O que Grent e os outros examinadores não sabiam era que, dentro do escritório do Reitor, dois homens estavam sentados lado a lado, observando um cristal de visão à sua frente.
Ambos haviam testemunhado a batalha entre William e Psoglav. Embora esse combate não significasse muito para homens do nível deles, ainda assim, não puderam deixar de ficar impressionados com o desfecho da luta.
“Então, o que acha, Diretor?”
“Acho que seria um desperdício para a Academia Real reprovar um garoto tão interessante. Não é todo dia que um jovem de quatorze anos consegue enfrentar um dos Governantes da Floresta e viver para contar a história.”
O homem vestindo roupas simples se levantou do assento e caminhou até a porta. “Mantenha um olho nele por mim, sim?”
“Como desejar, Vossa Majestade.” O Reitor fez um breve aceno de cabeça em sinal de reconhecimento.
Após o homem deixar a sala, uma dúzia de guardas surgiu do nada e o cercou dos dois lados. Ele continuou caminhando enquanto se lembrava das palavras que Est dissera alguns anos atrás.
“Pai, eu teria falhado na Prova se não tivesse recebido a ajuda de um garoto que conheci durante minha jornada até o templo”, disse Est com um sorriso gentil. “O nome dele é William, William Von Ainsworth.”
“Que tipo de garoto ele é?” o homem perguntou, ouvindo atentamente à explicação de Est.
“Narcisista, mas gentil”, respondeu Est. “Um garoto muito misterioso que salvou minha vida duas vezes. A primeira de um Troll da Montanha, a segunda de um Ciclope. Não teríamos recebido a bênção de Lady Astrid sem o sacrifício dele.”
“Parece um garoto interessante.” O homem riu. “Vou pensar em uma recompensa adequada quando o encontrar. Por ora, mantenha sua conexão com ele, entendeu?”
“Sim, pai.”
“Mmm.”
O homem deixou a academia por um corredor secreto reservado para pessoas de sua posição.
Um homem de meia-idade, vestido com roupas de mordomo, curvou-se e o recebeu com um sorriso quando seu Mestre saiu pelo caminho oculto.
O mordomo então o guiou até uma carruagem simples. Nenhuma palavra foi dita entre eles, pois o mordomo já sabia para onde seu Mestre queria ir. Assim que o homem entrou na carruagem, os guardas que o acompanhavam se dispersaram.
Eles não haviam ido embora. Em vez disso, protegiam-no das sombras.
Enquanto apoiava a cabeça na janela da carruagem, o homem relembrou a determinação inabalável de William. Também havia visto como o garoto ajudou as outras crianças a passarem na segunda prova, mantendo sua identidade em segredo.
Somente isso já foi o suficiente para o homem entender que William não buscava elogios ou reconhecimento. Ele apenas fazia o que queria e ia embora, como se fosse um mero estranho de passagem.
‘Que sujeito interessante’, pensou o homem enquanto observava a paisagem pela janela da carruagem. ‘Você conheceu alguém bastante capaz, Est.’
Quando William abriu os olhos, encontrou-se em um lugar desconhecido. Ele não estava mais dentro da floresta, mas deitado em uma cama confortável, em um quarto com aroma de rosas.
Sua mão se moveu instintivamente até a cintura, onde havia sido ferido por Psoglav. No entanto, ele não sentiu mais dor naquela área, o que significava que seu ferimento havia sido curado.
William soltou um suspiro de alívio enquanto se erguia na cama. O céu do lado de fora da janela já estava escuro, indicando que a noite havia chegado.
‘O que aconteceu durante a prova? Eu falhei?’ William franziu a testa, pois não conseguia se lembrar de nada depois de encarar o Macaco Infernal Diabólico. Foi então que se lembrou de algo muito importante.
‘Espera, onde está a Mamãe?!’
William olhou ao redor do quarto, mas não viu sua amada mãe. Ele estava prestes a se levantar para ir até a porta quando esta se abriu sozinha.
“Finalmente acordou?” Est disse com um sorriso. “Achei que você ficaria inconsciente por alguns dias. Parece que os curandeiros da Academia Real são bastante competentes.”
“Est. Onde está a Mamãe Ella?” William fitou o garoto familiar à sua frente. “Para onde a academia a levou?”
“Relaxe”, respondeu Est enquanto caminhava até a cama. “Ella acordou duas horas atrás. Ian está cuidando dela nos estábulos da academia. Ela já se recuperou dos ferimentos e, pelo que percebi pelas ações dela, estava muito preocupada com você.”
Est observou o garoto ruivo, que parecia ter recuperado a calma. Sentiu-se um pouco invejoso, pois a primeira coisa que William perguntou foi sobre sua Mamãe Cabra, ao invés de questionar por que estava ali.
“Que bom saber disso. Por favor, me leve até ela”, William implorou. “Mamãe continuará ansiosa se não me vir o mais rápido possível.”
