Os dias passaram.
Com a aceitação de seu pai e de seu mestre, Joyce destruiu seu Espírito. Depois disso, começou a recarregá-lo com Energia até atingir 99% de conclusão. Com a ajuda de muitas Pedras de Energia, ela alcançou o décimo nível de Coleta de Energia e imediatamente condensou seu Espírito novamente. Todo esse processo levou apenas algumas horas.
Assim, seu caminho foi definido. No futuro, ela passaria pelo Estágio do Eu. Joyce também teria bastante tempo para se acostumar com lutas de vida ou morte, já que era praticamente impossível acelerar a progressão pelo Reino da Formação do Espírito. Ela precisaria de 40 anos de acumulação para alcançar o Estágio do Eu. Até lá, ela já deveria ser capaz de condensar uma Vontade de Unidade de nível dois.
Se tudo corresse conforme o plano, Joyce teria tempo para treinar suas capacidades de batalha e passar tempo com sua família durante esses 40 anos. Depois disso, ela deixaria sua família para sempre. Eles nunca se veriam novamente.
Essa era a crueldade do mundo do cultivo. Todos que não conseguissem acompanhar seriam deixados para trás. Devido à diferença de dilatação temporal entre o mundo médio e o mundo inferior, todos que ela conhecia estariam mortos em, no máximo, 30 anos após sua chegada ao mundo médio. Trinta anos no mundo médio corresponderiam a 300 anos no mundo inferior, o limite absoluto de longevidade para especialistas no Reino da Formação do Espírito.
Esse pensamento era perturbador, mas Joyce sabia que não havia como escapar disso. Ela passaria muito tempo em seu Clã nos próximos 40 anos, pois seria a última vez que teria uma família. Decidiu que não teria uma nova família até alcançar o mundo mais alto, o que levaria um tempo incrivelmente longo — isso se ela conseguisse sobreviver até lá.
Joyce também enviou vários convites para seus amigos, afinal, eles precisavam de cinco pessoas para formar um grupo. Entrar com menos de cinco era impossível, provavelmente devido a uma restrição do Céu para minimizar o desperdício de Energia nas provações.
Nos dias que se seguiram, muitos dos amigos de Joyce chegaram. Ela sempre os recebia e explicava o motivo pelo qual foram convidados. Muitos não ficaram felizes ao saber o motivo, já que a taxa de mortalidade nas Provações do Céu era assustadora. No entanto, alguns ficaram gratos pela oportunidade.
Quando não estava recebendo convidados, Joyce era treinada por Gravis em técnicas de combate. Muitos cultivadores haviam lutado mais batalhas do que Gravis, mas ninguém havia passado por mais lutas de vida ou morte. Afinal, lutas de treino e disputas inofensivas não tinham o mesmo valor.
Gravis ensinou a Joyce como aproveitar o terreno e que tudo poderia ser considerado uma arma. Ele até mencionou que o fato de ela ser mulher poderia ser uma vantagem, já que ainda havia muitos cultivadores que mantinham crenças tradicionais dos mortais.
No entanto, Joyce não era desse tipo. Ela não queria usar o fato de ser mulher como vantagem, mesmo que pudesse ser útil. Queria lutar de maneira justa, sem que o gênero desempenhasse um papel. Gravis não se importou, afinal, era uma escolha dela.
Ela também se sentiu desconfortável quando Gravis contou como, quando mais jovem, ele havia matado bestas demoníacas mais fortes. Mesmo com sua poderosa vontade, Joyce não conseguia imaginar esfaquear uma besta no traseiro ou cortar suas genitais. Para ela, isso parecia desrespeitoso, e nem mesmo seus inimigos mereciam tal destino.
Gravis nunca a forçou a lutar do jeito dele. Todos têm seu próprio estilo de luta e filosofia. Se ela não quisesse usar certos métodos, cabia a ela. Forçá-la a seguir o exemplo dele só mancharia seu próprio estilo de luta.
Três dias antes da abertura da Provação do Céu, Joyce, Gravis e seus amigos se reuniram em um salão. Reginald e Marvin não estavam presentes. Se fosse antes de todo o drama familiar, teriam querido comparecer, mas perceberam que precisavam dar mais espaço a Joyce. Ela era adulta agora e precisaria tomar suas próprias decisões. Se essas decisões fossem erradas, ela teria que arcar com as consequências.
Todos no salão estavam no Estágio inicial de Formação do Espírito, exceto Gravis. Afinal, os quatro escolhidos lutariam como uma equipe. Se houvesse alguém em um Estágio superior, a dificuldade da provação mudaria, o que não seria um verdadeiro refinamento de vida e morte, mas suicídio.
Joyce também havia informado seus amigos sobre como o mundo médio funcionaria e que seria melhor destruir seus Espíritos e reformá-los após passarem pelo décimo Estágio de Reunião de Energia. Contudo, nem todos estavam tão determinados quanto Joyce. Quase todos se recusaram a desperdiçar anos de esforço apenas para começar de novo.
