— Hah…!
Os guerreiros orcs explodiram em gargalhadas ao ouvir o que a humana ruiva disse. Eles eram guerreiros sob o comando de Gunt, o terceiro filho do Mestre Halifa, que não gostava do retorno de Khubaru a Durcali. Não conseguiam compreender que o motivo do retorno era, pura e simplesmente, o amor pela família.
Por isso, acreditavam que Khubaru tinha outro objetivo ao voltar para a tribo, o que os fazia desprezar os humanos à sua frente. E isso era ainda mais intenso porque ela não era uma orc. Mas não podiam ameaçá-los ou feri-los diretamente, já que o chefe da tribo, Tarakhan, e o Grande Guerreiro Karakhum haviam permitido sua estadia. Assim, tudo o que podiam fazer com os convidados formais da tribo era zombar deles em orc ou rir na cara deles.
“Mas se ela quer, então ela terá.”
Os guerreiros orcs trocaram olhares. Um deles, o orc careca, sorriu de forma maliciosa e caminhou para frente. Então perguntou a Judith.
— Tem certeza de que não vai se arrepender do que acabou de dizer?
— Por que me arrependeria? Vamos lutar… resolver isso de uma vez… e acabar com essa besteira de uma vez por todas. Certo? É só isso que quero.
— Haha, você é mais corajosa do que parece.
— E você é mais mesquinho do que aparenta. Vive se gabando de descendência de guerreiros e essa baboseira toda, mas espera alguém tomar a decisão por você enquanto fala pelas costas?
— O quê? Você…
— Enfim.
Judith interrompeu o orc careca, fincando sua espada no chão. Depois, estendeu a mão com a palma virada para cima e fez um gesto para que ele atacasse.
— Pare de tagarelar e venha. Por que não usamos os punhos? — ela disse.
— Punhos?
— É. Vou me sentir melhor derrotando você com as mãos do que com a espada.
— Hah…
— O quê, está com medo? É tão tolo que ficaria assustado com uma plebeia sem linhagem nobre?
O orc careca não respondeu. Em vez disso, entregou sua arma a seus companheiros e caminhou em direção a ela. A raiva contida fazia seus olhos brilharem intensamente. Judith sorriu para ele, e então o orc careca desferiu um soco contra seu rosto.
Era tão poderoso que o vento parecia ser cortado, força suficiente para destruir a cabeça de um humano comum. Mas o orc não se preocupou com as consequências, focando apenas em esmagar a ‘insolente’ à sua frente. No entanto, ele não conseguiu realizar esse desejo. Antes que o golpe pudesse acertá-la, Judith rapidamente se abaixou, desviando, e avançou contra ele.
“O quê…?” O orc careca franziu o cenho ao perder o alvo. Judith, muito menor que ele, mergulhando abaixo e avançando, fez parecer que ela havia desaparecido de sua vista. Quando sentiu sua presença abaixo e olhou para baixo, já era tarde demais. O golpe poderoso da humana ruiva atingiu seu abdômen esquerdo.
— Argh…ugh…
O orc careca desmaiou com um único golpe no corpo e caiu para frente. Judith girou os ombros, lançando o oponente alguns metros de distância. Tudo aconteceu em meros segundos após o início da luta. Ainda com uma expressão inabalável, Judith olhou para os outros orcs e perguntou.
— Mais alguém?
— Estou me sentindo um pouco melhor, mas ainda estou estressada. Quero aliviar mais um pouco…
“Ela estava escondendo suas habilidades…!” Os guerreiros orcs ficaram frustrados ao perceber suas capacidades. Tinham ouvido dizer que os humanos trazidos por Khubaru eram fortes. O humano de cabelo prateado era descendente dos Lindsay, e os outros também tinham linhagens nobres ou níveis poderosos de maestria na espada. Mas a humana ruiva não parecia impressionante aos olhos deles, então a subestimaram. Achavam que ela era a mais fraca entre os quatro aprendizes… mas perceberam que estavam errados.
