Gravis ficou mais desapontado com o comentário do Mestre da Guilda do que deveria. Ele não tinha nada contra pessoas cegas, mas se fosse confundido com uma, muitos mal-entendidos poderiam ocorrer. — Não estou ansioso por isso — murmurou para si mesmo.
O Mestre da Guilda esperou alguns segundos, mas perdeu a paciência. — Então, quais são as outras duas coisas que você queria fazer? — perguntou.
Gravis se endireitou, como se tivesse lembrado de algo, e balançou a cabeça para recuperar a concentração. — Certo, o Vice-Mestre da Guilda, Saron, já voltou? — perguntou ele.
O Mestre e o Vice-Mestre da Guilda franziram os olhos. Então era sobre isso. — Não, ele ainda não voltou. Queremos esclarecer que as decisões pessoais de Saron não têm nada a ver conosco. Ele deixou a nossa Guilda do Vento há alguns dias — explicou solenemente.
Gravis balançou a cabeça. — Eu sei. Saron e eu nos encontramos há cerca de um dia. Resumindo, acabamos nos tornando amigos. Houve muitos mal-entendidos sobre a morte de Wendy, e nos separamos. Eu só queria falar com ele um pouco. Ele disse que queria se despedir de alguns amigos, já que, por certas circunstâncias, provavelmente não tem muito tempo de vida — explicou Gravis.
Os dois especialistas suspiraram. — Eu acredito em você, mas Saron realmente não voltou. Não sabemos onde ele está — explicou o Vice-Mestre da Guilda. Eles sabiam que Gravis cultivava raios, então confiavam em suas palavras. O raio era sempre direto. Ele não mentiria sobre algo tão trivial.
Gravis só pôde assentir solenemente. Se Saron ainda não havia voltado, provavelmente significava que já havia morrido. Os Nascidos do Céu não teriam motivos para atacá-lo, então, se ele tivesse morrido, só poderia ter sido por outra coisa. Talvez ele tenha encontrado uma Besta Espiritual recém-ascendida a caminho do Continente Central.
No entanto, ele também poderia ainda estar vivo. Quem sabe, talvez ele tivesse apenas se estabelecido em algum lugar. Contanto que não fosse a lugares perigosos, sua falta de Sorte Cármica não o mataria. Gravis só pôde desejar o melhor para Saron.
— Há alguém que Saron consideraria próximo? Não precisam me dizer os nomes — perguntou Gravis.
O Mestre da Guilda olhou para seu Vice-Mestre, incerto. — Ele não tem mais família imediata, mas tratava toda a Guilda do Vento como seus filhos. Não havia uma pessoa em particular com quem ele fosse mais próximo. Era mais como se fôssemos todos nós — disse o Mestre da Guilda.
Gravis assentiu.
BOOM!
Gravis retirou cerca de 10% de seu ouro e colocou-o ao seu lado, criando um enorme estrondo ao atingir o chão. O cubo sólido de ouro pesava bem mais de cinco toneladas, destruindo o solo abaixo dele. — Saron me ajudou com um problema, então vou retribuir à Guilda do Vento em seu lugar. Por favor, aceitem este ouro — disse Gravis.
Os dois especialistas do Reino de Formação do Espírito pararam de respirar por um segundo. Era tanto ouro! O que Saron fez para que Gravis oferecesse tanto ouro como retribuição? — Isso é demais. Não podemos aceitar tanto ouro! — disse o Mestre da Guilda.
Gravis já esperava algo assim. — Bem, então esse ouro vai servir como uma pedra qualquer. Eu dei o ouro, o que vocês farão com ele é problema de vocês — respondeu Gravis.
Os dois não sabiam o que pensar. Gravis estava basicamente jogando esse cubo de ouro para eles e dizendo para lidarem com isso. Será que não tinham outra opção a não ser aceitá-lo?
— Certo, vou liberar meu Espírito sobre ele agora. O ouro ainda está líquido, então, se quiserem mantê-lo, é melhor fazer algo, ou ele vai se transformar numa placa suja quando endurecer. — Após dizer isso, Gravis retirou seu Espírito do ouro, e ele começou a escorrer para os lados.
WHOOSH!
No entanto, o ouro rapidamente parou de fluir e retornou à sua forma de cubo anterior. Gravis apenas sorriu. “Então vocês aceitaram, afinal”, pensou ele, satisfeito.
O Mestre da Guilda não conseguia ver o ouro sendo desperdiçado e o salvou. Parecia que foram forçados a aceitá-lo. — Obrigado, Nascido do Céu — disse o Mestre da Guilda.
