Gravis pulou para fora da arena e olhou para o grupo de forma equilibrada. O grupo estava realmente surpreso com a rapidez com que a luta havia terminado.
— Gravis! Você está bem? Está machucado? — Joyce perguntou preocupada, enquanto corria até ele e o olhava de perto.
Gravis só pôde suspirar com aquilo. — Não, obviamente não. Posso me curar convertendo a Energia inerente do meu corpo em Raio da Vida — explicou de forma simples. Então, ele se virou para o restante. — Já que devo ser seu guia, vou começar a explicar os detalhes da luta agora.
Joyce ficou um pouco irritada com o fato de Gravis simplesmente ignorar sua preocupação e ir direto ao ensino, mas não havia nada que ela pudesse fazer.
— Gravis, por que você não descarregou sua arma carregada direto na cabeça do boneco assim que o atingiu? — Manuel perguntou. — Isso parece ser um jeito bem melhor de vencer a luta.
O resto do grupo também tinha essa dúvida. Por que Gravis não descarregou o sabre?
Gravis riu um pouco. — Você tem razão. Isso teria sido uma forma mais limpa e melhor de vencer a luta. Eu teria feito isso se pudesse.
Whoop!
Gravis convocou seu sabre. — Este sabre foi forjado especificamente para mim, e ele tem diferentes Formações de Matrizes. As Matrizes de Formação me permitem armazenar meu ataque mais poderoso, o Crescente de Relâmpago. Infelizmente, o bom vem com o ruim, e a adição das novas Matrizes de Formação torna impossível para mim armazenar um ataque normal carregado.
Um brilho de compreensão apareceu nos olhos do grupo. — Mas você poderia tê-lo descarregado mesmo assim. Afinal, um ataque assim provavelmente não quebraria as regras — Manuel disse novamente. — Simplesmente descarregar sua arma deveria ser aceitável, mesmo se tivesse um Crescente de Relâmpago dentro.
Gravis deu um leve sorriso. — Sim, você provavelmente está certo, mas esse não é o motivo pelo qual eu não descarreguei — explicou Gravis. — Tenho certeza de que a restrição ao meu Crescente de Relâmpago não estava lá para dificultar as coisas para mim, mas para proteger vocês.
Joyce franziu a testa. — Mas a arena é protegida por uma poderosa Matriz de Formação. Nada pode sair da arena.
Gravis balançou a cabeça. — A Matriz de Formação provavelmente pode bloquear um ataque no Estágio Eu, mas meu Crescente de Relâmpago é, na verdade, mais poderoso do que apenas um ataque nesse estágio. A Matriz de Formação se quebraria, e todos vocês morreriam.
O grupo ficou surpreso, mas ainda cético. — Isso parece irreal — o discípulo da Escuridão disse. — Sabemos que você é poderoso, mas deveria ser impossível lançar um ataque acima do Estágio Eu.
Bang!
Gravis pulou de volta para a arena e então usou 1% de seu Espírito para invocar uma esfera de vontade. Ao invés de explicar, seria mais fácil mostrar para eles. Ele infundiu seu raio na esfera de vontade, e ela explodiu.
BOOOM!
Antes que qualquer um pudesse processar o que estava acontecendo, uma enorme explosão de raios ocorreu. A vontade de Gravis havia se tornado muitas vezes mais poderosa, assim como seu Espírito. Esse 1% de seu Espírito consumiu cerca de 5% de seu raio antes de explodir.
A Matriz de Formação ativou imediatamente, e quase toda a arena foi preenchida com raios. Junto com seu raio mais comprimido e sua vontade mais forte, esse 1% de seu Espírito criou uma força que seria equivalente a cerca de 30% de seu Espírito no Estágio da Semente.
No entanto, a Matriz de Formação conseguiu bloquear facilmente essa pequena parte. Após a explosão, Gravis voltou para o grupo. — Isso foi 1% do meu Espírito. Meu Crescente de Relâmpago pré-carregado está cheio com 100%. Vocês podem imaginar o resto — disse ele.
O grupo respirou fundo. Eles nem teriam conseguido resistir àquela explosão. Isso foi apenas 1%? Isso é insano!
— Enfim, voltando a explicar a luta — Gravis disse, retomando a atenção de todos. — Assim que vi a arma e a posição de luta do boneco, soube imediatamente que ele tinha o elemento fogo. O boneco lutou de forma bem inteligente ao manter uma das mãos livres. Com aquela mão livre, ele poderia lançar uma bola de fogo se algo desse errado.
O grupo agora o ouvia atentamente.
— Sabendo o plano do inimigo, você pode planejar em torno disso. O boneco não esperava que eu tomasse a iniciativa de ativar seu plano reserva. Essa surpresa também interrompeu seu plano principal. Lembre-se de que os inimigos tentam antecipar tudo o que você faz, mas muitas vezes não prestam atenção no que estão fazendo. Afinal, por que alguém seria atacado pelo próprio ataque? — disse Gravis.
— Eu entendo isso, Gravis, mas por que você se forçou a passar pela explosão, mesmo sabendo que ela viria? Isso pareceu um desperdício, já que você ficou gravemente ferido pela explosão — Joyce perguntou.
Gravis a olhou de maneira firme. — Eu poderia ter recuado após explodir a bola de fogo, mas e depois? Sim, eu não teria me ferido, e a mão do meu inimigo estaria danificada, mas isso não encerraria a luta, encerraria?
