“Mas isso é óbvio. É difícil encontrar itens com poderes elementais em qualquer outro lugar do continente, pensou Brett enquanto seguia Tarakhan.”
O elementalismo não era algo comum no mundo humano, mas os elementos existiam. Mesmo que o mundo não fosse composto por cinco elementos, como acreditavam os orcs, isso não mudava o fato de que o poder da origem era real.
No entanto, o elementalismo não era um assunto tão estudado quanto a magia, e o uso de objetos com poderes elementais, além de ser imprevisível, variava de usuário para usuário.
“Mas o Chefe Tribal acha que encontrou algo que vai servir para nós, então tenho certeza de que ele nos dará algo útil.”
Brett lançou um olhar para Judith. Ela ainda parecia chateada com ele e nem o olhava. Ele fez uma expressão amarga e murmurou consigo mesmo.
“Eu sei que preciso me acertar com ela, mas espero que isso a deixe um pouco melhor…”
Depois de alguns minutos, eles chegaram ao cofre do tesouro. Havia um portão de pedra sem ornamentos, com um aspecto simples. No entanto, quando Tarakhan colocou sua mão sobre o símbolo de uma palma, o portão brilhou intensamente e se transformou em uma entrada grandiosa que deixou todos impressionados.
Mas não podiam simplesmente ficar parados admirando. Tarakhan entrou, e os outros o seguiram. O portão então se fechou, como se não permitisse que mais ninguém entrasse. Dentro do cofre, diversos objetos, principalmente armas, os aguardavam. Havia um machado de batalha que parecia afiado como se tivesse sido amolado ontem, um martelo gigante que parecia exigir quatro homens adultos para manejá-lo, além de outras armas intimidadoras espalhadas pelo local. É claro, havia também várias armaduras que hipnotizaram a todos. No entanto, assim que Judith e Brett viram um par de espadas no centro, ficaram tão impressionados que esqueceram de tudo o mais que haviam visto.
— Os cinco elementos de que falamos, nós orcs, surgiram de duas forças gigantescas. Um lado representa a energia quente, como a luz do sol, enquanto o outro representa o frio, como as sombras. Essas duas forças colidem, mas às vezes dependem uma da outra para criar tudo neste mundo. Pelo menos, é isso que acreditamos… Mesmo que essa não seja a verdade absoluta, essas forças certamente existem. O lado quente chamamos de positivo, ou Yang, enquanto o lado frio chamamos de negativo, ou Yin — explicou Tarakhan.
— Por isso, chamamos essas espadas de Espada Yin e Yang. Ou… para ser mais intuitivo, também as chamamos de Azul e Vermelha. Na verdade, o último é mais fácil de dizer.
— Eu posso… tocá-la? — perguntou Judith.
Ela falou brevemente, mas foi suficiente para que sua voz tremesse. Ela não conseguiu conter a emoção. Nunca se entusiasmara tanto com nenhuma outra espada, mas agora sentia como se tivesse encontrado algo que fazia parte dela.
Tarakhan assentiu, e Judith segurou cuidadosamente a espada com o punho vermelho. Naquele momento, ao som de um fogo ardente, a lâmina ficou vermelha. Não era um vermelho escuro como sangue, mas brilhante e quente como o fogo.
Judith sentiu seu corpo inteiro aquecer enquanto Tarakhan falava com ela:
— Eu sabia que ela combinaria com você. Muitos guerreiros orcs, incluindo meu pai e eu, seguraram a Vermelha tentando torná-la nossa… mas nenhum de nós viu uma reação tão boa quanto agora.
— Você também quer segurá-la? — Tarakhan perguntou, voltando-se para Brett.
Brett, após o olhar de Tarakhan, pegou a espada com o punho azul. Com o som de um poderoso jato de água, uma energia refrescante preencheu todo o seu corpo. Ele ficou atordoado ao ver a lâmina ficando azul, enquanto o chefe sorria para eles.
— A Vermelha e a Azul pertencem a vocês agora — disse Tarakhan.
— Podemos realmente levar algo tão valioso-
— Uau! Muito obrigada!!! — a quase exclamação de Judith sobrepôs as palavras de Brett.
