— Gramis? — Gravis perguntou, levantando uma sobrancelha. — Isso é uma piada?
O Opositor olhou para Gravis com seu olhar firme e implacável.
— Sim — disse friamente.
No começo, Gravis ficou confuso, mas logo começou a rir.
— Okay, pode não ser engraçado, mas sua entrega foi impecável — disse Gravis. De alguma forma, a maneira seca e fria do pai tornou a piada ruim engraçada.
O Opositor se levantou e caminhou até o filho. — Bem-vindo de volta — disse, desta vez com um sorriso.
Gravis também sorriu. — Obrigado, pai.
— Venha, sente-se comigo — disse o Opositor, voltando a se sentar. Gravis o seguiu e também se acomodou.
Whoop!
Duas xícaras apareceram do nada, e Gravis imediatamente sentiu o aroma familiar. Era algo que ele havia sentido muita falta. Ele pegou a xícara oferecida e aproximou-a do nariz. — Café — suspirou ele. — Mas parece que tem um cheiro diferente.
— Sim — confirmou o Opositor. — É uma nova mistura. Afinal, você não é mais um mortal. Agora, é tão forte quanto a grama — disse ele com um leve sorriso.
Gravis revirou os olhos. — Haha — respondeu sarcasticamente. — Mas acho que você tem razão. Eu não esperava que até mesmo a grama pudesse ser tão poderosa — comentou, enquanto tomava um gole da bebida.
O sabor nostálgico invadiu suas papilas gustativas, mas isso não era tudo. Gravis sentiu parte do café entrar em seu Espaço Espiritual. Para sua surpresa, o café se fundiu com seu Eu interior naquele espaço, fazendo-o se sentir desperto e revigorado.
O Opositor sorriu ao ver a expressão surpresa de Gravis.
— Você não é um cultivador comum, então tive que inventar este novo tipo de café. De outra forma, você não sentiria nada.
Gravis ficou surpreso ao perceber que uma bebida poderia afetar seu Espírito peculiar. Afinal, seu Eu no Espaço Espiritual era composto de raio. Como algo poderia interagir com isso? Então ele se lembrou de quem seu pai realmente era. Algo assim provavelmente não seria difícil para ele.
Era refrescante beber algo que tivesse efeito sobre seu Espírito. O Vinho Espiritual da Seita do Relâmpago não havia funcionado com ele, e isso não o incomodava tanto, mas ele temia que nunca mais pudesse sentir o impacto de um bom café ou chá. Felizmente, seu pai encontrou uma solução.
— Voltando ao que você comentou antes — disse o Opositor. — Apenas a grama ao redor da cidade é tão poderosa. Isso se deve à densidade de energia e à luta constante pela sobrevivência. Uma batalha entre algumas bestas já é mortal para a grama.
Gravis se lembrou de algo. — A propósito, o que eram aquelas ondas de choque? Presumo que duas bestas estavam lutando, certo? — perguntou ele, tomando outro gole.
O Opositor assentiu. — Sim. Duas bestas da mesma facção se envolveram em uma disputa e lutaram cerca de 1700 quilômetros de onde você estava. Essas disputas podem durar até um ano se forem bem equilibradas em poder — explicou ele.
Os olhos de Gravis se arregalaram de surpresa. — 1700 quilômetros? E mesmo assim as ondas eram tão poderosas? — ele perguntou, chocado.
O Opositor assentiu novamente. — Sim. Você deve se lembrar de onde está — disse ele.
— O Mundo Mais Alto? — Gravis perguntou.
O Opositor balançou a cabeça. — Sim, mas estou me referindo a algo mais específico. Você está nas Planícies Centrais, onde a energia é mais densa do que em qualquer outro lugar do mundo. Apenas as bestas e cultivadores mais poderosos vivem aqui. Você não encontrará mortais por milhões de quilômetros, a menos que estejam sob a proteção de uma família poderosa.
Gravis assentiu. — Isso faz sentido — disse ele, ficando em silêncio por alguns segundos. — Pai, você poderia me contar mais sobre nosso mundo? — pediu ele.
— Claro — respondeu o Opositor. — Sua vontade é forte o suficiente para que ver um horizonte mais amplo não o abale mais. Se eu tivesse lhe contado essas coisas antes, você poderia ter se desanimado ao perceber a imensa diferença de poder e achar que nunca alcançaria esse nível.
Gravis assentiu. — Entendo — ele disse.
O Opositor terminou sua xícara e a encheu novamente. — Nosso mundo foi o primeiro a ser criado. Naquela época, antes de eu me tornar tão poderoso, não havia outros mundos.
Os olhos de Gravis se arregalaram. — Não havia outros mundos? — ele perguntou, surpreso. Sempre havia presumido que todos os mundos tinham sido criados ao mesmo tempo.
