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Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 9 – Capítulo 10

Chuva na Floresta - Parte 02

Eu sabia, desde o início, que havia algo de estranho nisso.

Mestre Fitz esteve agindo de maneira estranha desde que me chamou, e então os acontecimentos tomaram um rumo bem estranho mesmo. Aquelas nuvens de chuva tinham se formado com uma rapidez anormal. E as chuvas repentinas no inverno, nessa floresta, eram muito, muito raras. Havia uma boa chance de alguém ter criado a tempestade usando magia. Mas qual seria o sentido disso? Por que… fazer chover sobre nós? Queriam tornar o nosso objetivo ainda mais difícil? Quem faria isso? Será que a nobre Princesa Ariel estava envolvida? Com que finalidade? Bem, isso provavelmente era para impedir que Fitz pegasse a flor.

Mas se era esse o objetivo, por que só nos atormentar com um tempo ruim? Uma chuva de flechas seria muito mais efetiva.

Mestre Fitz foi pego no meio de algo? Havia uma expressão tensa no seu rosto, o que sugeria que a resposta era sim. Mas, parando para pensar, ele também parecia estranhamente calmo. Talvez já estivesse esperando que algo assim acontecesse.

Se fosse esse o caso, entretanto, eu não conseguia entender por que não tinha me avisado antes. Poderia ele estar planejando me assassinar? Isso também não fazia muito sentido. Se quisessem, a essa altura ele já poderia ter me matado algumas vezes.

Mas que merda estava acontecendo?

Meus pensamentos estavam ficando ocupados enquanto eu tentava acender uma fogueira que poderíamos usar para secar as nossas roupas molhadas. Eu, felizmente, tinha pego um pouco de lenha, para o caso de algo assim acontecer. Seria possível manter a fogueira acesa usando nada além de magia, é claro, mas as chamas seriam extintas caso eu precisasse voltar a minha atenção a algum monstro que estivesse passando. Isso poderia ser perigoso, já que nos privaria da nossa principal fonte de luz, e eu teria que preparar outra depois. Carregar ao menos o básico consigo seria muito mais inteligente.

— Certo, vou acender a fogueira…

Uma vez que a madeira estava toda preparada, a acendi. Assim que tive certeza de que estava queimando bem, tirei o meu casaco externo. A coisa estava toda encharcada; o exterior estava coberto por uma fina camada de gelo. Eu ainda estava usando o meu velho robe cinza por baixo, mas ele também estava encharcado. Pelo jeito da coisa, até a minha cueca devia estar encharcada. Eu ao menos estava com um conjunto de roupas reserva que poderia usar até as minhas outras roupas secarem. Usando uma mistura de magia de Vento e Água, cuidadosamente evaporei todo o excesso de umidade existente. Mas não consegui forçar a saída de toda a água. Se eu tentasse fazer isso, iria danificar, e muito, o tecido.

Depois de fazer tudo o que podia, preparei um varal simples usando magia da Terra e pendurei tudo, exceto a minha cueca, para secar.

Me virei para o fogo e me aproximei, mas a caverna ainda estava congelando. Usei magia para selar a entrada da caverna. Claro, nos trancar completamente ali dentro seria uma ótima forma para morrer de envenenamento por monóxido de carbono, então abri um orifício de ventilação no teto, para que a fumaça pudesse sair.

Ao menos deixei as coisas um pouco mais confortáveis. A questão agora era o que fazer com a minha cueca. Ficar totalmente nu na frente de Fitz poderia ser um pouco estranho.

Lancei um olhar em sua direção – e me deparei com ele abraçando os ombros, tremendo feito vara verde e choramingando baixinho. Ele tinha tirado o casaco externo, mas ainda estava usando a capa e tudo que havia por baixo dela. Nesse ritmo o cara acabaria com uma hipotermia.

— Não deveria, uh…

Você não deveria tirar tudo para secar? era a frase que eu tinha em mente, mas me contive. Fitz podia alegar ser um jovem homem, mas eu suspeitava que fosse na verdade uma garota escondendo a sua verdadeira identidade. Tirar a roupa bem na minha frente podia não ser uma opção. Mas esta era uma situação genuinamente perigosa.

E agora? Hmm…

— Mestre Fitz.

— O… O que foi, Rudeus?! — respondeu ele, saiu um pouco alto demais.

Ele, claramente, também percebeu o problema no qual se encontrava. Isso não era nada bom. Eu precisava apresentar alguma saída a ele.