Brett olhou para ela, surpreso, mas não conseguiu dizer nada diante do olhar fervoroso e apaixonado de Judith. Tarakhan riu e continuou — Não vou pegar de volta. Não se preocupe.
— Mas…
— Está tudo bem. Como eu disse, não adianta se outra pessoa usá-la… Acho melhor pagar minha dívida com algo que não conseguimos usar por muito tempo.
Claro que isso não era verdade. Mesmo que a arma parecesse escolher seu portador, era certamente muito mais valiosa que a Espada Numerada de Vulcanus.
— Mas devo dizer que estou bastante surpreso. Meu irmão me disse que essas espadas combinariam com vocês dois, mas eu não esperava que fossem tão perfeitas.
“Não sou bom com elementalismo, afinal.” Tarakhan murmurou, o que fez as expressões de Brett e Judith ficarem complicadas. Eles perceberam o quanto Khubaru havia pensado neles.
“Espero que os negócios dele deem certo aqui…” pensou Brett.
“Ele parece estar bem com Tarakhan, então acho que está tudo bem? Karakhum parecia frio, mas parecia estar apenas fingindo ser assim”, pensou Judith.
Pensando no reencontro entre pai e filho, os dois ficaram parados no lugar, empunhando as espadas. Contudo, não permaneceram assim por muito tempo, pois Lulu, sentada nos ombros de Airen, lhes disse para se apressarem.
— Eu também quero algo assim!
Ela mal conseguia se manter acordado devido aos efeitos da transmutação, mas quando Judith e Brett ganharam algo para surpreender todos, os olhos de Lulu brilharam como sempre faziam.
— Depressa! Depressa!
Tarakhan riu da gata, que implorava por um presente.
— Claro. Vocês também deveriam escolher algo para vocês. Mas não posso escolher algo como essas duas espadas, então sintam-se à vontade para procurar e pegar o que quiserem.
— Posso pegar dois? — perguntou Lulu.
— Não, não pode.
Tarakhan recusou com firmeza, fazendo Lulu abaixar a cabeça, desanimada. Mas logo voltou ao normal e começou a vasculhar o cofre.
— Isso é pesado demais. Isso é afiado demais! Não tem nada que não seja uma arma? Oh! Isso é bonito! — gritou Lulu enquanto procurava.
— Deveríamos… dar uma olhada também? — perguntou Illia a Airen.
— Sim.
— Aviso se encontrar algo que combine com vocês dois — disse Brett.
— Deixe-me procurar também — disse Judith.
Os quatro se espalharam pelo cofre, transformando tudo numa caça ao tesouro para Airen e Illia. No entanto, Airen não esperava muito, pois não era ganancioso, e a única coisa que realmente precisava era de uma arma, mas ele já tinha uma espada excepcional.
“Deveria procurar alguma armadura, então?”
Ele olhou ao redor, perdido nesses pensamentos, mas não conseguiu encontrar nada que combinasse com ele. Sua armadura de couro já era excelente, feita por Vulcanus, e as armaduras disponíveis ali eram simplesmente grandes demais. Eram feitas para guerreiros orcs, então era difícil encontrar o tamanho certo. Sem grandes expectativas, Airen vasculhou o local de forma distraída. Logo, no entanto, algo chamou sua atenção, um colar.
Não parecia nada especial. Apesar de ser uma peça delicada e de excelente trabalho artesanal, era apenas uma pedra redonda sem adornos extravagantes ou brilho que a qualificasse como joia. Mesmo assim, o colar parecia atrair sua atenção.
“Deveria chamar isso de intuição de feiticeiro?”
Airen sentiu-se embaraçado ao pensar em si mesmo como feiticeiro, mas acreditava que, se tinha esse pressentimento, o colar devia ter algo de especial. E não era só isso. Lulu, que se aproximara dele, também observou o colar atentamente e falou com certeza.
— Você deveria pegar isso, Airen.
— Você consegue dizer o que é? — perguntou ele.
— Não. É só um palpite. Sinto que isso seria bom para você.
