I Don’t Want This Reincarnation – Capítulo 1

Assim que minha consciência voltou e meus sentidos foram despertos, uma indagação me veio à mente.

“Onde raios eu me meti?”

Após abrir os meus olhos, um grande arredor deslumbrante, forte ao ponto de fazer as retinas dos meus olhos doerem, me deu as boas-vindas.

Logo, com alguns momentos passados, e após examinar o recinto em que me encontrava, reflexivamente, coloquei minha mão sobre meu estômago e notei certas diferenças.

— Hã?

Calmamente saí daquilo que parecia ser uma cama e olhei por cima do meu corpo…

Primeiramente, as cicatrizes que cobriam todo meu ser desapareceram, e não só isso, até mesmo meu campo de visão estava diferente; ele se encontrava ligeiramente baixo.

— Que porra é essa…?

Segundamente, não conseguia ver meus preciosos músculos, os responsáveis por, sempre que eu removesse minha camisa e fizesse abdominais absurdos, retirar das pessoas comentários do tipo: “Você está incrível, Hyung¹!”

— Ah!

Com pressa, apalpando entre as minhas pernas, e refletindo sobre os pensamentos que pairavam pela minha cabeça, felizmente, notei que o tamanho daquilo não era ruim…, mas claro, não se podia comparar com o do meu corpo original.

— …

Depois de olhar em volta, sentei-me na cama e fiquei perdido em meus pensamentos.

Primeiro, eu tinha que descobrir em que situação eu estava metido.

Tipo, em minhas últimas e nebulosas memórias, eu apertava meu estômago esfaqueado enquanto lutava para me manter de pé. E por mais grave que fosse o corte, tudo ali parecia embaraçoso… morrer por causa da traição de meu amado irmão mais novo. Lembro também dele balbuciar algo como se estivesse arrependido, ou não pudesse evitar.

“Então… eu morri?”

Ser traído não era algo novo, mas desta vez a situação que isso me levou parecia bem estranha. E claro, por ter sido apunhalado de repente, meu corpo provavelmente não deveria ter aguentado.

— Haha… — deixei escapar um riso desanimado.

Mesmo que eu tenha lutado durante anos para sobreviver seguindo os passos de outras pessoas, acabei por morrer em vão.

“Mas então… de quem é este corpo?”

Fiquei em choque com a realidade que eu nunca havia imaginado. Na verdade, tudo aquilo poderia ser apenas sonho e eu poderia estar em repouso em um hospital. — Era possível, afinal, sonhos podiam ser tão vívidos quanto a realidade. — Bom, mas agora, ao menos valia a pena conferir.

Voltando a ficar de pé, comecei a vasculhar o ambiente em volta. Entretanto, por mais que procurasse, não consegui encontrar nenhuma faca ou tesoura…

Crash—!

No fim, joguei um copo de vidro no chão, que se estilhaçou e se espalhou. Seria difícil de se limpar mais tarde, porém eu tinha que fazer algo em relação a minha situação atual.

Para ser honesto, tudo isso ainda parecia mais um sonho do que real.

Ao agarrar um dos pedaços de vidro quebrados, o segurei acima de meu pulso e levemente pressionei-o contra. Feito isso, não demorou para que um denso líquido avermelhado brotasse de minha pele branca. Contudo, ainda não achando suficiente, acabei por balançar meu braço, fazendo ainda mais sangue jorrar. 

No fim, cheguei a só uma conclusão…

— Tá, isso dói…

Por que doía?

Quando olhei para cima, tirando a vista da pequena poça de sangue que se formava, acabei por ver um rosto desconhecido sendo refletido em um espelho…

A face abaixo dos fios castanhos claros de cabelo era vívida e bonita. Porém, por sua pele ser branca demais e seu corpo magro, eu não conseguia sentir sua vitalidade…

— Tsc, tsc, você deveria ter se exercitado mais.

Quer que seja um sonho ou não, já que pude sentir aquela dor, deveria ter mais cuidado a partir de agora.

— Haa…

Soltando um suspiro, ponderei sobre o que fazer com meu braço sangrando quando, de repente, uma porta se abriu e alguém entrou.

Slam!

— Han Yi-gyeol! Pare de dormir e acorde! O mestre… Que porra é essa!?

O indivíduo que estava vindo em minha direção me lançou um olhar surpreso e perguntou com uma voz piedosa: — O que há de errado com você? Se machucou?

— …

— Olha essa bagunça… cara, com certeza você tem estado ocupado. Que panaca.

Enquanto ele balançava a cabeça ferozmente, permaneci parado matutando sobre a outra coisa que tinha ouvido…

Uma coisa que eu tinha certeza de ter lembrança.

“Han Yi-gyeol…”

Por que este nome era tão familiar? 

“Han Yi-gyeol, Han Yi-gyeol…”

— Ah.

Depois de ponderar o nome por muito tempo, levantei minha cabeça como se tivesse recebido uma mensagem divina.

Han Yi-gyeol era um personagem de “Abismo”, uma novel que li ontem. Bem, ele também foi o único que apareceu nela apenas para morrer.

— Hm? O que você quer dizer com “Ah“? Esqueceu como se fala? Esquece. Apenas se apresse e saia logo. O mestre está chamando.

O homem me puxou à força, sem se importar com meu braço sangrando…

Quando saí do quarto, andei por um corredor sem pensar muito; eu estava em choque.

“É sério? Isso é sério? Qual é o sentido disso?”

Eu não estava apenas no corpo de outra pessoa, mas no de um personagem? E por que tinha que ser esse?

“Espera.”

