Gravis olhou ao redor do salão, enquanto todas as pessoas o observavam com olhos sérios. Embora soubesse que era odiado, ele sentia que havia algo estranho na maneira como o encaravam. Era um ódio esperado, claro, mas algo nas expressões deles não parecia certo.
— Mostre a prova da missão — disse o homem de meia-idade no trono central, sua voz profunda ecoando pelo salão. Gravis pegou os dossiês brilhantes e os levantou. Pouco depois, os dossiês começaram a flutuar até o homem, que os analisou.
Após alguns segundos, o homem franziu o cenho, mas sabia que não havia nada que pudesse fazer. Era um documento oficial do gerente da filial da Seita Celestial no sudeste. Ele conhecia o gerente, e isso confirmava que o documento vinha diretamente dele.
Os dossiês flutuaram até um velho sentado em um trono simples. — Traga-os aqui — ordenou o Mestre da Guilda do Relâmpago. O velho fez uma leve reverência e saiu do salão. A Seita do Relâmpago não podia enfrentar a Seita Celestial, e a ainda menor Guilda do Relâmpago não tinha qualquer esperança de mudar essa situação.
Eles sequer precisavam pensar sobre a Seita Central do Céu. Aion era uma das duas pessoas mais poderosas do Continente Intermediário, a outra sendo o gerente da filial no noroeste da Seita Celestial. Aion poderia destruir essa Guilda do Relâmpago sozinho.
Todos esperaram em silêncio por vários minutos. A guilda era massiva, e o ancião provavelmente levaria algum tempo para retornar. Gravis tinha a intenção de dizer algumas coisas, mas decidiu esperar até que os negócios oficiais fossem resolvidos. Por outro lado, os anciãos não queriam discutir questões importantes enquanto um inimigo estivesse em seu salão. Ninguém falou, e o ar estava tão pesado que poderia ser cortado com uma faca.
Eles esperaram uma hora inteira em silêncio. Após isso, as portas se abriram, e cinco pessoas entraram no salão. Uma delas era o ancião de antes, e as outras quatro eram os discípulos abatidos que Gravis já havia encontrado na Vila Terra e na árvore.
Pelo olhar deles, já sabiam o que aconteceria. Gravis deduziu que a demora de uma hora fora para que pudessem acertar suas pendências. Quando os quatro discípulos avistaram Gravis, suas expressões se transformaram em puro ódio. O ancião retornou ao seu trono, enquanto os quatro discípulos encaravam Gravis.
Gravis os olhou com os olhos semicerrados. Mesmo sendo muito mais fracos, eles ainda haviam tentado matá-lo. A inimizade não considerava a força. Gravis era o exemplo perfeito, pois, no grande esquema das coisas, ele ainda era fraco, enquanto seu inimigo era o Céu supremo.
BOOM!
Gravis disparou relâmpagos contra eles, e no pequeno espaço do salão, não puderam desviar. Os raios os atingiram, e apenas um breve grito estridente ecoou antes de os discípulos serem reduzidos a cinzas. Gravis não se importava com o que eles queriam dizer. Não havia razão para conversar.
Ele se voltou para o Mestre da Guilda, que tentava esmagar violentamente as bolas de aço em sua mão para se acalmar. A morte dos discípulos foi um tapa em sua cara, e ele estava frustrado por não poder fazer nada a respeito. O Mestre da Guilda estava, obviamente, de muito mau-humor.
— O negócio oficial terminou — disse Gravis ao Mestre da Guilda. Todos no salão olhavam para ele com ódio, querendo que desaparecesse de sua vista. No entanto, ao contrário do que esperavam, Gravis não saiu. Em vez disso, fez algo inconcebível para eles.
PLOMP!
Gravis se ajoelhou como os artistas marciais no Salão Marcial, na Cidade do Corpo. Todos os anciãos no salão conheciam a etiqueta, e sabiam que essa postura simbolizava respeito. Gravis, ao se ajoelhar dessa forma, estava demonstrando respeito pela Guilda do Relâmpago.
— Como ousa! — gritou o Mestre da Guilda furiosamente, levantando-se. — Como ousa mostrar respeito após matar quatro de meus discípulos bem diante dos meus olhos!? Saia! — sua voz ecoou por todo o salão.
