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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 172

A Vida Passada (2)
1.

— Nós não rejeitamos forasteiros, então fique à vontade aqui. Se precisar de algo, é só pedir.

Foi o que o chefe da vila me disse. Apenas assenti diante de suas palavras, que não eram tão gentis, mas tampouco frias. Tive de agradecer por isso, comparado ao tratamento que recebi nos últimos três anos. Ninguém me acolheu após descobrirem que me tornei alvo do bufão, nem dentro da minha propriedade, nem fora dela. Esse também foi o motivo de eu tentar me estabelecer no profundo da cordilheira.

— Espero que as pessoas daqui não me reconheçam…

Algumas crianças da vila me observavam à distância. Não dei muita atenção a elas. Em vez disso, fui até uma casa abandonada, desfiz minha bagagem e peguei uma espada. Era uma espada larga. Três anos atrás, eu não teria sido capaz de empunhá-la, mas agora eu consigo.

Balancei, e balancei novamente. Fiz isso até ser capaz de desferir um golpe de espada mais poderoso e até ser capaz de cortar o diabo do sul. Até então, não sairei deste lugar. Com essa promessa, continuei a brandir a espada.

2.

Um mês se passou. Nada mudou. Continuei balançando minha espada enquanto a vila permanecia pacífica. A única diferença era que as crianças que costumavam espiar por cima da cerca, curiosas, agora tinham sumido. Era triste que minhas habilidades em esgrima ainda fossem uma das poucas coisas que não haviam mudado, mas eu já estava acostumado. Sem expectativas ou decepções, balancei minha espada do amanhecer ao anoitecer. E os dias continuaram passando.

3.

Dois meses se passaram. Continuei treinando minha esgrima. Nunca saí de casa. Quando cheguei aqui, paguei ao chefe da vila, então ele providenciava tudo de que eu precisava para sobreviver. A única coisa que eu precisava fazer era balançar minha espada.

Eu a balancei horizontalmente e verticalmente. Era apenas um movimento simples, que nem sequer poderia ser chamado de técnica de esgrima. Mas eu não tinha escolha. O rumor se espalhou por toda parte, e nenhum espadachim ousou me ensinar, temendo o bufão.

Mas tudo bem. Não, na verdade, não estava tudo bem, mas não importava. Eu passei a depender do ato de brandir a espada para sobreviver. Assim, enquanto soltava a dor ardente que fervia dentro de mim, golpeei a espada novamente.

Com isso, destruí uma ilusão de meu leal servo, que me rejeitara no castelo.

4.

Quatro meses se passaram. Eu ainda treinava esgrima, e a vila parou de prestar atenção em mim. Exceto por um homem que espiou por cima da cerca há alguns dias, ninguém mais vinha até mim. Mas isso não importava. Na verdade, era até melhor assim. Enquanto observava o crepúsculo me envolver, apertei o cabo da espada larga. Logo, muitas pessoas surgiram da escuridão. Todas usavam a máscara do bufão, apontando os dedos para mim.

— Seu imundo escravo do diabo!

— Seu bastardo egoísta! Estaremos em perigo se você tentar fazer qualquer coisa!

— Eu não posso… ensinar-lhe esgrima. Desculpe.

— Cai fora. Você não é mais o nosso lorde! Vá embora!

Balancei minha espada contra eles sem hesitar, enquanto surgiam infinitamente da escuridão. Mesmo esmagando seus crânios e cortando braços e pernas, eles não paravam de me zombar. Eu desprezava os olhos por trás das máscaras quebradas. Continuei a balançar minha espada, sem poder me dar ao luxo de cair de exaustão, até que a manhã chegou.

— Argh, hah, argh!

Não sabia se aquilo era um truque do bufão ou uma ilusão nascida do ódio que nutria por aquele bastardo. De qualquer forma, era evidente que eu estava enlouquecendo. Mesmo assim, ri. Fazia tempo desde a última vez que ri. A raiva pelo meu povo que me abandonou, a tristeza por ter sido rejeitado pelos espadachins, a fúria contra o diabo e o ódio pelo mundo tornaram-se o combustível que me impulsionava a seguir em frente.

Eu balancei minha espada até cair de exaustão. Nem percebia mais como o tempo voava enquanto continuava.

5.

O tempo passou. Não sabia quanto, e não tinha como saber. Mas o importante era que eu havia me tornado melhor na esgrima. Ainda só sabia balançar a espada horizontalmente, verticalmente e em ângulo, mas o poder era diferente. Antes, precisava desferir três ou quatro golpes, e as ilusões ainda permaneciam. Agora, eu conseguia cortá-las com apenas um. A satisfação me fazia continuar.