Essas palavras aumentaram ainda mais o interesse de Airen, especialmente vindo de alguém tão poderosa quanto Lulu. Ele então se voltou para Tarakhan em busca de uma explicação. O chefe hesitou antes de responder, franzindo a testa.
— Não lembro exatamente… mas ouvi dizer que pertencia a um elementarista que também era oráculo, de uma época muito remota. Sim, tenho certeza disso.
— Tem algo especial nele, como a Espada Yin e Yang? — perguntou Airen.
— Nada de que eu me lembre… Acho que ele já teve o poder dos cinco elementos, mas isso foi há muito tempo. Está velho demais para ainda conter tal poder. Então, não o recomendaria, mas… — Tarakhan lançou um olhar a Lulu antes de continuar. — Se a feiticeira que enfrentou meu pai de frente está tão certa, você deveria pegar, se quiser.
— Hehe, hehehe.
Lulu, que considerou as palavras de Tarakhan como um elogio, deu piruetas no ar antes de pegar o colar e colocá-lo no pescoço de Airen. O colar era simples e nada vistoso. Quase parecia modesto demais para ser um item retirado de um cofre do tesouro. Mas, ao colocá-lo, Airen sentiu algo muito reconfortante.
— Posso brincar com isso por um tempo? — perguntou Lulu.
— O colar? — respondeu Airen.
— Sim. Acho que posso descobrir algo se usá-lo quando me transformar.
— Claro.
— Hmm, isso também me deixa curioso, Srta. Gata — disse Tarakhan.
— Meu nome é Lulu!
— Ah, desculpe por isso. Lulu, você pode me contar o segredo do colar quando descobrir?
— Claro! Vou contar depois que descobrir. Mas vou contar para Airen primeiro.
— Haha, entendido.
Tarakhan assentiu, satisfeito. Lulu deu mais algumas voltas no ar, animada, antes de sair em busca de seu próprio tesouro. Cerca de trinta minutos depois, Illia e Lulu também escolheram seus presentes. Então Tarakhan fechou o cofre e se dirigiu ao grupo.
— Foi bom vê-los. Eu gostaria de passar mais tempo conversando, mas, por favor, entendam que tenho deveres a cumprir.
Era algo óbvio. O irmão de Tarakhan havia retornado a Durcali após dezessete anos, e o chefe tribal já estava grato por ter passado tanto tempo com eles antes de ir vê-lo. Airen e os amigos agradeceram pela hospitalidade de Tarakhan, voltaram para seus quartos, conversaram brevemente e, então, foram dormir. Mas nem todos conseguiram adormecer imediatamente.
Illia não conseguia dormir.
“Qual espada me serviria…?”
Airen tinha a espada larga dourada, Brett possuía a Azul e Judith, a Vermelha. Enquanto os três encontraram espadas que pareciam feitas para eles, Illia não encontrou nada assim. Acabara pegando uma adaga bonita do cofre, já que não achou outra coisa. Mas não era apenas sobre a espada em si. Diferente dos outros três, ela sentia que estava desperdiçando tempo por não decidir seu próprio caminho.
“Lulu me disse para esvaziar minha mente se me sentisse assim…”
Mas era mais fácil falar do que fazer. Illia pensou muito sobre isso e adormeceu bem tarde. Então, sonhou com o misterioso professor oráculo de quem Khubaru havia falado. No sonho, o orc tinha um sorriso sereno que acentuava suas rugas enquanto ouvia atentamente os vários dilemas de Illia. Ele lhe deu uma solução, e ela acordou sentindo-se revigorada, como se algo que a atormentava tivesse desaparecido. Mas, ao mesmo tempo, sorriu amargamente.
“Não me lembro de nada do que conversamos no sonho.”
Como a maioria dos sonhos, a doçura era tão preciosa que ela se sentiu desapontada.
Mas isso também a fez criar expectativas em relação ao professor de Khubaru. Embora não acreditasse em adivinhação, sentia que precisava de algo em que se apoiar. No entanto…
— Disseram-me que meu professor faleceu há um ano…
Quando Khubaru lhes contou a verdade pela manhã, Illia sentiu um vazio ainda maior.