— Sabe, uma garota que eu conheço me disse que os elfos têm uma regra contra permitir que pessoas de uma raça diferente os vejam nus. Por que não me viro e cubro meus olhos? Você pode tirar as roupas, secá-las com magia e me dizer quando tiver terminado.

— Huh?! — Fitz parecia mais do que um pouco surpreso. Isso fazia sentido, visto que eu tinha inventado tudo na hora. Se existia mesmo um tabu como esse, era um que Elinalise quebrava todos os dias da sua vida. Entretanto, a desinformação na qual eu estava escolhendo “acreditar” devia ser bem conveniente para Fitz, ele só precisava jogar junto.

Me virei lentamente, fechei os olhos… e comecei a escutar com atenção. Bem, não havia nenhuma razão para não aproveitar o som dele se despindo. Minha imaginação cuidaria do resto.

— …

— …

Mas eu, por algum motivo, não estava ouvindo nada. Suas roupas estavam molhadas, é claro, mas mesmo assim… tirá-las e secá-las com um feitiço deveria produzir ao menos um indiciozinho de som. Isso era realmente estranho. Ele tinha algum jeito de trocar de roupa sem fazer barulho nenhum?

Pensando bem, na minha escola primária havia uma garota capaz de colocar o maiô sem nem tirar a roupa primeiro. Aquele era um truque bem legal. A escola não era equipada com vestiários, então os garotos e as garotas eram forçados a trocar de roupa juntos, ainda na sala de aula. Parando para lembrar, aqueles foram bons tempos. Depois, quando a internet se tornou popular, me deparei com uma explicação a respeito desse método furtivo de troca de roupas. E acabei desenvolvendo um certo interesse por truques desse tipo. Meu interesse neste assunto era completamente acadêmico, é claro. Com certeza não envolvia nada sexual. Provavelmente.

Se Fitz não tivesse tirado a roupa, então já devia estar congelando. Com essa desculpa em mente, me virei bem devagar.

Meus olhos se encontraram com os do Mestre Fitz na mesma hora. Ele ainda estava usando seus óculos escuros, mas eu poderia dizer que ele estava olhando para o meu rosto. Dessa vez eu não desviei o olhar. Principalmente porque seu rosto estava pálido de dar medo.

— Mestre Fitz!

Ele ainda estava abraçando os ombros com os dois braços, tremendo com ainda mais força do que antes. Não havia cor no seu rosto. Era óbvio que ele estava congelando até os ossos.

No inverno, as temperaturas nos Territórios Nortenhos ficavam quase sempre abaixo de zero. O simples fato de caminhar do lado de fora já ia minando a temperatura corporal. Cacete, eu mesmo ainda estava com muito frio. A temperatura na caverna estava subindo aos poucos, mas com aquelas roupas molhadas, Fitz estava basicamente se banhando em gelo.

Isso era perigoso ao extremo.

— Por favor, você precisa trocar essas roupas. Quer que eu faça uma parede ou coisa do tipo? Ou se você quiser eu posso simplesmente sair da caverna, o que acha? Sim, parece bom. Já vou sair…

— Espera.

Quando me virei para a entrada, o Mestre Fitz me chamou. Ele me encarou por um momento, ainda tremendo. E então, ficando de pé com as mãos trêmulas, se aproximou lentamente e olhou para o meu rosto.

— …

— …

Ele estava só… olhando para mim. Era como se ele quisesse dizer algo. Mas o que era? O que ele estava tentando me dizer?

— Você, uh… você vai pegar um resfriado, Mestre Fitz…

— S-sim — respondeu ele, sua voz ainda tremendo. — V-você está certo.

Neste momento eu já estava mais do que nervoso. Não conseguia nem entender o que ele estava pensando.

— Você… tem que tirar essas roupas. Isso é perigoso. O excesso de frio pode acabar te matando…

— Sim… Acho que, nesse ritmo, vou morrer… — Fitz acenou com a cabeça, mas não deu sinais de tirar a roupa. Uh, não que eu estivesse esperando que ele se despisse enquanto estava assistindo, é claro.

Não sei de nada! Mestre Fitz é um garoto! Definitivamente não é uma garota! É essa a minha posição oficial sobre o assunto, droga! Eu precisava fechar os meus olhos, certo?

— Eu não consigo tirar isso sem ajuda. Faça isso por mim. — Do que diabos ele estava falando?

