Assim como Wendy havia dito, na manhã seguinte, logo após o café da manhã, uma das empregadas acompanhou as novas bruxas até o escritório de Roland. O Príncipe entregou a elas um belo pedaço de papel. Levando em conta que algumas das bruxas eram analfabetas, Pergaminho teve que ler o conteúdo para elas. Logo após a leitura, elas colocaram suas digitais como assinatura no contrato.
Roland sabia que era difícil para elas entenderem o significado de cada linha escrita no contrato, mas isso não era importante, pois ele acreditava que após viver um tempo, elas começariam a entender o que ele esperava delas. Roland também sabia que, mesmo que este contrato fosse um contrato de escravos, elas ainda teriam assinado. Mas Roland não pensava que abandonar seus princípios apenas para obter alguns pequenos benefícios era algo bom.
Já que elas escolheram seguir esta senda, temos que olhar para frente e saber para onde elas irão.
No momento, tudo o que ele fez foi estabelecer as bases para formar um ciclo positivo para o futuro. Um investimento de longo prazo que deve terminar em uma situação em que ambos os lados colherão benefícios.
Depois de receber os contratos assinados, Roland distribuiu o plano de treinamento que ele havia desenvolvido ontem à noite e explicou a cada uma delas o que deveriam fazer. Quando terminou, Roland chamou Ramos, Pergaminho e Soraya de volta ao escritório dele.
Depois de fechar a porta, Rouxinol fez uma saudação real, surpreendendo suas irmãs.
— Durante toda a noite eu pensei na história que ouvi de Wendy. — Roland abriu as cortinas, deixando a luz do sol entrar na sala — Ela disse que vocês encontraram um monstro terrível e apenas sete de vocês conseguiram sobreviver. Mesmo a mentora da Associação Cooperativa das Bruxas, Kara, pereceu nas Terras Selvagens. Então, eu quero saber o que vocês encontraram, era uma espécie híbrida ou uma besta demoníaca?
Ramos foi a primeira a falar:
— Não eram bestas demoníacas, eram Diabos que vieram do Portão do Inferno. Eles possuíam um corpo alto e podiam cavalgar as bestas demoníacas. Eles também podiam usar magia, assim … — ela hesitou por um momento —, assim como nós.
— Eles eram Diabos? — Roland franziu a testa, olhando para Soraya — Você também estava presente na cena?
Mesmo hesitante, Soraya assentiu.
— Você pode desenhar a cena, certo? — Roland perguntou, enquanto entregava um pedaço de papel.
Soraya fechou os olhos, lembrando-se da memória dolorosa, mas, independentemente disso, ela ainda pegou o papel e foi à mesa.
Ela começou a exibir completamente sua habilidade, evocando a Caneta Mágica em sua mão. A caneta começou a liberar uma luz colorida, que voava da mão diretamente para o papel. Uma imagem realista gradualmente se formou no papel, e durante todo o processo de desenho, Soraya não abriu os olhos uma única vez.
Quando Roland se aproximou da mesa, descobriu que a imagem desenhada parecia muito realista, não, ele precisava se corrigir, não era uma pintura, mas uma imagem tirada de uma cena da vida real. Sua habilidade era exatamente como uma câmera, reproduzindo o genocídio na natureza em uma perspectiva em primeira pessoa.
Quando ela completou a pintura, a testa de Soraya estava coberta de suor, indicando claramente que a lembrança era um pesadelo para ela.
Rouxinol, foi à mesa também e ao examinar a pintura, ela perguntou:
— São esses os Diabos que vocês encontraram?
— Sim, são eles. — Ramos apontou para o mais próximo da perspectiva em que a foto foi tirada — O Diabo com luvas de metal era capaz de invocar ataques de relâmpagos, enquanto o outro era excepcionalmente forte, ele conseguia atirar uma lança várias vezes mais rápido do que uma flecha disparada de um arco. Mais de uma dúzia de irmãs morreram sob suas mãos. Mas eles não conseguiam usar seu ataque especial o tempo todo, foi no momento em que eles estava recarregando suas habilidades que eu consegui matá-los.
— Você conseguiu matar os Diabos sozinha? — Roland perguntou.
— A serpente mágica de Kara havia rasgado aquele tubo do Mão de Ferro, daí ele morreu por conta dessa ferida. Usei o mesmo método para matar o outro com uma besta. O tubo parece armazenar um tipo de gás vermelho, e se o gás sair eles morrem.
