Gravis seguiu Aion enquanto caminhavam pela Seita Celestial. Todas as decorações que Gravis via eram luxuosas. Quase tudo era feito de ouro ou Pedras de Energia, e um tapete caro, de um vermelho vivo, percorria todo o prédio. Lustres caros pendiam do teto, e várias pinturas bem-feitas adornavam as paredes. Gravis imaginava que nem mesmo um rei teria tanto dinheiro.
Aion percebeu o olhar curioso de Gravis e riu. — Somos Nascidos do Céu, abençoados pela sorte cármica. O dinheiro simplesmente entra sem que saibamos o que fazer com ele — explicou. — Mesmo que tenhamos investido tanto em nossas decorações, nossos armazéns ainda estão cheios de riqueza. Não temos ideia do que fazer com ela. No nosso quartel-general no Continente Central, é ainda mais insano.
Gravis olhava ao redor, sentindo-se completamente desconectado da realidade. Nunca tinha tido riqueza à sua disposição, e o Céu sempre o impediu de obter mais. A única exceção foi quando esteve na Guilda-Proxy do Relâmpago. Normalmente, ele tinha apenas o suficiente para aumentar sua força, e esses recursos só vinham após arriscar sua vida.
Gravis não conseguia se identificar com a sorte e a abundância da Seita Celestial. Eles não faltavam nada e tinham tudo, enquanto ele nunca havia sentido algo assim. Quando era mais jovem, faltava-lhe força e permissão para cultivar. Quando começou a cultivar, faltavam-lhe recursos para aumentar sua força. Sempre faltava algo que o impedia de avançar. Ele não conseguia processar emocionalmente o fato de agora pertencer a uma seita tão rica.
Claro, Gravis teve que manter uma postura confiante para não despertar suspeitas, externando uma falsa sensação de orgulho. Estava agindo como se tudo aquilo fosse mérito seu. Gravis sentiu-se enojado consigo mesmo, pois isso contrariava suas crenças fundamentais, mas não havia nada que pudesse fazer no momento. Ele precisava de força. Mendigos não podem ser exigentes.
Aion sorriu para Gravis enquanto continuavam caminhando. — Podemos ter tudo, mas também temos que fazer nosso trabalho — continuou. — Você quer relaxar um pouco ou ir direto ao trabalho? — perguntou, olhando para Gravis.
Quando alguém mente constantemente, até uma pergunta inocente parece perigosa, e Gravis não tinha certeza de como responder. — Não estou acostumado com algo assim — disse Gravis. — O Céu sempre me concedeu muitos inimigos e oportunidades. Foi assim que consegui ficar tão forte, tão rapidamente. Ouvi dizer que a vontade é muito importante, e talvez o Céu tenha me ajudado com isso? — Gravis disse com um tom incerto, misturando verdade com mentiras.
Aion apenas riu. — Não, não é isso que o Céu estava fazendo, mas não posso culpá-lo por não saber. É sua primeira vez aqui, afinal — Aion disse com um sorriso. — A vontade é importante para cultivadores normais.
Aion se virou para Gravis e sorriu. — Mas para nós, é inútil.
Gravis ficou surpreso. — Como assim? Todos que são mais fortes do que eu sempre disseram que a vontade é uma das coisas mais importantes para os cultivadores — perguntou Gravis, fingindo inocência. — Como é diferente para nós?
Aion continuou sorrindo enquanto caminhava. — Já ouviu falar do conceito de Aura de Vontade? — perguntou Aion.
— Aura de Vontade? — Gravis perguntou, confuso, enquanto pensava sobre sua resposta.
— Um dos discípulos da Guilda do Relâmpago, que me caçava, mostrou algo parecido com minha Pressão Celestial. Isso é uma Aura de Vontade? — perguntou Gravis, lembrando-se do líder do esquadrão da Guilda do Relâmpago. Ele tinha sentido imediatamente sua forte vontade ao olhar para ele.
