noir? — Eugene cuspiu suas palavras com amargura.

É claro que Eugene não derrubou o Castelo do Dragão Demoníaco pelo bem da liberdade dos anões. Isso simplesmente aconteceu dessa maneira.

E ao contrário de quando eram escravos não remunerados no Castelo do Dragão Demoníaco, os anões estavam agora desfrutando de dias felizes e realizados sob Noir Giabella, trabalhando no que desejavam.

Naturalmente, Eugene e Kristina não se importavam com esse fato.

— Também consultamos o Papado e o Comandante Raphael. Há artesãos anões em Yuras, mas são especialistas em áreas como artesanato fino e esculturas… Eles não se sentem confiantes em fazer armas e armaduras. — Disse Kristina.

— Parece que teremos que olhar para Shimuin afinal. —  Disse Eugene.

A nação com a maior população de anões no continente era Shimuin.

A razão era simples. Shimuin era há muito chamada de ‘Nação dos Cavaleiros’, e cavaleiros livres e mercenários de todo o continente ficavam lá pelo menos uma vez durante seu treinamento ou busca.

Como resultado, Shimuin ostentava forjaria e artesanato avançados para cavaleiros e mercenários.

Além disso, a armadura mágica representativa de Shimuin, Exid, vinha em vários tipos, desde os de alta qualidade até os de baixa qualidade. Todos os Exid de alta qualidade eram feitos por anões.

“O líder dos Cavaleiros da Maré Violenta, Ortus Hyman, vestia um Exid que usava uma parte do Coração de Dragão em sua criação. Usava escamas e couro de dragão também.”

Não era apenas um. Shimuin possuía várias armas feitas de materiais de dragão além dos vários Exid. Para processar perfeitamente o corpo de Raizakia, eles precisariam trazer os anões de Shimuin.

No entanto, era mais fácil falar do que fazer, já que este plano apresentava um problema mais complexo. Os anões de Shimuin eram considerados ativos culturais inestimáveis e recebiam o máximo respeito. A família real também protegia ferozmente a destreza artesanal dos anões, impedindo que fosse exposta a nações estrangeiras.

“Poderíamos matar Iris e pedir o apoio dos anões em troca. Não, parece ser um negócio perdido para nós…” Eugene pensou enquanto considerava suas opções.

Shimuin enfrentava várias dificuldades após a ascensão de Iris à grande pirata. Mesmo que Shimuin enviasse seus soldados e Ortus, seria extremamente desafiador enfrentar Iris e sua frota, que consistia de centenas de navios. O Olho Demoníaco das Trevas de Iris se destacava não apenas em termos de poder ofensivo, mas também em mobilidade. Independentemente de quão poderosa fosse a marinha de Shimuin, o poder de Iris tornaria essencialmente impossível para a marinha ter vantagem sobre eles.

No entanto, seria diferente para Eugene. Não importava quantos piratas estivessem sob seu comando, eles eram, em última análise, fracos, não eram? Uma vez que cortasse a cabeça maldita daquela elfa negra, tudo se resolveria de alguma forma.

Quando lutaram em Kiehl, não havia Prominência ou Eclipse. Eugene também não usou Ignição ou a Espada do Luar. No entanto, ele não precisava se restringir em Shimuin. Além disso, como ele poderia falhar com o apoio de Sienna, Kristina e Anise?

“Se eu estivesse enfrentando Noir ou Gavid, talvez fosse difícil. Mas Iris é…”

Ele não achava que ela era uma oponente que valia a pena se preocupar. É verdade, ela era mais forte do que trezentos anos atrás, mas ele estava confiante em matá-la se batalhassem agora. Em primeiro lugar, Iris não sofreu uma derrota terrível contra Noir Giabella? Se ele sofresse na luta contra uma mera Iris, nunca seria capaz de matar Noir, quanto mais o Rei Demônio do Encarceramento.

— Hmm?

Seus pensamentos foram abruptamente interrompidos. Eugene levantou a cabeça, sentindo uma anormalidade mágica no céu acima deles. Seus olhos se arregalaram quando os arredores foram mergulhados em uma noite profunda em um instante. Uma forma gigantesca obscureceu o sol ao espalhar suas asas.

Era um dragão.

Com escamas negras que pareciam engolir a luz, o dragão negro ostentava sua majestade enquanto olhava para baixo.

[Hehe… Hehehe!]

Era bastante óbvio por que o dragão negro havia aparecido tão repentinamente… A expressão de Eugene se contorceu quando ouviu a risada do dragão, que fez o ar tremer.

