O banquete terminou com aplausos estrondosos acompanhando as observações finais da administração da universidade. Jiang Chen arrastou seu corpo ligeiramente intoxicado até seu carro antes de parar no caminho.
‘Droga, como eu vou dirigir bêbado? Isto será um problema.’
Um sorriso preocupado apareceu em seu rosto. Embora sua condição corporal fosse mais forte do que a de uma pessoa comum — permitindo que ele limpasse o álcool de seu sistema em um ritmo mais rápido — ele não era como os mestres descritos nos livros de fantasia que podiam dissipar o álcool de seus corpos instantaneamente. Dificilmente a polícia acreditaria que ele não estava bêbado.
Com a chave na mão, ele hesitou, sem saber se deveria aproveitar a chance. No final, ele suspirou.
Ele pegou o celular e deslizou o dedo pela tela, sem saber para quem ligar.
Xia Shiyu acabou de ir para casa; seria imprudente chamá-la de volta.
Liu Yao?
Quando ele viu esse nome, seu dedo parou antes de pressioná-lo sem pensar além disso.
– “Alô!” Do outro lado, uma voz ligeiramente preguiçosa soou, como se a pessoa estivesse prestes a adormecer.
Ele ponderou por um momento antes de abrir a boca. – “Sou eu.”
– “Jiang Chen?!”
– “Você tem identificador de chamadas, certo? Hum, onde você está agora?”
Ela estava deitada de bruços na cama, com as pernas lisas balançando para frente e para trás no ar. Um sorriso surgiu em seu rosto enquanto ela apoiava o queixo com a mão. – “Estou em casa, por quê? Sentiu minha falta?”
Foi a primeira vez que o Jiang Chen ligou para ela.
Jiang Chen ficou em silêncio, sem saber como responder. No final, ele desajeitadamente escolheu ignorar a questão.
– “A que distância fica a sua casa da Universidade de Xangai?”
Liu Yao fez beicinho.
– “Não muito longe. Duas estações de metrô de distância.”
– “Cof cof, eu bebi um pouco e não posso dirigir. Você poderia vir me buscar? Estou perto do lago na Universidade de Xangai.” Jiang Chen disse descaradamente.
* * *
A lua imaculada lançava sua luz do céu noturno e refletia a superfície brilhante do lago. Uma brisa leve flutuava à beira do lago, sacudindo as folhas ao som do vento. O ar de setembro já mostrava suas caras.
Ele abraçou o frio em seus braços enquanto se inclinava contra a cerca de mármore, olhando fixamente para a cabana que ficava no meio do lago.
Quando foi a última vez que ele visitou este lugar?
Atrás dele estava o canto dedicado para aulas de inglês e um banco em um campo gramado — um lugar ideal para praticar recitações.
Mas também era o local de encontro perfeito, referido pelos alunos como a Colina dos Amantes.
– “O que você está olhando?”
– “Apenas pensando longe.” Jiang Chen se virou sorrindo, mas parou, atordoado pelo vislumbre de uma beldade.
Um vestido branco combinado com sandálias de salto alto — um branco puro…
Assim que ele conseguiu reunir seus pensamentos, ele disse meio perturbado, – “Se não soubessem, pensariam que você é aluna do primeiro ano.”
A ligeira curvatura de seus lábios mostrava o orgulho de uma garota, enquanto o lindo rosto sob a luz trazia um toque de inocência.
‘Será que eu bebi demais?’
Jiang Chen esfregou sua têmpora.
– “É claro. Eu até encontrei um veterano quando estava andando e ele se ofereceu para me levar para casa.” Liu Yao examinou o rosto do Jiang Chen com um sorriso.
– “Oh.”
Insatisfeita com a reação calma do Jiang Chen, ela perguntou, – “Você não está com ciúmes?”
Jiang Chen sorriu, seus olhos pareciam tão límpidos quanto a superfície do lago.
As palavras “Por que eu ficaria com ciúmes?” ficaram presas em sua garganta.
– “Talvez, um pouco.”
Ele se afastou do rosto atraente para olhar para o campo gramado pontilhado com luzes brilhantes.
O sorriso da Liu Yao aumentou, com sua boca se moldando na forma de uma lua crescente.
– “Então eu disse a ele, eu já tenho um namorado, e ele foi embora corando.”
Jiang Chen encolheu os ombros, rindo. – “Por que você foi tão direta? Eles nem sequer disse que estava interessada em você.”
– “A maneira como ele olhou para mim disse tudo. Mas eu não posso aceitar ninguém além de você.”
Ele caiu em silêncio, que logo foi quebrado.
– “Quer ser meu namorado?”
– “Enquanto estamos no assunto, você se vestiu assim propositalmente?” Jiang Chen desviou do assunto com um sorriso agitado.
O vestido branco imaculado, o rosto lindo sem maquiagem e os olhos tão brilhantes quanto às estrelas na noite de verão.
Liu Yao também não respondeu à pergunta enquanto endireitava as costas e passeava pelo caminho de rochas.
Ela se virou para olhá-lo com um sorriso gentil, seu vestido desabrochando com seus movimentos.
– “Eu sou parecida com aquela garota que assistiu ao filme com você?”
Ele caiu em silêncio, depois começou a rir histericamente. Talvez tenha sido devido à influência do álcool.
– “Ela não é uma boa pessoa, então por que está copiando ela?” Jiang Chen também se endireitou, deixando a risada de lado.