Aion assentiu. — Exato! Uma Aura de Vontade é algo semelhante à nossa Pressão Celestial, mas nunca pode alcançar o nosso poder. Quando um cultivador normal passa por calamidades genuínas de vida ou morte, sua vontade se torna tão forte que pode se manifestar como um domínio ao seu redor. Tudo dentro desse domínio será suprimido, semelhante à nossa Pressão Celestial — explicou Aion.
— Mas para nós, é impossível ter uma Aura de Vontade — continuou Aion com um sorriso. — Nossa Pressão Celestial é uma Aura de Vontade concedida pelo Céu, e nós a recebemos quando entramos no Reino de Refinamento Corporal. Quando sua cultivação aumentou, você provavelmente também notou que sua Pressão Celestial ficou mais forte, certo?
Gravis assentiu.
— O Céu sempre nos concede uma Aura de Vontade conforme o nosso reino de cultivação. É o que chamamos de Pressão Celestial. É uma Aura de Vontade, mas não é nossa — explicou Aion, então riu com orgulho. — E qual vontade pode se comparar à vontade do Céu? Nenhuma! Nossa Pressão Celestial é sempre a mais forte! — disse Aion com orgulho.
Gravis olhou surpreso e aparentou estar extasiado. — O Céu é tão poderoso que nossa Pressão Celestial é sempre a mais forte? Então, ninguém pode ter uma Aura de Vontade mais forte do que a minha? — perguntou com entusiasmo fingido.
Aion sorriu, mas ainda assim coçou o queixo em pensamento. — Praticamente sim, mas teoricamente, não — disse ele, e Gravis olhou para ele com choque. — O Céu nos concede a Aura de Vontade mais forte que nossos corpos e mentes podem suportar. A razão pela qual não é mais forte é que, como você sabe, manter nossa Pressão Celestial consome nossa concentração.
Aion virou-se para Gravis com um sorriso, enquanto continuavam caminhando lado a lado. — O Céu poderia, teoricamente, lhe conceder uma Aura de Vontade tão forte quanto a pessoa mais poderosa deste mundo, mas você não conseguiria mantê-la nem por um segundo antes de sua concentração se esgotar — continuou explicando Aion.
— O Céu é, claro, o mais sábio e, portanto, sempre nos concede a mistura perfeita de intensidade e uso de concentração. Uma Aura de Vontade, por outro lado, não exige nenhuma concentração. Então, teoricamente, alguém poderia ter a Aura de Vontade mais forte do mundo, mesmo estando no Reino de Refinamento Corporal.
Aion riu com desdém. — Mas quão difícil é criar uma Aura de Vontade? É preciso passar por muitas calamidades genuínas de vida e morte. A palavra ‘genuínas’ é a mais importante nessa frase. Não se pode criar uma Aura de Vontade artificialmente.
Gravis parecia confuso. — Mas as guildas, seitas e grandes famílias não poderiam criar herdeiros com uma forte Aura de Vontade? — perguntou.
Aion assentiu. — Teoricamente, sim, mas pense no custo — ele explicou pacientemente. — Eles teriam que encontrar inimigos para seus herdeiros que não fossem muito fracos nem muito fortes. E os herdeiros precisariam vencer continuamente. Algumas grandes seitas tentaram isso no passado, e cerca de 99% dos herdeiros morreram antes de conseguirem manifestar uma Aura de Vontade. Imagine a quantidade de recursos que tiveram que investir nesse esforço.
Agora Gravis estava genuinamente interessado. — Isso soa astronômico — comentou Gravis. — Mas o que aconteceu com aqueles que conseguiram formar sua Aura de Vontade? — perguntou.
Aion sorriu com desdém. — Eles criaram a Aura de Vontade mais fraca e, em comparação com a nossa, a Aura deles não se fortalece por conta própria. Assim, a maioria dos que conseguiram criar uma morreu enquanto tentava treinar sua vontade ainda mais, enquanto o restante não conseguiu aumentá-la. Até o meio do Reino de Reunião Mágica, eles reinavam supremos, mas, depois, começaram a encontrar outros que haviam estabelecido suas Auras de Vontade por conta própria. E, assim, caíram do topo para pouco acima da média.