Gravis continuou sorrindo. — Eu não sou um Nascido do Céu. Pode me chamar de Gravis. Desejo um bom dia, Mestre da Guilda, Vice-Mestre da Guilda. — Com isso, Gravis foi em direção ao seu último alvo. Ele já o havia localizado.
Os dois não sabiam como reagir às últimas palavras de Gravis, então não reagiram. Apenas se despediram dele.
— Ei, estou de volta! — transmitiu Gravis.
No alto de uma grande árvore, um gigantesco pássaro verde ergueu a cabeça e olhou na direção de Gravis. Era o pai de Skye. Ele notou Gravis, mas logo olhou para o outro lado. Parecia que não o reconhecia. — Olá? Sou eu, Gravis. Você sabe, o amigo de Skye, seu filhote? — ele enviou outra transmissão de voz.
— Criança? Onde? — Gravis de repente ouviu uma voz cantarolante em sua mente.
Os olhos de Gravis se arregalaram ao perceber o que isso significava. O pai de Skye conseguiu transmitir pensamentos de volta para ele, o que significava que se tornara uma Besta Espiritual. Gravis não esperava por isso. Agora, Gravis olhou mais de perto para o pai de Skye e notou que ele parecia diferente. Ainda parecia o mesmo, mas havia uma aura especial ao redor dele.
Então, por que ele ainda estava aqui? Ele já não deveria ter partido para o Continente Central? “Espera, ele ainda está esperando por Skye?” pensou Gravis.
— Filhote? Onde? — a voz perguntou novamente.
As bestas só conseguiam formar habilidades rudimentares de linguagem quando se tornavam Bestas Espirituais. Era como se comunicar com uma criança de três anos.
— Eu era o humano que acompanhava seu filhote, Skye. Nós dois partimos juntos daquela árvore — disse ele.
O pai de Skye olhou mais de perto para Gravis. — Não, não o mesmo humano. Humano diferente — comentou.
Gravis já estava irritado com sua nova aparência. Ele estava tão diferente que ninguém o reconhecia. Ele já imaginava como seria o futuro: sempre que encontrasse alguém que conhecia, teria que gastar um tempo considerável para convencê-los de que era Gravis. Essa situação toda ia ser um verdadeiro incômodo.
— Deixe-me provar! — ele disse de volta. — Veja isso!
WHOOSH!
Do lado de fora da Guilda do Vento, uma área gigantesca começou a ser esmagada pela pressão, comprimindo tudo contra o solo. Como Gravis havia alcançado o Reino de Formação do Espírito, ele podia invocar sua gigantesca Aura de Vontade em qualquer lugar que quisesse. Ela não estava mais presa ao seu corpo. No entanto, o tamanho e a compressão dela permaneciam os mesmos.
O pai de Skye olhou para a área e arregalou os olhos. Ele conhecia essa sensação. Já havia visto diferentes Auras de Vontade, e cada uma tinha uma assinatura única. Essa Aura de Vontade era muitas vezes mais forte do que quando ele a havia sentido pela última vez, mas o sentimento ainda era o mesmo. Isso provava que Gravis era quem dizia ser.
BANG! WHOOOSH!
O galho onde o pai de Skye estava explodiu quando o pássaro gigante disparou em direção a Gravis com uma velocidade irreal. Ele alcançou Gravis em menos de um segundo e pousou na sua frente. — Filhote! Onde!? — disse, mais agitado.
Gravis levantou as mãos para mostrar que não tinha más intenções. — Calma. Vou explicar tudo o que aconteceu com Skye. Não precisa se preocupar. Seu filhote está bem — disse ele.
O pai de Skye se acalmou ao ouvir que seu filhote estava bem. — Explique — ele disse.
Gravis assentiu e pulou em uma árvore. Essa seria uma longa história, então ele queria se acomodar. Felizmente, Gravis havia alcançado o Reino de Formação do Espírito. Transmitir pensamentos era diferente de falar uma língua.
Quando falava normalmente, era como se estivesse falando em uma língua diferente para as bestas. No entanto, ao usar seus pensamentos, as mentes se conectavam. Apenas os conceitos que ele queria transmitir eram compartilhados, facilitando a compreensão das bestas.
Enquanto contava a história, Gravis percebeu que o pai de Skye conhecia alguns conceitos avançados, como política. Isso surpreendeu Gravis e facilitou a narração. Assim, ele pôde contar toda a história de Skye sem ter que omitir conceitos complicados.
Assim, Gravis contou ao pai de Skye tudo o que eles haviam passado juntos.