“De acordo com os registros, a dungeon deveria estar localizada no coração da catedral principal. No entanto, após a troca do papa, a dungeon misteriosamente desapareceu. Nos tempos antigos, cada papa entrava sozinho na dungeon e, caso provasse ser digno, recebia uma classe única para o papa.” Yin começou a explicar enquanto caminhavam pela cidade.
“Mas quando a dungeon desapareceu, a chance de obter essa classe única também se foi. Cada um dos papas subsequentes não tinha esse poder e não era mais poderoso do que o aventureiro médio. Se não fosse pelo fato de ainda terem alguns privilégios, os paladinos e cavaleiros já teriam assumido o controle há muito tempo. Porém, uma vez que o mundo mudou após a primeira transformação, os paladinos e cavaleiros tomaram o controle, migrando para as ilhas do sul com todos os sobreviventes restantes. Não houve notícias recentes de lá, mas de acordo com o último relatório que li, eles criaram uma pequena vila subterrânea dentro de uma das ruínas. Chamam-na de Santuário, mas é mais parecido com uma prisão. Eles não conseguem sair, pois uma Rainha morava nas proximidades, em sua cidade, enquanto monstros invadiam as terras, os céus e os oceanos. Os cavaleiros podem até viver, mas não serão capazes de proteger os outros que os seguem. Sugiro que esse seja nosso próximo destino assim que terminarmos com este lugar. O que você acha? Acho que alguns dos paladinos de maior patente podem ser capazes de te ajudar com algumas informações.” Yin sorriu enquanto Lisandra assentia com a cabeça.
“Deveríamos chamar outros para ajudar?”
“Nah, acho que estamos bem. Além disso, eles estão ocupados pra caramba. Você sabe que a Aarim está fazendo pesquisas, o Helion tentando encontrar mais maneiras de melhorar a espada da mamãe, o Revel e a Khionah estão jogando, o Nan Tian está garantindo que tudo esteja em ordem e a Silvia é a chefe dos hospitais. Então, naturalmente, será uma pequena aventura em dupla para nós.” Yin sorriu enquanto Lisandra tinha 90% de certeza de que poderiam ter pedido a ajuda do Revel, já que ele estava só jogando.
“Não. Eu não vou deixar um lagarto preguiçoso e fedido se juntar à nossa jornada.” Yin fez um biquinho de frustração enquanto Lisandra riu, sabendo que essa era a verdadeira razão desde o começo.
“Devemos estar vendo a catedral logo ali na esquina. Se fosse antes da nova era, conseguiríamos ver o topo do prédio de longe, mas infelizmente, a nova era não foi muito gentil com a arquitetura.” Yin deu de ombros enquanto entravam em uma clareira que costumava ser um grande caminho até a catedral.
Olhando para as inúmeras torres desmoronadas, Yin viu o cadáver ainda se desintegrando de um monstro caído no centro. Ignorando isso por enquanto, ela estava prestes a continuar quando uma voz poderosa ecoou.
“Nada morrerá na terra do sagrado!”
De repente, mana irrompeu ao redor dela enquanto o cadáver do monstro se regenerava.
“Bem, isso certamente é um problema. Não esperava companhia.” Yin murmurou enquanto criava uma barreira ao redor de Lisandra.
Caminhando até o monstro que ainda tentava se levantar, Yin estreitou os olhos e esmagou sua cabeça com a perna antes de abrir a boca.
Mordendo o monstro, o corpo foi drenado até restar apenas pele e ossos.
“Blerg, nojento. Eu preferiria cozinhá-lo, mas algo me diz que seu poder impede que eles ‘morram’ de maneiras convencionais. Transformá-los em energia realmente não ‘os mata’.” Yin deu de ombros enquanto olhava para a catedral destruída.
No telhado, uma única figura estava de pé.
Uma capa rasgada, armadura trincada e um braço ausente. Mas apesar dos numerosos ferimentos, a aura que ele irradiava era quase ameaçadora para Yin. A aura dessa figura armada acionou alguns alarmes em sua mente, mas não o suficiente para ficar realmente séria.
“Nada morrerá na terra do sagrado! Pela minha lâmina, pela minha vontade, eles viverão!” O paladino gritou enquanto avançava em sua direção.
Uma aura sagrada envolveu sua espada enquanto ele girava o corpo e cortava para baixo, liberando uma onda de energia que rasgou o chão.
Levantando uma sobrancelha, Yin abriu a boca e engoliu toda a energia.
“Que gosto fofo. Sua energia está entre as melhores que já provei. Parabéns.” Yin elogiou enquanto saltava para o lado para evitar o próximo ataque dele.
Agora que ele estava perto, Yin aproveitou para ver o nome dele.
Alexander – Nível 900 – Paladino Caído da Proteção
“Nada morrerá na terra do sagrado!” Ele gritou enquanto Yin franziu a testa, entendendo que ele havia perdido a razão após se tornar caído.