No entanto, havia uma pessoa que concordou. Joyce tinha amigos de várias partes do mundo e de quase todas as Seitas. Surpreendentemente, quem concordou foi um cultivador da Escuridão.
Esse cara estava bastante nervoso e com medo na presença de Gravis. Ele reconheceu Gravis e sabia o que havia acontecido anteriormente. Após ver as ações de seus anciãos e do Mestre da Seita, decidiu deixar a Seita da Escuridão.
Após Joyce explicar tudo, ele reuniu toda a sua coragem e perguntou a Gravis se o que ela dizia era verdade. Gravis confirmou, e o cultivador decidiu seguir adiante. Assim, o grupo agora tinha duas pessoas no Estágio inicial de Formação do Espírito, ambas passando pelo décimo Estágio de Reunião de Energia.
Os outros sete membros estavam dispostos a acompanhá-los, já que aqueles que não estavam dispostos já haviam ido embora. Agora, cabia a Joyce decidir quem preencheria as duas últimas vagas.
Depois de muito debate e análise das forças e fraquezas de cada um, Joyce tomou uma decisão. O quarto membro seria um discípulo da Seita do Vento. Sua Aura de Vontade estava acima da média, e sua velocidade seria bastante útil. Foi isso que fez Joyce escolhê-lo.
Contudo, preencher a última vaga foi bem difícil. Nenhum dos candidatos restantes tinha talentos ou habilidades notáveis. No geral, todos poderiam ser considerados extremamente medianos. Após quase uma hora de debates, Joyce ainda não conseguia decidir.
— Quem você escolheria? — perguntou ela a Gravis, por transmissão de voz.
— Nenhum. Eles são fracos demais e não conseguiriam contribuir totalmente — Gravis respondeu diretamente.
Joyce suspirou, frustrada. — Mas não temos outros candidatos.
— Sim, temos — Gravis respondeu diretamente.
Joyce se animou e olhou para Gravis. — O quê?
— Por que eles precisam ser seus amigos? Vá até a Seita do Relâmpago. Eles não vão participar da guerra de recursos este ano de qualquer maneira. Tenho certeza de que encontrará alguém — Gravis transmitiu de volta.
Os olhos de Joyce se arregalaram ao perceber que Gravis estava certo. Ela se sentiu um pouco mal por seus seis amigos restantes, mas sua vida era mais importante. Assim, disse que não levaria mais ninguém do grupo. O grupo não ficou nada feliz com isso. A maioria deles rompeu a amizade com Joyce e foi embora com raiva. Apenas duas pessoas mantiveram uma boa relação com ela.
Joyce se sentiu terrível ao ver seus amigos partirem, mas seu cultivo era mais importante. Mesmo que aquelas pessoas conseguissem ascender, se tornariam apenas ‘fertilizantes’ para outros cultivadores. Afinal, eles não passaram pelo décimo Estágio de Reunião de Energia. Talvez fosse melhor assim.
No mesmo dia, Joyce foi até a Seita do Relâmpago para conseguir o último membro. Um dia depois, ela voltou com um cultivador bastante promissor. Quando anunciou que precisavam de um último membro no Estágio inicial, muitos discípulos começaram a competir pela posição.
A razão pela qual o grupo de Joyce se tornou tão popular não era por causa de Gravis ou pelo fato de ela cultivar o Raio da Vida. O motivo era a composição do grupo. A maioria dos grupos era formada por cultivadores que possuíam o mesmo elemento, já que as Seitas tendiam a se organizar de acordo com o elemento dominante de seus membros. Portanto, a maioria dos grupos só tinha um elemento.
Um grupo de quatro pessoas com diferentes elementos era ainda mais forte do que um grupo de cinco pessoas com o mesmo elemento. Depois de muita discussão e disputa entre os candidatos, um cultivador se destacou. Ele possuía uma Aura de Vontade quase completamente condensada, o que era extremamente impressionante para alguém no Estágio inicial. Esse cultivador estava muito perto de ser considerado um Talento Ascendente.
Joyce ficou incrivelmente feliz com o último membro. Agora, eles tinham uma equipe bastante equilibrada. O cultivador de vento poderia fazer reconhecimento, esquivar-se e distrair os inimigos. O cultivador da Escuridão poderia se manter oculto e desferir um golpe fatal em qualquer oponente. O cultivador de raios era uma mistura de ambos, capaz de causar danos imensos e rápido o suficiente para desviar de ataques.
E Joyce seria o suporte. Contanto que os lutadores não morressem imediatamente, ela poderia curá-los em questão de segundos. Dessa forma, os combatentes poderiam lutar de forma mais agressiva, trocando ferimentos por ferimentos.
Depois que todos se reuniram, deram seus adeuses e partiram para a guerra de recursos. Se tivessem sorte, não voltariam por muitos anos. Se não tivessem, nunca voltariam.