— Bem, se você não consegue tirar, acho que terei que fazer isso… — O que diabos eu estava falando?

Droga. Minhas mãos já estavam avançando. Primeiro toquei os seus ombros. Eles estavam frios… magros e macios. Seu corpo, em minhas mãos, parecia muito delicado.

— U-uhm, Mestre Fitz… para ser honesto, estou ciente do fato de que você é uma mulher.

— Certo. Mas se você não tirar a minha roupa, posso morrer, certo?

— C-certo…

Deixando a confirmação das minhas suspeitas de lado, isso não fazia sentido. Eu não estava conseguindo seguir a linha de raciocínio dela. E ela com certeza estava tramando algo. Será que era algum tipo de golpe para depois fazer chantagens? Tipo, eu iria tirar a roupa dela, e então algum cara assustador apareceria na caverna, me diria que eu descobri demais e me levaria para ser dissecado em um laboratório Asurano? Não que eu fosse reclamar, já que estava prestes a fazer um “experimento” com Fitz…

Minhas mãos, que em algum momento criaram vida própria, tiraram a capa grossa e abriram os botões da frente de suas roupas. E então revelou uma camisa branca toda encharcada que estava por baixo.

Não quero me repetir, mas era uma camisa branca. Como todo mundo deve saber, as camisas dessa cor tendem a ficar transparentes quando estão molhadas. Isso significava que eu podia ver a roupa de baixo de Fitz – algo que parecia um sutiã esportivo, para ser mais específico. E o conteúdo parecia ser… modesto. Mas com o sutiã molhado firmemente agarrado à sua pele, não havia como negar que estava mesmo ali. Fitz tinha um enchimento natural do tipo que tende a cativar a mente masculina.

— Mestre Fitz…

— Qual é o problema, Rudy?

Quando ouvi aquele apelido familiar, senti uma velha memória brotando lentamente em direção à superfície das minhas memórias. Eu já tinha passado por algo bem parecido antes. Algo muito parecido com isso.

— Uh… então, desculpe…

— Vá em frente.

Fitz estava brilhando de tão vermelho, corando até a ponta das orelhas. Isso parecia até de alguma forma familiar. Tirei a sua camisa branca e a pele pálida acabou exposta. Por um momento fiquei só encarando seus ombros delicados e pescoço magro. Ela era mais magra do que eu imaginava.

Vê-la assim de perto… e tocá-la… estava fazendo algum efeito em mim. Algum cavaleiro invisível estava levantando a minha “espada”, deixando ela firmemente apontada para cima, parecia até parte de alguma cerimônia sagrada.

Isso era por causa de Fitz? Eu não conseguia definir exatamente o que era, mas algo nela me deixou bem… excitado. Tive que lutar contra uma vontade repentina de empurrá-la para o chão ali mesmo. Dando o meu melhor para ignorar meus desejos, alcancei o cinto de Fitz. Depois de alguns segundos barulhentos e desajeitados, consegui tirá-lo. Estendi a mão para agarrar a calça em sua cintura… e então uma imagem correu pela minha mente.

Eu já tinha feito algo assim, anos atrás. Eu devia ter uns cinco ou seis anos, mas não me esqueci.

Quando baixei as calças de Fitz, me deparei com uma calcinha branca. Ao contrário daquela primeira vez, não puxei a calcinha junto com as calças. Dito isso… a calcinha estava tão encharcada da água da chuva que parecia quase transparente. Eu estava vendo coisas ou tinha uma curva suave bem ali…? Engoli em seco.

Fitz silenciosamente puxou suas pernas para fora da calça, depois, sentou-se na minha frente com uma perna para cada lado. Sentei-me de joelhos bem na frente dela. O chão da caverna era duro e áspero, então minhas canelas começaram a doer quase na mesma hora.

Mais uma vez estendi a mão para ela. E ela ainda estava com aquelas luvas brancas e ensopadas nas mãos.

— Deixe-me… tirar isso também…

Ao tirar as luvas, descobri que suas mãos estavam marcadas por uma velha cicatriz. Eu reconheci a mão.

Mas, como foi que isso aconteceu? Tá bom, tá bom. Ela uma vez enfiou a mão em um fogão e acabou se queimando. Lembro que me perguntei se aquele acidente tinha algo a ver com o seu esforço para aprender magia de fogo.