— Eis, vocês, meros humanos! Esta é a verdadeira forma desta senhorita! Vejam como essas escamas negras brilham como obsidiana! Asas que cobrem o céu!

A voz do dragão estava cheia até a borda de arrogância. Os cavaleiros da família Lionheart correram para fora com a aparição súbita do dragão. Eles ficaram surpresos, mas rapidamente se reagruparam e se organizaram.

— Dragão!

Gilead e Gion também fizeram sua aparição, pulando no telhado da mansão com choque.

Eugene conhecia a verdadeira identidade do dragão, mas sabia que aqueles que não sabiam poderiam entender errado. Poderia haver outro dragão de Helmuth buscando vingança por Raizakia? Ou talvez outro Dragão Negro tenha vindo para recuperar o corpo de Raizakia?

— Está tudo bem… — Eugene falou enquanto suprimia um suspiro. Ele acabou no telhado com Gilead e Gion.

[Oh, oh, benfeitor… Não, humano!]

A cabeça maciça do dragão desceu. Ramira olhou para Eugene com seus grandes olhos roxos cintilantes.

[Conforme você desejou, esta senhorita recuperou o poder de dragão! Esta forma é a verdadeira aparência desta senhorita!]

Parecia que ela estava transbordando de poder após ter suas restrições removidas. Ela não o chamava mais de Benfeitor. Em vez disso, Ramira agitou suas asas enquanto encarava Eugene com olhos provocadores. Os ventos fizeram a floresta balançar.

[Hehe… Hehehe. Esta senhorita não pode deixar de pensar que é talentosa e especial, mesmo entre os dragões. Talvez, como estou agora, seja possível…]

— Você está louca? — Eugene abaixou a voz e perguntou: — O que diabos você está fazendo? Desça imediatamente!

[N-Não comande esta senhorita…]

— Chega.

Eugene cerrou o punho e o levantou no ar. Sentiu vontade de voar lá e dar uma surra nela, mas decidiu que era desnecessário. Ramira já havia sido condicionada à dor pelas lições que ele lhe ensinara antes.

Ramira de repente ficou quieta.

Ariartel havia libertado Ramira da joia vermelha, e Ramira havia recuperado o poder de dragão que havia sido suprimido por duzentos anos. Graças a isso, Ramira agora estava livre para usar a polimorfia e também podia se transformar em sua forma original de dragão. Ela agora podia usar o Dracônico e havia recebido conselhos de Ariartel sobre como usá-lo corretamente.

A súbita explosão de poder empolgou muito Ramira. Assim, antes que Eugene viesse buscá-la, ela voou diretamente pelos céus até a mansão Lionheart. Graças a Ariartel lhe fornecendo direções, Ramira havia encontrado o caminho até lá…

[U–Uh…]

No entanto, a empolgação de Ramira se dissipou rapidamente.

O brilho nos olhos dourados que a encaravam de baixo e a raiva que perfurava e penetrava em suas escamas faziam a joia vermelha na testa de Ramira pulsar de dor.

[Foi apenas uma brincadeira… N-Não fique tão bravo.]

— Desça imediatamente.

[S-Sim… Eu entendo… Benfeitor.]

Com este poder, talvez ela pudesse… Ela havia se entretido com tais pensamentos em sua empolgação, mas percebeu o quão absurdo era quando considerou cuidadosamente.

Mesmo que tivesse recuperado seu poder, Ramira ainda era um filhote. Eugene havia pressionado incansavelmente Raizakia, um Dragão Ancião, até seu último suspiro. Portanto, logicamente, era impossível para Ramira resistir a Eugene, não importava que truques ela tentasse.

No final, Ramira começou a descer obedientemente.

No entanto, Eugene levantou o punho novamente enquanto esbravejava:

— Você realmente vai descer nesse estado? Quer ser punida?

[U–Uh…]

Ariartel havia dito que os dragões eram seres grandiosos e dignos. Eles sempre deveriam mostrar a dignidade de um dragão e nunca se curvar a insultos e humilhações.

“Desgraça e humilhação não são toleradas, mas você salvou minha vida, Benfeitor. É por isso que você é meu benfeitor. É por isso que esta senhorita deve retribuir sua graça….”

Além disso, era o dever dos dragões proteger o mundo. Quando necessário, não podiam hesitar em dar a própria vida.

“O Benfeitor é o Herói. Como esta senhorita é a guardiã do mundo, é natural que eu apoie o benfeitor na luta pelo mundo. Portanto, esta senhorita não é oprimida pelo Benfeitor. Esta senhorita é uma companheira que apoia a luta do Benfeitor pelo mundo.”