Joyce entendeu o ponto de vista de Gravis, mas ainda não estava totalmente convencida. Não era o objetivo de uma luta não morrer ou não se machucar? Por que fazer isso de propósito?
Gravis percebeu que ela ainda estava um pouco confusa, então suspirou. — Pense assim. A luta começa, e eu tenho 50% de chance de morrer e 50% de vencer. Ao ferir a mão do inimigo, as chances de vencer subiriam para 60%. Mas isso ainda não deixa 40% de chance de morrer? Por que correr esse risco?
Gravis olhou para a arena. — O boneco lutou com segurança, sem assumir riscos, e foi por isso que ele morreu.
O discípulo da Escuridão agora ficou confuso. — Mas lutar de forma segura é, como o nome diz, o mais seguro.
Gravis deu um leve sorriso. — Exceto que não é. Lutando de forma segura, você não coloca toda a sua força à frente, mas se o seu oponente fizer isso, você será sobrepujado. Pense no boneco. Ele era superior a mim em todos os sentidos. Ele era mais rápido, tinha mais resistência, um corpo mais poderoso, uma Energia mais forte, um Espírito mais poderoso, mas não conseguiu me acertar nem uma vez. Por quê?
O grupo permaneceu em silêncio. Vendo que ninguém estava respondendo, Manuel deu um passo à frente. — Porque você nunca deu a ele nenhuma chance de usar suas forças — disse ele com uma leve risada. — Assim como na época em que lutamos.
Gravis sorriu e assentiu. — Exatamente! A força do oponente é irrelevante se ele não puder usá-la. Se eu tivesse recuado após destruir sua mão, seu estilo de luta poderia mudar. Talvez ele descarregasse um ataque poderoso à distância atrás do outro. Nesse ponto, seria quase impossível para mim me aproximar dele, e eu ficaria sem Energia primeiro.
Gravis olhou para o discípulo da Escuridão. — Minha hesitação em ir para o golpe final teria me colocado em uma posição desvantajosa. A maneira mais segura de vencer foi apostar tudo. O momento em que o boneco não descarregou sua arma carregada foi o momento em que ele perdeu.
Agora era a vez de Claude falar. — Isso tudo faz sentido, mas por que você se feriu tanto? Sua perna foi completamente destruída, e seu corpo estava cheio de queimaduras. Você não poderia ter vencido sem se machucar?
Gravis coçou o queixo. — Talvez, mas é exatamente esse o problema. O fato de eu ter dito ‘talvez’ e não ‘sim’ mostra a questão. Não é mais lógico seguir o caminho certo em vez do incerto? A melhor forma de vencer foi trocar uma lesão pela morte do meu oponente. Uma lesão pode ser recuperada, mas não dá para ressuscitar alguém.
O grupo, com exceção de Manuel, ficou um pouco desconfortável. Esse método de luta não era um pouco masoquista demais?
Gravis balançou a cabeça, sem poder fazer muito. — Qual é o sentido de ter uma vontade poderosa se você não a aproveita? A dor não significa nada para nós, então por que hesitar? Essa pequena dor física não é nada para nós.
Alguns ainda estavam um pouco inseguros, mas Manuel riu um pouco. Ele tinha a maior experiência de combate entre todos ali.
Manuel se virou para o grupo. — Não olhem para o seu corpo como se ele fosse vocês — disse ele, confundindo todos. — Vocês são o cérebro, a mente e o Espírito. O corpo é apenas outra arma. E daí se ele for danificado? Vocês podem simplesmente repará-lo.
— Sabem o que aconteceu quando eu lutei contra o Gravis naquela época? — Manuel perguntou. — A perna de Gravis tinha sido ferida por nós. Foi cortada no joelho. Sabem o que esse maluco fez com isso? Ele usou o sabre para cortar ainda mais a própria perna.
O grupo ficou chocado ao ouvir isso. — Por quê? — Joyce perguntou, confusa e espantada. Por que alguém se machucaria de propósito?
Manuel deu uma risada. — Ele cortou o coto da perna na diagonal. Com isso, o fêmur ficou exposto no coto e, com o corte diagonal, foi afiado como uma lâmina. O próximo ataque dele foi uma finta com sua arma e um golpe real com o fêmur afiado.
Os olhos do grupo se arregalaram. Quem pensaria em algo assim? No entanto, ao refletirem sobre isso, perceberam que fazia muito sentido. Se ignorassem a sensação de estranheza que isso provocava, conseguiriam ver a vantagem que um fêmur afiado traria. Era uma arma de alcance ultra-curto incrível.
O grupo aprendeu muitas coisas com o ensinamento de Gravis. Muitas das coisas soavam muito lógicas, mas eles mesmos não teriam percebido essas possibilidades. Gravis lutava com uma lógica tão fria e neutra que isso já se transformava em criatividade. Nenhum ser humano normal lutaria assim, mesmo que fizesse todo o sentido.
Gravis deu um sorriso enquanto esfregava o queixo, pensativo. — Sabem o que é realmente interessante? — perguntou Gravis.
O grupo voltou a olhar para ele.
— A noção preconcebida de que certos elementos são feitos para combate e outros para suporte pode ser totalmente invertida — Gravis disse, enquanto olhava para Joyce. — De todos vocês aqui, devido ao elemento dela, Joyce é a que tem o potencial necessário para se tornar a lutadora mais forte.