Pensando mais sobre tudo aquilo, lembrei-me tardiamente que “Abismo” era o tipo de novel para o público masculino. Ou seja, o número de personagens femininas era significativamente maior do que os masculinos…

Sem contar com o fato de que, boa parte das figuras femininas se tornavam obcecadas e acabavam lutando por seu amor, bem, mesmo que isso só ocorra para o protagonista. 

“Caralho… Vida longa à Han Yi-gyeol. Obrigado, obrigado…”

Rapidamente meu favorecimento em Han Yi-gyeol aumentou drasticamente. 

Ele tinha uma cara bonita, era inteligente e, acima de tudo, um homem, certo? Ele era um homem!

— Entre.

Assim que eu estava prestes a agradecer profundamente no meu coração ao responsável que me colocou neste corpo, o homem que me conduziu até uma sala abriu a porta e me empurrou para dentro.

O local onde estava parecia um quarto de hotel muito maior do que aquele que me encontrava originalmente.

— O que aconteceu com o seu braço…?

Enquanto eu estava parado, desviando o olhar pelo quarto, ouvi uma estranha voz vinda das minhas costas.

Ao mesmo tempo, me virei e acabei encontrando uma outra figura masculina, vestindo um robe branco, que aparentava ter acabado de sair do banho; ele me lançava um olhar tedioso…

Lentamente também levantei meu olhar para encarar o homem escultórico que tinha começado a enxugar seus cabelos escuros grosseiramente com sua mão.

— …

Seu rosto podia ser descrito como excepcional, até mesmo um ator popular que ia a um salão para manter sua aparência no seu tempo livre não teria tal aparência.

Sua face também, sob uma iluminação sutil, fazia-o parecer um crente devoto ou um assassino insidioso…

— Mova seus olhos para baixo antes que eu os tire daí.

Após notar que era encarado, ele distraidamente jogou fora uma ameaça.

— …

E foi assim que eu tive a certeza de quem era. 

“Cheon Sa-yeon.”

O desgraçado que Han Yi-gyeol sempre tremia quando estava por perto.

— O que houve com seu braço? — indagou novamente Cheon Sa-yeon.

Antes de respondê-lo, pensei sobre isso por um tempo…

— Nada.

— …

E assim que recebeu a resposta, olhou para mim com uma expressão em seu semblante que parecia perguntar algo como: “Você está louco?”

Não entendi muito bem…

“Eu não respondi bem? Tenho certeza que fui cuidadoso.”

Na história original, como Han Yi-gyeol era tímido, não era fácil encontrar referências para usar agora.

Já em “Abismo”, tudo que estava descrito era como ele tremia na frente de seu dono e apenas acenava com a cabeça concordando com suas ordens… Teve até a vez que, em frente ao personagem principal, ele fez o que Cheon Sa-yeon ordenou apenas para no fim ser espancado.

Atualmente, eu não tenho ideia de como um jovem tímido se comporta; a maior parte das pessoas que já estiveram ao meu redor eram do tipo forte e robusta. Portanto, Han Yi-gyeol seria completamente diferente, ele parecia ser mais uma flor frágil; um tipo de pessoa que nunca havia conhecido em minha vida.

— Ouvi dizer que a “Imperatriz das Chamas Vermelhas” limpará a área G7 e sairá pelo portal amanhã à tarde.

“Imperatriz das Chamas Vermelhas…”

Tirando que “Abismo” foi uma obra escrita há 10 anos, esse nome era um pouco infantil.

— Vento é bastante útil contra o fogo. Vá e sequestre-a. Deixe a criança da Guilda Roheon receber a notícia.

Por ter escutado repentinamente aquele nome, ignorei por um triz as falas de Cheon Sa-yeon e, naturalmente, tentei me lembrar do conteúdo da novel…

Em seu início, o personagem principal resgata uma mulher raptada… então, se a Imperatriz das Chamas Vermelhas for ela, a criança da Guilda Roheon deve ser o protagonista.

Mas o que acontece com Han Yi-gyeol nessa parte? Não, antes disso…

“Quem é a Imperatriz das Chamas Vermelhas…?”

Anteriormente, eu até que estava cheio de confiança com minha memória, mas agora fiquei inseguro, afinal, mulheres com características diferentes naquela obra era algo que não faltava.

Cheon Sa-yeon tragou um cigarro enquanto olhava para a vista noturna de Seul do lado de fora da janela e franziu a testa.

— Se você entendeu, por que não vai embora?

Eu ia perguntar para ele quem era essa imperatriz, mas desisti. Havia muitas coisas que não entendia e que não podia simplesmente perguntar para aquele cara.

Portanto, era mais vantajoso dar um passo para trás em silêncio agora…

Acenei com a cabeça e me virei para sair.

— Hm?

Quando comecei a andar, ouvi uma exclamação, porém não me pareceu nada para me preocupar, então apenas continuei a minha trajetória.

“?”

Assim que saí para o corredor, encontrei o mesmo indivíduo que me guiou antes me lançando um sorriso junto de uma…

— O que há contigo hoje? Você costuma sair chorando dali.

Provocação infantil.

Bem, na minha opinião, a personalidade e a aparência de Han Yi-gyeol não ajudava muito também.

Era fácil incomodar ou ignorar alguém com um rostinho fraco e de aparência gentil. Aposto que se eu tivesse meu rosto do passado, estas pessoas imaturas não teriam sido capazes de falar comigo de forma imprudente.

— Haa…

Erguendo minhas sobrancelhas,  ignorei aquelas falas e passei por ele.

Tudo o que eu gostaria de fazer agora era entrar no meu quarto.

Nota:

1. Hyung é usado para irmão ou amigo mais velho; se refere ao membro mais velho de um grupo de forma respeitosa.