“Que pena.” Yin balançou a cabeça.
Desviando do próximo golpe dele, Yin usou a mão esquerda para agarrar seu pulso enquanto sua palma direita pressionava contra seu peito.
BANG!!!
Liberando uma onda de energia, a metade superior do corpo do paladino foi dilacerada.
Sacudindo a cabeça, Yin estava prestes a se afastar quando ouviu a mesma frase mais uma vez.
“Nada… morrerá…”
O paladino murmurou enquanto seu corpo começava a se reparar.
“Na terra… do Sagrado…”
Levantando-se, seu braço se regenerou e uma lâmina apareceu ao seu lado.
Deixando escapar um grito de guerra, centenas de sinais de mana começaram a ser sentidos ao redor deles. Um a um, os paladinos e cavaleiros mortos começaram a se levantar, murmurando a mesma frase.
“Tão dedicado à sua causa, mesmo depois de perder a razão. Tenho meu respeito por isso. Mas desculpe, muitos já morreram.” Yin suspirou enquanto pisava com força no chão.
Faíscas apareceram ao redor deles enquanto Yin levantava a mão antes de estalar os dedos.
CLIC!!! BOOM!!!!!
Explodindo em pilares de fogo, Yin pegou Alexander pela cabeça e apertou os olhos.
Envolvendo seu corpo em uma chama negra que consumia sua essência, ela queria ter certeza de que ele não ressurgiria uma segunda vez.
“Nada morrerá…” Alexander lutava enquanto Yin abria a boca.
“Não morreram. Eles vivem nas ilhas do sul. Todos estão vivos e bem. Você fez seu trabalho corretamente, então agora descanse.”
Ao ouvir isso, lágrimas podiam ser vistas sob o elmo enquanto o último vestígio de Alexander era consumido pelas chamas.
Sacudindo a cabeça, Yin se dirigiu de volta para Lisandra.
“É triste, não é? Querer proteger, mas não ter o poder. Sem outra escolha, ele escolheu um caminho sem retorno para que as pessoas pudessem sobreviver a essa devastação.” Lisandra lamentou enquanto Yin assentia.
“Mn, quando terminarmos aqui, vamos ver se conseguimos convencê-los a ir para Asharia.”
Concordando com Yin, as duas deram um momento de silêncio aos paladinos caídos, em respeito aos seus sacrifícios.
Entrando pelos portões quebrados da catedral, Yin procurou pelos escombros na esperança de encontrar algo útil. Passando algumas horas vasculhando toda a catedral com cuidado, Yin não encontrou nada útil acima do solo. No entanto, ela encontrou um caminho subterrâneo que levava a mais câmaras, junto com uma biblioteca.
Com todas as runas ao redor da biblioteca, não era surpreendente que ela ainda estivesse intacta. No entanto, o fato de um arranjo tão poderoso de proteção estar ali sem que ninguém percebesse era estranho. Já que não havia sequer um pouco de mana sendo liberado desse lugar.
Ficando em frente aos portões trancados que levavam à biblioteca, Yin estava perplexa. Ela tentou usar todos os métodos possíveis, mas não conseguiu entrar. As mesmas runas estavam presentes na fenda, impedindo sua entrada.
“Bem, eu definitivamente quero conferir esse lugar. Mas nem violência nem teletransporte funcionam. Você acha que eles deixariam uma chave sobressalente por aqui?” Yin perguntou enquanto Lisandra balançava a cabeça.
“Duvido. Provavelmente é algo acessível apenas pelos membros mais altos, junto com o papa. Eu tenho uma ideia, mas pode doer. Apenas confie em mim, ok?” Lisandra deu de ombros e colocou a mão contra os portões.
Mordendo o lábio, ela liberou um pouco do selo de Beelzebub, fazendo um fluxo de energia destrutiva passar por seu braço.
Rangeu os dentes, permitindo que o selo se abrisse um pouco mais enquanto ela corroía as runas protetoras. Quando as runas foram destruídas, Lisandra imediatamente reativou o selo, interrompendo a propagação, mas mais de suas asas se tornaram negras. Quanto ao seu braço, a carne ao redor dele havia se desintegrado em cinzas e a cura foi desacelerada ao ponto de mal ser perceptível.
Antes que ela pudesse dizer algo, Yin se ajoelhou ao seu lado e começou a envolver o braço dela com um band-aid enquanto aplicava alguma cura. Yin não sabia muito sobre cura, mas como uma Fênix, seu poder naturalmente tinha a habilidade de curar.
Não era suficiente para curar a ferida, mas aliviava um pouco da dor.
“Você é uma idiota, igual à mamãe.” Yin suspirou enquanto Lisandra riu.
“Mas o caminho não está aberto agora? Vamos?”
Revirando os olhos, Yin assentiu e entrou com Lisandra.