— Rudy…

Fitz não estava mais olhando nos meus olhos. Seu olhar estava ligeiramente curvado, assim como uma parte diferente do meu corpo. A tenda que eu tinha recém-armado continuava firme e forte. Fitz realmente fazia milagres.

— Ainda resta uma coisa.

Eu sabia que ela não estava falando da calcinha ou sutiã. Nesse momento, finalmente entendi. Peguei seus óculos escuros e os tirei.

Por baixo, encontrei um rosto familiar – um que esperava ver.

Antigamente, eu pensava que aquele meu amigo cresceria e se tornaria um verdadeiro arrasador de corações. Sylphiette era bonita assim, mesmo quando eu ainda pensava nela como um garoto, mesmo quando ainda era criança. E agora… tinha ficado ainda mais bonita do que eu imaginava.

Suas feições podiam ainda ter um toque infantil. Porém, bonita era a única descrição que se aplicava. Seus olhos eram claros e afiados. Seu nariz era um pouco comprido e seus lábios ligeiramente finos. Pensei ter visto uma semelhança com sua companheira elfa, Elinalise… mas, de alguma forma, seu rosto era muito mais amigável e cativante. Talvez tivesse herdado isso de seus ancestrais humanos.

— Uh, Mestre Fitz…

— Sim, Rudy?

A maneira como ela inclinou a cabeça para ouvir, mesmo enquanto corava, não havia mudado em nada. Por que diabos levei tanto tempo para perceber isso? O cabelo? Sim. A cor do seu cabelo estava diferente. Antes era verde, mas agora era todo branco. Mas, claro, o cabelo das pessoas muda de cor o tempo todo. Se quisesse, poderia até pintar.

— O seu nome verdadeiro… Por acaso é Sylphiette?

— Sim…

Fitz – ou melhor, Sylphie – sorriu toda tímida e acenou com a cabeça.

— Sim… é. Eu sou a Sylphiette. Sylphiette… de Buena Village…

Depois de alguns poucos segundos, ela foi tomada pela emoção e seu sorriso se desmanchou e desapareceu. Antes de desabar por completo, ainda conseguiu se inclinar para frente e jogar os braços ao meu redor.

— Eu finalmente… contei…

Seu corpo estava muito, muito frio.

Ficamos assim por alguns longos minutos.

Fiquei chocado, para não dizer mais. Mas, ao mesmo tempo, estava começando a sentir que tudo finalmente começou a fazer sentido.

Sylphie estava soluçando e fungando baixinho enquanto me abraçava com força. Isso era, na verdade, bem parecido com o que tinha acontecido da outra vez. Parecia que continuava sendo uma bebê chorona.

Seu corpo também tinha ficado macio. Ela era tão magra que seria normal pensar que não possuía uma grama sequer de gordura, mas quando a abraçava, parecia que estava envolvendo uma nuvem com os braços. Será que usava um amaciante nos banhos ou o quê?

— Eu esperei… Esperei por você esse tempo todo, Rudy. Fiquei em Buena Village e dei muito duro…

Eu sabia que isso era verdade. Paul já tinha me contado como Sylphie passou o tempo depois que fui dar aulas para Eris. Sem dizer nada de imediato, só balancei a cabeça. Ela reagiu me apertando com ainda mais força.

Depois de um momento, Sylphie ergueu o rosto para olhar para mim. As lágrimas e o nariz escorrendo estavam fazendo uma verdadeira sujeira. Eu não tinha certeza do que dizer.

— Eu sempre…

Mas Sylphie sabia o que ela queria dizer. Ela me olhou bem nos olhos e disse o que queria.

— Eu sempre te amei.

Tudo o que pude fazer foi olhar para ela com uma surpresa estúpida e inexpressiva.

— Mesmo naquela época te amei muito, Rudy. E agora te amo ainda mais. Pode não me deixar de novo… por favor? Quero ficar com você para sempre…

Minha mente entrou em curto-circuito. Fiquei literalmente atordoado.

Claro, lá nos velhos tempos Sylphie era muito apegada a mim. Poderia dizer até que eu organizei para que assim fosse. Mas agora as coisas eram diferentes. Eu passei um ano inteiro aprendendo a confiar e respeitar o “Mestre Fitz”, considerando-o meu amigo e igual. Ela já era independente, sustentando-se por si mesma. Eu tinha um verdadeiro respeito por essa pessoa. Os sentimentos dela por mim não eram apenas vestígios das minhas tentativas de conquistá-la quando criança? Isso parecia possível.