Seu pai assentiu. — Sim. Só existia este mundo. O velho bastardo decidiu criar os outros mundos apenas para acelerar a coleta de Energia Cósmica quando percebeu que eu me tornava uma ameaça. Afinal, tanto ele quanto eu continuamos a ficar mais fortes, e ele precisava de uma vantagem sobre mim — explicou o Opositor.
Os horizontes de Gravis se expandiram. Energia Cósmica? O Opositor e o Céu ainda estavam ficando mais poderosos? Ele imaginava que ambos já tivessem alcançado o ápice. — O que é essa Energia Cósmica? — perguntou Gravis.
O Opositor ficou em silêncio por alguns segundos. — Não posso lhe contar todos os detalhes, pois isso pode motivar o velho bastardo a agir contra você. Mas posso explicar de forma geral.
— Cada mundo é criado dentro do que eu chamo de Vazio Caótico. Não existe um termo oficial, já que sou o único ser que esteve lá — explicou ele.
O coração de Gravis começou a bater mais rápido. Seu pai estava prestes a lhe contar algo que apenas ele sabia. Provavelmente ninguém além de alguns membros da família conhecia essa informação.
— O Vazio Caótico é basicamente um conglomerado infinito de forças caóticas sem padrão algum. Para colocar as forças em perspectiva: qualquer outro ser que tentasse ir para lá morreria instantaneamente. Apenas o velho bastardo e eu podemos sobreviver naquele lugar.
Gravis mal podia imaginar o poder envolvido.
— A energia faz parte do Vazio Caótico, e é de lá que a energia do mundo vem. O mundo é capaz de filtrar essa energia caótica, mas não tem força suficiente para atrair mais do que uma pequena porção — explicou o Opositor.
— É aí que entram os cultivadores. Imagine o mundo como um filtro esférico dentro de um oceano. O filtro permite que a água entre na esfera, mas não que saia. Obviamente, a pressão e a densidade dentro e fora da esfera seriam as mesmas, certo? — perguntou o Opositor, enquanto tomava mais um gole de café.
Gravis assentiu. — Certo, e para colocar mais água na esfera, a água já presente precisa ser comprimida para abrir espaço. Afinal, você disse que nenhuma água pode sair dela — explicou.
O Opositor concordou. — Exatamente. A água, nessa analogia, é a Energia. Para comprimir essa Energia, é necessário gastar ainda mais Energia. O ganho é pequeno, pois muito já foi usado no processo de compressão. Além disso, quanto mais você comprime, mais difícil e custoso se torna.
O Opositor terminou sua xícara. — E é aí que entram os cultivadores — continuou. — Ao se fortalecerem, eles automaticamente comprimem mais Energia dentro de si e atraem mais Energia do ambiente ao redor. Isso cria áreas de baixa concentração energética no mundo, que chamamos de Vácuo Energético. Com a queda na pressão, mais forças caóticas são puxadas para dentro do mundo para preencher o vazio, trazendo mais Energia para os mundos.
— Esse é o motivo pelo qual os cultivadores existem — repetiu ele.
Gravis olhou pensativo para uma das janelas. A razão da existência do cultivo era uma das grandes questões filosóficas que toda humanidade já havia feito. Estava no mesmo patamar de perguntas como: por que a vida e a morte existem? E por que o mundo existe em primeiro lugar?
E, no entanto, uma questão tão profunda tinha uma resposta lógica e direta. — Então, os cultivadores existem apenas para tornar os mundos, e provavelmente o próprio Céu, mais poderosos? — perguntou Gravis.
O Opositor assentiu. — Exatamente. E, para seu conhecimento, a razão pela qual a morte existe também está relacionada a isso. Sabendo por que o cultivo existe, você já deve conseguir deduzir por que a morte é necessária — disse o Opositor.
Gravis suspirou. Até a razão misteriosa por trás da morte tinha uma explicação fria e pragmática. Ele já tinha uma boa ideia. — A possibilidade de perder para sempre aqueles que amamos é aterrorizante e nos motiva a nos tornar mais poderosos. Afinal, quanto mais fortes somos, maior é a chance de protegermos a nós mesmos e aos que amamos.
O Opositor concordou. — Sim. É pelo mesmo motivo que sentimos amor e amizade. Se não nos importássemos com nossos entes queridos, a morte não teria um impacto tão profundo. Tudo foi cuidadosamente projetado para nos motivar a buscar mais poder e, assim, aumentar a força do velho bastardo.
Gravis suspirou mais uma vez. Parecia que as grandes verdades filosóficas do mundo tinham sido respondidas, mas a resposta era fria, egoísta e puramente lógica. Tudo existia apenas para tornar o Céu mais poderoso.
Ele terminou sua xícara com outro suspiro.
Sentiu como se parte da maravilha e magia do mundo tivesse desaparecido, deixando para trás apenas uma máquina cinzenta e calculista.