Cortei a cabeça dos homens que me expulsaram e da mulher que apontou o dedo para mim enquanto se escondia atrás do marido. Cortei também o caçador que não tentou me impedir de partir e o espadachim que se recusou a me ensinar.

Eu sabia que nunca seria capaz de matar o bufão. Sabia desde o início que era impossível. Nunca conseguiria fazer o que os heróis do continente falharam em realizar.

Mesmo assim, ri. Estava empolgado. E enquanto desferia um golpe de espada, gargalhando, esmaguei outro bufão. Meus olhos, instintivamente, buscaram o rosto sob a máscara. Quem seria desta vez? Seria o velho que zombou de mim, pensando apenas em sua família egoísta? Ou o cavaleiro veterano que me encarou com olhos frios?

A máscara se despedaçou, e eu vi o rosto por baixo dela. Pela primeira vez, deixei cair a espada e fiquei imóvel por muito tempo.

Surpreso? Você parece surpreso. Não fique tão chocado, meu caro.

Outro zombou de mim por estar chocado. Ao ouvir sua risada, só pude fazer uma coisa. Agarrei minha espada e esmaguei a minha própria cabeça.

6.

O tempo passou novamente. Não, ele passou demais. Não sabia dizer quantos anos haviam se passado, pois não estava em um estado onde pudesse pensar sobre isso. Os bufões ainda apareciam sem parar, e mais deles eram eu conforme o número aumentava. Lutando contra eles, mal conseguia me dar conta do tempo, então também continuei a brandir minha espada hoje.

Destruí cinco ou seis bufões com apenas um golpe e mais de dez ilusões com o segundo. Mas não terminava. Os bufões continuavam a aparecer. Agora, surgiam o dia inteiro e durante toda a noite. Ao cair do crepúsculo ou na escuridão, caso houvesse sombra, a ilusão surgia para zombar e rir de mim sem descanso. A fúria me forçava a continuar brandindo minha espada sem parar.

— Você não está cansado?

Uma voz inocente perfurou o mar de olhares hostis. Instintivamente, virei-me na direção de onde veio. Não era um bufão. Uma criança com olhos inocentes e um rosto pueril olhava para mim com uma face descoberta, segurando uma flor em mãos.

— Aqui, é para você.

A criança não ficou muito tempo, pois sua mãe veio correndo e a puxou pela mão. Ela parecia temer olhar nos meus olhos, mantendo a cabeça baixa enquanto desaparecia junto com a criança. A porta, que eu não havia notado aberta, se fechou com força, e fiquei sozinho mais uma vez. Mas desta vez, eu não me sentia solitário.

Olhei na direção para onde a criança havia ido. Então lentamente, olhei para baixo, para a flor. Consegui imaginar novamente os olhos da criança enquanto sentia o aroma fresco da flor.

Era familiar. Pensei longamente sobre onde havia sentido aquilo antes, mas não consegui me lembrar. Peguei minha espada novamente. Pela primeira vez, peguei a espada sem realmente querer. Isso não era típico de mim, alguém que enlouqueceu por dez ou mais anos. Mas meu corpo ainda se movia por conta própria. Assim, preparei-me para lutar contra as ilusões mais uma vez.

Mas não havia mais bufões. E… pela primeira vez em muito tempo, consegui focar no meu treinamento com a mente limpa.

7.

O tempo passou. Já fazia muito mais tempo que vivi aqui do que o período desde que deixei minha propriedade e cheguei. Durante décadas, brandi minha espada sem parar.

Eu não estava solitário. As ilusões, que haviam desaparecido brevemente, retornaram ao cair do crepúsculo, aparecendo agora sem parar para zombar de mim. Porém, eu já não sentia nada das máscaras que surgiam sem fim ao meu redor. Sim. Não estava solitário por causa da ilusão da frieza do mundo. Virei as costas para os bufões e fechei os olhos lentamente, pensando nas coisas que havia esquecido.

Pensei em meus pais, que haviam morrido de doença quando eu era jovem, com seus sorrisos benevolentes. Pensei em minha esposa, com seu olhar carinhoso, que cuidava de mim com amor. Então, pensei em meu adorável filho, com olhos inocentes, que nascera dois anos depois. Também me lembrei da garota que me deu a flor, que provavelmente havia crescido e ajudado minha mente a voltar dos pensamentos negativos.

— Haaah…

Então, abri os olhos com um longo suspiro. Nada havia mudado. Incontáveis ilusões tomavam forma nas pessoas que me fizeram sofrer com suas máscaras, erguendo suas vozes. Mas estava tudo bem. Respirei fundo e soltei o ar. Minha mente clareou com o frescor da noite.

Dei um passo firme à frente, contra a escuridão repleta de zombarias.

