— É bom tê-lo a bordo — disse Gravis ao polvo.
— Quero ver o mundo além deste e aprender mais sobre ele — o polvo respondeu lentamente. — Vivi em isolamento por tempo demais, achando que não havia mais nada a conquistar. Suas palavras me mostraram um novo mundo, e sinto o entusiasmo da minha juventude voltar.
— Pelo que você disse, você deve ser bem velho, né? — perguntou Gravis.
— Não conto minha idade, mas todos os meus descendentes já morreram. Não falo com ninguém há muito tempo — o polvo respondeu.
— Você tem um nome? — Gravis perguntou.
— O que é isso? — o polvo perguntou de volta.
— Um nome é uma palavra ou conceito que se refere apenas a você. Você é um polvo, mas há muitos outros polvos. Como alguém poderia se referir a você especificamente sem um nome próprio? — explicou Gravis.
O polvo ficou em silêncio por alguns segundos. — Pode me chamar de Orthar — disse finalmente.
Gravis assentiu. — Nome apropriado. A partir de agora, vou chamá-lo de Orthar. Meu nome é Gravis.
— Vou lembrar seu nome, Gravis — respondeu Orthar lentamente. — Que orientação você precisa?
— Quão bem você conhece as áreas ao redor e as Bestas Espirituais que as governam? — perguntou Gravis.
— Muito bem — Orthar respondeu. — Já viajei por muitos lugares e vi seus governantes.
— Eles sabem da sua existência? — perguntou Gravis.
— Não, você é o único ser que sabe que eu existo — Orthar respondeu.
— Mas como você viajou sem ser notado? As outras bestas deveriam ter percebido um polvo gigante nadando em seus territórios — Gravis questionou.
CRRRR! Clank! Clank! Clank!
A forma de Orthar mudou até ele parecer um conglomerado de caranguejos. Cada caranguejo tinha suas próprias pinças e as agitava ameaçadoramente para Gravis.
— Assim — Orthar disse.
Os olhos de Gravis se arregalaram de surpresa. Se não tivesse visto Orthar antes, ele teria acreditado que aquilo era apenas uma onda de caranguejos. Isso ia além do conceito simples de disfarce — Orthar basicamente havia se transformado em um enxame de caranguejos.
Ainda assim, se alguém observasse com atenção, veria que os caranguejos estavam conectados por finas linhas ou em pontos onde se tocavam. No entanto, sem saber o que procurar, seria impossível perceber isso.
— Impressionante. Acredito em você, Orthar — disse Gravis. — Estou procurando por Bestas Espirituais com corpos pequenos. Preciso comê-las para evoluir, mas não quero gastar muito tempo com isso.
Orthar retornou à sua forma normal. Antes, parecia um recife de coral em forma de polvo, mas agora exibia sua verdadeira aparência. Ele era completamente negro, com tentáculos enormes. Sua cabeça tinha cerca de 200 metros de comprimento, enquanto cada tentáculo media 300 metros. Seu tamanho era impressionante, e ele pairava imponente sobre Gravis.
— Há dez criaturas que se encaixam nos seus critérios nas proximidades. Vou levá-lo até elas — Orthar disse enquanto nadava com seu corpo original. Não havia mais motivo para se esconder, já que ele logo deixaria aquele lugar.
Gravis o seguiu, usando seu Espírito para acompanhar o ritmo de Orthar, que, afinal, já era uma Besta Espiritual de grau alto.
Depois de alguns minutos, chegaram ao destino. Gravis franziu a testa.
— Isso não é nada pequeno — disse ele.
Diante dele, havia uma ostra com quase 100 metros de diâmetro. Definitivamente, não era pequena.
— Você disse que precisava de bestas para evoluir. A ostra pode parecer grande, mas toda sua carne está concentrada em uma área pequena — Orthar explicou.
Gravis assentiu. — Faz sentido. Obrigado — respondeu.
BANG!