— O quê, ninguém?
A humana ruiva inclinou a cabeça como se estivesse genuinamente curiosa. Mas a aura feroz que emanava era ameaçadora. Os orcs finalmente entenderam com quem estavam lidando e começaram a suar, mas nenhum ousou avançar.
Ainda assim, não podiam ficar parados depois que Judith provocou novamente.
— Que decepção. Eu nem teria vindo a Durcali se soubesse que todos os guerreiros orcs eram covardes e fracotes.
— Sua…
— Chega — disse uma voz.
Os guerreiros pararam de avançar diante da zombaria quando um homem gigantesco apareceu e deu a ordem. Ele era uma cabeça mais alto que os outros orcs e tinha um peito robusto. O orc, cuja simples presença era intimidadora, falou com Judith.
— Eu sou Gunt, líder do Batalhão do Machado Vermelho.
“Gunt.” Judith conhecia aquele nome. Era um dos nomes que Khubaru havia dito para ela tomar cuidado. Ela se lembrava dele como o terceiro filho da figura política mais influente, Halifa. No mundo humano, Gunt seria considerado um nobre. Mas ela não se intimidou diante de sua posição.
— Certo, Gunt. Sou Judith, como você provavelmente já sabe.
As palavras casuais de Judith fizeram as sobrancelhas de Gunt se contraírem. Uma aura feroz começou a se espalhar dele enquanto ele encarava Judith. O ar ficou pesado de imediato, mas Gunt não se deixou levar pela raiva. Permaneceu parado por um momento, então falou calmamente.
— Tenho duas coisas para dizer.
— Ah, estou curiosa. Pode falar. Posso ouvir mais, se quiser.
— Primeiro. Não sei o que você estava pensando, mas suas ações causarão problemas. Lorde Khubaru ficará em uma posição delicada por causa disso — disse Gunt.
— Acho que não. Pergunte aos seus homens. Nós apenas decidimos duelar de forma limpa, sem toda essa politicagem.
— Não finja que não tem ideia. Tenho certeza de que, como um ser civilizado, você deve saber as consequências de suas ações. Já que decidiu seguir em frente mesmo assim, deve arcar com a responsabilidade. Não acha?
— Ah, falamos sobre isso depois. Qual é a segunda coisa?
— Segunda. Você insultou toda a tribo orc. Isso é algo que eu, como um guerreiro honorável de Durcali, não posso ignorar. Você terá que assumir a responsabilidade por suas palavras precipitadas, então fique onde está e não fuja.
O corpo de Gunt começou a liberar uma aura poderosa assim que terminou de falar.
Era tão feroz e assustadora que até os orcs atrás dele recuaram. Era a aura de um guerreiro de alto nível, digna de um descendente do herói que matou tantos demônios e diabos no passado.
— Hmph.
Mas Judith nem se mexeu. Casual, ela coçou o queixo enquanto pensava. Gunt e seus homens pareceram surpresos, mas aquilo não foi tudo. Ela assentiu duas vezes, como se tivesse terminado de pensar, e disse o que havia decidido.
— Pare com essa baboseira.
— O quê… você acabou de dizer?
— Eu disse, baboseira. Por quê? Acha que não é?
— O que te faz pensar que pode continuar nos provocando assim…
— Ah, cala a boca. Apenas me escute primeiro. Esperei enquanto você dizia toda essa baboseira, então agora você me escuta primeiro e fala depois. Entendeu?
Judith acenou com a mão, com uma expressão de desgosto, como se realmente odiasse ouvir aquilo. Gunt sentiu vontade de atacá-la imediatamente, mas ela já havia assumido o controle da situação. Então, ela pigarreou e disse rapidamente o que tinha em mente.
— Primeiro. Se você quer me culpar por agir como se não soubesse de nada, fale isso primeiro para os seus homens. Passei uma semana ouvindo eles falando merda pelas minhas costas. Se você é um orc civilizado, não deveria me ameaçar usando Khubaru, mas sim vir até aqui e pedir desculpas.