O cabelo de Gravis foi lançado para trás pela voz imponente, mas sua postura não mudou. — Agora vou contar sobre a minha situação e o que fiz na Guilda-Proxy do Relâmpago — proclamou Gravis em um tom neutro.
— Quem se importa com o que você quer dizer? Você matou nossos discípulos, não nos importamos com suas palavras! — gritou um ancião, furioso. Os outros o seguiram, gritando agressivamente para que Gravis partisse.
Foi incrivelmente desafiador para Gravis manter a calma com uma sala cheia de pessoas mais fortes do que ele gritando para que saísse. Se Gravis não tivesse uma vontade poderosa, teria provavelmente vacilado. No entanto, mesmo com todos esses gritos agressivos contra ele, ele permaneceu firme na posição ajoelhada.
— Conheci Gorn nos exames anuais de entrada das guildas elementais… — Gravis começou a narrar. As outras vozes o abafaram e gritaram para ele se calar e ir embora, mas quem eram essas pessoas? Eram todos cultivadores experientes, e mesmo que todo o salão gritasse para que Gravis saísse, ainda podiam entender tudo o que ele dizia sob a avalanche de gritos.
Gravis contou tudo o que havia acontecido durante seu tempo na Guilda-Proxy do Relâmpago, exceto pela chegada de Aion ou sobre seu Relâmpago da Destruição. Se contasse que Gorn o ajudou contra Aion, eles saberiam que Gravis não era um Nascido dos Céus. Gravis não era tão ingênuo a ponto de confiar sua vida à Guilda do Relâmpago.
Ele também não tinha certeza de como reagiriam se soubessem sobre seu Relâmpago da Destruição. Eles o viam como inimigo, e se soubessem que Gravis havia alcançado o nunca antes visto Relâmpago da Destruição de 100%, talvez sacrificassem toda a guilda à Seita Celestial apenas para proteger a Seita do Relâmpago.
Aos poucos, os gritos começaram a diminuir à medida que Gravis falava mais sobre o que Gorn havia feito por ele. Como Gorn lhe deu o Codex do Relâmpago sem pedir nada em troca. Como Gorn lhe deu a melhor casa para mantê-lo sob vigilância. Como Gorn o salvou da fossa. Como Gorn aumentou a produção da Torre do Relâmpago para saciar a sede insana de poder de Gravis.
Antes de Gravis chegar, todos pensavam que ele era um assassino frio e traidor. Quando Gravis começou a contar algumas das coisas que Gorn fez por ele, o ódio dos anciãos só aumentou, pois sabiam que Gravis havia matado Gorn.
No entanto, à medida que mais boas ações de Gorn eram reveladas, eles começaram a refletir. Se Gravis quisesse se defender, teria dito que Gorn o havia maltratado, mas Gravis apenas relatava sinceramente o que Gorn tinha feito por ele.
O salão ficou completamente em silêncio quando a narrativa chegou ao ponto em que Gravis enlouqueceu na Guilda-Proxy do Relâmpago. Ele contou como tudo parecia ser um inimigo aos seus olhos e como ele via Jaimy em toda parte.
Os presentes eram todos experientes, e já haviam percebido que Gravis estava sob a influência do raio. Eles podiam simpatizar com ele, pois também estavam ligados ao elemento raio. Todos eles tinham que lutar contra o temperamento do raio.
Isso desculpava o que Gravis fez na Guilda-Proxy do Relâmpago? Não, definitivamente não! Quando alguém estava bêbado e matava outra pessoa, ainda era responsável por suas ações.
Quando Gravis chegou ao ponto em que Gorn morreu, sua respiração ficou pesada. Ele sempre tentava ao máximo ignorar essa memória, mas precisava contar sua história àquelas pessoas. Queria que elas o entendessem.
Gravis sabia que isso não resolveria a inimizade, e a Guilda do Relâmpago continuaria a caçá-lo. Gravis só queria que entendessem sua dor e que soubessem que ele nunca havia visto a Seita do Relâmpago como inimiga.
Ele terminou sua história no ponto em que fugiu da Guilda-Proxy do Relâmpago.
O salão permaneceu em silêncio, e Gravis olhou profundamente nos olhos do Mestre da Guilda.