– “Eu sou como a garota em sua imaginação?”
Jiang Chen parou novamente, e depois de um tempo, falou com confusão, – “Tem alguma diferença?”
Assim que ele terminou de falar, ele já tinha uma resposta em seu coração.
A garota em sua imaginação era pura, inocente e adorável. No final, ele percebeu que tudo tinha sido uma fachada, mas ele ainda mantinha sentimentos pela Fang Yuanyuan.
Liu Yao sorriu, olhando para o Jiang Chen. Embora ela não conhecesse a garota que ele conheceu no passado, ela podia imaginar. Então, com sua astúcia, ela se trocou para um vestido que costumava usar em seus tempos de universidade.
– “Como um viajante no deserto, indo para o reino imaginário, passeando sozinho.” Ele murmurou enquanto olhava para um casal amoroso no campo gramado distante.
– “Pshhh, você escreve poemas?”
– “Não. Apenas as queixas de uma pessoa entediada em um momento tedioso.”
Por algum motivo, ele sentiu falta da Sun Jiao, aquela garota perversa.
Talvez por isso ele gostava dela?
A coragem de amar e odiar, a maneira direta de expressar suas emoções e a perversidade em agir sobre as ideias “erradas”. Ela estava se tornando mais civilizada, mas o Jiang Chen tinha o desejo de dizer a ela “está tudo bem”, porque uma garota dessas estava quase extinta neste mundo.
Aqui, o que permanecia genuíno?
De repente, uma maciez bloqueou gentilmente sua boca, seus olhos estavam fixos em um par fechado de olhos.
Os lábios se separaram.
Silêncio se seguiu antes que o Jiang Chen eventualmente perguntasse, – “Posso te fazer uma pergunta?”
– “Sim.”
– “Além das necessidades materiais, por que você gosta de mim?”
Se fosse apenas dinheiro, havia muitas pessoas ricas por aí.
Um sorriso desabrochou no rosto dela. – “Talvez por causa do respeito.”
O sorriso era lindo, mas também desamparado.
– “Entendi.”
Talvez ela tenha buscado respeito porque não foi respeitada?
Ele fez uma pausa e, depois de pensar um pouco, perguntou, – “Sabe por que eu aceitei seu convite nas férias?”
– “Por mágoa?”
Jiang Chen olhou para baixo. Ele não disse sim ou não.
– “Me leve para casa.”
Liu Yao parecia um pouco desapontada, mas ela sorriu e assentiu.
– “Sim.”
* * *
Ele se inclinou contra o assento do passageiro macio e soltou um longo suspiro. Ele então puxou a gola que o deixava abafado.
– “Comunidade de Mansões da Área Mingxin, na parte mais ao centro. Sabe onde fica?”
– “Sempre tem o GPS.” Liu Yao forçou um sorriso, já que ela nunca esteve naquela área.
Jiang Chen observou em silêncio enquanto ela ligava o GPS e marcava o destino antes de se acomodar para descansar.
O passeio de carro foi suave com a Liu Yao aumentando a velocidade assim que eles saíram do campus. Ele abriu os olhos, captando as cores da cidade em sua visão periférica. De repente, ele perguntou casualmente, – “Como você tem estado?”
– “Não muito bem.” Liu Yao seguiu enquanto fazia beicinho.
– “Oh? Por quê?”
– “Porque o filme que alguém prometeu ainda não aconteceu.” Sua voz soou desamparada.
– “Hehe, de quanto precisa?” Intoxicado, ele sorriu descuidadamente.
Screech!
O carro parou de repente.
Liu Yao estacionou o carro na beira da estrada, tirou o cinto de segurança e olhou diretamente nos olhos dele.
Nos olhos dela… havia lágrimas?
– “O que foi?” Ele perguntou com um sorriso amargo.
– “Em seus olhos, eu sou apenas uma vadia, não é?”
Jiang Chen ficou sem expressão. Ele não imaginou que apenas uma frase a mudaria tão dramaticamente.
– “Você se lembra do cadeado do amor na beira do mar?”
Sua garganta se moveu levemente enquanto ele desviava o olhar, sem saber o que dizer. Claro que ele se lembra. Ele gravou o nome Chen Lele, a garota pura e feliz que existia apenas em um filme.
– “Eu não posso me tornar sua Chen Lele?”
– “Mas você não é…”
– “Eu sou.”
Seus lábios foram parados por uma sensação reconfortante.
O cinto de segurança estava destravado enquanto ele se esticava para abraçar a figura graciosa.
Ele não estava mais bêbado do álcool, mas estava de alguma forma intoxicado.
Já eram dez horas da noite e as ruas estavam vazias, com alguns carros passando ocasionalmente.
Maybachs tinham cancelamentos de ruído excelentes, isolando os barulhos para o lado de fora. As janelas escuras também obstruíam a visão interior, impossibilitando as pessoas que passavam ocasionalmente de verem dentro do carro.
Ele abraçou firmemente a Liu Yao, cheirando a fragrância de seu cabelo e ouvindo seus gemidos reprimidos enquanto permitia que o suor rolasse.
Talvez a intoxicação fosse contagiosa?
Ou talvez fosse apenas a ideia de estar intoxicado.
Não havia necessidade de pensar nisso.
Mesmo com o outono prestes a tomar o lugar do verão, a primavera floresceu dentro do carro.