Mesmo assim… Passei a confiar e acreditar genuinamente em Fitz. Ela era uma pessoa inteligente e bem informada que ouvia os meus problemas e me ajudava a refletir. E eu também não era o único que ela levava em consideração. Havia também a Princesa Ariel em quem confiava.

E ela estava me dizendo que me amava.

Uma sensação quente e agradável cresceu dentro do meu peito. Ainda era difícil entender o fato de que Sylphie e Fitz eram a mesma pessoa… mas eu estava tão feliz que sentia vontade até de dançar.

Por um momento, me peguei pensando em Eris. Eu cheguei a dizer para ela que a amava? Em um certo ponto falamos sobre nos tornarmos uma família, mas foi ela quem tocou no assunto. Eu não conseguia lembrar o que foi que falei.

E quanto a Sara? Não, as coisas não foram tão longe assim com ela. Sério, eu não tinha tanta certeza sobre realmente amar Sara. Eu com certeza gostava dela e tentei levá-la para a cama… mas senti que “amor” não era a palavra certa para descrever o que sentia.

Então tá. E quanto a Fitz… ou Sylphie? O que eu pensava dela?

Para ser honesto, gostaria de pensar nisso com cuidado. Queria verificar os meus próprios pensamentos e encontrar uma resposta clara e precisa. Porém, a menos que lhe desse uma resposta imediata… ela provavelmente fugiria de mim, assim como Eris fez.

Me descobri segurando Sylphie pelos ombros e colocando-a a um braço de distância. Ela tentou resistir, mas foi um esforço muito débil.

— Eu também te amo — falei.

O rosto de Sylphie já estava em completa desordem, mas estava tudo bem. Acariciei a sua cabeça suavemente, então aproximei o meu rosto do dela.

Seus lábios eram muito macios. Também ligeiramente viscosos por causa da meleca toda, mas isso não importava. Quando o beijo acabou, Sylphie finalmente parou de chorar. Ela ficou olhando para mim atordoada, seu rosto ainda brilhando de tão vermelho.

Até eu perdi a capacidade de falar. Neste ponto, ainda bem, as palavras já não eram mais necessárias.

Agora que tínhamos confirmado os nossos sentimentos um pelo outro, o próximo passo era óbvio. Quando se está apaixonado, se deve fazer amor, certo? Não quero parecer grosseiro nem nada assim, mas meu amiguinho lá embaixo passou dois anos sem dar sinal de vida, mas agora só faltava sair andando.

Sylphie não se opôs quando eu avancei. Ela me deixou deitá-la de costas no cobertor próprio para acampamentos que eu trouxera. Parecia que, desde o começo, estava preparada para isso. Talvez tivesse organizado essa “missão” toda só para que pudesse me contar a verdade em absoluta privacidade.

Mas não era a hora para pensar nessas coisas. Neste momento eu só precisava ter certeza de que não estragaria tudo de novo.

— É a sua primeira vez, Sylphie…?

— Huh? Uhm, sim. É. Isso é um problema…?

— Claro que não.

Ainda assim… isso significava que eu tinha que ter cuidado com ela. Se estragasse tudo, as coisas podiam acabar iguais à última vez. Eu nunca mais queria me sentir daquele jeito. Ter sido deixado por Eris já tinha sido ruim o suficiente… e depois aquilo com a Sara. Eu não poderia estragar tudo. Simplesmente não poderia.

Lentamente, com bastante cuidado, me abaixei para tocar Sylphie…

— Uhm, Rudy…?

E percebi que minha barraca tinha desarmado.

Passou uma hora inteira até finalmente desistirmos.

A chuva já tinha parado. Graças ao tempo todo que passamos pressionados um contra o outro, nossos corpos se aqueceram bastante. Nossas roupas também estavam quase secas.

No momento, porém, a única coisa que eu tinha era vontade de chorar. Estava dolorosamente deprimido por minha incapacidade de atuar em um momento tão crucial assim. Afinal, quantas vezes tinha sentido essa agonia em particular? Isso parecia nunca ficar menos terrível. E, desta vez, eu não estava lidando com uma garota de um bordel ou uma aventureira com quem me dei bem em uma pousada. Era alguém que eu realmente amava. Alguém com quem possuía uma ligação especial.