Água jorrou da boca da ostra enquanto ela tentava fugir, percebendo que aquele polvo estava muito além do seu nível.
CRRRRR!
Com seu Espírito, Gravis arrancou toda a carne da ostra e a dividiu em pedaços menores. A ostra morreu rapidamente.
— Uma já foi — disse Gravis. — Agora, preciso de mais uma.
Orthar ficou impressionado com o poder de Gravis. Embora já tivesse sentido sua força, vê-la em ação era uma experiência completamente diferente.
— Me siga — Orthar disse, nadando em outra direção.
Cerca de meia hora depois, encontraram outra Besta Espiritual — uma enguia de 30 metros com dentes impressionantes. Infelizmente, era uma Besta Espiritual de grau médio. Gravis apenas deu de ombros e a matou. Ele precisaria de criaturas desse tipo de qualquer forma mais tarde, então decidiu aproveitá-la agora.
Gravis explicou com mais detalhes os três primeiros níveis das bestas para que Orthar não cometesse o mesmo erro. A explicação levou horas, muito mais tempo do que o necessário.
O problema não era a inteligência de Orthar, mas sua curiosidade. Ele fazia perguntas constantemente e, ao obter respostas, formulava novas perguntas, cada vez mais filosóficas. Depois de algumas horas, Gravis teve que interromper a enxurrada de perguntas, que começava a se tornar excessiva.
Gravis suspirou. “Orthar é realmente curioso sobre tudo. Mas faz sentido. Ele é bem inteligente e quer aprender o máximo que puder.”
Gravis prometeu a Orthar que responderia mais perguntas depois e contaria toda sua história. No entanto, fazer isso naquele momento seria uma perda de tempo. Ele poderia explicar tudo enquanto comia.
Após a conversa, Orthar revelou que havia mais duas bestas que se encaixavam nos critérios de Gravis e o guiou até uma delas. A viagem levou quase uma hora desta vez.
Gravis não ficou decepcionado. Ele encontrou um verme magro de 200 metros, embora não parecesse nada apetitoso.
Gravis suspirou e matou o verme. Algo tão trivial como desgosto não o impediria de comer.
Com isso, ele se sentou no fundo do oceano. Finalmente, tinha tudo de que precisava para se tornar uma Besta Espiritual. Agora, só precisava comer.
— Quão forte é uma Besta-Unidade? — Orthar perguntou.
Comer não seria a única tarefa agora. Gravis tinha tempo, então começou a explicar tudo para Orthar.
Ele contou sobre seu mundo natal, sobre os humanos, sobre a terra firme, outras bestas, tecnologia, psicologia, forja e muitos outros temas. Orthar estava interessado em absolutamente tudo.
Gravis não escondeu seu passado. Não havia motivo para isso. Quanto mais Orthar entendesse como os mundos funcionavam, melhores seriam seus conselhos. Gravis sabia que, com conhecimento suficiente, uma besta poderia se tornar tão inteligente quanto um humano — Skye era um exemplo claro disso.
Depois de um dia inteiro de conversa, Gravis alcançou o nível de uma Besta de Energia de grau médio. Seu corpo cresceu até 15 metros de comprimento, embora ainda parecesse pequeno ao lado de Orthar. Agora, Orthar compreendia por que Gravis preferia manter um corpo menor — um corpo pequeno era mais ágil e flexível em combates individuais.
Outro dia se passou, e Gravis alcançou o nível de Besta de Energia de grau alto, crescendo para mais de 40 metros de comprimento. Isso facilitou a tarefa de comer o verme e a ostra.
Gravis continuava respondendo às perguntas incessantes de Orthar. Se não tivesse uma vontade tão forte, talvez já estivesse irritado. Orthar também não se importava com o fato de Gravis ser humano. Para ele, humanos eram apenas bestas mais inteligentes, com pontos fortes diferentes.
Depois de mais um dia comendo, Gravis sentiu a já familiar coceira.
Chegara a hora de se tornar uma Besta Espiritual!