Ramira raciocinou consigo mesma, tentando se convencer com tais pensamentos.

Roar!

Ela usou o Dracônico. A sombra projetada por suas asas estendidas desapareceu quando o gigantesco dragão negro se transformou em sua forma humana.

As sobrancelhas de Eugene se contraíram enquanto observava Ramira descer ao chão. Inicialmente, Ramira tinha a aparência de uma criança pequena, não muito diferente de Mer.

No entanto… O que diabos era esta nova forma? Ela era muito mais madura, como se alguém tivesse misturado Kristina e Noir. Além disso, seus chifres agora eram muito maiores do que antes.

— A partir de hoje, esta é a verdadeira forma desta senhorita….

— Mude isso imediatamente. — Eugene gritou.

— Q-Quais são os problemas? B-Benfeitor, você não gosta desta forma…?

— Onde uma pirralha como você aprendeu essas coisas estranhas? E que diabos são essas roupas? — Eugene gritou.

— O–Oh… O que há de errado com as roupas? — Ramira perguntou com uma expressão confusa e injustiçada.

Como ele deveria dizer isso…? Eugene balançou a cabeça com um longo suspiro. Ele sabia que o traje parecia de alguma forma familiar. Depois de revirar sua memória, lembrou-se de que eram os trajes de palco das idols demoníacas dançando na tela mágica de Pandemônio.

— Quem sai por aí vestindo essas roupas! — Eugene gritou.

— Todas as Dream Girls usavam esse traje enquanto dançavam. —Retrucou Ramira.

— Mude isso!

— Que tipo de aparência o benfeitor deseja que eu adote…? E-Eu vou mudar para o que o Benfeitor desejar. Primeiro, abaixe o punho… Esta senhorita não pode se aproximar de você porque tem medo do punho…

— Volte ao que era antes.

— O benfeitor quer que eu fique em minha forma pequena?

— Sim.

— O benfeitor quer uma aparência jovem… Entendo.

Isso não soava um pouco estranho? Algo estava errado. Eugene rapidamente olhou ao redor e viu Gilead e Gion ao seu lado, ambos olhando confusos. As expressões dos cavaleiros e soldados abaixo também não eram muito diferentes.

— O que há com o estranho mal-entendido…? Não é como se eu fosse o Cyan ou algo assim. — Explicou Eugene apressadamente.

—O que tem eu? — Cyan, que havia se apressado com sua espada, parecia injustamente ofendido enquanto gritava.

— Bem, você… Você está basicamente noivo de uma criança. — Disse Eugene.

— Ainda não! — Retrucou Cyan.

— Bem, talvez em breve… Quero dizer, eu não gosto da criança romanticamente; eu apenas me importo com ela como uma filha, isso é tudo.

— O quê?! Não diga isso, seu maldito desgraçado! — Cyan gritou em raiva e frustração.

Enquanto isso, Ramira mudou sua aparência novamente. Ela assumiu a forma familiar de uma jovem e desceu graciosamente do telhado em direção a Eugene.

— Esta senhorita assumiu a forma que o benfeitor desejava. — Disse ela, ainda lançando olhares furtivos para o punho cerrado de Eugene. Como ele queria dar um bom soco na cabeça dela! Eugene abaixou o punho e soltou um suspiro profundo.

— Bem… Uhm…

Como ele explicaria isso? Eugene ponderou por um momento antes de se virar para Gilead. Gilead não o apressou, mas sim esperou pacientemente para Eugene falar.

— Ela… Uhm… É filha de Raizakia. — Disse Eugene.

— A filha do Dragão Demoníaco…? — Perguntou Gilead.

— Sim, é isso… Então, eu… Eu matei o pai dela, então senti pena dela e a acolhi… Ah, mas não se preocupe, ela não tem intenções de buscar vingança pelo pai. — Explicou Eugene.

— O benfeitor mostrou graça a esta senhorita. — Disse Ramira.

— Só olhe para ela. Você realmente não precisa se preocupar. Ela é… Uhm… Mais como um animal de estimação, eu diria… — Eugene continuou.

— Um dragão como animal de estimação? — Gion murmurou com um rosto de descrença. Embora ele tivesse falado no calor do momento, até mesmo Eugene achava que chamá-la de animal de estimação era um pouco demais.

Enquanto ele contemplava, notou Ancilla e Sienna paradas na varanda abaixo.

— Ela é amiga de Mer. — Eugene apontou para Mer. — Elas se dão muito bem. Talvez a Senhora Ancilla também goste dela. — O olhar de Ancilla parecia estranho por algum motivo, mas Eugene não pensou muito nisso.