Eu estava com medo de que Sylphie pudesse começar a olhar para mim com decepção no rosto, soltando longos suspiros e saindo da minha vida. E então, fiquei lá, tremendo sem parar enquanto segurava a mão dela.

Sylphie, entretanto, não foi a lugar algum. Ela também parecia chocada com essa reviravolta, embora não tão devastada quanto eu. Ao menos havia a sombra de um sorriso no seu rosto.

— Isso não é culpa sua, Rudy. Meus seios são bem pequenos, não são? Sei que não sou sexy nem nada…

— Não seja ridícula, Sylphie. Você é linda. A questão é… que estou assim já faz três anos.

— R-Rudy…

Contei a história toda a ela. Toda a longa e humilhante história, começando com aquele dia, há três anos, em que dormi com alguém pela primeira vez. Até admiti que só estava na Universidade de Magia graças à esperança de encontrar uma cura para o meu problema, mas que ainda não tinha dado sorte.

— Envergonhar você era a última coisa que eu queria fazer, Sylphie. Por favor, aceite as minhas desculpas.

Não havia nada de errado com o seu corpo, é claro. Só olhar para ela já era excitante. Seus seios eram pequenos, sim, mas ela era perfeitamente proporcionada. Ela era a perfeita definição de beldade delicada – e eu era um grande fã de beldades delicadas. Digo, ela era a única garota que me deixou em ponto de bala nos últimos três anos. Claro que não era culpa dela. Eu era só um covarde inútil.

— Não diga isso, Rudy! Não estou envergonhada, tá? Vamos, volte ao normal.

A voz de Sylphie estava implorante e um pouco triste. Isso só fez eu me sentir ainda mais patético.

— Eu adoraria voltar ao normal, é claro. Mas parece que, infelizmente, não há nada que possa fazer a respeito disso.

— Não, não… — disse ela, as lágrimas escorriam pelo seu rosto. — Eu só quis dizer para você parar de me pedir essas desculpas formais…

— Ah, uh… certo, tá bom. Foi mal. Só fiquei meio para baixo.

Deus, eu simplesmente não consigo parar de estragar tudo. Comecei a me curvar e desculpar por costume. Sempre que eu não estava pensando direito, tinha a tendência de voltar a esse modo.

— Ainda assim, é estranho se eu for um pouco formal com você…? Digo, estou te chamando de Mestre Fitz já faz meses.

— Sim, eu acho… quando você fala assim, parece que está mantendo distância das pessoas.

Sério? Foi a primeira vez que ouvi isso. Eris e Ruijerd se sentiam da mesma forma? E quanto a Zanoba? Bem, eu tinha a tendência de mais mandar nele do que qualquer outra coisa…

— De agora em diante, quero que seja mais casual comigo.

— Como desejar.

— Certo, isso não é casual…

— Fala sério! Não pode dar uma folga ao menos com um como desejar?

— Hehehe… bem, eu talvez abra uma exceção.

Essa conversa parecia estar ao menos melhorando o clima. Ainda assim, já fazia um tempo que eu não era conscientemente casual com alguém. Depois de vir a este mundo, fui sempre meio que “educado demais”. Passei alguns anos à toa com Soldat e companhia, mas então fui para a escola e pulei de cabeça nas reverências e críticas.

Pensando bem, porém, havia uma outra exceção… Lá em Buena Village, costumava ficar bem relaxado perto da minha amiguinha fofa, Sylphie. Nesse caso, casual talvez fosse o nosso normal.

Por um tempo, ficamos só sentados, aninhados um no outro só com as roupas de baixo, sem dizer nada em particular, apenas ouvindo o crepitar do fogo. Quando virei um pouco o meu pescoço, pude ter uma visão clara da clavícula de Sylphie. Seu sutiã estava um pouco frouxo, então quando eu olhava desse ângulo, às vezes vislumbrava uma coisa rosinha.

Depois de um tempo, porém, quebrei aquele silêncio agradável.

— De qualquer forma… posso te perguntar por que ficou esse tempo todo travestida, Sylphie? O que aconteceu com você depois do Incidente de Deslocamento?

Eu queria saber por que ela era a guarda-costas da Princesa Ariel, por que tingiu o cabelo de branco e por que estava escondendo a sua identidade. Não sabia se fazer essas perguntas era correto, mas parecia que valia à pena tentar.

— Ah, claro. Uhm… por onde devo começar…? — Lentamente, Sylphie começou a me explicar a sua história.