Aion riu novamente. — Claro, isso não nos inclui. Assim que alcançamos o Reino de Reunião Mágica, nossa Pressão Celestial já é tão forte quanto a Aura de Vontade deles, e só fica mais forte. Estamos sempre no topo porque somos filhos do Céu.
Gravis exibiu uma expressão orgulhosa. — Então, não há ninguém com uma Aura de Vontade mais forte que a nossa, certo? — perguntou animado.
Aion continuou sorrindo. — Claro que não, e se aparecer alguém com uma Aura de Vontade suprema, o Céu nos avisa, e nós o matamos. Ninguém pode ser mais forte que nós! — Aion proclamou com orgulho.
Gravis imitou a expressão e postura de Aion, mas, por dentro, sentiu um calafrio de medo. Se o Céu pudesse agir completamente à vontade, Gravis já estaria morto. Apenas a pressão constante de seu pai forçava o Céu a seguir suas próprias regras, que ele normalmente quebrava sem se importar. Se Gravis não tivesse seu pai por trás dele, o Céu já teria alertado a Seita Celestial sobre ele. Gravis podia não ter sorte cármica, mas sentia-se sortudo por ter um pai tão poderoso!
— Então, por que o Céu me enviou tantos inimigos fortes? — perguntou Gravis inocentemente.
— Nós talvez não precisemos refinar nossa vontade, mas ainda precisamos de experiência de batalha. Sem experiência, não podemos mostrar todo nosso poder, e, se não podemos mostrar todo nosso poder, seríamos uma vergonha para o Céu.
Aion sorriu calorosamente ao olhar nos olhos de Gravis. — Parece que o Céu mima você, especialmente. Sempre lhe concedeu tantos inimigos fortes. Veja só aquele cara da Seita do Relâmpago que veio aqui. Mas o Céu conhece sua força e nunca envia algo que o mataria.
Gravis ficou surpreso. — Você sabe sobre todos os meus inimigos? — perguntou.
Aion assentiu. — Temos nossos olhos e ouvidos em todos os lugares. Nossa Seita Celestial tem a maior rede de informações do mundo, e nada escapa de nossa vista. Sei de tudo que aconteceu com você desde que saiu da Guilda do Relâmpago. Fiquei feliz quando soube de você, porque vi a mão do Céu guiando cada passo de sua vida.
Aion riu alto. — É até engraçado. Pense nisso! Se o Céu não quisesse que você sobrevivesse, como teria sobrevivido a um esquadrão com várias pessoas no oitavo nível de Reunião Mágica? Sem sorte cármica, como você teria chegado à sua casa, nossa Seita Celestial? O Céu lhe deu todas as oportunidades porque sabia que você sobreviveria! — Aion proclamou com orgulho e felicidade. Gravis era um Nascido do Céu, e sua glória também era a glória de Aion.
Por fora, Gravis sorriu, mas por dentro, estava aterrorizado. Ele não sentia desprezo pelas falsas crenças de Aion, mas medo por sua argumentação. O que Aion disse soava muito convincente, e qualquer pessoa que não conhecesse a verdade acreditaria completamente nele. Parecia muito lógico e natural, mas era o completo oposto do que realmente aconteceu.
Qualquer um que lesse sobre as lutas e inimigos de Gravis diria que ele deveria ter morrido. Gravis sempre era a parte mais fraca nas lutas, e o fato de ele — coincidentemente — sempre sobreviver faria as pessoas acreditarem que havia algo por trás disso. Tudo parecia coincidência demais. Se Gravis não soubesse a verdade, até ele acreditaria em Aion.
“Não é de se admirar que todos acreditam na justiça do Céu. Se alguém se ergue, o Céu queria que ele se erguesse. Se alguém morre, o Céu queria que ele morresse. Essa explicação basicamente atribui tudo o que acontece à vontade do Céu”, pensou Gravis.
“Provavelmente quase todos neste mundo inferior compartilham essa crença. Se eu continuar seguindo meu caminho, provavelmente me tornarei inimigo de todos”, continuou Gravis, pensando seriamente.
“Então, que o mundo inteiro seja meu inimigo!”