— Tch, lá vai ele de novo — disse um dos observadores, com desprezo, para outro.
— Sim, às vezes me pergunto se ele realmente faz parte da nossa guilda — respondeu o outro.
O problema pelo qual aqueles discípulos não gostavam daquele específico era justamente sua fama. Não era a primeira vez que esse discípulo fazia algo assim. Ele saía de um ponto cego correndo e, de propósito, colidia com as pessoas. Depois, ficava com raiva e exigia compensação. Ele já havia ganhado muito dinheiro com isso, pois ninguém queria ofender alguém da Guilda do Fogo. Os outros discípulos o desprezavam por causa desse hábito sujo e sem vergonha.
— Eu pareço cego pra você? — perguntou Gravis de forma calma.
— Si… — o discípulo começou a responder imediatamente, mas parou. Era sempre assim. Ele chamava a pessoa de ‘cego do caralho’, e a pessoa geralmente respondia dizendo que não era cega. Aí, ele diria que a pessoa parecia cega devido aos ‘olhos de cachorro’ e, então, revelava seu status, fazendo o outro lado recuar. Assim, ele conseguia sua compensação.
No entanto, quando olhou para Gravis, percebeu que algo estava errado. O problema era que Gravis realmente parecia cego. A cor dos olhos dele era prateada ou cinza, dependendo de quem olhasse. Além disso, parecia que seus olhos tinham recebido vários cortes. Do ponto de vista do discípulo, Gravis realmente parecia cego.
Isso não era como as coisas costumavam acontecer. Será que ele realmente bloqueou o caminho de uma pessoa cega? Toda a motivação do discípulo desapareceu, e ele se sentiu genuinamente culpado. Não tinha problemas em fazer isso com outras pessoas, mas fazer isso com uma pessoa cega realmente o deixava desconfortável.
— Ei, desculpa por te chamar de cego, tá? — disse ele, se desculpando. — Mas você realmente precisa ficar mais atento… ehm… deveria tomar cuidado… droga… precisa ser mais cuidadoso na rua — disse o discípulo, tropeçando nas próprias palavras.
— Eu pareço cego ou não? — perguntou Gravis novamente, desta vez com um tom mais pesado.
O discípulo não sabia como agir. Gravis falava como uma pessoa que não era cega agiria nesse tipo de situação. O discípulo ficou sem saber o que dizer por um momento. Ele realmente parecia cego. Por que estava perguntando isso?
— Ei, desculpa por bloquear seu caminho, tá? — disse ele.
Era tudo o que Gravis precisava ouvir. Somente pessoas com uma Aura de Vontade podiam sentir o Espírito dos outros quando estavam no Reino de Reunião de Energia. Esse discípulo, obviamente, não tinha uma Aura de Vontade. Portanto, ele não sabia que acabara de bloquear o caminho de um especialista no Reino da Formação do Espírito. Sua atitude evasiva só podia significar uma coisa: ele achava que Gravis era cego.
Gravis olhou para o céu e suspirou. — Então eu realmente pareço cego — lamentou ele. Isso provava que suas preocupações não eram infundadas. Ele realmente não estava ansioso por futuros encontros como esse. Depois de alguns segundos, olhou novamente para o discípulo. Sua intenção era socá-lo no estômago e acabar com aquilo de uma vez, mas teve outra ideia.
Ao invés de socar o discípulo, Gravis esfregou o queixo em pensamento. “Isso deve funcionar, certo?” pensou ele. Após um segundo, Gravis olhou nos olhos do discípulo novamente. — Ei, o que a pessoa inconsciente disse para a pessoa cega? — perguntou.
WHOOM!
O chão sob o discípulo foi empurrado para baixo por uma cúpula invisível, e ele caiu, inconsciente.
— Exatamente! — disse Gravis.
Gravis havia pensado em uma maneira de usar sua Aura de Vontade com seu recém-descoberto Espírito. Com o Espírito, ele podia liberar sua Aura de Vontade onde quisesse. Infelizmente, ele ainda não conseguia comprimi-la. Se liberasse sua Aura de Vontade assim, destruiria o quilômetro ao redor da guilda.
Então, por que não ativar a Aura de Vontade no ar? Dessa forma, apenas a parte inferior da esfera de Aura de Vontade atingiria alguém. Ele tentou isso agora e funcionou. A parte inferior atingiu o discípulo, fazendo-o desmaiar, enquanto nenhum dos outros sentiu nada. Gravis sorriu satisfeito.
Os outros discípulos olharam em choque para o que havia acontecido. Como o chão sob o discípulo foi destruído? Por que ele desmaiou de repente? Gravis nem se moveu! Todos estavam tão chocados que não reagiram à piada horrível de Gravis.
Gravis olhou ao redor, esperando que as pessoas entendessem sua piada, mas ficou decepcionado quando ninguém reagiu. — Ah, dane-se — murmurou ele e saiu rapidamente da área. Não queria ficar por ali.
Os outros discípulos olharam para Gravis saindo em uma velocidade surreal e respiraram fundo. Esse especialista era misterioso e poderoso. Eles não deviam ofendê-lo!
— Entendi! — gritou um discípulo solitário, rindo, o que provocou olhares estranhos dos outros.
Gravis chegou rapidamente à forja. Era uma torre bastante alta, em forma de martelo. Gravis admirou o prédio por um momento e depois entrou. Quando entrou, viu apenas um salão com vários equipamentos de forja espalhados. Não havia bancos ou cadeiras para sentar. “Nem cadeiras?” pensou.
Mas não havia nada que pudesse fazer. Não faria uma cena por ter que ficar de pé por alguns minutos. Gravis caminhou até uma parede e se encostou, fechando os olhos. Poderia aproveitar o tempo para pensar mais sobre aplicações de combate para seu novo controle sobre o raio.