Ela começou com o seu treinamento em Buena Village e as suas tentativas de tirar a minha localização de Zenith e Lilia. Elas acabaram a treinando muito bem em magia de Cura e etiqueta, respectivamente. Sylphie também mencionou que foi ela quem fez o pingente que eu ainda estava usando.

— Então você mesma fez, hein?

— Por que você ainda tem isso, Rudy?

Há anos eu escondia o pingente em questão por dentro das minhas roupas. Sylphie evidentemente o notou quando eu tinha tirado as minhas roupas.

— Lilia me deu isso quando eu a encontrei. Mas não me disse que foi você quem fez, Sylphie.

— Bem, ela provavelmente pensou que eu poderia estar morta.

— Ah, entendo. — Algumas pessoas podiam aceitar o ato de carregar uma lembrança de um amigo morto, mas outras podiam ficar só tristes e desconfortáveis.

— Uhm, se importa se eu continuar a minha história?

— Sinto muito por isso. Siga em frente.

Após o Incidente de Deslocamento, a vida de Sylphie deu uma guinada acentuada para uma vida tempestuosa e dramática. Ela foi jogada em um jardim do palácio real, junto com um monstro perigoso logo abaixo dela. Depois de salvar a vida da Princesa Ariel, algo que aconteceu por pura coincidência, recebeu o papel de Maga Guardiã como recompensa.

Quando ela foi transportada, o seu cabelo de alguma forma perdeu a cor original. Mas o povo da capital real tinha perspectivas e ambições tão diferentes das quais estava acostumada, que ficava com dor de barriga quase todos os dias. Ela foi forçada a cuidar de todos os assassinos que foram enviados para matar Ariel, enquanto os membros da família real e os seus apoiadores lutavam pelo poder.

Por fim, foram expulsos da capital real e partiram em uma jornada para a qual nenhum deles estava preparado. Aconteceram traições, decepções e momentos de perigo desesperador. Mas, por fim, chegaram à Universidade de Magia de Ranoa, onde começaram a planejar o retorno… ponto esse em que eu apareci.

— Sei que a culpa não é sua, Rudy… mas quando você se apresentou a mim como se fôssemos estranhos, senti um tipo de choque.

— Sinto muito por isso. Mas, sabe, se você tivesse me dito quem era você, isso não teria demorado tanto assim.

— Sim… v-você está certo, eu acho. Desculpa. A culpa é minha por não ter dito nada, huh…? Eu realmente… sinto muito por isso…

As lágrimas de repente começaram a descer pelo rosto de Sylphie. Ela parecia já estar angustiada com isso há algum tempo. Não era como se ela tivesse negado a verdade só para mexer comigo ou coisa do tipo. Minha intenção não foi criticar.

— Ei, eu também sinto muito. Tive um ano inteiro para perceber, e não percebi.

Com base na história de Sylphie, ela estava escondendo a sua identidade por um motivo, e parecia pensar que eu tinha esquecido dela. E se eu tivesse a esquecido, existia o risco de eu contar a verdade sobre ela a alguém, caso acabasse se abrindo para mim. Afinal, eu tinha ligações com a família Boreas. Existia a possibilidade de que eu me tornasse até mesmo um inimigo. Ficar em silêncio foi provavelmente a decisão mais inteligente.

Além disso, durante o ano passado inteiro, não mostrei nenhum indício de que estava em busca de Sylphie. Se ela pensava que eu nem estava à sua procura, então não poderia culpá-la por hesitar, certo? Sim, não poderia. Apareceram todos os tipos de circunstâncias para atrapalhar. E, no final, ela se abriu para mim. Era isso que realmente importava.

Passei meus braços pelos ombros de Sylphie e ela encostou a cabeça em mim. Seu corpo ainda estava um pouco frio. Decidi mantê-la pressionada contra mim até que esquentasse.

— Simplesmente não consegui juntar coragem, Rudy. E acho que havia uma parte minha que gostava de como as coisas estavam.

— Sim. Devo confessar que ser amigo do Mestre Fitz não foi nada ruim.

Ela, entretanto, parecia estar começando a ficar preocupada. Já existiam algumas garotas bonitas na minha vida, e Sylphie pensava que alguma delas ia acabar me arrebatando, a menos que agisse rápido. Graças à minha condição, esse cenário me parecia meio improvável… mas nunca se sabe. Digamos que Nanahoshi me encontrasse uma cura mágica ou coisa assim. Eu ficaria muito grato a ela, certo? Nosso relacionamento talvez evoluísse de maneiras inesperadas.