“É Ella quem está ansiosa ou é você?”
“Sou eu quem está ansioso.”
“Hah~” Est suspirou. “Tudo bem, venha comigo. Vou te levar aos estábulos.”
“Obrigado, Est.” William sorriu.
Seu sorriso era tão radiante que fez o coração de Est disparar. Para esconder seu constrangimento, ele seguiu direto para a porta sem olhar para trás. William apressou-se para acompanhá-lo.
Os dois caminharam por um vasto corredor sem trocar palavras. Dez minutos depois, chegaram ao destino.
William imediatamente sentiu a presença de sua Mamãe, e ela também sentiu a dele.
Ella se levantou de um salto e correu até William.
William riu e também correu de braços abertos. O garoto de cabelos ruivos envolveu os braços ao redor do pescoço de Ella e beijou o lado do rosto dela. Ella retribuiu o carinho de seu bebê lambendo o lado de seu rosto.
Est, Ian e Isaac assistiram àquele reencontro emocionante com sorrisos nos rostos. Os três sabiam que William e Ella eram próximos, mas nenhum deles tinha ideia do quão forte era o laço entre os dois.
Cinco minutos se passaram, e os dois ainda estavam presos no abraço um do outro. Est não teve escolha a não ser pigarrear para chamar a atenção de William.
“Você parece tão despreocupado e ainda assim não sabe se falhou ou não nos exames de admissão,” provocou Est.
“Ah!” William virou a cabeça para olhar para Est. “Eu falhei?”
“O que você acha?” Est arqueou uma sobrancelha.
“Acho que você me dará uma resposta se eu disser por favor?” William coçou a cabeça, envergonhado.
“Bem, parabéns. Você não falhou,” respondeu Est. No entanto, antes que William pudesse se sentir aliviado, Est acrescentou outra frase. “Mas você também não passou.”
“Eh?” William franziu a testa. “Como assim eu não falhei, mas também não passei?”
Est olhou para William com admiração. Embora tivesse ouvido um breve relato de um dos examinadores, ainda não conseguia acreditar que William havia conseguido enfrentar um dos Governantes da Floresta, especializado em Magia das Trevas.
“Seu caso é um pouco especial, então a academia decidiu lhe dar uma última chance de passar nos exames de admissão,” continuou Est. “Afinal, os outros candidatos poderiam pensar que a academia está favorecendo você se simplesmente o aprovassem assim.”
“Bem, acho que faz sentido.” William assentiu em concordância. “Então, você tem alguma ideia de que tipo de teste eu terei que fazer?”
“Desculpe, mas não sei,” Est respondeu. “Você saberá quando amanhecer. Eu já informei o Examinador-Chefe que você acordou. Ele será o responsável pelo seu teste.”
“Mmm,” William murmurou enquanto acariciava o pescoço da Mamãe.
“Você está preocupado com seu teste de amanhã?”
“Nem um pouco.”
“Você é bem confiante.” Ian bufou. “Acha que passar no teste da Academia Real é fácil?”
William lançou um olhar de canto para Ian antes de lhe dar um sorriso refrescante. “Sozinho, não estou confiante. Porém, já que minha Mamãe está comigo, Daijoubu1.”
“Die jo bu?” Ian perguntou. “O que isso significa?”
“Significa que um maricas chorão como você precisa procurar um médico,” William zombou. “Algo pode estar errado com seu cérebro.”
Contrário às expectativas de William, Ian não ficou bravo. Em vez disso, olhou para ele com um sorriso travesso, o que fez William sentir que algo estava errado.
“Ah, esqueci de te contar. Ian será o responsável por decidir se você falha ou não no teste de amanhã.” Est sorriu maliciosamente.
“O quê?! Esse ranho— digo, jovem bonito que está quase alcançando meu nível de beleza será o juiz de amanhã?” William quase mordeu a língua ao forçar-se a elogiar Ian. “Ahem, um verdadeiro cavalheiro, proficiente tanto na espada quanto na caneta, realmente digno de se tornar um juiz. Já posso ver todas as garotas da academia gritando seu nome sempre que ele entra na sala de aula.”
O fígado de William começou a coçar a cada palavra de elogio que ele dizia para Ian.
Os três garotos o encaravam com divertimento enquanto ele tentava bajular seu inimigo mortal.
“Te vejo amanhã,” Ian piscou antes de sair dos estábulos. Ele estava se segurando para não cair na gargalhada. A reação de William era simplesmente impagável.
“Isso vai ser bom. Mal posso esperar para ver a cara dele amanhã quando descobrir…,” Ian riu consigo mesmo enquanto caminhava para o seu quarto, de ótimo humor. Ele estava ansioso para ver a expressão que William faria quando o sol nascesse.
Nota:
[1] Traduzindo isso é japonês, significa que está tudo bem, ou tudo vai ficar bem.