Assim, cinco minutos se passaram até que a porta da forja se abriu. O Vice-Mestre da Guilda, com quem Gravis havia falado antes, saiu, sorrindo para ele. — Olá, Gravis. Por favor, me acompanhe até uma sala ao lado — disse ele, fazendo um gesto para que o seguisse. O Vice-Mestre da Guilda tinha longos cabelos negros e olhos vermelhos. Seus olhos pareciam amigáveis, mas escondiam uma explosividade profunda. Se ele ficasse irritado, provavelmente perderia toda a racionalidade.
Gravis saiu da parede e seguiu o Vice-Mestre da Guilda. Subiram algumas escadas e entraram em uma sala ao lado. Ali, Gravis viu quatro cadeiras e uma mesa. Provavelmente era um lugar para negociações. Ambos se sentaram em uma cadeira cada. — Certo, então me fale sobre seu pedido incomum — disse o Vice-Mestre da Guilda, pegando papel e utensílios de escrita.
— Bem, por onde começar… — Gravis começou a dizer. — Desde que alcancei o Reino da Formação do Espírito, percebi que posso usar o magnetismo do meu raio para me mover. Infelizmente, meu raio é muito forte, o que cria uma aceleração instantânea que sempre me joga para fora do meu sabre quando tento montá-lo.
O Vice-Mestre da Guilda não sabia qual era o objetivo de Gravis ao contar aquilo, mas isso só mostrava que realmente era um pedido incomum. Ele continuou ouvindo com interesse.
— Basicamente, quero algo magnético no qual eu possa montar sem cair — disse Gravis.
— Ah, isso é interessante — disse o Vice-Mestre da Guilda. — Você já tem algo em mente?
Gravis assentiu. — Sim. Eu preciso de algo como uma pequena prancha magnética com rodas. Para estabilidade, ela deve ter quatro rodas, uma em cada canto. Não quero nada como um guidão, pois preciso manter minhas mãos livres para qualquer imprevisto. Também deveria ter algo como uma parede ou um corrimão elevado na parte de trás. Assim, posso me segurar na prancha quando ela acelerar.
O Vice-Mestre da Guilda coçou o queixo com a caneta, pensativo. — Acho que entendi o que você quer — disse ele. — A Seita do Relâmpago usa um método de transporte semelhante, mas um pouco diferente. A maioria deles usa uma lança, então colocamos uma pequena roda na parte de trás da lança. Dessa forma, eles andam sobre a lança inclinada a 45 graus. Para estabilidade, seguram no cabo da lança. Mas, eu gosto mais da sua ideia.
O Vice-Mestre da Guilda começou a desenhar no papel até terminar o esboço. Ele mostrou a Gravis, e os olhos de Gravis se arregalaram. Era exatamente o que ele queria! Era uma pequena prancha de metal, talvez de meio metro de comprimento. Tinha quatro rodas nos cantos, tornando-a bastante estável.
Gravis ficou ainda mais surpreso ao ver algumas molas na parte inferior. Ele rapidamente percebeu o motivo. Essas molas permitiriam que ele pulasse e aterrissasse com a prancha sem destruir as rodas.
A parte de trás da prancha tinha uma pequena parede de cerca de 20 centímetros de altura. Com isso, ele poderia apoiar todo o peso do corpo quando a prancha acelerasse. Quando ela se movesse para frente, Gravis poderia fazer um movimento de pulo para que a prancha saltasse com ele, graças às molas. Assim, ele poderia ignorar qualquer elevação menor no caminho.
Gravis assentiu com um sorriso. — Está perfeito! — disse ele.
O Vice-Mestre da Guilda também sorriu. — Certo, e quanto à durabilidade? — perguntou ele.
— Não quero que ela seja destruída por uma explosão aleatória de um especialista no Reino da Formação do Espírito. Ela precisa permanecer intacta. Além disso, vou precisar de cinco delas, caso uma seja danificada. Acho que você pode imaginar quanta velocidade e força elas terão que suportar, já que sou um cultivador de raios no Reino da Formação do Espírito — explicou Gravis.
O Vice-Mestre da Guilda assentiu. — Sem problemas. Vamos precisar fazer essas pranchas tão resistentes quanto Armas Espirituais, embora não precisemos incluir Matrizes de Formação. Como esse é um pedido especial, teremos que forjá-las sem moldes já existentes. Você tem dinheiro suficiente para isso?
Gravis assentiu. — Pago com ouro. Está tudo bem?
Os olhos do Vice-Mestre da Guilda se estreitaram um pouco com uma expressão amarga. — Acho que você não entende o quanto isso vai custar. O preço seria equivalente a duas Armas Espirituais completas. Você precisaria de mais de cem mil moedas de ouro para pagar.
Gravis pensou por um momento. — Você pode me dizer o equivalente em ouro puro derretido? Por questões de espaço no meu Espaço Espiritual, derreti todas as minhas moedas de ouro em um cubo.
O Vice-Mestre da Guilda ergueu uma sobrancelha, mas rapidamente começou a calcular. Depois de alguns segundos, respondeu. — Isso daria um cubo com as dimensões de 30x30x40 centímetros. Você tem tanto ouro assim?
Gravis rapidamente cortou um cubo de ouro com essas especificações e o convocou.
CRACK!
A mesa quebrou quando o ouro a atingiu. Gravis havia esquecido o quão pesado era tanto ouro. — Isso deve ser suficiente, certo? — perguntou ele.
O Vice-Mestre da Guilda ficou chocado por um momento, mas logo abriu um sorriso.
— Isso é mais que suficiente. Vou começar agora mesmo!