De qualquer forma, Sylphie decidiu arriscar tudo em uma grande operação. Várias vezes me provei bem desatento e costumava sabotar seus planos enquanto tentava ser atencioso. E da parte dela, ela tendia a se acovardar no último instante. Mas, desta vez, estava encurralada… e então estapeou a minha cara com a verdade até que eu finalmente percebesse.

— Você é mesmo desatento, Rudy.

— Sim, me declaro culpado.

Uma vez fiz um juramento silencioso de que agiria como um protagonista esquecido, mas, depois disso, não poderia mais zombar daqueles caras. Às vezes, quando existem muitos fatores complicados envolvidos, pode ser realmente difícil perceber que alguém gosta de você.

Se eu estivesse um pouquinho mais excitado com isso tudo, desde o início, talvez tivesse visto os sinais dela com um pouco mais de clareza. Todos aqueles protagonistas idiotas com algum harém também precisavam de alguma receita de Viagra? Isso, na verdade, explicava muita coisa.

— Então, acho que acabei me jogando na sua armadilha, huh?

— Uhm, sim. Desculpa. Me sinto um pouco mal por ter te enganado assim.

— Tudo bem. Não acho que teria funcionado, a menos que as coisas fossem longe assim.

Do jeito como tudo estava indo, eu teria continuado fingindo para sempre que Fitz era um homem, supondo que estivesse fazendo um favor a ela. E, para ser honesto, eu não tinha certeza de quão bem me lembrava da minha velha amiga de infância, Sylphie, antes de ela me dar todas aquelas pistas.

— A propósito… a Princesa Ariel sabe que você está fazendo isso?

— Ah, com certeza. Ela que planejou tudo.

— Sério mesmo?

— Aham.

Isso era um alívio. Se Sylphie estivesse agindo por conta própria, continuar fingindo que não sabia a verdade talvez fosse o mais seguro… embora o personagem de “Fitz” continuaria existindo em qualquer que fosse o caso.

— Mas ela estava meio preocupada com isso tudo. Ela nunca conseguiu descobrir quais eram os seus objetivos, ou no que estava pensando. Acho que não faz ideia de que você só veio por causa do seu, uh, problema.

Já corriam rumores sobre a minha condição, mas, pelo andar da carruagem, ela provavelmente ignorou todos eles. A verdade às vezes podia ser mais estranha do que a ficção.

— Hmm. Nesse caso, será que eu devo entrar no time dela?

Sério, eu ainda queria evitar me envolver em lutas perigosas pelo poder. Mas se isso fosse ajudar Sylphie, ofereceria todo o apoio que eu pudesse.

— A Princesa Ariel fez muito por mim, então, pessoalmente, ficaria muito feliz em ter você ao lado dela… mas você não quer se envolver na política Asurana, certo? Então não force a si mesmo, Rudy.

Sylphie mais uma vez revelou um sorriso tímido para mim. Quando não estava usando aqueles enormes óculos escuros sua fofura realmente ficava cem vezes maior. Pela segunda vez no mesmo dia, senti uma onda de calor na minha virilha. Incapaz de me conter, me inclinei e lambi a sua orelha.

— Aah?!

— Whoops. Perdão. — O gritinho de surpresa de Sylphie assustou o meu amiguinho desordeiro, que voltou à hibernação. Nesses tempos eu realmente não estava conseguindo controlar a minha libido. Ainda assim, perceber qualquer movimento ali embaixo já era motivo de alívio. Eu parecia estar no caminho da recuperação.

Tudo graças à Sylphie, é claro.

— Obrigado, Sylphie.

— Huh? Pelo que…? — Ela inclinou a cabeça para mim, confusa.

Ainda não tínhamos feito nada, mas isso, no momento, já era bom o suficiente. Roma não foi construída em um único dia, certo?


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Lucas BuenoD
Membro
Lucas Bueno
6 dias atrás

Que mulher meus amigos, que mulher

Luiz Augusto Moreira coutinho
Visitante
Luiz Augusto Moreira coutinho
5 meses atrás

só eu lembrei do meme do napoleão? NÂO A NADA QUE POSSAMOS FAZER…

Dankkkjj.__
Visitante
Dankkkjj.__
4 meses atrás

não há mais nada que possamos fazer…

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