— Desgraçado! Morra sozinho! Não nos arraste para sua missão suicida!

Eu podia ouvir o velho que me encarou no passado. Não o cortei, apenas passei por ele.

— Idiota! Não é culpa nossa que sua esposa e seu filho morreram. A culpa é sua! Você poderia ter salvo pelo menos um deles se não tivesse hesitado!

Eu podia ouvir a voz de outro eu, que me causava uma dor ainda maior. Mas desta vez, também, apenas passei por ela sem brandir minha espada. Então, incontáveis ilusões bloquearam meu caminho novamente. Os bufões, cheios de raiva, ódio e medo, me encaravam e me atingiam como flechas. Ignorei tudo isso e mantive minha firme caminhada. A cada passo, senti a raiva dentro de mim se dissipar. Finalmente, estava livre da minha velha obsessão.

Por fim, cheguei ao final, em um lugar imundo, onde ossos e carne humana cobriam o chão como um tapete. Alguém estava no centro. Era o bufão novamente. Mas desta vez, eu não tinha a intenção de passar por ele. Minha voz, que não havia ecoado há muito tempo, atingiu seus ouvidos.

— Aqui não é o sul, mas vim até você.

“Como você…?!”

A voz do diabo bufão tornou-se choque e raiva. Eu ri com desdém. Eu podia ver claramente sua expressão surpresa sob a máscara. Ao deixar de lado minha obsessão e ódio pelo mundo, a máscara e a escuridão ao seu redor não podiam mais escondê-lo. Mas não queria olhar para ele por muito tempo. Então desferi minha espada como um trovão, esmagando o corpo do diabo bufão. Naquele momento, a essência de minhas décadas de treinamento veio à tona na forma de um feixe prateado de luz que se espalhou à frente.

— Aaaaaaaargh!

Ouvi o grito que perfurou meus ouvidos. Meu ataque facilmente dissipou a contraofensiva dele e cortou seu corpo revestido de ferro. Seu rosto terrível, meio exposto pela máscara esmagada, contorceu-se de maneira ainda mais repugnante. Seus olhos cheios de ódio, similares ao meu antigo ressentimento contra o mundo, ou talvez piores, miraram em mim. Mas o diabo bufão não tentou revidar. Em vez disso, deixou escapar um medo que não pôde esconder enquanto se refugiava nas profundezas da escuridão.

Eu assenti e caminhei para frente, tentando cortar sua garganta enquanto segurava a luz refinada como metal.

Não, eu tentei.

Mas não consegui. Achei que estava em minha melhor condição. Minha espada talvez não fosse radiante, mas era impecavelmente poderosa, e minha mente, livre da longa jornada de dúvidas, estava sólida. Eu tinha confiança de que, não importava quão forte fosse o espadachim ou o diabo que viesse contra mim, eu não perderia. Meu corpo precisava conter isso e usá-lo, mas falhou. Meus olhos se voltaram para a lâmina da espada, e ao ver o reflexo do meu rosto enrugado, caí de joelhos em decepção.

Enquanto me apoiava na espada cravada no chão, encarei a escuridão onde o bufão havia desaparecido. Não foi por ódio contra ele ou tristeza pelo mundo. Quem corrigiu minha tolice e me deu o poder para ferir o diabo bufão como ninguém jamais conseguiu foi…

“Não uma espada forjada de raiva e ódio…”

Mas a bondade inocente da flor que a menina me deu. O arrependimento por perceber isso tarde demais tomou conta do meu corpo.

— Hah… hah…

Senti minha vida se esvaindo. Era difícil até mesmo respirar ou pensar. Era uma pena. Estava indefeso, mas queria compartilhar meu despertar com alguém, desejando que ninguém acabasse como eu novamente. Então, mesmo sabendo que não era possível, implorei como uma criança que meu desejo alcançasse o céu.

“Mesmo que isso seja uma falsa esperança…”

Não importava se fosse uma tentativa desesperada de um homem moribundo. Se meu legado, minha vontade, pudesse ser passada para alguém, apenas se fosse possível…

Airen Farreira abriu os olhos. Ele não foi o único. Todos despertaram da consciência de Gurgar e encaravam o vazio em silêncio. Judith tinha a cabeça baixa, chorando. Airen lentamente olhou para seus preciosos amigos, Lulu, Brett, Illia e Khubaru. Então, levantou-se calmamente e saiu da tenda. Gorha e Karakhum, que aguardavam, o observaram e se levantaram imediatamente.

Airen e Karakhum trocaram olhares sem dizer nada, enquanto Gorha ficou nervoso com a cena. Mas os dois não se importaram. Airen observou o orc por um longo tempo e, finalmente, falou.

— Peço uma lição de duelo, senhor.

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