Bem, isso parece se assemelhar a um tanque de oxigênio, mas como é possível que criaturas na natureza tenham algo assim? — Roland pensava, confuso — Mas afirmar que eles são extraterrestres, ainda é um pouco prematuro. Olhando para suas roupas, percebe-se que são remendadas com pedaços de couro e peles de animais. Isso mostra que seu nível de civilização não pode estar muito mais desenvolvido do que o nosso. Seja com magia ou tecnologia, se eles conseguiram atravessar outros planetas, só isso já mostra sua força, enquanto as pessoas na Terra ainda estão lutando um contra o outro o tempo todo. Claro, não podemos descartar a possibilidade, de que é apenas uma habilidade inata de uma civilização exótica. Por enquanto, o importante é lembrarmos que o ‘Diabo’ não é um inimigo invencível, eles podem ser mortos.
— Além do Diabo, também vimos uma cidade flutuando no céu. — Ramos acrescentou — Não importa o quanto avançássemos, ela sempre ficava no mesmo lugar, lá na frente. Raio mencionou algo semelhante a isto em suas histórias, acho que ela chamava de miragem.
— Você também pode desenhar uma foto da cidade? — Roland perguntou a Soraya.
Ela assentiu, convocou sua Caneta Mágica mais uma vez e começou a pintar uma cidade flutuando no céu, assim como Ramos disse.
Roland viu a imagem com cuidado, mas ele não conseguiu obter muita informação, pois o cenário estava muito vago.
Mesmo que a cidade exibida na imagem realmente fosse apenas uma miragem, isso ainda significa que em algum lugar dentro das Terras Selvagens, uma cidade verdadeira deveria existir. Parece haver nuvens vermelhas acima da cidade, talvez, este seja o gás que os Diabos precisam. Esta explicação é muito mais razoável do que pensar em alienígenas, afinal, todas aquelas vastas terras detrás da Cordilheira Intransponível são uma zona do mais profundo mistério, onde por muito tempo ninguém sequer pisou os pés. Então, identificar uma nova raça não é algo muito surpreendente.
— Ouvi de Rouxinol e Wendy que Kara decidiu procurar a Montanha Sagrada depois de ler sobre isso em um livro antigo. — Roland perguntou — Pergaminho, você também leu o livro?
Pergaminho hesitou por um momento, mas depois respondeu:
— Kara não permitia que ninguém lesse o livro, mas … ainda consegui ler um pouco, embora o texto estivesse bastante confuso, ainda assim … ele é incrível.
— Você pode fazer uma cópia dele e me mostrar?
— O texto escrito no livro não é verdade, Vossa Alteza Real. O fato de que a Montanha Sagrada não existe, confirma isso. — Pergaminho suspirou, mas ainda levantou a mão direita — Espero que você não se confunda com o conteúdo do livro.
De repente, um livro de luz dourada apareceu no ar. O livro abriu-se e as páginas eram folheadas a uma velocidade incrível. Quando o livro chegou ao fim, caiu diretamente nas mãos da Pergaminho.
— Vossa Alteza, espero que você seja a única pessoa que vai lê-lo. Não quero ver nenhuma das minhas irmãs se tornar como Kara.
Roland tirou o livro das mãos de Pergaminho confortando-a.
— Entendi. Pode deixar.
Quando as outras bruxas saíram do escritório, Rouxinol apareceu calmamente sentada no sofá. Ela levantou o manto, como de costume, e colocou os dois pés sobre a mesa, mastigando com alegria um peixe seco.
— Você não quer ver isso? — Roland perguntou, com um sorriso no rosto.
Com uma voz zombeteira, ela respondeu:
— Se aquela lunática gostava de ler isso, então não me interessa.
Roland balançou a cabeça, sentou-se atrás da mesa e abriu cuidadosamente o livro. As páginas conferiam uma sensação como se estivesse folheando um livro de verdade.
Assim como a Pergaminho havia dito, a maior parte do conteúdo estava uma bagunça. Parecia que o texto não estava escrito na linguagem comum, pelo menos a gramática não era a mesma. Dentro do livro, uma lua de sangue foi mencionada, bem como um enorme Portão de Pedra, mas em nenhum lugar ele encontrou vestígios da Cidade Sagrada.
Na verdade, além de algumas palavras que ele era capaz de entender, o significado de muitas outras palavras não era claro para ele. Roland não conseguiu ler a maior parte do conteúdo do livro. No fim, ele podia ter um resumo do livro todo.
Mesmo que eu soubesse todas as palavras, não estou certo se eu seria capaz de entender tudo completamente. Não posso afirmar se isso é devido ao fato de que Pergaminho só conseguiu ler um pedaço ou se o próprio livro foi escrito dessa maneira.
Roland pulou as longas passagens, indo direto para o fim. Mesmo assim, o livro era bastante espesso, tinha muito pouco conteúdo e a maioria de suas páginas estava em branco. Mas quando ele se virou para a última página, ele de repente viu um texto legível. A escrita de antes era, de alguma forma, ilegível, como se tivesse sido escrito com pressa, mas o conteúdo era compreensível e eliminava muitas questões.
A primeira frase que poderia se lida completamente era:
— Nós falhamos. Os mortais não podem sobrepujar o Diabo.