— Segundo, eu zombei de toda a tribo orc? Certo. Mas é a verdade. Vocês orcs tiveram medo de arrumar briga com Lindsay ou Lloyd, mas vêm até mim e despejam porcaria enquanto se gabam de honra e glória de guerreiros? E então ficam apavorados com um único soco. Como isso não é lamentável?
— Concordo que meus homens mostraram certa mediocridade, mas isso não é suficiente para zombar de toda a tribo orc…
— Ah, eles foram idiotas porque o líder deles é um idiota! Você soa tão patético quanto eles. Vocês não são descendentes dos heróis antigos? Descendentes dos matadores de demônios?
— Vocês se acham grandes guerreiros, com uma linhagem incrível, e não acham que todas as suas ações representam os orcs? Que ridículo.
“O que diabos deu nela?” Brett olhava atônito para Judith, falando de forma tão tranquila. Ela nunca foi boa em discussões. Sempre partia para os punhos quando discutia com ele, porque não tinha como argumentar. Mas agora era diferente. Será que ela vinha se preparando para isso há alguns dias? Ou será que os orcs à sua frente eram tão idiotas?
“Ou será que é um pouco dos dois?” Brett não fazia ideia, mas isso não importava. Ninguém mais podia parar o avanço de Judith. Ela continuou a zombar de Gunt.
— Você me perguntou se não me preocupo com Khubaru? Claro que me preocupo. É por isso que me segurei por uma semana. Eu teria esmagado todas as suas cabeças se não fosse por isso. Mas sabe de uma coisa? Estou cansada disso. Na verdade, devo falar em nome do Khubaru. Seus imbecis. A honra de um guerreiro não vem automaticamente por serem descendentes. Depende de como vocês pensam e agem. Se querem ser respeitados, ajam como tal. Não fiquem falando pelas costas e se acovardando como cachorros porque sou mais forte do que vocês, destruindo a fama dos seus ancestrais. Se não gostam de mim, venham e falem. Ou me desafiem.
— Ah, e vou dizer, só para garantir que entendam. Vocês perguntaram por que eu disse que sinto pena do Khubaru? Porque ele voltou depois de dezessete anos, e sua casa está cheia de idiotas como vocês. Isso me dá vontade de chorar. Entenderam? Agora parem com a baboseira e sumam daqui. Pensem por si mesmos. Pensem no que é ser um verdadeiro guerreiro e se recomponham. Certo? Vão fazer isso.
Os guerreiros orcs ficaram sérios diante da torrente de zombarias de Judith, especialmente Gunt, cujos olhos demonstravam uma fúria prestes a explodir. Na verdade, ele pensava se deveria lidar com aquela humana arrogante ali mesmo. Mas, ao ver os outros três espadachins caminhando em direção a eles, teve que adiar seus pensamentos.
A espadachim de cabelos prateados aproximou-se com uma aura tempestuosa. O espadachim loiro veio com uma presença sólida como aço. E, por último, o espadachim de cabelos azuis trazia uma raiva fria enquanto se aproximava.
Gunt deu um passo para trás, temendo o olhar de Brett, e enrubesceu de vergonha. Foi quando um mensageiro orc entrou correndo no campo de treinamento. Ele trouxe uma mensagem tão chocante que interrompeu todos de uma vez.
— O professor de Khubaru…
— Ele ressuscitou?!
— Não, ele não ressuscitou, mas, er…é algo parecido. D-Desculpe, senhor. Não sei como explicar…
O mensageiro, desesperado, passou a mensagem. Gunt o observava com a testa franzida e falou em voz baixa.
— Leve-me até lá.
— S-Sim, senhor. E os convidados humanos também devem vir…
Os quatro aprendizes trocaram olhares e assentiram. Orcs e humanos seguiram rapidamente o mensageiro, tomados pela curiosidade.